Empobrecimento competitivo: a escravatura é o limite
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Na Cidade do México, o ministro da Economia apareceu ensoberbecido por o ranking do Doing Business 2015 colocar Portugal em 25.º lugar. A subida no ranking deve-se a dois factores: por um lado, à redução do IRC, o imposto sobre os lucros das empresas (p. 56); por outro lado, à flexibilização do mercado de trabalho, tendo sido levadas em conta as medidas que cortam as indemnizações por despedimento e o aumento da duração máxima dos contratos a termo (p. 57). Em todos os outros itens considerados (desde a simplificação de procedimentos à protecção dos investidores minoritários), o país não revelou melhorias - ou até piorou. Neste contexto, o júbilo de Pires de Lima fica a dever-se exclusivamente à perda dos direitos laborais e à transferência de rendimentos do trabalho para o capital. Quando o ministro da Economia aparece tão excitado com o ranking - em que Portugal, repita-se, apenas subiu naqueles dois factores -, o que ele está a transmitir é o lema da sua governação: a escravatura é o limite. Assim sendo, não será um motivo de regozijo Portugal aparecer à frente de países como a Holanda, a França, a Espanha, a Itália ou o Japão. É tão-só querer competir no mercado global através de salários baixos.» ---
Miguel Abrantes,
Um ministro excitado com o modelo de salários baixos «
O que significa hoje a palavra competitividade e o que nos querem inculcar quando falam dela? No ranking internacional de competitividade do Fórum Económico Mundial (o fórum de Davos), Portugal subiu 15 lugares. Logo apareceram governantes e alguns comentadores a valorizar o feito, mas para a generalidade das pessoas o paradoxo, por certo, não passou despercebido: como é possível o país ter melhorado as suas condições de competitividade (...) se a economia está em estado comatoso, a dívida vai crescendo, falta emprego, a juventude e os trabalhadores qualificados emigram, os mais velhos são tratados como fardo e os seus saberes desperdiçados, é desvalorizada a investigação e a ciência, tudo é privatizado em saldo, a natalidade continua a cair, os direitos no trabalho e a contratação coletiva vão sendo aniquilados, as prestações sociais, as reformas e os salários são cada vez piores?
As roças de café de São Tomé e Príncipe já foram muito "competitivas". O capitalismo nasceu e caminhou, muito tempo, em contextos em que o trabalho escravo ou quase era fator de competitividade.» ---
Manuel Carvalho da Silva,
O empobrecimento competitivoAdenda: Contrariamente ao noticiado, e que motivou o júbilo do ministro da Economia, parece que
afinal Portugal perdeu duas posições no
Doing Business 2015, o referido ranking do Banco Mundial. Agradece-se pois a quem possa dar conhecimento deste facto a António Pires de Lima, aproveitando para lhe assinalar que o país obteve um resultado muito positivo (10º lugar) no indicador relativo às facilidades na criação de empresas, que se deve em grande parte ao serviço
«Empresa na Hora», uma das heranças nefastas dos anteriores governos socialistas, os tais da famosa «
década perdida». (-
por Nuno Serra, Ladrões de B., 31/10/2014)
A «RELIGIÃO» DA PRODUTIVIDADE !
O discurso da e sobre a produtividade tornou-se avassalador no pensamento dominante. Tão dominante, que as instâncias do próprio Estado reproduzem até ao fastio essa lenga – lenga!
Não há discurso sobre economia que não coloque o enfoque na competitividade e na produtividade. Mas, também ouvimos discursos sobre a educação e sobre a saúde a falarem da produtividade!
Prevenir o Stresse? Claro, para sermos mais produtivos!
Melhorar a escola? Claro, para fazermos homens mais produtivos!
Melhorar o transporte? Sim, para aumentar a produtividade do trabalho!
Enfim, uma autêntica ideologia, por vezes mesmo uma religião! A produtividade é assim uma espécie de deus a quem tudo se deve SACRIFICAR !
Nesta religião sacrificial também é desenvolvido em grande escala o sentimento de culpa.
Se, não existe suficiente produtividade quem é o culpado? O trabalhador!
Como castigo aumenta-se o horário de trabalho sem remuneração, cortam-se dias de férias e feriados, facilita-se o despedimento!
E vem depois todo o discurso FASCISTA de que «são preguiçosos», grevistas, querem emprego mas não querem trabalhar, e logo agora que não falta trabalho, é só querer!
Mas, porque será que no estrangeiro trabalham tanto?
Porque será que pouco se aposta na formação dos trabalhadores?
