- Ainda bem que me atrasei a pagar os impostos, pode ser que já não seja preciso.
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- As bolsas na Ásia estão em queda, e o dólar está a baixar.... (tal como o preço do petróleo e do ouro...)
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Muito a sério:
- O mais assustador é a vitória de um discurso que arrasa todos os valores que considerávamos conquistas indiscutíveis da civilização - alguma coisa está a correr muito mal na Democracia.
- Também assustador é saber que o Trump (o tal do discurso primário, o tal sem cultura política nem histórica nem nada) tem o poder sobre o arsenal nuclear do exército mais poderoso do mundo. Lá se vai a ilusão de que as "nossas" bombas nucleares estão em mãos seguras.
- Por outro lado, sinto-me curiosa: podemos estar a assistir ao início do fim da globalização. Como é que as economias vão reagir?
- A surpresa dos jornalistas também devia ser objecto de estudo - até ao fim do dia 8.11.2016 andaram a noticiar o que era, ou andaram - involuntariamente - a noticiar o que queriam que fosse?
Em todo o caso:
apertem os cintos, estamos a entrar em zona de turbulências.
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[- por: Helena Araújo, 8/11/2016, http://conversa2.blogspot.pt/ )
Joaquim de Freitas disse...
Quando uma classe politica, democrata e republicana, passeia uma Nação de guerra em guerra, desde o fim da última guerra, e continua desde então em guerra no mundo inteiro, um povo pode, a um dado momento, ter desejos de dizer «Basta» e, conceder a sua confiança a outros.
Se, paralelamente, este mesmo povo se apercebe, que tendo consentido esforços gigantescos com o seu dinheiro de contribuintes, para salvar uma classe ultra rica, salvando os seus bancos da falência em cadeia, falência devida à especulação desenfreada onde tudo era possível, sempre para os mesmos, este mesmo povo pode ter desejos de dizer: “Basta”
Se, ainda este mesmo povo, se apercebe que após a crise de 2007, finalmente, a mesma classe ultra-rica, conseguiu, e apesar da crise, retirar as suas castanhas do lume e comê-las sozinha, sem distribuir algumas aos mais necessitados e sobretudo àqueles que produziram as castanhas, então o povo pode revoltar-se.
Um grande número de jovens americanos, que não comeram castanhas, disseram, ontem: ”Basta”
Um grande número de americanos da classe média, disseram também “Basta”.
Estas duas classes foram aqueles que não beneficiaram dos ganhos da economia, porque todos os ganhos foram parar no bolso daqueles que pertencem ao grupo dos 1% …que detinha já mais de 50% da riqueza nacional.
O mesmo fenómeno se passou em Portugal, na França e algures… Porque nunca os ricos foram tão ricos que durante esta crise que eles provocaram em 2009 …
O fosso que separa os pobres e os miseráveis dos ricos que defraudam o fisco e alimentam os paraísos fiscais nunca foi tão profundo ou tão largo.
Esta distribuição injusta da riqueza produzida levou ao voto de ontem no país, farol da democracia, como se diz, e chefe do capitalismo selvagem internacional
.Assim, democraticamente, como Hitler quando acedeu ao poder, um racista, xenófobo, multimilionário, é o 45° presidente dos Estados Unidos.
Xenófobo sim, que prometeu pôr no olho da rua, quer dizer, expulsar dos EUA, os emigrantes clandestinos. Ele, chefe de varias empresas imobiliárias e da construção civil que emprega milhares de trabalhadores emigrantes sem documentos…e graças à exploração sistemática dos quais ganhou fortunas colossais.
Vamos a ver quanto tempo o sistema oligárquico e militar o deixará divagar.
Se é possível que o metam na “ordem” capitalista imperial, também é possível que o poder total das duas assembleias, Representantes e Senado, lhe dê asas… E neste caso o Mundo estará em perigo.
Mau presságio, em França, Marine Le Pen exultou e sonha já dum resultado idêntico, provocado pelas mesmas razões:
a injustiça social alarmante que não cessa apesar da presença dum governo dito de esquerda no poder desde há quatro anos.
