Com o Syriza, a política regressa à Europa
«Se a tecnocracia (neoliberal) nos quer fazer crer que não há alternativas, a política abre os horizontes de um futuro em construção.
Mais do que um grito de protesto contra a austeridade, mais do que uma revolução nacional, mais do que um manguito aos credores, a eleição do Syriza na Grécia por uma confortável maioria foi, para todos os europeus, uma lufada de ar fresco. Porque, até agora, a União Europeia não tem poupado esforços para nos fazer crer que não há alternativas ao statu quo, que, se não estamos bem assim, poderíamos certamente estar pior, e que, afinal, a troika é nossa amiga.
Entre a espada e a parede, ou seja, entre governos de centro-direita e de centro-esquerda, temos aceitado, com mais ou menos celeuma, cortes nos serviços públicos, aumentos de impostos, e um empobrecimento generalizado da população. A tecnocracia (académicos, comentadores, economistas, gestores e políticos neoliberais) tem vindo nos últimos anos a substituir a política, os ditames económicos a verdadeira democracia, e os eleitores, desencantados, apenas esperam mais do mesmo.
Mas eis que a Grécia elege o Syriza. Incrédulos perante tal ousadia, os líderes europeus proferem algumas breves banalidades sobre o respeito por escolhas democráticas, para logo se pronunciarem severamente sobre a necessidade de os gregos honrarem os seus compromissos, vulgo, continuarem a pagar empréstimos insustentáveis. (...)
O que a eleição do Syriza nos devolveu foi um horizonte de diferentes possibilidades, que é o sine qua non de qualquer democracia. (...) Qualquer democracia digna deste nome tem por obrigação abrir-se a um futuro que não seja mais do mesmo. A Grécia, berço da democracia ocidental, deu-nos assim mais uma lição política com a eleição do Syriza. Será este um feito dos deuses do Olimpo, cansados de tanta insensatez humana? Seja como for, permanece por agora na mente dos europeus a pergunta: “E agora ?” Resta-nos apenas acrescentar-lhe um clamoroso: “Força, Syriza!” »
Na Grécia, a esquerda é que virou à esquerda (- A. Bagão Felix) Em conclusão: a Grécia não virou à esquerda. A esquerda é que virou à esquerda (por isso, não percebo o entusiasmo do PS…).» (a não ser que também vá virar à esquerda, rapidamente.)
Escuta, Zé!
(Rodrigues dos Santos: «Um palerma que viajou de Lisboa para Atenas»)
Só te dedico este post, porque decidiste vir para as páginas dos jornais defender a tua honra, na sequência das criticas que fizeram ao teu trabalho em Atenas. Concordo que algumas são exageradas, mas a verdade é que... também te puseste a jeito com as reportagens que fizeste em Atenas.
Conheço bem a Grécia e sei que é verdade o que dizes sobre os falsos paralíticos, os taxistas cegos, os médicos corruptos - meros exemplos da corrupção que mina a sociedade grega. Sei que havia muitos funcionários públicos que nem sequer iam trabalhar. Limitavam-se a receber o vencimento. Conheci vários nessas condições.
Mas tudo aquilo que conheço e critico na sociedade grega, não me confere o direito de generalizar e perentoriamente garantir que os gregos são corruptos e preguiçosos.
Terás de reconhecer que não foste isento.
Poderá ter sido azar meu, ou excesso de pontaria, mas nos apontamentos que fizeste de Atenas nunca te ouvi referir que
os desempregados não têm subsídio de desemprego e que
ao fim de três meses sem trabalho, as pessoas deixam de ter acesso aos serviços de saúde.
Escondeste a miséria em que vive grande parte da população grega.
Fizeste orelhas moucas e fechaste os olhos ao que não te interessava para a narrativa que querias impingir aos telespectadores da RTP.
Não o fizeste por incompetência. Foi má fé , desonestidade intelectual ou, então, porque de tantos livros escreveres, já confundes a tua profissão de jornalista com a de escritor (na minha modesta opinião mauzinho, devo dizer) .
O que reportaste desde Atenas, não foi a verdade. Foi a tua verdade.
Aquela que impinges aos teus leitores ( com sucesso, devo reconhecer) nos teus livrecos de cordel.
Prestaste um mau serviço aos portugueses mas, acima de tudo, à televisão que te paga o direito ao devaneio e, até por isso, devias respeitar.
Como cidadão, podes dizer tudo o que te apetece.
Como jornalista, enviado especial de um canal de televisão (ainda por cima público) deves limitar-te a dizer a verdade. Não “a tua” verdade.
Tu sabes bem que o Syriza não é um partido de extrema esquerda radical, mas não hesitaste em transmitir essa mensagem, estilo “ Maria vai com as outras”.
No entanto, nunca te ouvi uma palavra de repúdio ao Aurora Dourada.
E já agora que tens a dizer dos partidos que impuseram austeridade cega a gregos e portugueses? São moderados?
Chegaste a ser ridículo quando expressaste o desejo de que os gregos ainda tivessem um lampejo de bom senso de última hora e não votassem no Syriza. Isso não te dignifica nem um bocadinho. Bem pelo contrário.
Chegou a hora de te decidires se queres ser escritor ou jornalista, Zé. Não é que sejam actividades incompatíveis, tu é que as tornas incompatíveis na tua condição de Homem Duplicado.
Se queres que te dê a minha opinião, penso que és melhor jornalista do que escritor, mas acredito que aufiras mais rendimentos dos livros do que do jornalismo, pelo que deveria ser fácil optares.
