De farto de palavras a 12 de Março de 2015 às 11:14
O que me surpreende é como o autor do artigo conseguiu escrever o mesmo, porque estou seguro que na escola onde andou, o número de alunos era superior ao atual.
E que não há milagres
De Problemas da Escola Pública ... a 12 de Março de 2015 às 15:16
Não tenho a mesma percepção que o autor dos principais problemas / factores que influenciam/determinam a situação do sistema de ensino (em especial nas escolas públicas),
mas reconheço que se devem "atacar" principalmente as causas (a montante)
e não tentar fazer "remendos" sobre "buracos" ou andar sempre a "apagar fogos"...
- mas perguntem aos profissionais da educação, no terreno (nas escolas públicas: docentes, não docentes, técnicos)
e àqueles que têm vindo a pedir a reforma antecipada, mesmo com grandes penalizações,...
o porquê da situação, quais as causas e algumas medidas, ...
em vez de consultarem (e pagarem caro) "especialistas externos" e encomendarem "elaborados estudos" (a gabinetes de ...) ou tomarem decisões em cima do joelho, nos gabinetes (cheios de 'boys' e 'yesmen'),
ou intencionalmente seguirem a cartilha neoliberal (mais dolosa do que incompetente) procurando destruir o sistema público para privilegiar o "empreendedorismo" e negócios privados....
Quanto ao autor (N. Serra) não sei em que condições fez a sua escolaridade.
Eu, já com + de 50 anos, andei nos vários ciclos e universidades e nunca estive em turmas com mais de 29 alunos -- valor que actualmente é ultrapassado em muitas turmas de muitas escolas.
Por outro lado,
as escolas não se integravam em mega-agrupamentos e a gestão era mais directa/próxima;
a burocracia era reduzida (menos planos disto e daquilo, menos reuniões, menos papeis, ...);
os regulamentos/directivas e a educação (familiar e social) restringiam imenso os "maus comportamentos" e em especial a perturbação/abandalhamento durante e nas aulas, pelo que as aulas serviam para transmitir saber, praticar e aprender a "matéria";
os programas eram mais simples/concentrados e não estavam em constante alteração;
...
claro que também havia uma "selecção económico-social", menos liberdade, etc
Zé T.
De farto de palavras a 13 de Março de 2015 às 10:23
Pelos vistos somos de faixas etarias semelhantes, mas onde estudei o número de alunos era superior - à volta de 33 -
Mas atualmente turmas com mais de 29 alunos!!!
A haver são raras excepções.
A verdadeira escolha (ensino públic
Há excelentes motivos para que a educação deva ser universal e gratuita, mas a tendência geral tem sido de retrocesso a esse nível. As conquistas dos estudantes chilenos devem inspirar-nos a invertermos esta tendência.
São muitas e boas as razões que justificam que o acesso à educação - e a todos os níveis de ensino - deva ser universal e gratuito. A primeira, mais imediatamente reconhecível pela economia dominante, é que a educação é caracterizada por aquilo que se costuma designar por "externalidades positivas". Isto é, os benefícios resultantes da aquisição de educação adicional não são exclusivamente apropriados pelos seus beneficiários directos: o resto da sociedade beneficia de inúmeras formas do facto de cada um dos seus membros apresentar um maior desenvolvimento cognitivo e cultural e competências interpessoais e técnicas mais desenvolvidas.
Como tipicamente sucede em presença de externalidades positivas, o mercado é incapaz, por si só, de assegurar o nível ideal de provisão do bem ou serviço em causa, uma vez que a disponibilidade ou capacidade para pagar de cada um dos indivíduos não tem em conta os benefícios externos que advêm a terceiros. As externalidades, positivas ou negativas, constituem aliás um dos exemplos clássicos das chamadas "falhas de mercado", precisamente devido ao facto da regulação mercantil da provisão resultar, mesmo num quadro de análise estritamente utilitarista, numa situação socialmente indesejável.
Mas há mais razões e não são menos importantes. Uma segunda razão consiste no facto do acesso diferencial à educação ser um dos mecanismos mais poderosos de reprodução intergeracional da desigualdade. Os filhos dos ricos têm tipicamente acesso a mais oportunidades de desenvolvimento cognitivo e cultural do que sucede com os filhos dos pobres, e esta dimensão da desigualdade interage e potencia com as outras dimensões (como a transmissão por herança da riqueza) de um modo tendente a perpetuar a desigualdade de geração em geração. O ensino público, universal e gratuito não consegue, por si só, compensar esta desvantagem, pois os filhos dos ricos continuam a ter, tipicamente, um melhor desempenho em consequência das vantagens adicionais de que beneficiam. Mas é uma das formas mais importantes de mitigar esta dimensão da desigualdade - e é uma forma tanto mais poderosa quanto mais efectivamente gratuita e universal for.