De EUA: dia de Eleições + Referendos ... a 10 de Novembro de 2016 às 14:03
--- Referendos nos EUA
(por Miguel Madeira, 9/11/2016, Vias de facto)
Nestas eleições, os eleitores norte-americanos não vão apenas escolher entre imperialismo e xenofobia.
Como de costume, montes de assuntos irão ser decididos em referendos (: nacionais, estaduais, condados, municipais, 'distritos' escolares, 'distritos' judiciais, ...).
Alguns que me parecem dignos da atenção e seus Resultados:
(por Miguel Madeira, 9/11/2016, Vias de facto)
Resultados dos referendos que referi aqui (em atualização - só falta a questão 1 do Maine):
•Arizona Marijuana Legalization, Proposition 205 - Derrotado
•Arizona Minimum Wage and Paid Time Off, Proposition 206 (para subir o salário mínimo) - Aprovado
•Proposition 64, California Marijuana Legalization - Aprovado
•Colorado Creation of ColoradoCare System, Amendment 69 (criando um sistema universal de saúde pago pelo estado) - Derrotado
•Colorado $12 Minimum Wage, Amendment 70 - Aprovado
•Maine Marijuana Legalization, Question 1
•Maine Minimum Wage Increase, Question 4 - Aprovado
•Maine Ranked Choice Voting Initiative, Question 5 (alterando o sistema eleitoral, de maioritário a uma volta para voto alternativo) - Aprovado
•Massachusetts Minimum Size Requirements for Farm Animal Containment, Question 3 - Aprovado
•Massachusetts Marijuana Legalization, Question 4 - Aprovado
•Nevada Marijuana Legalization, Question 2 - Derrotado
•Washington Carbon Emission Tax and Sales Tax Reduction, Initiative 732 (substituindo parcialmente o imposto sobre as vendas por um imposto sobre a poluição) - Derrotado
•Washington Minimum Wage Increase, Initiative 1433 - Aprovado
Sturm und drang=Trump with a bang
(-R. Alves, 10/11/2016, Esquerda Republicana)
Trump ganhou. Na aritmética do colégio eleitoral, o factor decisivo foi a mudança de Obama para Trump de quatro Estados do Midwest pós-industrial - Pensilvânia, Ohio, Wisconsin, Iowa - (e um quinto alhures, a Florida).
. Foi aos trabalhadores destes Estados que viram os seus empregos deslocalizados para o estrangeiro que Trump, logo nas primárias, prometera renegociar os tratados de livre comércio «culpados» do desemprego (como Michael Moore notou prescientemente em Julho).
Esperou-se durante toda a campanha que Clintou compensasse as suas perdas nos votos dos «brancos trabalhadores» com os votos das mulheres e dos latinos, eventualmente dos negros. Falhou: Trump teve 29% dos votos dos latinos e 8% dos votos dos negros (respectivamente +8 p.p. e + 7p.p. do que Romney em 2012); entre as mulheres Clinton teve 54% (+1 p.p. do que Obama) mas Trump teve 53% do voto masculino (+5 p.p. do que Romney).
Ideologicamente, o movimento de Trump (tal como o do Brexit), é estridentemente contra as elites «globalistas» e «corruptas».
. Ser contra a globalização mobiliza aqueles que viram os seus empregos fugir por obsolescência ou deslocalização, e que nada têm a ganhar com os empregos da economia digital, geralmente para jovens qualificados.
. No entanto, o voto em Trump (e a acreditar nas sondagens) foi mais directamente motivado pela rejeição da imigração (e do terrorismo) do que do comércio livre.
E (sinal da descristianização dos EUA) parece mais indiferente do que hostil ao liberalismo social (direitos das mulheres, contracepção, casamentos gay, legalização da marijuana).
A corrupção é o outro grande tema do voto «contra o sistema». E incrivelmente, foi considerada mais corrupta a candidata que apenas usou um servidor de email privado do que o candidato que assumiu em debates ser praticamente um evasor fiscal.
A maldição de Trump será não poder cumprir as expectativas que criou. A maior parte das bojardas que lhe permitiram dominar os noticiários são incumpríveis:
construir um muro pago pelo México, prender Clinton, proibir a imigração de muçulmanos.