Só que é o jornalismo que te fornece material para os livros que escreves, pelo que deixar o jornalismo seria secar a fonte em que te inspiras.
Azar teu!
Não podes é continuar a ser cabotino e a desprestigiar o jornalismo.
...
(- por C.B. Oliveira, crónicas do rochedo,28/1/2015)
----------
J CTapadinhas:
A maioria dos jornalistas, para solidificarem os seus cargos, fazem fretes, normalmente aos interesses dos patrões e de partidos políticos.
Também tive a oportunidade de acompanhar as reportagens, feitas pelo J. R. dos Santos, a partir da Grécia e de apreciação negativa ao povo grego, que, na sua opinião, será um escumalha de vigaristas que envergonham toda a humanidade.
Não houve uma palavra sensata sobre os problemas que afligem o povo, desde a fome ao desemprego ou falta de resposta para os doentes pobres.
Foi uma tristeza, foi parcial, aliás, no desenvolvimento de cultura de desprezo pelos pobres, que está a ser cultivada por muitos daqueles que têm as 3 refeições asseguradas.
O egoísmo campeia e o justicialismo já entrou na órbita de qualquer do grupo que julga ser invulnerável.
----João Roque:
Mas ele é sempre parcial, caramba...nunca o vi isento! E parcial para o mesmo lado é óbvio.
Varoufakis (Min. Fin. Grego) protesta com cobertura jornalística
(J.M. Rocha, Púb.31/01/2015)
Novo ministro das Finanças da Grécia diz que ficou surpreendido com “o poder dos media para distorcer”
O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, está descontente com o que considera falta de rigor na cobertura jornalística dos primeiros passos do novo Governo.
O desagrado é patente nos últimos posts que colocou no seu blogue e numa entrevista que deu sexta-feira à noite à BBC.
Na entrevista, no programa Newsnight, depois de questionado se a Grécia não aceitaria o dinheiro que ainda tem a receber do programa de resgate da troika, disse que “os jornalistas adoram a linguagem da confrontação”.
O último post é precisamente sobre a entrevista. “Como fã da BBC, devo dizer que fiquei chocado com a falta de precisão do relato subjacente a essa entrevista (para não falar na falta de cortesia da apresentadora).
Mesmo assim, e apesar do vento frio na varanda [onde estava a ser entrevistado], foi divertido!”, escreveu.
Durante a emissão, Varoufakis tinha-se já confessado admirador da estação britânica mas lamentado a “falta de precisão” do relato sobre a sua declaração de não pretender dialogar com a delegação da troika enviada a Atenas mas sim com a Europa.
“Nunca disse que não estávamos interessados em discutir com os credores”, justificou.
“Se me deixar falar em vez de me cortar a palavra de forma tão rude”, disse também.
No post anterior, o ministro tinha escrito que “o poder dos media para distorcer” o tinha voltado a surpreender.
Referia-se a relatos sobre um alegado veto da Grécia a novas sanções da União Europeia à Rússia, assunto sobre o qual, garante, o novo executivo não tinha sido questionado nem se tinha pronunciado.
“A questão não é se nosso novo Governo concorda ou não com novas sanções à Rússia.
A questão é se a nossa opinião pode ser dada como garantida, mesmo sem termos dito qual é.”
A concluir, Varoufakis, pergunta:
“Podem os jornalistas do mundo inteiro tentar perceber a importante distinção entre protestar por não termos sido ouvidos
e protestar pelas sanções em si.
Ou isso é muito complicado?”
-------
Governo grego não quer dialogar com troika mas sim com a Europa
Grécia bate o pé, mas União Europeia mantém-se firme nas sanções contra a Rússia
Ouçam este homem:
No segundo semestre de 2011, a situação na zona euro tornou-se crítica. O resgate grego tinha-se dado pouco mais de um ano antes, o português durante o primeiro semestre, o irlandês entre ambos. Mas os resgates não só não conseguiam acalmar os juros nos mercados da dívida soberana, como até os excitavam mais ainda. Após cada país que caía, a aposta era sobre qual seria o próximo a cair. E os próximos seriam a Espanha, e a Itália, e depois a França. E com isso seria o fim desordenado do euro, uma coisa pouco bonita de se ver.
Em setembro desse ano escrevi uma crónica chamada “Onde estamos”, onde defendi a implementação de uma solução para a crise do euro baseada na “Modesta Proposta para Salvar o Euro”, de Yanis Varoufakis e Stuart Holland. Ao contrário das anteriores propostas baseadas na mutualização da dívida, politicamente bloqueada, a proposta de Varoufakis e Holland baseava-se na emissão direta de títulos pelo Banco Central Europeu e na reciclagem da dívida soberana num prazo longo, ao passo que o Banco Europeu de Investimentos financiaria um plano de recuperação e relançamento da economia, em particular nos países do Sul e da periferia.
Não havia tempo a perder. Era preciso que Varoufakis e Holland viessem a Bruxelas explicar a proposta deles aos líderes do parlamento europeu. Começámos imediatamente a trabalhar nessa viagem, que ocorreu no fim de novembro de 2011.
Para ultrapassar a primeira crise europeia do século XXI, precisamos de um tipo especial de europeus. Gente que entenda o papel do seu país na Europa, e o papel da Europa no mundo. Que queira reformular com as pessoas e não contra elas. Que tenha noção das consequências de um novo fracasso. Que esteja mais interessado em novas soluções do que velhos dogmas.
Y.Varoufakis é certamente um desses europeus. É também um dos poucos economistas a não encarar esta crise como um mero economista. Onde outros se limitam a proclamar as suas equações e a desconsid ...
Comentar post