George Orwell, Hitler e a lembrança de que o capital não tem pátria
(- por André Albuquerque , 5/1/2015, http://manifesto74.blogspot.pt/)
Conversávamos sobre lealdades, patriotismo e, enfim, sobre mantermo-nos vivos dentro do nosso próprio país.
O George receava que os altos comandos ingleses se estivessem a vender aos nazis.
Ironicamente digo-lhe que isso talvez não fosse mau, que o Hitler parecia ter mais preocupações sociais que os nossos governantes.
O George Orwel olha para mim, encaixa a ironia, ajeita-se na cadeira e responde calmamente mas num raciocínio tão certeiro que nunca mais pude esquecer:
"A única coisa boa no meio disto tudo é a pretensão de Hitler ser o amigo dos pobres estar a ser abalada pela base.
As pessoas que estão realmente dispostas a pactuar com ele são os banqueiros, os generais, os bispos, os reis, os grandes industriais, etc., etc...
Hitler é o chefe de um contra-ataque da classe capitalista que se está a organizar numa vasta corporação,
perdendo no processo alguns dos seus privilégios, mas mantendo, apesar de tudo, o seu poder sobre a classe trabalhadora.
Quando chega o momento de resistir a um ataque destes, qualquer pessoa da classe capitalista tem de ser traidor ou meio traidor, dispondo-se a engolir as indignidades mais tremendas, em vez de resistir com unhas e dentes...
Para onde quer que se olhe, seja para os grandes aspectos estratégicos ou os pormenores mais insignificantes da defesa local, percebe-se que qualquer luta verdadeira implica revolução.
É evidente que o Churchill não consegue ver ou aceitar isto, por isso vai ter de ir à vida.
Agora, se vai à vida a tempo de salvar a Inglaterra de ser conquistada, isso depende da rapidez com que o povo em geral se consiga aperceber das questões essenciais.
Só receio é que as pessoas só se mexam quando já for tarde de mais."
George Orwel, in "diários", retirado daqui : http://piotrezquivel.blogspot.pt/2015/01/conversavamos-sobre-lealdades.html
Andrajosos Tempos
(- por filipe guerra , 2/1/2015, http://manifesto74.blogspot.pt/2015/01/andrajosos-tempos.html#more )
José António Saraiva (JAS), com a boçalidade que caracteriza os seus textos decidiu inaugurar o novo ano, revelando, novamente, ao que vem, qual o seu papel e a sua visão da sociedade.
JAS no seu corriqueiro tom simplista, demonstra não só a profunda admiração pelo milionário(omitindo a forma como se construiu a fortuna e as suas consequências) como o seu desprezo pelos "pobres".
Em face deste texto (e doutros que se vão lendo por aí), importa desde já anunciar a
necessidade imperiosa de denunciar esta gente, esta elite intelectual burguesa,
para quem tudo vale, que se passeia de uns jornais para outros servindo os interesses políticos, intelectuais e mediáticos das mesmas elites que se governam à custa da desgraça do povo português.
O Fascismo foi, é, e provavelmente será no futuro, a ditadura terrorista do grande capital monopolista, a imposição pela força do capitalismo.
Mas o fascista é mais do que isso.
O fascista não é apenas a criatura que beneficia com o fascismo (com as suas opulências e privilégios),
ou aquele que o defende por ignorância, pura imbecilidade ou até desespero...
O fascista é aquele que olha o outro, que considera diferente de si e dos seus,
o diverso, o diferente (seja por razão de género, etnia, ideologia, condição económica ou social...),
não apenas com desdém, mas com desprezo e ódio.
Não perdendo qualquer oportunidade para assinalar essa diferença, vincar fronteiras, procurando reprimir, ofender e humilhar(com as armas que tenha à mão),
ou até eliminar como a História demonstrou.
JAS na sua crónica ofende e humilha.
Considera os "pobres" como imberbes, incapazes de gerir, não confiáveis, ingratos, a quem nada deve ser entregue sob pena de desaparecimento, infelizes por natureza e destino.
Provavelmente JAS temia que os seus "100 milhões de euros" fossem esbanjados em vinho e telemóveis.
Já nas mãos dos seus "poderia fazer num ano outros 100 milhões", apenas nas mãos dos capitalistas JAS deposita a confiança na prosperidade e inteligência.
Isto, assumindo que JAS tenha o pudor de considerar que gente como Zeinal Bava ou Ricardo Salgado já não façam parte dos seus.
Apenas não fica claro, se os "pobres" e os ricos,
no mundo de JAS, o são ou não por predestinação natural, filiação ou por obra e graça do Senhor...
Ou ainda a dúvida, se admite, que um pobre um dia deixe essa condição pelo seu mérito (renegando assim a definição de "pobres" de JAS).
Andrajosos tempos estes, em que a comunicação social é de tal forma dominada por uma despudorada burguesia que haja sempre espaço para servos desta desfaçatez.
Mas muito ambiciosos se auguriam os dias em que os "pobres" ajustem contas com os seus torcionários.
---(1917:) Come Ananás
Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.
(Vladímir Vladimirovithc Maiakovsky (1893-1930)
Viktor Orbán, fascista assumido
(-01/05/2015 por João Mendes)
Orbán Viktor; VAN ROMPUY, Herman; MERKEL, Angela; DURAO BARROSO, José Manuel
Viktor Orbán é uma daquelas pessoas – acho que conta como pessoa, não tenho bem a certeza – que se presidisse a um partido como o Syriza ou o Podemos seria considerado uma ameaça à liberdade e a não sei quantas coisas mais.
Felizmente para ele, a opção pela extrema-direita tem-se mostrado uma escolha acertada.
Governa a Hungria, agora sem maioria, mas continua em grande forma no que às melhores práticas fascistas diz respeito.
E enquanto alguns dos colegas do Partido Popular Europeu (PPE) que podemos ver na foto se dedicam a evitar que o actual governo grego exista, o primeiro-ministro húngaro dedica-se a outras causas como
a cruzada pela discussão da reintrodução da pena de morte na União Europeia ou
o envio de imigrantes para “campos de internamento”, para serem forçados a trabalhar,
Se isto fosse na Rússia de Putin, bom amigo de Orbán, na Venezuela ou no Irão, soariam alarmes de direitos humanos, neounicórnios cor-de-rosa relinchariam em profunda indignação e o mundo estaria provavelmente perdido.
Mas a Hungria do Orbán, que até já foi vice-presidente desse bastião da cultura democrática que é o PPE, não é um desses desvarios esquerdistas que nos levarão à perdição.
Afinal de contas, o homem só quer poder eliminar cidadãos “inconvenientes” e criar uma versão moderna dos saudosos campos de trabalhos forçados.
Puxão de orelhas e está resolvido.
Entre isso e deixar os maluquinhos das reestruturações de dívida à solta, deixem andar o Orbán.
Mais fascista menos fascista, este pelo menos já saiu do armário.
Será que o jornal do regime também lhe arranja uma história de amor daquelas mesmo fofas e… falsas?
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