E na realidade, foi um erro tratá-las como promessas, porque eram apenas bandeiras, provocações que anunciam intenções mas não decisões.
Mas que os seus apoiantes lhe cobrarão daqui a quatro anos.
--- Do lado dos democratas, e embora territorialmente a divisão entre o campo e as cidades (ver o mapa acima) seja impressionante,
a esperança reside em o eleitorado de Clinton ser mais jovem, mais urbano, mais latino e mais irreligioso, todas categorias demográficas em ascensão.
A vitória de Trump pode portanto não se repetir.
. Mas será mais avisado que da próxima vez o candidato democrata seja alguém que possa corporizar melhor a revolta dos trabalhadores descontentes:
alguém mais como Sanders e menos como Clinton.
---Nota final: segue-se um ciclo na Europa em que o populismo de direita poderá ter novas vitórias.
. 4 de Dezembro: repetição da segunda volta da presidencial na Áustria, com vitória possível da extrema direita, e referendo constitucional em Itália.
. 15 de Março: eleições na Holanda, com o partido de Wilders em primeiro nas sondagens.
. 23 de Abril: primeira volta da eleição presidencial na França, quase de certeza ganha por Marine Le Pen .
---- Entre autistas e enraivecidos
Sondagem feita à boca das urnas, com base em 24.537 votantes em 350 localidades nos Estados Unidos, incluindo 4.398 entrevistas telefónicas publicada pelo NYTimes (azul = votantes de Clinton; vermelho = votante de Trump)
Quando se olha para o perfil dos votantes, publicado pelo NY Times, percebe-se que muita gente andou a dormir durante demasiado tempo.
O Slam! da porta atirada por Trump partiu o nariz de muitas pessoas, sobretudo daquelas que andam num mundo fechado,
que conversam apenas com o mesmo tipo de pessoas (geralmente em convivência com os poderosos),
que não querem viver a vida do comum dos mortais (muito menos alterá-la) e,
que, por isso, reproduzem pensamentos a leste do pesadelo do dia-a-dia dos cidadãos.
A figura enorme de Trump com o seu chocante penteado, já copiado na Europa por outros candidatos ditos extremistas, é a imagem clara do
fosso escandaloso entre o autismo de certos grupos dominantes e o grito surdo dos deserdados de um mundo cão que todos os dias cospe na sua cara.
O fosso pode ser preenchido quando acabar a recusa de certas pessoas e círculos em falar de exploração,
de vidas precárias sem sonhos, de vidas desgraçadas de pobreza e desemprego, de repartição desigual de rendimento, de roubo, expoliação e extorsão diária.
Quando se passar a defender sociedades mais equilibradas, mais justas, mais felizes.
Como foi possível que não se tivesse ouvido a voz das pessoas zangadas com o sistema viciado
(centralizado em meia dúzia de pessoas que dominam agendas políticas, repartição de dinheiros, partidos, listas de candidatos, até programas de televisão),
a voz das pessoas que acham que a sua vida vai piorar,
que acham que o comércio roubou empregos, que acham que os imigrantes e os terroristas fazem parte do mesmo mundo longínquo,
alienígena, que nada tem a ver com o nosso?
Candidatos escolhidos sempre do mesmo saco de sempre,
jornalistas que preferiram militar contra Trump sem perceber que ele era bem mais do que o palhaço que eles apenas viam e não queriam ver,
responsáveis de sondagens que perderam a sensibilidade, a honestidade e ao rigor
porque se venderam a quem lhes compra sondagens.
Mesmo em Portugal, haja quem faça previsões que nunca se verificam...
Se alguma coisa Trump trouxe, foi um enorme e urgente desafio – sobretudo à esquerda, mas também a uma certa direita honesta –
a quem acha que pode haver um mundo diferente.
E esse desafio é construí-lo, começando por transformá-lo numa visão, em medidas e passos concretos,
numa mensagem clara, passada com tenacidade e persistência, que dê outra voz aos enraivecidos.
Senão, essa voz arranjará o seu personagem e não vamos gostar do que se seguirá.
(-por João Ramos de Almeida , 10.11.16, Ladrões de B.)