Um terceiro motivo é o facto do acesso gratuito à educação, financiado através dos impostos cobrados pelo Estado, constituir uma forma de salário indirecto, que acresce aos salários directamente recebidos pelas famílias. Para as famílias cujo rendimento advêm do seu trabalho, todo o co-financiamento da educação que lhes é exigido, toda a redução do financiamento público, é efectivamente uma redução do rendimento disponível, um corte salarial efectivo. As disputas em torno do (co-)financiamento da educação, como da saúde e de outros serviços públicos, são também, por isso, disputas em torno da repartição funcional do rendimento entre rendimentos do trabalho e rendimentos do capital. E sabemos bem como o desequilíbrio crescente desta repartição em favor dos rendimentos do capital está na origem de tantos dos flagelos que assolam as nossas sociedades, do alastramento da pobreza à erosão da coesão social, passando pelo poder desregrado da finança. Reforçar o Estado social é reforçar a coesão social directamente e os salários indirectamente. A educação pública, universal e gratuita é uma das suas componentes fundamentais.
E um quarto motivo, porventura o mais importante de todos, é que o acesso à educação é, pura e simplesmente, um direito humano fundamental, uma condição de emancipação individual e colectiva que deve ser garantida pela sociedade a todos os seus membros. Tal como o direito à vida e à integridade física, possui um valor intrínseco que é incomensurável face às preferências individuais e à distribuição da riqueza, o que tem como consequência que a sua provisão deve ser assegurada fora da esfera mercantil e numa base de verdadeira universalidade, o que por sua vez implica também gratuitidade.
O acesso universal e gratuito à educação é uma conquista recente em termos históricos, resultante das lutas pelo salário indirecto ...
A verdadeira escolha
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O acesso universal e gratuito à educação é uma conquista recente em termos históricos, resultante das lutas pelo salário indirecto no contexto das sociedades industriais e das cedências por parte das fracções mais esclarecidas das elites e grupos dominantes. Mas é também uma conquista incompleta e sempre sujeita a retrocessos, como se vê facilmente pelos exemplos dos países onde a educação é mais profundamente mercantilizada ou pelo exemplo dos recuos registados no nosso próprio país, nomeadamente no contexto do desinvestimento público no ensino superior e do aumento do co-financiamento exigido às famílias.
Este último tem sido um processo evidente com alguns marcos que quase todos recordam. Primeiro, a introdução de propinas em todo o ensino superior no final dos anos '90, a coberto da insidiosa qualificação tendencial da gratuitidade. Mais tarde, a redução, de 4 ou 5 para 3, do número de anos do ensino superior que apesar de tudo continuam a contar com uma comparticipação pública maioritária, a coberto do processo de Bolonha, verdadeiro cavalo de Tróia do desinvestimento público na educação. Paga-se hoje - quem pode pagar, claro está - milhares de Euros pelos mesmos 4º e 5º anos do ensino superior (agora denominados "mestrados") a que os estudantes tinham antes acesso gratuito enquanto 4º e 5º anos das licenciaturas.
Se não enfrentarem resistência suficiente, estas são tendências que, claro está, não ficarão por aqui, tendendo sempre a expandir-se mais e mais, através da redução adicional das transferências do Orçamento de Estado para as universidades e do encorajamento a que estas fixem propinas cada vez mais elevadas, mas também, ao mesmo tempo, através do desinvestimento na provisão pública no ensino básico e secundário a par da promoção do cheque-ensino, seguida mais tarde pela redução do próprio cheque-ensino. A cartilha é conhecida e sempre vendida como promoção da escolha e da autonomia individuais; o resultado é precisamente o contrário. É o ensino universal e gratuito, e não a sua mercantilização insidiosa, que promove verdadeiramente a emancipação e a autonomia dos cidadãos. É essa a verdadeira escolha.
O desafio, para quem não desiste de viver numa sociedade decente, é não apenas resistir a estas tendências como invertê-las, reconquistar o terreno cedido. Isso está ao nosso alcance e há exemplos que podem e devem inspirar-nos - como o do movimento estudantil chileno, que ao longo de anos
não desistiu de lutar contra a herança neoliberal do regime de Pinochet e que, nas últimas eleições, assegurou finalmente o compromisso governamental da
reintrodução da plena universalidade e gratuitidade do ensino,
financiada através do aumento dos impostos sobre as grandes empresas.
