Segunda-feira, 12 de Maio de 2014

          Relembrar as verdadeiras origens da crise    (-por N.Serra, Ladrões de B., 12/5/2014)


É absolutamente imperdível a entrevista no Público de hoje, a ler na íntegra, a Philippe Legrain, um insuspeito ex-conselheiro económico de Durão Barroso, a propósito do seu recente livro «European Spring: Why our economies and politics are in a mess – and how to put them right» (Primavera Europeia: porque é que as nossas economias e políticas estão numa 'porcaria' - e como as corrigir).   Na entrevista a Isabel Arriaga e Cunha, Legrain assinala que uma grande parte da explicação para a crise «é que o sector bancário dominou os governos de todos os países e as instituições da zona euro», pelo «que, quando a crise financeira rebentou, foram todos a correr salvar os bancos, com consequências muito severas para as finanças públicas e sem resolver os problemas do sector bancário».    Isto é, «o que começou por ser uma crise bancária (...) acabou por se transformar numa crise da dívida (...) em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores».   Por isso, «em vez de enfrentar os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas».   Segundo Legrain, é a prioridade concedida pelos governos à defesa dos interesses da banca, em detrimento dos interesses dos cidadãos, que leva a que os programas de ajustamento aplicados a Portugal e à Grécia constituam, na verdade, resgates aos bancos europeus.
      O livro e a entrevista de Philippe Legrain são particularmente importantes e oportunos no presente contexto de campanha para as eleições do Parlamento Europeu, em que a falsa narrativa dominante sobre as origens da crise continua a impor-se, apesar de toda a sua fragilidade factual e de toda a evidência do fracasso da austeridade, a opção política e económica que essa narrativa fez emergir e que se pretende agora tornar perpétua.   Na linha, aliás, de dois livros, entre outros:   o também recente «Jogos de Poder», de Paulo Pena, e o «Manifesto dos Economistas Aterrados», de Philippe Askenazy, André Orléan, Thomas Coutrot e Henri Sterdyniak, publicado em 2010 e editado entre nós em 2011 pela Actual Editora.    Leituras pertinentes neste mês de Maio, por relembrarem a verdadeira genealogia da crise e contribuírem para denunciar e derrotar eleitoralmente o hábil passe de mágica, que transmutou eficazmente uma crise do sistema financeiro numa crise dos Estados, das políticas públicas e das dívidas soberanas.
                     Higienização
Rolo raspadeiraCoelho fala de saída limpa mas não especifica que fez do seu povo o papel higiénico capaz de limpar a saída.
    Ele e os seus capangas nacionais e estrangeirados não conseguiram ir além do confisco. Foram incapazes de aumentar a receita pela economia e pela reforma. Destruíram tudo o que havia para destruir, dos empregos à esperança.
    O anúncio solene da limpeza, com o demagogo mestre no primeiro lugar da linha de trás a encabeçar um guardanapo cheio de nódoas, foi um momento que temos obrigação de nunca esquecer, se não por nós, pelos milhares que não têm trabalho, pelos outros milhares que não tiveram alternativa senão partir e pelos milhões que são exterminados na pobreza neste canto da Europa rica.
    Coelho, Portas, Cavaco, Barroso chamam-lhes heróis, dizem que esse sacrifício valeu a pena, continuam a afirmar que esta limpeza fê-los ser melhores, mais puros e mais consentâneos com aquilo que eles entendem que é sobreviver à luz das suas possibilidades.
     Pobrezinhos mas asseados. O faducho na sua pior forma. Limpinho, limpinho.   (- LNT  [0.145/2014])

