Domingo, 25 de Maio de 2014

A encruzilhada da social-democracia


  A combinação de elementos que caracterizou a social-democracia europeia nas últimas décadas deixou de ser possível. Só que os próprios sociais-democratas ainda não o perceberam.
   A social-democracia europeia transformou-se profundamente nas últimas décadas. Durante a maior parte do século XX, os partidos denominados socialistas ou trabalhistas desempenharam um papel central na consolidação do Estado social e na adopção de um amplo conjunto de medidas que melhoraram a condição dos trabalhadores e classes populares. Da década de 1980 em diante, porém, a social-democracia europeia aderiu rapidamente aos princípios da liberalização, privatização e salvaguarda dos interesses do capital. Em suma, ao neoliberalismo.    
     Sociais-democratas... e neoliberais       A origem do sucesso político do projecto neoliberal residiu na sua capacidade de resolver a crise estrutural que, na década de 1970, resultara dos desincentivos ao investimento originados pelo crescimento dos salários no pós-guerra.   O sucesso político de figuras como Thatcher ou Reagan deveu-se à promessa, em grande medida cumprida, de reestabelecer o dinamismo económico através do ataque sistemático aos salários directos e indirectos, restaurando os lucros e o incentivo ao investimento. E esse sucesso político foi tão estrondoso que conseguiu cooptar a social-democracia. De então em diante, os sociais-democratas passaram a distinguir-se dos conservadores pela robustez das políticas sociais defendidas, pelas posições em matéria de costumes e direitos das minorias... mas não pelas medidas de política económica defendidas, virtualmente idênticas na sua adesão ao neoliberalismo.    
     O fim de uma era     Só que o neoliberalismo, além de iníquo do ponto de vista da justiça social, revelar-se-ia também disfuncional do ponto de vista do crescimento económico: a prazo, era inevitável que a desigualdade crescente na distribuição do rendimento acabasse por comprometer a procura agregada e provocar, ela própria, estagnação.   Durante algum tempo, o crescimento do endividamento permitiu ter sol na eira e chuva no nabal - elevada rendibilidade do capital a par de procura agregada dinâmica -, mas mais cedo ou mais tarde este teria de atingir os seus limites, o que sucedeu em meados da década de 2000. O neoliberalismo tornou-se então incompatível com o dinamismo económico. 
    A actual estagnação das economias avançadas é, por isso, a crise estrutural do neoliberalismo e sinaliza o fim da era em que foi possível conciliar políticas económicas neoliberais com políticas sociais relativamente robustas.   Doravante, a restauração do dinamismo económico e a sustentabilidade do Estado social exigirão, necessariamente, uma ruptura profunda com o modelo neoliberal.   O problema é que este encontra-se inscrito no ADN de inúmeras políticas e instituições nacionais e europeias, que os próprios sociais-democratas dedicaram as últimas três décadas a construir.   De Hollande a Seguro, é precisamente essa a contradição com que se confrontam e confrontarão os sociais-democratas europeus.      Infelizmente, ainda nem sequer o perceberam.        (no Expresso online,


Publicado por Xa2 às 21:31 | link do post | comentar

2 comentários:
De Uns pagam outros fogem. a 30 de Maio de 2014 às 12:03
Não pagamos, dizem eles

27/05/2014 por João José Cardoso, Aventar


Na Suiça há €24 mil milhões não declarados, fugidos de Portugal. Nós pagamos.


De Sist. Financeiro corrupto e malévolo a 4 de Junho de 2014 às 15:24
Xanana Gusmão diz que o sistema financeiro mundial está avariado e corrupto

(30/05/2014 , Lusa/Sol)

O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, acusou o sistema financeiro mundial de ser corrupto e estar avariado, num discurso proferido durante a terceira reunião ministerial do G7+, presidido por Timor-Leste, que terminou hoje em Lomé, no Togo.

"Vivemos num mundo caracterizado por um sistema financeiro avariado e corrupto, em que o suor e o sangue dos nossos povos beneficiam os super-ricos internacionais", afirmou Xanana Gusmão, recordando que os povos dos países frágeis continuam a sofrer.

O primeiro-ministro timorense chegou quarta-feira ao Togo para participar na reunião do G7+, organização criada em Abril de 2011 que reúne 18 Estados-membros, entre os quais, Timor-Leste e Guiné-Bissau, e que defende reformas no modo como a comunidade internacional apoia os países frágeis ou em situação de pós-conflito.

"É um mundo em que a divisão nos nossos países ajuda os poderosos a ditar as condições dos pobres, ao mesmo tempo que transferem o seu dinheiro de um lado para o outro a fim de evitar pagar impostos e assim contribuir para o bem-estar humano. Infelizmente, as elites globais beneficiam do perpetuar da divisão, da intolerância e do ódio", salientou.

Segundo Xanana Gusmão, o mundo actual enfrenta uma "crise de confiança", que vai desde o "fracasso das instituições financeiras internacionais ao comportamento político dos poderosos".

"No nosso mundo subdesenvolvido, a crise é uma crise de liderança. Actualmente a liderança não consiste em ter um líder, mas sim em ter um entendimento nacional e um compromisso por parte dos homens e das mulheres relativamente aos interesses colectivos do país e às aspirações do povo", disse.

No discurso, o primeiro-ministro timorense insistiu que o "mundo precisa mudar" e que os Estados frágeis têm de ser activos naquela mudança.


Comentar post

MARCADORES

administração pública

alternativas

ambiente

análise

austeridade

autarquias

banca

bancocracia

bancos

bangsters

capitalismo

cavaco silva

cidadania

classe média

comunicação social

corrupção

crime

crise

crise?

cultura

democracia

desemprego

desgoverno

desigualdade

direita

direitos

direitos humanos

ditadura

dívida

economia

educação

eleições

empresas

esquerda

estado

estado social

estado-capturado

euro

europa

exploração

fascismo

finança

fisco

globalização

governo

grécia

humor

impostos

interesses obscuros

internacional

jornalismo

justiça

legislação

legislativas

liberdade

lisboa

lobbies

manifestação

manipulação

medo

mercados

mfl

mídia

multinacionais

neoliberal

offshores

oligarquia

orçamento

parlamento

partido socialista

partidos

pobreza

poder

política

politica

políticos

portugal

precariedade

presidente da república

privados

privatização

privatizações

propaganda

ps

psd

público

saúde

segurança

sindicalismo

soberania

sociedade

sócrates

solidariedade

trabalhadores

trabalho

transnacionais

transparência

troika

união europeia

valores

todas as tags

ARQUIVO

Janeiro 2022

Novembro 2019

Junho 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

RSS