Portugal numa penitenciária virtual
«Em “Little Dorrit”, Charles Dickens fala-nos de uma prisão onde as pessoas que têm dívidas estão presas, sem poder trabalhar, até pagar. Nunca as pagarão, é claro. A menos que sejam perdoadas.
Portugal está na sua penitenciária virtual. E, por isso, está sujeito às dicas do FMI ou aos delírios da UE. Come e cala. Porque não tem outra saída. (...)
A ideia de que a dívida é um pecado tem uma dimensão religiosa. E por isso existem prisões para quem deve. Mas num país onde se torrou dinheiro com o BPN ou com as PPP e quem paga é o reformado e os sujeitos (a 'cortes' e) a impostos cada vez mais duros, pergunta-se se a pena está a ser aplicada a quem tem culpa.
A questão é se Portugal aprenderá esta lição que o colocou num labirinto sem fuga possível e visível. E se a elite que nos vai governando aprende alguma lição. Ou não.» - Fernando Sobral
3. -- Os RENTISTAS (Rentismo)
( em http://www.osburgueses.net/ )
O rentismo é a marca do ciclo privatizador português das últimas duas décadas.
A reconstituição dos grupos económicos depois das nacionalizações baseou-se em dois pilares essenciais:
a concentração bancária e
o acesso a monopólios estratégicos convertidos em rendas garantidas, na energia, nas telecomunicações, em infraestruturas rodoviárias.
Na definição dos sectores com maior acumulação e poder, tem também relevo aquilo a que chamamos rendas especiais.
A primeira é o negócio imobiliário, um sistema de acumulação acelerada, baseado em capital fictício e protegido pelo resgate estatal.
Outra dessas rendas é a que resulta das parcerias público-privado, que geram uma enorme dívida para várias gerações.
Por fim, é tratado o rentismo especial que define o sector da grande distribuição, que usa e abusa de um poder de mercado que só o beneplácito do Estado permite.
----
«Os Burgueses»
Cap. 1. INTRODUÇÃO
...
... este livro é um exercício da vontade de compreender e de revelar tudo o que ganha a sua força por permanecer discreto, ou que se exibe ocultando-se. ...
Organizado em três partes (quem são, como vivem e como mandam) e uma conclusão ... a relação íntima entre os interesses empresariais e os governantes, esboçar uma teoria dos mecanismos do poder de classe ...
2. --- A FAMÍLIA DAS FAMÍLIAS
...e que mantivera os problemas estruturais deste capitalismo autoritário, baseado numa acumulação protegida pelo Estado, assente no controlo da finança e nos ganhos de curto prazo.
... papel da ditadura durante o seu longo meio século. Finalmente, é feito um inventário das famílias determinantes da burguesia proprietária de capital industrial e financeiro no século XXI.
------
4. ---OS GRANDES GRUPOS ECONÓMICOS E A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL
Um pequeno número de empresas, detidas por poucas pessoas, cruzando participações em muitos casos, domina alguns dos principais sectores estratégicos da economia.
No entanto, não dominam toda a economia. Alguns dos mecanismos de produção, distribuição e exportação de bens estão fora do controlo desta rede, o mesmo acontecendo com uma parte importante dos serviços.
Pelo seu lado, os grupos de capitais estrangeiros, fazem também parte dessa rede. Como o investimento estrangeiro tem sido, em mais de quatro quintos, dirigido para aplicações financeiras, este processo de controlo tem vindo a ser reforçado, sem que ao mesmo tempo aumente o investimento produtivo. O padrão dominante da presença do capital estrangeiro é a aliança com sectores do capital nacional.
5. ---OS DONOS ANGOLANOS EM PORTUGAL
6. ATÉ AO INFINITO E MAIS ALÉM: A POLÍTICA NA SENDA DOS NEGÓCIOS
Neste capítulo, são estudadas as ligações entre a política e os negócios, analisando a informação pública relevante, é feito um inventário dos governantes, incluindo todos os membros dos Governos Constitucionais até final de 2013 – 776 ministros e secretários de Estado –, para identificar as suas carreiras e registar as suas principais ligações empresariais diretas. Assim, são estudados os protagonistas destas ligações, a sua formação universitária e antecedentes profissionais, a sua história política e empresarial, a forma como se integram nas redes de acumulação, destacando ainda a sua vinculação às maiores empresas e aos grandes grupos económicos, às parcerias público-privado e aos escritórios de advogados. Esse inventário completo nunca foi feito e é um instrumento indispensável para compreender a sociedade portuguesa e, em particular, os processos de ascensão social, de representação e de cooptação pelas empresas.