É sempre possível voltar a ganhar terreno no sentido da decência. Há passos que são grandes porquanto apontam o sentido do caminho.
(publicado originalmente no Expresso online em 11/03; por Alexandre Abreu ,18.3.15 ,
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/03/a-verdadeira-escolha.html#more )
O potencial destruidor de Nuno Crato
12/03/2015 por Santana Castilho
1. A comunicação social referiu-se abundantemente a um documento produzido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre o problema das reprovações (“retenções” na novilíngua vigente). O tratamento jornalístico glosou os aspectos mais susceptíveis de chamar a atenção do grande público, tirando conclusões que não estão no documento ou dando uma interpretação descontextualizada a recomendações feitas. É o caso do custo das reprovações. Alguém multiplicou o número de “retidos” anualmente (150.000) por 4.000 euros (custo médio atribuído por aluno) para concluir que as ditas reprovações significam a perda de 600 milhões de euros. Ora é bom de ver que o custo de funcionamento das turmas pelas quais estão dispersos os alunos que reprovam não se altera por eles reprovarem no final do ano, num sistema de ensino com obrigatoriedade de permanência até aos 18 anos. É de outra natureza o prejuízo e as contas não se fazem assim. Mas a imprecisão foi amplamente propalada. E é o caso de se ter passado implicitamente a mensagem de o CNE sugerir transições administrativas, coisa que o documento não defende. Tudo, talvez, porque a narrativa da análise do CNE é descuidada, a linguagem pouco clara e as ideias se contradizem por vezes. Veja-se, por exemplo, a afirmação feita na página 6 (“… Desta forma, poder-se-á concluir que as elevadas taxas de retenção não decorrem do enquadramento legal …”), desmentida na página 7 (“… O carácter restritivo das condições de transição, previstas no enquadramento legal dirigido ao ensino básico, revela-se contraproducente …”). Mas, o mais relevante, que a imprensa não destacou, é que o documento do CNE reprova em toda a linha as políticas de Nuno Crato, quando censura: “a existência de legislação uniforme e prescritiva para a organização das turmas”; “as formas e critérios de distribuição de serviço letivo”; “a distribuição das cargas horárias das áreas disciplinares”; “a imposição, em final de ciclo, das condições de transição, independentemente da via de prosseguimento de estudos pretendida”; “a construção de percursos escolares diversificados, centralmente determinados”; “a existência de um currículo prescritivo balizado por programas excessivamente extensos e por correspondentes metas curriculares anuais e, ainda, por provas de avaliação externa que incidem sobre toda a extensão dos programas”; “as inúmeras tarefas de cariz burocrático que são solicitadas às escolas”; “a sobrevalorização das disciplinas sujeitas a exame em detrimento das restantes áreas do currículo”; “a atribuição de prémio às escolas com bons desempenhos nos exames e provas, através da concessão de horas de crédito para apoio a alunos, não se verificando o reforço de recursos e profissionais para as escolas com alunos em dificuldades”; “a excessiva importância concedida aos resultados das provas de avaliação externa” e “o desenvolvimento da prática sistemática de treino para provas”. Tudo visto e considerando que o documento pede ainda para se “reavaliar a adequação das provas finais de 4.º e 6.º anos aos objetivos de aprendizagem dos ciclos que encerram, bem como rever as condições da sua realização”, eu não seria mais demolidor. E tudo isto, que é uma reprovação monumental das políticas seguidas, passou de fininho nas televisões, nas rádios e nos jornais.
2. Abriu um concurso com 1.453 vagas para contratação de professores de QZP ...
http://aventar.eu/2015/03/12/o-potencial-destruidor-de-nuno-crato/#more-1227193
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2. Abriu um concurso com 1.453 vagas para contratação de professores de Quadro de Zona Pedagógica, cujos critérios de apuramento estão sob reserva dos burocratas, e foi tornada pública a decisão de extinguir 9.500 lugares nos ensinos básico e secundário, em sede de futuro concurso interno para professores do quadro. Trata-se de lugares que desaparecerão se os titulares mudarem de escola ou se reformarem. Continua a grande dança sem nexo, o maquiavélico ritual de sombras e a acumulação de injustiças sancionadas por sucessivas disposições legais, grosseiramente iníquas. Muitos, beneficiados por duvidosas contratações de escola (quantos factores inaceitavelmente subjectivos determinaram reconduções de professores menos graduados em detrimento de outros mais graduados), deixarão à porta colegas mais qualificados, num sistema diabolicamente arquitectado para colocar os professores contratados em vexatória disputa intestina. Da gigantesca trapalhada destaca-se uma “norma travão” que ilude maliciosamente a directiva europeia, quando não considera todos os contratos a partir de 2001 e manipula a seu jeito o conceito de contratos anuais e sucessivos (a directiva em análise considera sucessivos os contratos interrompidos por períodos inferiores a 90 dias).
