Sexta-feira, 23 de Outubro de 2015

Carta do Canadá: Canadá vira à esquerda    (- fleitao, 20/10/2015, Aventar)

Não é pequena a herança que pesa sobre os ombros de Justin, mas o seu discurso de vitória revelou que se mantém intacto o ADN, pelo menos no que respeita à inteligência, ao pragmatismo, ao sonho  e à mente aberta ao que é diverso. À frente do Partido Liberal (centro esquerda), averbou uma maioria absoluta que remeteu ao sótão a década perdida que foram os dois mandatos do Partido Conservador, chefiado por Stephen Harper.

   Trudeau explicou que, para ganhar, aplicou uma receita à moda antiga: levou três anos a percorrer o país (que é o segundo maior depois da China) e a conversar com quantas pessoas foi possível, olhos nos olhos, à mesma lareira, bebendo do mesmo chá. Revelou que tem muitas histórias para nos contar, mas desta vez escolheu uma: a da jovem mãe muçulmana,  com véu e a filha pela mão que, depois de dialogar com ele, se afirmou aliviada e feliz por ver que sua filha ia crescer com liberdade e oportunidades de escolha.       Exactamente o oposto de Harper e seu governo (conservador) que, ao arrepio do sentir canadiano, enveredaram por uma política de imigração mesquinha, discriminatória. Apesar disso, e também de ser o oposto do seu antecessor no que respeita a questões ambientais, de prioridades económicas, educacionais e de transparência, não pagou com  a mesma moeda a falta de generosidade e de boas maneiras com que as hostes conservadoras o maltrataram durante a campanha eleitoral.  De facto, foram abjectos dois anúncios televisivos atacando Justin Trudeau: um, afirmando que ele era demasiado novo; outro, insinuando que com ele haveria droga e prostituição a granel. O país inteiro ficou atónito com o desconchavo, enquanto os conservadores riam de gozo. O resultado foi esta tareia monumental do dia 19 de Outubro. No entanto, Justin foi generoso, humilde e pedagógico: tinha falado com Harper duas ou três vezes a propósito dos filhos dum e doutro, era um ser humano que deu 10 anos ao país e o serviu como sabia, portanto vamos dizer obrigado pelo serviço e virar a página, pois o Canadá não é um país de ódios.  Está percebido o recado: há muito trabalho a fazer, não vamos perder tempo com gente que deita mão destas baixarias.

     Há, desde já, uma indisfarçável alegria e optimismo percorrendo o país. Casa segura e respeitosa de cidadãos vindos de 190 países, próspero de riquezas naturais, membro prestigiado da Commonwealth, apreciado e respeitado internacionalmente, o Canadá, como qualquer obra humana, tem pontos fracos e desigualdades por resolver. É o que tem de fazer, e já.

   Foi eleito um deputado luso-canadiano, Peter Fonseca, pelo círculo de Mississauga Leste. E há um ministro luso-canadiano  no governo liberal da província do Ontário, Charles de Sousa, de quem se diz que fará parte do governo Trudeau. Vamos ver se Portugal terá um governo que compreenda a enorme vantagem de ter boa e estreita ligação com o governo do Canadá.

----- N e AM:

--Desde que comece por não assinar o TPP (acordo de comércio transpacífico), como prometeu, tem o meu apoio.

--E sobretudo desde que não assine o CETA (acordo de comércio C.-UE.), obtendo assim o apoio de, no mínimo, 3.284.289 cidadãos europeus que o repudiam! Mais o dos outros que não o repudiam porque nunca dele ouviram falar, apesar das implicações sismicas que teria para as suas vidas. Isso sim, seria o melhor impacto que neste momento gostaríamos de sentir vindo do Canadá!