7. O HÁBITO QUE FAZ A LEI: ESCRITÓRIOS DE ADVOGADOS E CONSULTADORES NAS PRIVATIZAÇÕES E PPP
Os grandes escritórios de advogado acumulam as redes de relações empresariais e políticas, e conjugam-nas na operacionalização de grandes dispositivos de transformação da sociedade portuguesa, em particular as privatizações e os contratos de parceria público-privado. Mas destacam-se igualmente pela intervenção discreta ou aberta na preparação de legislação fiscal e outra, ou no acompanhamento e intervenção na preparação dos Orçamentos de Estado, protegendo os interesses das principais empresas e do seu cap
De Privatizar ANA, aeroportos, pontes,... a 12 de Novembro de 2014 às 09:32
FORAM-SE OS ANÉIS ! . . . NÃO FICARAM OS DEDOS! . . . E, AGORA, PREPARAM-SE PARA FICAR COM TUDO . . .
Ora vejamos, acompanhem o raciocínio que segue:
« ANA, grávida da nova Lisboa.
OLHA A CABALA QUE ESTÁ MONTADA »
- vale a pena ler: (-por Daniel Deusdado, Jornal de Notícias)
Falemos de coisas concretas e consumadas: o casamento da ANA uma historieta que tem tudo para sair MUITO CARA (aos contribuintes)
Passo a explicar:
a ANA geria os aeroportos com lucros fabulosos para o seu pai, Estado, que, entretanto falido, leiloou a filha ao melhor pretendente. Um francês de apelido Vinci, especialista em autoestradas e mais recentemente em aeroportos, pediu a nossa ANA em casamento. E o Estado entregou-a pela melhor maquia (três mil milhões de euros), tornando lícita a exploração deste monopólio a partir de uma base fabulosa: 47% de margem de exploração (EBITDA).*
*O Governo rejubilou com o encaixe... Mas vejamos a coisa mais em pormenor.
O grupo francês Vinci tem 37% da Lusoponte, uma PPP (parceria público-privada) e assente numa especialidade nacional: o monopólio (mais um) das travessias sobre o Tejo.
Ora é por aqui que percebo por que consegue a Vinci pagar muito mais do que os concorrentes à ANA. As estimativas indicam que a mudança do aeroporto da Portela para Alcochete venha a gerar um tráfego de 50 mil veículos e camiões diários entre Lisboa e a nova cidade aeroportuária. É fazer as contas, como diria o outro...
Mas isto só será lucro quando houver um novo aeroporto. Sabemos que a construção de Alcochete depende da saturação da Portela.
Para o fazer, a Vinci tem a faca e o queijo na mão.
Para começar pode, por exemplo, abrir as portas à Ryanair.
No dia em que isso acontecer, a low-cost irlandesa deixa de fazer do Porto a principal porta de entrada, gerando um desequilíbrio turístico ainda mais acentuado a favor da capital. A Ryanair não vai manter 37 destinos em direção ao Porto se puder aterrar também em Lisboa.
Portanto, num primeiro momento os franceses podem apostar em baixar as taxas para as low-cost e os incautos aplaudirão. Todavia, a prazo, gerarão a necessidade de um novo aeroporto através do aumento de passageiros.
Quando isso acontecer, a Vinci (certamente com os seus amigos da Mota-Engil) monta um apetecível sindicato de construção (a sua especialidade) e financiamento (com bancos parceiros).
A obra do século em Portugal.
Bingo!
O Estado português será certamente chamado a dar avais (e pagar mais juros de mais dívida) e a negociar com a União Europeia fundos estruturais para a nova cidade aeroportuária de Alcochete.
Bingo!
A Portela ficará livre para os interesses imobiliários ligados ao Bloco Central que sempre existiram para o local.
Bingo!
Mas isto não fica por aqui porque não se pode mudar um aeroporto para 50 quilómetros de distância da capital sem se levar o comboio até lá.
Portanto, é preciso fazer-se uma ponte ferroviária para ligar Alcochete ao centro de Lisboa.
E já agora, com tanto trânsito, outra para carros (ou em alternativa uma ponte apenas, rodoferroviária).
Surge portanto e finalmente a prevista ponte Chelas-Barreiro (por onde, já agora, pode passar também o futuro TGV Lisboa-Madrid).
Bingo!
E, já agora:
quem detém o monopólio e know-how das travessias do Tejo?
Exatamente, a Lusoponte (Mota-Engil e Vinci). Que concorrerá à nova obra.
Mas, mesmo que não ganhe, diz o contrato com o Estado, terá de ser indemnizada pela perda de receitas na Vasco da Gama e 25 de Abril por força da existência de uma nova ponte.
Bingo!
Um destes dias acordaremos, portanto, perante o facto consumado:
o imperativo da construção do novo grande aeroporto de Lisboa, em Alcochete,
a indispensável terceira travessia sobre o Tejo,
e a concentração de fundos europeus e financiamento neste colossal investimento na capital.
O resto do país nada tem a ver com isto porque a decisão não é política, é privada, é o mercado...
E far-se-á.
Sem marcha-atrás porque o contrato agora assinado já o previa e todos gostamos muito de receber três mil milhões pela ANA, certo?
O casamento resultará nisto:
se correr bem, os franceses e grupos envolvidos ganham.
Correndo mal, pagamos nós.
Se ainda estivermos em Portugal, claro.
«O cérebro é uma coisa maravilhosa. Todos deveriam ter um !
Comentar post