A controvérsia em que a opinião pública mergulhou, quando confrontada com o carácter inconsciente do primeiro-ministro relativamente às suas obrigações contributivas, explicará parte da placidez da comunicação social face às últimas manifestações do potencial destruidor de Nuno Crato.
* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
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http://aventar.eu/2015/03/11/a-associacao-de-professores-de-portugues-reconhece-que-ha-problemas-com-o-ao90/
por António Fernando Nabais
A Associação de Professores de Português reconhece que há problemas com o AO90
Este ano, de acordo com informação do IAVE, a única grafia admitida nos exames nacionais será a que está conforme o acordo ortográfico de 1990 (AO90)
Entretanto, a sociedade portuguesa não conseguiu, não pôde ou não quis adoptar o referido acordo. As causas são variadas e começam nos vários erros de concepção do próprio AO90, com várias pessoas e instituições a fingir que não há problemas.
Os jovens que vão, este ano, fazer exames nacionais foram obrigados, ao longo do seu percurso escolar, a conviver com duas ortografias, sendo que a mais recente tem contribuído para o aumento de erros. Como é evidente, os estudantes, sentindo-se ortograficamente inseguros, desejam, no mínimo, que seja reposta a possibilidade de continuar a optar pelas duas ortografias – a de 1945 e a de 1990 –, tal como acontecia nos exames de 2014.
Edviges Ferreira, presidente da Associação de Professores de Português (APP), discorda dessa pretensão e julga ter explicado a razão, ao declarar que, “se todos os docentes tivessem feito o que deviam, preparando os alunos activamente durante os últimos três anos, para este momento, não haveria qualquer problema.”
A presidente da APP reconhece, então, que existe um problema: os alunos não dominam o AO90, o que os prejudicará nos exames. Reconhece, ainda, que os alunos não são responsáveis por esse problema. Ainda assim, espantosamente, defende que não devem ser protegidos e que lhes cabe pagar por erros alheios. Nem sensibilidade nem bom senso, portanto.
O resto da esforçada argumentação, por assim dizer, de Edviges Ferreira seria risível se não fosse indigna da presidente de uma associação de professores, tal é a falta de rigor. Como pode, em consciência, afirmar que os docentes não prepararam os alunos para utilizar o AO90? Que dados possui? Investigou? Distribuiu algum inquérito? Escondeu-se atrás das portas a escutar aulas?
Em suma:
apesar da habitual indigência argumentativa, Edviges Ferreira reconhece que há um problema. Se fizesse um esforço, mesmo não mudando de ideias quanto às causas, reconheceria que só há uma solução: continuar a permitir que os alunos possam usar as duas grafias nos exames deste ano.
A Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames
25/03/2015 por Santana Castilho*
Para facilitar a leitura deste artigo, começo por um pequeno glossário:
Nuno Crato – Presbítero da Suprema Congregação dos Santos Exames, em nome da qual vem destruindo a escola pública e perseguindo os professores. Oficialmente designado por ministro da Educação.
IAVE – Sigla de Instituto de Avaliação Educativa. Sucedeu ao Gabinete de Avaliação Educacional, num lance típico de algo mudar para tudo ficar na mesma. O presbítero, que financia a coisa e propõe os nomes para que o Governo designe quem manda na coisa, repete até à exaustão que aquilo é independente, julgando que prega a papalvos. Aquilo passa pelos erros que comete e pelas indigências que promove com a resiliência dos irresponsáveis.
Cambridge English Language Assessment – Organização privada sem fins lucrativos, o que não significa que não facture generosamente o que faz e não pague principescamente a quem a serve. Pagar principescamente e gastar alarvemente é desiderato de algumas Non Profit Organizations.
PET – Do inglês, comumente entendido como animal de estimação, é aqui o acrónimo de Preliminary English Test for Schools. Personifica o mais actual exame de estimação de Nuno Crato.