                              A almofada

    Uma almofada recheada de notas surripilhadas a quem se esmifra para pôr uns bifitos do cachaço na mesa é o grande trunfo de quem, com meia dúzia de votos, ganhou a capacidade para fazer do saque uma coisa legal.   Gaba-se essa gente de nos ter libertado do jugo de uma troika de interesses que, pela sua mão, nos subjugou e gaba-se o palhaço rico deste circo de que a razão o assiste.
     Escravizam-nos a uma entidade sem rosto que há muito se apoderou dos políticos no poder e que, em nome de uma ideologia que dizem não ter, prepara o caminho do descrédito que faz com que os cidadãos acomodados não se disponham a perder cinco minutos para depositar nas urnas a mensagem de desprezo que tem por este bando de miseráveis.
     Espoliam e usam o espólio obtido para encherem travesseiros cheios de livros de escola que os nossos filhos e netos não puderam comprar, dos cuidados de saúde de que os nossos pais e avós não puderam usufruir e do solo pátrio que falta à sobrevivência dos que formamos, para deitar a cabeça e dormirem descansados e de consciência tranquila.
     Fazem-no como se aquilo que nos sacam fosse deles e massacram-nos com fantasias e ilusionismos para sermos gratos.   (-LNT  [0.147/2014]
                                           De volta aos mercados
        Sobre os mercados estamos falados. ... Excitados pela quebra abrupta das taxas de juro que nos são tão devidas por sermos bons alunos como aos atenienses que, por serem maus alunos, vão a caminho de as juntarem aos perdões de valor semelhante ao todo que devemos, ...
Não votar dá nisto. Depois não se queixem de só ver nas pedras e bancas dessas praças formas residuais da simbologia patrioteira submersas pelos produtos e matérias-primas dos mais díspares recantos.  (-LNT  [0.149/2014]
                       Do espanto                (9/5/2014, A Barbearia do sr.LNT)
   Só me resta ficar espantado perante o espanto demonstrado na sequência das declarações de Coelho de que irá aumentar impostos a todos, caso o Tribunal Constitucional chumbe a anterior tentativa de aumento de impostos só para alguns.
      Passos Coelho e a sua rapaziada nunca souberam fazer mais do que aumentar impostos (directamente ou através de cortes), umas vezes ilegalmente, quando o fizeram só para alguns, outras colossalmente dirigidas a todos.   O objectivo de empobrecimento anunciado tem de ser atingido e nunca se destinou a ser coisa transitória que proporcionasse meios para fomentar o desenvolvimento. 
     As reformas de que fala não são, nem nunca foram, acções de desenvolvimento, de qualidade, ou de melhoria mas somente medidas para disponibilizarem mão-de-obra excedentária disposta a vender-se barata e a fazerem de travão ao consumo que, cada vez mais, tem de ser satisfeito com produtos importados dado que a produção nacional para consumo interno foi aniquilada.
     O anúncio de novos impostos destina-se unicamente, para além de condicionar o Tribunal Constitucional e de dividir portugueses uns contra os outros, a retirar dinheiro da economia fazendo dele sumaúma para atafulhar almofadas.
                                    E  ainda  se  espantam ?


Publicado por Xa2 às 07:44 | link do post | comentar

6 comentários:
De Troika/CE salva Bancos e mata Cidadãos a 12 de Maio de 2014 às 15:24
A tróica em Portugal e Grécia para salvar os bancos alemães e franceses

Philippe Legrain, foi conselheiro económico independente de Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, entre Fev. 2011 e Fev.2014, o que lhe permitiu acompanhar por dentro o essencial da gestão da crise do euro. A sua opinião, muito CRÍTICA, do que foi feito pelos LÍDERES do euro, está expressa no livro que acabou de publicar “European Spring: Why our Economies and Politics are in a mess”.
Isabel Arriaga e Cunha entrevistou-o, em Bruxelas e saiu hoje no Público.

Philippe Legrain explica que em Portugal não havia uma crise soberana pois a dívida do Estado português antes da crise era, em termos percentuais idêntica à da Alemanha (68% do PIB).
Havia sim uma dívida muito grande (200% do PIB) mas privada e uma dívida que directamente ou indirectamente atingia os bancos alemães e franceses e portanto quem necessitava de um resgate eram os bancos
mas isso, como se sabe, é uma coisa perigosíssima que põe em causa os fundamentos da sociedade e até da própria civilização porque atinge o bolso dos multimilionários, molesta os grandes accionistas dos bancos,
gente que necessita de ganhar muitos milhões todos os anos e atinge os seus gestores, pessoas respeitabilíssimas de ordenados sempre acima dos 100 mil euros/mês.

De modo que sob a batuta de Merkel (dos bancos alemães) e com a cumplicidade do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, transformou-se a crise bancária em crise soberana, salvam-se os bancos alemães e franceses, os portugueses e os gregos, com o dinheiro do contribuinte português e grego.
Desemprego, miséria, ruina da economia. Paciência. Saída limpa.

Extratos da entrevista a Philippe Legrain:
--A tese do seu livro é que a gestão da crise da dívida, ou crise do euro, foi totalmente inepta, errada e irresponsável, e que todas as consequências económicas e sociais poderiam ter sido evitadas. Porque é que as coisas se passaram assim? O que é que aconteceu?
Uma grande parte da explicação é que o sector bancário dominou os governos de todos os países e as instituições da zona euro. Foi por isso que, quando a crise financeira rebentou, foram todos a correr salvar os bancos, com consequências muito severas para as finanças públicas e sem resolver os problemas do sector bancário.
-- Como assim?
… As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido.
Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu.
Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.
--Quando diz que os Governos e instituições estavam dominados pelos bancos quer dizer o quê?
Quero dizer que os Governos puseram os interesses dos bancos à frente dos interesses dos cidadãos. Por várias razões. …
Muitos políticos seniores ou trabalharam para bancos antes, ou esperam trabalhar para bancos depois. Há uma relação quase CORRUPTA entre bancos e políticos. …
--Também diz no seu livro que quando foi conselheiro de Durão Barroso, o avisou claramente logo no início sobre o que deveria ser feito, ou seja, limpar os balanços dos bancos e reestruturar a dívida grega.
O que é que aconteceu? Ele não percebeu o que estava em causa, ou percebeu mas não quis enfrentar a Alemanha e a França?
… Infelizmente, apesar de termos tido muitas e boas conversas em privado, os meus conselhos não foram seguidos.
--Porquê? Será que a Comissão não percebeu? A Comissão tem a reputação de não ter nem o conhecimento nem a experiência para lidar com uma crise destas. Foi esse o problema?
… Ou seja, a Comissão poderia ter desempenhado um papel muito mais construtivo enquanto alternativa à linha única alemã.
E, por fim, é que, embora seja politicamente fraca, a Comissão tem um grande poder institucional. … Houve orientação política, só que vinha da Alemanha. … a Alemanha tentou redesenhar a Europa no seu próprio interesse.
É por isso que temos uma Alemanha quase-hegemónica, o que é muito destrutivo. …
--Então para si, a crise do euro foi antes de mais uma crise bancária mal gerida....
Foi. É antes de mais uma crise bancária.
...


