Quarta-feira, 8 de Abril de 2015

O desemprego segundo J.M.T.  (-por N.Serra, 4/4/2015, Ladrões de B.)

     Para João Miguel Tavares (JMT) os desempregados são números. Mas não são uns números quaisquer. Têm que ser números «oficiais», sendo irrelevante em que medida conseguem captar diferentes situações de desemprego. Na verdade, sejamos justos, para JMT os desempregados também são pessoas. Só que não são umas pessoas quaisquer. Têm que ser pessoas «oficialmente» consideradas como desempregadas. Ou seja, as que cumpram os critérios subjacentes à definição «oficial» de desemprego, em cada momento.
     Assim, segundo JMT: se conseguiu um estágio do IEFP, o António deixou de estar desempregado e passou a ter um «emprego subsidiado»(*); se desistiu de procurar emprego e passou a ser considerada «inactiva», a Rita deixou de estar desempregada (por mais que continue, na vida de carne e osso, sem emprego); se emigrou por não encontrar trabalho, o Eduardo não é, para JMT, um activo que deixou o país, nem sequer um desempregado que as estatísticas oficiais deixaram de ter que contabilizar; e se trabalha meia dúzia de horas por semana, a troco de um salário insuficiente, a Madalena passou, segundo JMT, a ter um emprego tão «normal» como a maioria dos empregos.
     O J.R.Almeida já aqui assinalou os principais reparos que se podem fazer às críticas de JMT ao último Barómetro das Crises, dedicado a um exercício de confronto entre as estatísticas e as realidades do desemprego e do emprego. Nesse exercício, entre outros aspectos, questiona-se até que ponto o conceito oficial de «desempregado» está a deixar na sombra um conjunto de situações de desemprego que apenas não encaixam nos critérios estatísticos em vigor.   Isto é, situações como a do António («desempregado ocupado»), da Rita («inactiva desencorajada»), do Eduardo («activo emigrante») e da Madalena («subemprego»).

     No seu conjunto, como mostra o gráfico, a verdade é que casos como os do António, da Rita, do Eduardo e da Madalena têm vindo a adquirir um peso crescente face aos números oficiais do desemprego.  Se forem considerados como formas de desemprego que apenas escapam aos critérios oficiais, então conclui-se que a tendência recente do desemprego não é a da sua diminuição, mas sim a da sua estabilização, a partir de 2013, em patamares muito elevados.   Em contrário, seria bom que a recusa da inclusão destas situações nos cálculos do desemprego, como sugere JMT, fosse acompanhada de uma argumentação consistente e informada, liberta de preconceitos e estereótipos que apenas prejudicam o debate.   A menos que se prefira, ao tratar destas matérias, desempenhar o papel de bobo, ao serviço da corte.
      (*) O João Miguel Tavares que defende o conceito de «emprego subsidiado», a propósito dos estágios do IEFP, é o mesmo JMTavares que reconhece, no mesmo artigo do Público, «que muitos postos de trabalho estão a ser criados artificialmente desde 2013 através do esquema de estágios anuais subsidiados pelo IEFP» (sublinhados meus).



Publicado por Xa2 às 07:46 | link do post | comentar

2 comentários:
De Alteração critérios conceitos estatístic a 8 de Abril de 2015 às 11:48

Três ou quatro coisas que é preciso saber acerca do DESEMPREGO

(-por josé simões, 7/4/2015, derTerrorist)

---«Alteração de critérios estatísticos:
em 2011, o INE mudou de critério estatístico — “as pessoas a frequentar Planos Ocupacionais de Emprego, promovidos pelo IEFP, não eram consideradas necessariamente empregadas no questionário anterior, mas passaram a ser no questionário atual”, pode ler-se numa nota metodológica do INE.
Em consequência, desde 2013, com o aumento do número desempregados ocupados em planos ocupacionais, o número de desempregados diminuiu.
Ou seja, o desemprego foi subavaliado e o emprego sobreavaliado.

---Emigração:
a taxa de desemprego é um rácio entre o número de desempregados e a população ativa, isto é, a soma da população empregada com a população desempregada.
Mas quem acompanha menos estes assuntos desconhece que este rácio pode descer, não porque alguns desempregados encontraram emprego (como seria adequado), mas porque houve desempregados que emigraram.
Vejamos um exemplo numérico muito simples. No ano A, havia um milhão de desempregados e quatro milhões empregados. A população ativa era de cinco milhões. A taxa de desemprego era de 20%. No ano B, 250 mil desempregados emigraram. A população ativa passou a ser de 4,75 milhões e a taxa de desemprego baixou para 16%.
Algo semelhante aconteceu precisamente em Portugal.
De facto, de 2011 a 2013, o número de emigrantes foi sempre em crescendo.
A taxa de desemprego foi afetada pela emigração.

