É absolutamente imperdível a
entrevista no Público de hoje, a ler na íntegra, a
Philippe Legrain, um insuspeito ex-conselheiro económico de Durão Barroso, a propósito do seu recente livro «
European Spring: Why our economies and politics are in a mess – and how to put them right» (
Primavera Europeia: porque é que as nossas economias e políticas estão numa 'porcaria' - e como as corrigir). Na entrevista a Isabel Arriaga e Cunha, Legrain assinala que uma grande parte da explicação para a crise «
é que o sector bancário dominou os governos de todos os países e as instituições da zona euro», pelo «
que, quando a crise financeira rebentou, foram todos a correr salvar os bancos, com consequências muito severas para as finanças públicas e sem resolver os problemas do sector bancário». Isto é, «
o que começou por ser uma crise bancária (...) acabou por se transformar numa crise da dívida (...) em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores». Por isso, «
em vez de enfrentar os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas». Segundo Legrain, é a prioridade
concedida pelos governos à defesa dos interesses da banca, em detrimento dos interesses dos cidadãos, que leva a que os programas de ajustamento aplicados a Portugal e à Grécia
constituam, na verdade, resgates aos bancos europeus.
O livro e a entrevista de Philippe Legrain são particularmente importantes e oportunos no presente contexto de campanha para as eleições do Parlamento Europeu, em que
a falsa narrativa dominante sobre as origens da crise continua a impor-se, apesar de toda a sua fragilidade factual e de toda a evidência do fracasso da austeridade, a opção política e económica que essa narrativa fez emergir e que se pretende agora tornar perpétua. Na linha, aliás, de dois livros, entre outros: o também recente
«Jogos de Poder», de
Paulo Pena, e o
«Manifesto dos Economistas Aterrados», de
Philippe Askenazy,
André Orléan,
Thomas Coutrot e
Henri Sterdyniak, publicado em 2010 e editado entre nós em 2011 pela Actual Editora. Leituras pertinentes neste mês de Maio, por relembrarem a verdadeira genealogia da crise e contribuírem para
denunciar e derrotar eleitoralmente o hábil passe de mágica, que transmutou eficazmente uma crise do sistema financeiro numa crise dos Estados, das políticas públicas e das dívidas soberanas. Higienização