Porque estamos em 2015
«Questionado porque escolheu tantas mulheres para o seu Governo, Justin Trudeau, recentemente eleito primeiro-ministro do Canadá, respondeu: porque estamos em 2015.
O mesmo se pode dizer do acordo à esquerda. O que durante muito tempo foi impensável hoje é não só possível como desejável. Fez-se. Porque estamos em 2015.
A direita não percebeu isto. Não percebeu a mudança sociológica que ela própria operou com a sua política brutal. Não percebeu que a sua política se tornou insuportável para uma maioria dos portugueses. (...)
Portugal mudou muito nestes últimos dias. A primeira consequência desta mudança é o regresso em força da política. Nos últimos anos fomos dominados pela tirania dos mercados. As pessoas, a sociedade no seu conjunto, a própria soberania do país, foram totalmente desvalorizadas. Interessava acima de tudo agradar aos mercados. Como se Portugal fosse uma espécie de apartado, um "offshore" deserto, sem gente. Com a esquerda recolocam-se as pessoas no centro da actividade política. As suas expectativas, os seus direitos, a ambição de vida melhor.
O regresso da política trouxe também consigo uma nova dignidade para o Parlamento. Desacreditado pela irrelevância que a maioria absoluta da direita lhe conferiu, volta agora a ser o centro do debate político e partidário. Os portugueses vão seguir com maior atenção o que se passa no Parlamento. Porque é das suas vidas que ali se trata. Vamos perceber o que está em causa, as dificuldades de se chegar a consensos, o que pode e não pode ser feito a cada momento.
Mais política significa menos espaço para os simplismos económicos, para os humores dos mercados, para a submissão a poderes não democráticos e alguns antidemocráticos, nomeadamente quando se trata de ingerência num país soberano.
Mais política anima a conversa no campo da esquerda precisamente porque é essa a sua natureza. Não será uma conversa fácil, algumas vezes tornar-se-á conflituosa, mas ao contrário do que por aí se diz também não será tão mau assim. Como é hábito, a direita, sem outros argumentos, acena com o medo. Os perigos do radicalismo à esquerda, a catástrofe económica que aí vem, mas acima de tudo a ideia de que o PS fica nas mãos do PC e do Bloco. É ridículo, nem sequer faz sentido. (...)
Insisto. A direita pode continuar com o choradinho da derrota e com os prenúncios da desgraça. Mas não lhe valerá de muito. A política da esquerda será incomparavelmente mais excitante.»
(por Leonel Moura, via Entre as brumas..., 15/11/2015)
Nações Unidas recomendam reestruturação da dívida sem esquecer a democracia
(Visão, 21.09.2015, http://visao.sapo.pt/actualidade/economia/nacoes-unidas-recomendam-a-reestruturacao-da-divida-sem-esquecer-a-democracia=f831003 )
Contra a vontade de alguns dos maiores credores mundiais - Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos - e da própria União Europeia, que se absteve,
a assembleia das Nações Unidas aprovou,
a 10/9/2015, um conjunto de nove princípios democráticos que devem sobrepor-se à voracidade dos credores sempre que um país tenha de reestruturar a dívida.
Em sua defesa, além dos 136 membros que votaram a favor, estiveram 19 conhecidos economistas, entre os quais Yanis Varoufakis, ex-ministro grego das Finanças, e Thomas Piketty, autor do livro-sensação O Capital no século XXI.
Para evitar novas Argentinas (ainda em litígio contra os fundos-abutre)
ou novas Grécias, as Nações Unidas recomendam que as partes negociadoras não se esqueçam de incluir, nas suas contas,
o respeito por princípios universais como a soberania, boa fé, transparência, imparcialidade, igualdade de tratamento,
imunidade soberana, legitimidade, sustentabilidade e que qualquer reestruturação de dívida deve ser sempre aprovada por maioria.
Assim, quem empresta deve cooperar com quem pede emprestado, reconhecendo a legitimidade de um país soberano orientar a sua política macroeconómica no sentido do crescimento, desde que os direitos dos credores não sejam postos em causa.
A despolitização do sistema financeiro e a ausência de alternativas às políticas de austeridade são também referidas no documento.
No manifesto assinado pelos 19 economistas, a situação recente da Grécia está bastante presente.
"A crise grega tornou claro que os países que agem isoladamente não conseguem negociar condições razoáveis para a reestruturação da sua dívida."
E terminavam apelando à União Europeia que votasse favoravelmente a resolução.
A Argentina, forçada pelos credores a aceitar uma dura renegociação da dívida em 2002, foi um dos países mais empenhados na aprovação da recomendação.
O ministro dos Estrangeiros, Héctor Timerman, declarou, perante a assembleia das Nações Unidas:
"Esta é uma resolução a favor da estabilidade económica e social, da paz e do desenvolvimento.
A dívida é hoje responsável pela violência, pela desigualdade e pelas situações em que os poderosos ficam em vantagem perante o países menos desenvolvidos que precisam de capital."
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Europeia (enquanto bloco de países, incluindo a Grécia..., mas dominada pelo Eurogrupo e CE de neoliberais)
alegaram a vontade de preservar o papel de árbitro do Fundo Monetário Internacional (FMI), no que respeita aos planos de reestruturação de dívida soberana, para justificar as suas posições.
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