Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014
• Rui Tavares, - Por que podem eles, e nós não ? :
«Quando Léon Blum foi preso — a 15 de setembro de 1940, fez anos há dias —, a acusação que a direita pétainista (francesa) fez a este antigo primeiro-ministro da Frente Popular foi, basicamente, a de ter ampliado o estado social. É difícil acreditar, mas Blum foi considerado culpado de ter instituído a semana das 40 horas de trabalho, ter criado as férias pagas, ter aceitado a atividade sindical e permitido propaganda política aos trabalhadores.
Com estes quatro “crimes” (a que se juntou um quinto, o de ter nacionalizado a indústria de armamento) Blum foi entregue aos alemães e preso em Buchenwald. Como, além de socialista, era judeu, passou a menos de dois dedos da morte. Criar o estado social só foi possível após uma luta difícil, prolongada e muitas vezes arriscada. As oportunidades de conquistar avanços não eram muitas e dependiam de uma unidade difícil de alcançar. Mas as suas conquistas, depois de obtidas, são extremamente populares. Hoje só é possível atacar o estado social pela calada, quando se proclama a sua defesa em público. (…)» --(via M. Abrantes 17.9.14 : Crime: criar o Estado Social )
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O Estado em regime de concessão
Tive há dias de revalidar a carta de condução. Disseram-me que podia faze-lo em Lisboa na Direção Regional de Mobilidade e Transportes de Lisboa e Vale do Tejo, pagando uma taxa de 30 euros, mas que a afluência a esse serviço era de tal ordem que certamente iria perder um dia de trabalho. Além disso, teria de perder pelo menos mais meio dia no Centro de Saúde arranjar para pedir um atestado médico. Em alternativa, numa escola de condução a coisa era rápida e ainda por cima dispensava uma visita ao centro de saúde porque lá encontraria um médico que me passava o atestado. O pior é que teria de pagar 50 euros pela nova carta e 20 € pelo atestado.
Mesmo assim fui à escola de condução. Como prometido o serviço era eficiente. Uma funcionária utilizou um terminal de computador ligado ao sistema do IMT (Instituto de Mobilidade e dos Transportes) para inserir os meus dados, fotografia e tudo. Depois encaminhou-me para a sala onde estava uma médica que me fez olhar para umas letrinhas que eu não consegui ler porque ando a precisar de óculos novos. Por fim, a primeira funcionária munida já do atestado médico que eu acabara de comprar, imprimiu um documento com o logo do IMT e deu-mo. Olhando para o ecran do computador vi a minha nova carta. Ao IMT bastava agora imprimir o documento e mandar-mo para casa. O envio, disse me a funcionária, iria ser demorado, mas não havia problema porque eu agora tinha um papelinho provisório com o logo do IMT para mostrar aos polícias.
Fui para casa a pensar nesta maravilha. Tratei em uma hora o que me teria consumido um dia. Imaginei o que outros, que passem por uma experiência como esta, podem concluir. Concessão do serviço público a privados? Boa ideia. Ganham os privados, ganha o consumidor, poupa o Estado. Por que não concessionar mais? Os balcões da Segurança Social, por exemplo. Quer reformar-se? Não consegue fazer as contas complicadas? Não entende as entrelinhas da legislação? O que lhe convém mais? Além do preenchimento da papelada o serviço oferece-lhe algum aconselhamento especializado. Os centros de desemprego. Está desempregado? O que deve fazer? O serviço concessionado trata da papelada e dá-lhe bons conselhos, por ventura mesmo algum apoio psicológico. As repartições de finanças. Quer fazer a declaração às finanças? Ah, pois, já existem serviços privados especializados para isso. Paga, mas pode poupar muito.
Tudo muito bem. Passamos a recorrer a todos estes serviços em regime de concessão. O único problema é que temos de pagar tudo isto depois de já termos pago impostos. Resultado: não tarda estamos a bradar contra impostos que não dão nada em troca.
Entretanto, o Estado em concessão vai florescendo, ao mesmo tempo que o outro Estado fecha balcões de atendimento e definha. A distância a percorrer para aceder aos balcões sobreviventes do outro Estado aumenta, assim como as filas de espera de quem não pode pagar a renda da concessão.
Isto não é ficção. Também não é o Estado Mínimo. É um Estado grande, mas em regime de concessão. Como nos aeroportos. Uma fila rápida para os passageiros da business class, outra, demorada, para a maralha.
- por José M. Castro Caldas às 27.9.14 , Ladrões de B.
--- Comprar trampa
(BCE compra a merd que os bangsters fazem e fá-la pagar bem cara pelos contribuintes e trabalhadores !!)
O BCE reiterou a intenção de começar a comprar empréstimos à banca comercial europeia na esperança de reavivar o mercado de crédito, chegando a comprar títulos classificados como “lixo” na Grécia e Chipre. O raciocínio é simples. Os bancos acumulam um conjunto de empréstimos de qualidade muito duvidosa cujas perdas não têm sido assumidas, o que normalmente implica um contínuo financiamento a recipientes com graves problemas financeiros (lembram-se do BES e do GES?). Ao comprar estes activos, assumindo assim o seu risco, o BCE tem a esperança que a liquidez gerada e a recomposição dos balanços bancários permitam a concessão de novos empréstimos a “bons” negócios, supostamente anteriormente constrangidos pelas necessidades de refinanciamento dos créditos duvidosos.
Já aqui referi que, no actual contexto de estagnação do investimento e deflação, o problema está sobretudo na procura de crédito no espaço europeu. No entanto, vale a pena realçar outros dois aspectos deste novo programa. O primeiro vem directamente da teoria económica mais convencional: o “risco moral”. Através deste programa o BCE está a recompensar todos os bancos que andaram e andam a empurrar com a barriga os seus problemas financeiros, em vez de assumirem as perdas e de recapitalizarem os seus balanços. Fica o sinal sobre quais os comportamentos a adoptar no futuro pela banca: escondam perdas, que a dada altura o BCE resolve o problema. O resultado é o aumento da instabilidade sistémica do sector. O segundo aspecto, mais preocupante, diz respeito ao subsídio público implícito que este programa traduz. Recursos públicos são usados para recompor balanços privados com uma condicionalidade vaga sobre novos empréstimos a pequenas e médias empresas. As regras do jogo mantêm-se as mesmas no que à contabilização de capital, concessão de crédito ou transacções de derivados e instrumentos financeiros. Pelo contrário, o BCE condiciona este programa à prossecução dos programas de ajustamento e austeridade da União Europeia. Em suma, transferem recursos públicos para o sector financeiro como patrocínio de uma contínua transferência de recursos do trabalho para o capital. E ainda há quem à esquerda queira permanecer neste sistema…
(- por Nuno Teles às 4.10.2014 , http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/10/comprar-trampa.html
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