De Resgates aos Bancos, custos p.Cidadãos a 12 de Maio de 2014 às 15:32
... Foi. É antes de mais uma crise bancária. Se olhar para Portugal, o principal problema era a dívida privada. Antes da crise, a dívida pública era sensivelmente a mesma que na Alemanha– 67/68% do PIB – mas o grande problema que não foi de todo resolvido era a dívida privada que estava acima de 200% do PIB. Antes da crise, o que aconteceu em Portugal era, no essencial, bancos estrangeiros a emprestarem a bancos portugueses e estes a emprestar aos consumidores portugueses. …
--Então, em sua opinião, os resgates a Portugal e Grécia foram sobretudo resgates disfarçados aos bancos alemães e franceses para os salvar dos empréstimos irresponsáveis, e que estão a ser pagos pelos contribuintes portugueses e gregos?
Claro que foram. No caso de Portugal, também havia bancos espanhóis, mas que também tinham obtido empréstimos dos bancos franceses e alemães. Era uma cadeia....
--Isso significa que o SOFRIMENTO dos portugueses, o desemprego astronómico, os cortes de salários e pensões e os aumentos de impostos, tudo isto foi feito para salvar os bancos alemães e franceses?
Bom, é preciso sublinhar que dado o crescimento gigantesco do crédito que aconteceu em Portugal antes de 2007, Portugal sofreria de alguma forma. Não estou a dizer que seria tudo perfeito. Mas a recessão foi desnecessariamente longa e profunda e, em resultado dos erros cometidos, a dívida pública é muito mais alta do que teria sido. A austeridade foi completamente contraproducente, as pessoas sofreram horrores e isso prejudicou imenso a economia.
-- Mas pelo menos parte da dívida pública foi assumida para salvar dívida privada, incluindo dos bancos, portugueses e alemães. O que significa que são os contribuintes portugueses que estão a pagar para salvar esses bancos?
Sim, é verdade.
-- Numa união europeia, numa união monetária, governos e instituições europeias puseram os interesses dos bancos à frente do bem estar das pessoas?
Essa é a questão essencial. … Mas quando o problema alastrou a toda a UE, o que aconteceu foi que a zona euro passou a ser gerida em função do interesse dos bancos do centro– ou seja, França e Alemanha – em vez de ser gerida no interesse dos cidadãos no seu conjunto. O que é profundamente injusto e insustentável. …

----- Qual e a solução agora?

--É preciso um discurso de verdade. Não acredito que Merkel seja capaz de o fazer porque teria de admitir os erros. Seria preciso que algum líder ou político alemão explicasse a verdadeira história sobre o que aconteceu. Mas tem de haver um reconhecimento da verdade. …
--O que sugere para Portugal poder começar a crescer?
É preciso uma reestruturação dos bancos,
um perdão de dívida tanto pública como privada,
é preciso investimento do Banco Europeu de Investimentos (BEI),
dos fundos estruturais da UE e através dos ganhos
de um perdão de dívida que reduza os pagamentos dos juros.
Se os bancos estiverem a funcionar como deve ser, também haverá crédito ao investimento.
E é preciso reformas, porque durante esta crise, as reformas defendidas pela Comissão e Alemanha foram, no essencial, redução de salários. Isto foi baseado num falso diagnóstico. …
-- E para a UE ? Qual é a solução para a crise?
Falar de maior integração, de união política e orçamental tem sentido?
Não creio que seja preciso maior integração para resolver a crise. O plano em três pontos que dei a Durão Barroso em 2010 – reestruturação de bancos, reestruturação de dívidas, investimento e reformas – … E é preciso dar aos Governos muito mais liberdade e flexibilidade para contrair crédito e para gastar – para isso, é preciso deitar fora o Tratado orçamental – embora prevendo, em última análise, a possibilidade de default. …
--Sobre os resgates em si: disse que no caso do programa da Grécia as projecções macro-económicas eram totalmente irrealistas e que as condições impostas a Portugal foram “bárbaras”. Quem foi responsável por isto, o FMI ou a Comissão Europeia?
Foi a troika que o fez em conjunto, mas penso que o essencial da responsabilidade da parte orçamental dos programas é da Comissão. …
A entrevista completa está aqui e aqui.
http://www.publico.pt/economia/noticia/ajudas-a-portugal-e-grecia-foram-resgates-aos-bancos-alemaes-1635405?page=-1

(via puxapalavra.blogspot)


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