2 comentários:
De Falso futuro com desregulação... a 6 de Maio de 2016 às 15:09
---O passado e o falso futuro nos táxis

Se há uma coisa que a direita faz muito bem é misturar debates e omitir o que não lhe convém. Nesta questão dos táxis e da Uber, os argumentos liberais têm sido os clássicos. E, então quanto aos táxis, até parecem ter toda a imagética do seu lado.
Senão veja-se: quem não prefere chamar um táxi através de um app num telemóvel táctil, receber uma mensagem por sms, a dizer quanto custa o trajecto e qual a duração prevista, esperar um carro bem lavado, de estofos macios, com um motorista engravatado e limpinho, que o trata como se fosse um chefe do FMI que desembarcou em Lisboa? Tudo isto tem um cheiro a modernidade. Mais: este novo mecanismo acaba por pôr em causa poderes fácticos, advindos de um mercado condicionado, que se traduz num negócio sujo de alvarás e corrupção dos poderes administrativos para obter um. Feios, porcos e maus. Ah! bendita Uber, que penetra tão fundo, sem capacidade de reacção.

Paulo Ferreira no Observador fala de tempos únicos que se vivem, em que o caso dos táxis é "um tratado sobre formas distintas de ver o mundo, de estar na vida e de ganhá-la através dos negócios". Helena Garrido - hoje na Antena1 - falava da impossibilidade de deter o progresso e a internet. Os taxistas se queriam concorrer só tinham de encontrar uma app semelhante. E não o disse, mas podia ter acrescentado que, já agora, era bom que se lavassem.

Ora, o problema essencial aqui é outro: há uma actividade que é regulada pelo Estado. Há condições de acesso para ser motorista de táxi. Há condições para obter um táxi. Há um pensamento: o Estado deve ser a entidade que regula o mercado, não passando mais licenças do que aquelas que o mercado comporta. Pode fazê-lo bem ou mal. Mas há uma ideia sobre como regular o mercado. Ora, o que se passa é que surge uma multinacional que acha que pode passar por cima das regras estabelecidas por um Estado soberano e limpar o mercado, contornando as regras. E ainda por cima com a chico-espertice de dizer que não é serviço de táxis, porque são pessoas que partilham o transporte... E por isso nem pagam impostos como tal. E sempre com o argumento de que criam "novas oportunidades para jovens motoristas". O que tem isto de moderno? Aliás, se tem alguma coisa é de bem passadista, quando as corporações dominavam Estados e impunham regras em continentes inteiros.


Questão1: Por que não? Não é melhor para o mercado, para os clientes? A introdução da Uber e de outras companhias similares está a provocar uma guerra de preços nalguns países. E é uma opção possível. Mas então ter-se-á de acabar com os dois pesos e duas medidas. Acabar com a regulamentação para todos. A guerra far-se-á em violência e poluição, género tuk-tuks para o serviço de táxis... Mas o Estado deve ser capaz de dizer qual a opção que adopta. Se deixa o mercado às suas regras e abandona o tabuleiro - e é possível que tudo acabe com uma concentração dos operadores na mão de estrangeiros - ou estabelece fronteiras.

Questão2:E serei eu obrigado a ter um telemóvel táctil? Vamos supor que a Uber ganha tudo: o que acontece a certas pessoas que nem lidam com a internet?

Questão3: Quais as razões para que o Estado não intervenha e não imponha condições a quem, de facto, tem um serviço de táxis a operar? Têm esses senhores alvarás? Têm licença de motorista? Imaginem o que não era os fiscais chamaram um desses "táxis" e começarem a recolher todos os carros, caso não tivessem essas licenças...

E é assim tão disparatado? Da última vez que houve algo assim - e nem se comparava porque nem sequer se pagava por isso - o mercado e os Estados fecharam os concorrentes. Lembram-se daqueles sites de partilhas de músicas, de filmes, etc.? Onde estavam os liberais nessa altura? Com quem estava a modernidade nesse caso?

E já agora falando de jornalismo: os jornalistas queixam-se de que o seu trabalho é roubado por sites que pura e simples copiam, abastardando o mercado e inviabilizando quem vende informação. Mas porquê? Não é a informação pública? Não escrevem os jornalistas sobre a realidade de todos? Não é esse igualmente o traço da modernidade? Ou aqui já é um roubo?