Publicado por Xa2 às 07:40 | link do post | comentar

1 comentário:
De .Canadá: Democracia multi-étnica a 30 de Novembro de 2015 às 11:09
Carta do Canadá: Regresso à normalidade

29/11/2015 por fleitao , Aventar

...
Vivo há muitos anos no Canadá, um país de democracia parlamentar. Por decisão referendada, a chefe do estado canadiano é a Rainha de Inglaterra. O Canadá tem 10 províncias e 3 territórios, vai do Atlântico ao Pacífico, tem ao norte o mar Árctico. Cada província tem o seu parlamento e este elege o governo local. Na capital federal, em Otava, a Rainha está representada pelo Governador Geral, que tem guarda de honra como a soberana. É ali que está o parlamento federal, eleito por todo o país, donde sai o governo federal. Nas capitais provinciais a representação é garantida pelo Governador-Adjunto. Quando os imigrantes, depois duns anos de residência e de provas dadas, requerem a cidadania canadiana, juram respeito ao país e à Rainha. As pessoas com mérito para o cargo, tenham a origem, a religião e a raça que tiverem, podem ser escolhidas.Nos anos que levo deste país, vi como governadores gerais uma senhora francófona, um ucraniano, uma senhora chinesa e outra negra do Haiti. Todos eles cumpriram com brio os seus mandatos, mas devo sublinhar que as cidadãs de Hong Kong e do Haiti, ambas jornalistas da TV estadual, respectivamente Adrienne Clarckson e Michaelle Jean, foram brilhantes e são tidas com respeito e afecto pela população. No Ontário, tivemos um governador-adjunto negro, Sir Lincoln Alexander, um verdadeiro ícone de elegância e popularidade. É comum termos ministros e altos funcionários públicos negros, mestiços, indianos, chineses, índios. O mesmo se diga do jornalismo, audiovisual e escrito, das equipas hospitalares. Em todos os sectores da vida canadiana, há pessoas de todas as raças e credos. Viver no respeito pela diversidade, faz parte do ADN do Canadá. Ninguém refere a raça, a religião, a origem ou a orientação sexual dos outros. Somos todos canadianos, temos todos os mesmos deveres e direitos perante a lei, prezamos a paz e a harmonia.

De passagem refiro que, em todos os níveis da vida pública canadiana, temos servidores com deficiências físicas que executam as suas tarefas como qualquer pessoa escorreita. Por exemplo, no Ontário já tivemos um governador-adjunto paraplégico, que vivia na sua cadeira de rodas. Era um jornalista muito simpático e bem disposto, janotíssimo nas cerimónias oficiais. A maior prova de respeito do estado canadiano pelas pessoas atingidas por uma deficiência, é que há em todo o lado rampas, elevadores e sinais auditivos nas passadeiras das ruas. Eles não são uma excepção, têm a sua vida normal como cada um de nós.
...
...
Para compreenderem o orgulho e a alegria que senti ao ver Francisca van Dunen jurando o seu compromisso de honra como Ministra da Justiça do governo liderado por António Costa, vou explicar-vos algumas coisas. E jurou de cabeça levantada, a olhar de frente, em voz forte e serena.
...
Depois, nasci e cresci em Angola. Vi injustiças que desejaria nunca ter visto e que foram decisivas nas minhas opções cívicas. Felizmente, a minha família não era racista. Fiz a escola primária no ensino público, lado a lado com meninos negros e mulatos. Os meus companheiros predilectos eram a negra Angelina e o mulato Aristófanes. Frequentavam a minha casa e partilhávamos merendas. Em Portugal, tanto no Colégio de Tomar como na Universidade, nunca deixei de ter esta postura. Por isso, mesmo longe, sempre segui, com apreço e orgulho, a carreira de duas magistradas da minha terra: Francisca van Dunem, de Luanda, e Maria José Morgado, de Malanje (a cidade onde nasci).

Tenho de confessar a minha perplexidade e desconforto por não ver em altos cargos da vida portuguesa muitos cidadãos doutras raças. Pergunto-me, em sobressalto, se 40 anos não chegaram para integrar, educar e valorizar aqueles que, por decisão própria, se abrigaram em terra portuguesa. Ou mais claramente, que espécie de integração foi essa? Provavelmente, a mesma, eivada de incompetência e desleixo, que dá origem ao abandono escolar, à mão de obra indiferenciada a quem mandam, desenvergonhadamente, emigrar.

Podem perceber agora a minha alegria por termos como Ministra da Justiça a Francisca van Dunem, uma secretária de estado cega e um secretário de estado de ascendência cigana. E, também, por a Cultura merecer ministério e haver pr


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