As crianças não são hiperactivas, são mal-educadas
(-por Henrique Raposo, 21/01/201)
É uma comédia que se acumula no dia-a-dia. Um sujeito vai ao café ler o jornal, e o café está inundado de crianças que não respeitam nada, nem os pardalitos e os pombos, e os pais
"ai, desculpe, ele é hiperactivo", que é como quem diz "repare, ele não é mal-educado, ou seja, eu não falhei e não estou a
falhar como pai neste preciso momento porque devia levantar o rabo da cadeira para o meter na ordem,
mas a questão é que isto é uma questão médica, técnica, sabe?, uma questão que está acima da minha vontade e da vontade do meu menino, olhe, repare como ele aperta o pescoço àquele pombinho, é mais forte do que ele, está a ver?".
E o pior é que a comédia já chegou aos jornais.
Parece que entre 2007 e 2011 disparou o consumo de medicamentos para a hiperactividade.
Parece que os médicos estão preocupados e os pais apreensivos com o efeito dos remédios na personalidade dos filhos. Quem diria?
Como é óbvio, existem crianças realmente hiperactivas (que o Altíssimo dê amor e paciência aos pais), mas não me venham com histórias:
este aumento massivo de crianças hiperactivas não resulta de uma epidemia repentina da doença mas da ausência de regras, da incapacidade que milhares e milhares de pais revelam na hora de impor uma educação moral aos filhos.
Aliás, isto é o reflexo da sociedade que criámos.
Se um pai der uma palmada na mão de um filho num sítio público (digamos, durante uma birra num café ou supermercado), as pessoas à volta olham para o dito pai como se ele fosse um leproso.
Neste ambiente, é mais fácil dar umas gotinhas de medicamento do que dar uma palmada, do que fazer cara feia, do que ralhar a sério, do que pôr de castigo.
Não se faz nada disto, não se diz não a uma criança, porque, ora essa, é feio, é do antigamente, é inconstitucional.
Vivendo neste aquário de rosas e pozinhos da Sininho, as crianças acabam por se transformar em estafermos insuportáveis, em Peter Pan amorais sem respeito por ninguém.
Levantam a mão aos avós, mas os pais ficam sentados.
E, depois, os pais que recusam educá-los querem que umas gotinhas resolvam a ausência de uma educação moral.
Sim, moral. Eu sei que palavra moral deixa logo os pedagogos pós-moderninhos de mãos no ar, ai, ai, que não podemos confrontar as crianças com o mal, mas fiquem lá com as gotinhas que eu fico com o mal.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/as-criancas-nao-sao-hiperactivas-sao-mal-educadas=f780888#ixzz2lw0GLhia
A anedota do Key for Schools
(e o exame de Inglês, pago a privados)
04/06/2014 por j. manuel cordeiro, http://aventar.eu/2014/06/04/a-anedota-do-key-for-schools/#more-1216231
As inteligências do IAVE (Inst. de Avaliação Educativa, IP, ex- GAVE) resolveram abrir um inquérito de opinião ao exame da Cambridge, com a particularidade de qualquer pessoa poder responder, uma ou quantas vezes quiser, tenha ou não alguma relação com o exame. Será que já circulam mails em certos circuitos a apelar a simpáticas contribuições? : -) Quem quiser participar pode ir aqui.
No meio desta incapacidade organizativa, o ministério não faz ideia quando estarão disponíveis os resultados mas, pelo caminho lá lançou umas farpas, como tão bem – isto sim, sabe fazer.
Como é público, o projecto de aplicação do teste Key for Schools contou, numa fase inicial, com cerca de 1200 professores que se disponibilizaram [mentira, muitos foram obrigados] para realizar as tarefas de classificação, tendo para o efeito participado na formação promovida pela Universidade de Cambridge e pelo IAVE. No entanto, apenas pouco mais de 800 professores têm estado efectivamente envolvidos no processo [portanto, 800 professores estão a preparar a entrada de instituição privada no mercado do ensino, às custas do seu tempo pessoal e dos recursos do Estado; acresce que é uma verdadeira sacanice passar culpas da má organização para os professores que optaram por não aceitar trabalhar para aquecer].
Assim, para limitar o esforço e tempo despendido nas deslocações efectuadas pelos professores [que se vêm obrigados a saltar de escola em escola pela grande fortuna de 38 cêntimos por quilómetro, trabalhando de borla para o privado em vez de estarem a fazer o trabalho para o qual o Estado lhes paga] que têm assegurado as tarefas de avaliação e classificação do teste, e de forma a minimizar o impacto nas actividades lectivas e não lectivas nas escolas onde os professores avaliadores exercem a sua actividade, foi alargado o período para a realização das sessões de Speaking.
Não obstante os constrangimentos atrás referidos, vale a pena realçar que este teste, que permite realizar provas orais em avaliação externa para mais de 120 mil alunos, em mais de 4 mil sessões, constitui uma enorme mais-valia para o nosso sistema educativo, entre outros aspectos, pelo impulso que irá dar à componente de produção oral no ensino e na aprendizagem do Inglês [bla bla bla, dito de outra forma, o que vem de fora é que é bom e nós cá não temos valor nenhum], dimensão essencial nas disciplinas de língua estrangeira.
O comunicado de imprensa, peça maravilhosa sem nome, pode ser lido aqui: Divulgação de resultados do teste Key for Schools
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