---Inativos “desencorajados”, “indisponíveis” e subemprego:
quem leia, pela primeira vez, estudos sobre as estatísticas de emprego surpreender-se-á com estes critérios.
Mas na realidade eles são considerados internacionalmente no apuramento do “desemprego em sentido lato”.
Quem não sabe pode pensar — como se refere na crónica — que “inativos desencorajados” são “aqueles que por opção de vida não querem trabalhar, como Kiki Espírito Santo”.
Mas na verdade, este conceito decorre de convenções da OIT que procuram dar visibilidade a diversas formas de desemprego oculto.
Definição do INE para “inativo desencorajado”:
“Indivíduo com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, não tem trabalho remunerado nem qualquer outro, pretende trabalhar, está ou não disponível para trabalhar num trabalho remunerado ou não, mas que não fez diligências no período de referência para encontrar trabalho.”
Para todos os efeitos, menos o estatístico, um inativo desencorajado é alguém que quer trabalhar e não tem trabalho, é um desempregado.
Entre 2011 e 2014, o número de pessoas desencorajadas, indisponíveis ou que gostavam de trabalhar mais horas aumentou substancialmente — de 415 mil para 546 mil.

Pessoas menos conhecedoras poderão ignorar que possa haver desempregados não tidos em conta por força de critérios estatísticos.
Mas na realidade, desde 2013, o conjunto dos desempregados não considerados nas estatísticas — incluindo os “desempregados ocupados”, os “inativos desencorajados” e parte da emigração — ultrapassou o dos desempregados “oficiais”.
Tal facto, sem precedentes, suscita sérias dúvidas sobre a adequação da taxa de desemprego como indicador em tempos de crise prolongada.
Descontadas estas distorções estatísticas, a taxa de desemprego “real” estabilizou em níveis muitos elevados, contrariamente ao que aconteceu com a taxa “oficial.»


-Manuel Carvalho da Silva, José Castro Caldas, João Ramos de Almeida e Nuno Serra
-Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais

-tags:
centro de estudos sociais, desemprego, emprego, josé castro caldas, joão ramos de almeida, manuel carvalho da silva, nuno serra, observatório sobre crises e alternativas

http://derterrorist.blogs.sapo.pt/tres-ou-quatro-coisas-que-e-preciso-2950958


De Estatísticas, PIB e qualidade de Vida. a 25 de Setembro de 2015 às 15:45

------- Estatísticas há muitas

(-por CRG, 365Forte, 23/9/2015)

"It looked artificial, but it was full of real birds" - V. S. Naipaul "A bend in the river

Passos Coelho confrontado com o aumento do défice de 2014 para os 7,2% por causa do Novo Banco disse que era apenas uma "contabilização estatística".
Um Primeiro-Ministro, que pautou toda a sua governação por fins estatísticos, que se apresenta a votos ancorado numa suposta melhoria desses dados, vem agora desvalorizar esses elementos e afirmar que tal não tem impacto na vida das pessoas.

A mesma vida das pessoas que recuou para níveis da década de 90 do século passado para se alegadamente cumprir com certos objectivos estatísticos,
cuja importância económica está longe de ser consensual e, em muitos casos, é puramente política
- uma espécie de padrão das explosões no Catch-22 (ficava bonito nas fotografias áreas dos relatórios).

Na verdade todos os dados estatísticos são relativos, são meros indicadores, até o sacrossanto PIB.
Kuznets, prémio Nobel da Economia, que liderava a equipa de economistas que criou o cálculo do PIB, bem tentou avisar que
“o bem-estar de uma nação não pode ser aferido através do cálculo do seu PIB"
uma vez que "A country, for example, that overemphasizes G.D.P. growth and market performance is likely to focus policies on the big drivers of those — corporations and financial institutions —
even when, as during the recent past, there has been little correlation between the performance of big businesses or elites and that of most people."

O problema de Passos Coelho é que não pode continuar a relativizar o défice, o PIB e a balança comercial.
Se o fizer, será obrigado a focar-se na qualidade de vida, na saúde, na igualdade, no bem-estar - a realidade é madrasta.
-------------

-- Infelizmente, Passos só tem que fingir e fazer jogo de cintura ate as eleições.
Depois, se a PaF ganhar pode dar-se ao luxo de nos contar a verdade e não vai ser bonito...

--Nada bonito, e depois já não dá para o pessoal que não foi votar ou votou mal se arrepender. Mais 4 anos de Passos e Portas?? SOCORRO!

--? Até quando continuaremos cegos, surdos, mudos... ?
Será um problema de memória? ... De autismo? ...
Um ato de puro masoquismo partidocratico? ... De dislexia política?...
Ou o receio e resistencia a mudança, ... ?

Ao olhar para as sondagens receio que nos falta vontade de mudar, ...

E volta- me à memória a história do "sapo" que se foi acomodando (no caldeirão de água a aquecer)... Acomodando e quando se apercebeu que ia morrer (cozido) já era tarde para dar o salto...

Creio e peço a Deus que nos coragem para mudar


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