Para
João Miguel Tavares (JMT) os desempregados são números. Mas não são uns números quaisquer. Têm que ser números «
oficiais», sendo irrelevante em que medida conseguem captar
diferentes situações de desemprego. Na verdade, sejamos justos, para JMT os
desempregados também são pessoas. Só que não são umas pessoas quaisquer. Têm que ser pessoas «oficialmente» consideradas como desempregadas. Ou seja, as que cumpram os critérios subjacentes à
definição «oficial» de desemprego, em cada momento.
Assim, segundo JMT: se conseguiu um estágio do IEFP, o António deixou de estar desempregado e passou a ter um «
emprego subsidiado»(*); se desistiu de procurar emprego e passou a ser considerada «
inactiva», a Rita deixou de estar desempregada (por mais que continue, na vida de carne e osso, sem emprego); se
emigrou por não encontrar trabalho, o Eduardo não é, para JMT, um activo que deixou o país, nem sequer um desempregado que as estatísticas oficiais deixaram de ter que contabilizar; e se trabalha meia dúzia de horas por semana, a troco de um salário insuficiente, a Madalena passou, segundo JMT, a ter um
emprego tão «normal» como a maioria dos empregos.
O
J.R.Almeida já aqui assinalou os principais reparos que se podem fazer às críticas de JMT ao último
Barómetro das Crises, dedicado a um exercício de confronto entre as
estatísticas e as realidades do desemprego e do emprego. Nesse exercício, entre outros aspectos, questiona-se até que ponto o conceito oficial de «
desempregado» está a
deixar na sombra um conjunto de situações de desemprego que apenas não encaixam nos critérios estatísticos em vigor. Isto é, situações como a do António («
desempregado ocupado»), da Rita («
inactiva desencorajada»), do Eduardo («
activo emigrante») e da Madalena («
subemprego»).
No seu conjunto, como mostra o gráfico, a verdade é que casos como os do António, da Rita, do Eduardo e da Madalena têm vindo a adquirir
um peso crescente face aos números oficiais do desemprego. Se forem considerados como
formas de desemprego que apenas
escapam aos critérios oficiais, então conclui-se que a tendência recente do desemprego não é a da sua diminuição, mas sim a da sua estabilização, a partir de 2013,
em patamares muito elevados. Em contrário, seria bom que a recusa da inclusão destas situações nos cálculos do desemprego, como sugere JMT, fosse acompanhada de uma argumentação consistente e informada, liberta de preconceitos e estereótipos que apenas prejudicam o debate. A menos que se prefira, ao tratar destas matérias, desempenhar o
papel de bobo, ao serviço da corte.
(*) O João Miguel Tavares que defende o conceito de «
emprego subsidiado», a propósito dos estágios do IEFP, é o mesmo JMTavares que reconhece, no mesmo artigo do Público, «
que muitos postos de trabalho estão a ser criados artificialmente desde 2013 através do esquema de estágios anuais subsidiados pelo IEFP» (sublinhados meus).
J.M.Tavares e as várias faces de um susto (-por J.R.Almeida, 2/4/2015)