(-por João Ramos de Almeida,29/4/2016, Ladrões de B.)


De Mercado e neoliberais Criminosos... a 6 de Maio de 2016 às 15:24
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"ou aquele que se auto-regula"

hahahaha

Tal como a banca privada se auto-regula...

Deixe-se de tretas.

É a obrigação do Estado encontrar uma solução que seja meio termo entre os interesses dos trabalhadores (neste caso taxistas) e os consumidores.

A Uber está-se a marimbar para o bem estar daqueles que trabalham para ela, numa altura de tanto desemprego as Ubers tornam-se das poucas alternativas existentes para ganhar algum €€€. Parece aliciante ao início mas é mais trabalho precário e com tendência para piorar.
E depois da conveniência inicial o próprio serviço ao cliente tende a deteriorar-se.

Tenho experiência em encher os bolsos deste tipo de empresas, empresas que apareceram com o boom da Internet. Não têm dinheiro para aumentar quem contribui para o seu sucesso mas têm dinheiro para alugar parte do Empire State Building para nova sede!!!

----- ESS:
Questão 5: e quando esses que "se auto-regulam" estoirarem com a concorrência e forem um monopólio quem vai defender os clientes dos seus abusos ? AÍ JÁ SE VAI A CORRER CHAMAR O ESTADO para vir cumprir o seu papel ?
Se a "auto-regulação" é uma maravilha para que é que existe a polícia ? e os tribunais ?

----:
"Os Estados foram chamados a financiar o colapso da banca, primeiro nos Estados Unidos da América, depois na Europa e resto do mundo, com claras consequências que perduram e perdurarão, mais ou menos conhecidas ou desconhecidas. A orientação do discurso dominante rapidamente foi corrigida. De um discurso assente na perspectiva de que era necessária mais presença do Estado e mais regulação da banca, passa-se gradualmente para um discurso que recupera a perspectiva de retirada completa do Estado e da cada vez maior «independência do regulador» e liberalização da actividade bancária".

É o que faz o Cristóvão, alargando o âmbito da actuação dos interesses privados. Tem graça que quando somos chamados a pagar os desmandos da banca ( da ordem dos milhares de milhões de euros) ele não invoque estas somas abjectas como o faz com as licenças dos taxistas.

O neoliberalismo é um cancro. Perigoso e feio .

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... uma definição da governação da tripla Cavaco, Passos e Portas. Ou se se quiser ser mais rigoroso, dum estado burguês a servir a grande burguesia e a mostrar sempre que serve o poder dominante- o dos grandes interesses económicos no caso em concreto.

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...com o comprometimento dos Estados na salvação e resgate de instituições bancárias gigantescas, muitas delas, partes de grupos monopolistas que integravam ou integram componentes financeiras e não financeiras.
O funcionamento do sistema foi sempre camuflado, escondido, mascarado, quer pela banca propriamente dita, quer pelos estados e aparelhos políticos ao seu dispor. Ou seja, não apenas a banca e o sector financeiro em geral se afastaram da percepção pública, realizando um número cada vez maior de operações especulativas, sem qualquer base material ou produtiva; como os estados – por força do controlo político da classe dominante – serviram de instrumento para permitir que a exploração, a especulação e a apropriação de mais-valias crescessem de forma exponencial, garantindo a alimentação da máquina de lucros que faz funcionar o capitalismo".

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Ao mesmo tempo que a dívida gerada pelos bancos e pela especulação era transferida para a dívida pública, a tese oficial do capitalismo passou a assentar numa suposta orgia de investimento público insustentável que teria existido durante décadas e que teria endividado os Estados acima das suas possibilidades. Em Portugal sentimos particularmente o peso desse discurso, na medida em que foi a tese política que deu cobertura a uma intervenção estrangeira – a pedido de PS, PSD e CDS – que impôs aos portugueses um rumo de empobrecimento e de agravamento da exploração, com custos no emprego, na fixação dos trabalhadores mais qualificados, na qualidade e no acesso aos serviços públicos de educação, saúde e cultura e na presença do Estado na economia, com as privatizações forçadas contra o interesse nacional.
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Ah! Este espírito de rebanho aqui tão bem patente dos saudosistas do antigamente, convertidos em fanáticos da governança neoliberal mais criminosa, que mantém sempre ontem e hoje a ligação com "os mercados" e com o saque, seja colonial ou bancário, seja...


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