Porquê tanta resistência a aumentar o salário mínimo e a falarem em redução salarial em tantas empresas, em vez de aumentarem para motivarem quem trabalha?
Em Portugal ainda se pensa em aumentar a produtividade através do chicote!
Mas a questão principal nem é esta do aumento da produtividade! O discurso da produtividade tem como principal objetivo aumentar a EXPLORAÇÂO dos trabalhadores em benefício do capital!
Para o capitalismo o trabalhador é um instrumento de produção que, bem afinado, pode gerar mais riqueza, para ser na sua grande parte apropriada e não distribuída com justiça!
Bem afinado significa bem enquadrado, bem MANIPULADO no seu espírito, na sua alma!
É aqui que se aplica bem o ditado popular «não vendas a alma ao diabo»!
Não entendo é como existe tanta gente a reproduzir o discurso do diabo!
Alguns ganham bem com isso, mas outros….
(-por A.Brandão Guedes , 4/11/2014, http://bestrabalho.blogspot.pt/2014/11/a-religiao-da-produtividade.html )
De Desigualdade aberrante. a 7 de Novembro de 2014 às 14:44
Afinal há grandes salários em Portugal!
( 27/10/ 2014, pestanandre , 5Dias)
Nos locais de trabalhos onde os baixos salários e a precariedade proliferam
e até se limita ao mínimo dos mínimos a ida à casa de banho ou pausas/intervalos reparadores no trabalho,
pelos vistos há quem receba grandes salários… só é pena que não seja para a maioria:
http://www.noticiasaominuto.com/economia/296421/soares-dos-santos-ganha-108-vezes-mais-que-os-seus-trabalhadores
Farisaísmo orçamental
• João Galamba, Farisaísmo orçamental:
«Depois de toda a oposição, da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), do Conselho Económico e Social (CES) e do Conselho de Finanças Públicas (CFP) terem posto em causa a credibilidade do Orçamento do Estado para 2015 (OE2015), juntam-se ao coro a Comissão Europeia (CE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Já era um facto que este orçamento não cumpria o Tratado Orçamental (TO), agora passou a ser um facto que ninguém — tirando o Governo — acredita que este Orçamento consiga cumprir o seu principal objetivo:
respeitar o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Será o não cumprimento das regras um problema? Para um Governo que é um dos maiores e mais fanáticos defensores dessas mesmas regras, sim, tem de ser um problema.
CE e FMI não são instituições cujas previsões o Governo possa desvalorizar, como tentou fazer a ministra das Finanças.
Não porque a sua autoridade seja inquestionável, não porque acertem sempre, mas porque se trata de 'compagnons de route' deste Governo, que partilham a sua visão estratégica para o país, e, no caso específico da CE, porque se trata da instituição com quem o governo tem de lidar em matéria do cumprimento das regras orçamentais.
O Governo tem dito que o FMI e a CE já se enganaram. Tem toda a razão. Acontece que se enganaram sempre com o Governo, não contra ele.
Um primeiro-ministro que diz ser um ponto de honra sair do Procedimento por Défices Excessivos e que não se cansa de falar da absoluta necessidade de cumprir as regras europeias em matéria orçamental— sob pena de acontecerem coisas horríveis ao país e aos portugueses—
não pode assobiar para o lado quando a instituição a quem cabe tratar destas matérias diz que o OE2015 não é credível e que as regras não serão cumpridas.
Ou as regras existem e são para serem cumpridas,
ou as regras são erradas, não podem ser cumpridas, e têm de ser revistas.
O que não pode acontecer é as regras servirem apenas como instrumento de coerção política, impondo certas políticas e proibindo outras, mas desvalorizando os resultados orçamentais.
É suposto que uma política cumpra as regras, não que as regras existam como desculpa para a imposição de certas políticas.
Por esta razão, das duas, uma:
ou se mantém o discurso do cumprimento das regras orçamentais e o primeiro-ministro tem de explicar o que fará para atingir esse resultado, nomeadamente no que a medidas de austeridade adicionais diz respeito,
ou se reconhece que as regras não são passíveis de ser cumpridas e se procura ajustar a política orçamental à realidade, abrindo uma discussão séria (e necessária) sobre as nossas obrigações em matéria orçamental e sobre como podemos compatibilizar essas regras com o desenvolvimento económico e social do país.
O que não pode acontecer é este farisaísmo orçamental, em que as regras são, na verdade, uma farsa, um mero expediente para tentar ilegalizar a própria possibilidade de uma alternativa política.»
(- Miguel Abrantes, 10.11.14, CamaraCorporativa)
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