Acordemos
(-por Sofia Loureiro dos Santos, 09.11.16, Defender o quadrado)
Depois do enorme duche de água gelada após a inimaginável vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA, vale a pena acalmar e pensar em várias questões:
1.Não podemos assumir que as únicas razões para a votação em Donald Trump são a estupidez, a ignorância, a xenofobia e o sexismo, embora essas razões também devem ter estados presentes.
2.Temos que tentar perceber que a insatisfação, a desigualdade, o desemprego e a crise económica desenvolveram uma crise social que
afasta as pessoas dos políticos e da política, levando-as a acreditar em alguém que as convence estar fora do sistema.
3.Os políticos, nomeadamente os de esquerda, menorizam e inferiorizam os eleitores, tratando-os com desdém e com sobranceria, em vez de tentarem compreender os seus anseios e procurarem soluções para os seus problemas.
4.A constante afronta aos políticos e à política, falando-se continuamente de corrupção, com suspeitas constantes, acusações, faltas de respeito e desvalorização das funções públicas,
são contraproducentes e só alimentam a desconfiança das populações em relação aos seus representantes.
5.É urgente perceber o que causou os erros das projecções e das sondagens - as pessoas mentiram?
Os autores das sondagens não valorizaram ou não contabilizaram com rigor as intenções de voto em Trump? Foram deliberadamente alteradas?
6.É urgente perceber a crescente irrelevância dos media na cobertura das campanhas e na forma como, deliberadamente ou não,
condicionam os leitores, provavelmente levando-os a fazer o contrário daquilo que advogam.
Este é um sinal, mais um depois do BREXIT, que deve acender todas as lanternas vermelhas em todos os cantos da Europa.
As ondas populistas continuam e crescem e, enquanto as instituições nacionais e internacionais, como por exemplo a União Europeia, mantiverem o
estado de negação e não olharem para os seus povos,
para as suas angústias e temores, sem paternalismos nem juízos morais, para tentarem resolver os reais problemas das pessoas,
a lenha continuará a ser lançada para estas fogueiras.
Não vale a pena lamentarmo-nos. A democracia funcionou e funciona.
Mas se esta é a vontade da maioria, por algum motivo essa maioria tem esta vontade.
O combate tem que ser frontal, diário e com actos, não apenas com intenções e discursos retumbantes.
Esperemos que o Trump Presidente não cumpra as promessas do Trump candidato. De resto, o futuro afigura-se-me bastante incerto e com cores bastantes escuras.
Etiquetas: democracia, eleições, eua, populismo
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De .Sistema USA: vencedor leva tudo. a 12 de Dezembro de 2016 às 18:39
Ganhar, perdendo
(-por Vital Moreira, 1/12/2016, CausaNossa)
É sabido que Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos apesar de ter tido dois milhões de votos populares a menos do que Hillary Clinton. Não é a primeira vez que isso sucede, pois o mesmo ocorreu com a vitória de Bush em 2000, com menos votos do que Gore.
Porquê esta discrepância, pouco conforme à lógica da democracia representativa?
Ao contrário do que se tem lido, isso não tem propriamente a ver com a eleição indireta do Presidente, através de um colégio eleitoral, nem com o facto de os membros desse colégio serem eleitos ao nível dos estados da União, em homenagem à estrutura federal dos Estados Unidos.
Há duas razões substantivas para essa assimetria política entre a maioria de votos dos eleitores e a maioria dos delegados no colégio eleitoral.
--A primeira decorre do facto de a representação dos estados no colégio eleitoral não ser proporcional à respetiva população, com vantagem para os estados mais pequenos.
--A segunda razão, e mais importante, decorre do facto de a eleição dos delegados em quase todos os estados ser feita por maioria, e não pelo método proporcional, pelo que o candidato presidencial que tiver mais um voto num estado "leva" todos os delegados desse estado.
Não fossem esses dois fatores muito pouco democráticos do sistema eleitoral, especialmente o segundo, o colégio eleitoral seria tendencialmente um espelho político do voto dos eleitores a nível nacional (como acontece com a nossa AR, que é eleita em círculos distritais) e Hillary Clinton seria Presidente dos Estados Unidos.
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