PACC – Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades. É o cordão umbilical que liga Nuno Crato a Maria de Lurdes Rodrigues em matéria de vexame público do ensino superior e da classe docente. O facto de persistir, depois de classificada pelo próprio Conselho Científico do IAVE como prova sem validade, fiabilidade ou autenticidade, mostra de quem o IAVE depende e contra quem manifesta a sua independência.
Despachado o glossário, passemos ao calvário. Começou a mobilização da máquina da escola pública para operacionalizar o PET, teste que pretende certificar o domínio do nível de proficiência B1 em língua inglesa, de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. O teste implica uma considerável sobrecarga de trabalho escravo para os professores e um notório prejuízo do curso normal das actividades lectivas. O direito às aulas por parte dos alunos cedeu ao “direito” de uma instituição estrangeira utilizar professores pagos pelo Estado português, para os industriar na aplicação de instrumentos com os quais impõe a supremacia de uma língua, num quadro comunitário multicultural e plurilinguístico, vexando-os e vexando as universidades portuguesas. Falo de 2150 docentes licenciados, mestrados ou doutorados, que irão obrigatoriamente ao beija-mão de Cambridge. Com efeito, os graus académicos que o ensino superior português conferiu foram liminarmente ignorados pela Cambridge English Language Assessment, tendo os professores portugueses que se submeter a uma prova que verificará a sua proficiência linguística. Para serem classificadores de uma prova obrigatória dos alunos do 9º ano do ensino obrigatório português, os professores portugueses são obrigados a sujeitar-se a uma prova atentatória do seu profissionalismo docente. O IAVE comparou, para as justificar, as exigências da Cambridge English Language Assessment com a formação e certificação a que ele próprio, IAVE, sujeita os professores portugueses, antes de os reconhecer capazes de classificarem os exames nacionais. Ou seja, a inteligência feudal daquela excrescência administrativa justificou a anormalidade B com a anormalidade A. Mas não ficam por aqui as surpresas que a vassalagem do ministro da Educação permitiu.
O artigo 9º do respectivo regulamento de aplicação consigna que o teste não é público e sublinha “que não pode ser reproduzido, no todo ou em parte, ou transmitido por qualquer forma ou por qualquer formato, processo eletrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, digitalização ou gravação”. Secreto pois, em nome da transparência.
À prova é atribuído um carácter de “diagnóstico”, sendo certo que apenas se lhe conhece um efeito: a atribuição de um certificado, facultativo mas ao preço de 25 euros, representando um potencial encaixe para a instituição sem fins lucrativos da ordem dos 2 milhões. Quanto ao mais, isto é, como serão utilizados os resultados, prevalece o segredo, quer para pais, quer para alunos, quer para professores.
Também co...
.A Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames
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Também começará hoje, se os tribunais não o impedirem, a segunda parte da PACC. Compreendendo-os, dói-me ver tantos colegas sujeitarem-se, sacrificando a dignidade profissional e a independência intelectual, a tal fogueira inquisitória. A somar-se aos outros anacronismos, soubemos agora que uma necessidade fisiológica superveniente em Faro ou Braga só poderá ser satisfeita sob vigilância a designar pela direcção local e mediante autorização a solicitar ao real júri nacional. Assim, ou com coragem de se fazer acompanhar de competente vaso sanitário e lata para se aliviar na própria sala de tão imprópria prova. Tudo a bem da uma classificação asseada e em nome da Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames.
* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
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Dora:
De pleno acordo com o texto do post.
Gostaria de levantar as seguintes questões:
1- Qual o montante a pagar à Cambridge por toda esta parafernália de testes, livros, preparação para testes, etc?
2- Porque é que, a desconfiar-se da competência de professores de Inglês para correção de um teste de 9º ano,
não se entregam os testes aos professores nativos, às escolas Cambridge, ao Instituto Britânico, etc para a sua correção?
3º- Agora mais abrangente, como conciliar a teoria da “examocracia/rigor” do MEC com a escola da “não retenção e do trauma” que tais retenções causam nos alunos defendida pela CNE?
Mais ainda, como não questionar escolas que aparecem na comunicação social, escrita e falada, defendendo que nessas escolas os alunos transitam todos até ao 3º ciclo?
Confrontados com um tímido “E não pode haver facilitismo?”, respondem que a escola até subiu 100 lugares no raking dos exames nacionais.
Como é que isto é possível?
Que variáveis estão em jogo e não são ditas/desmontadas?
Mas isto sou eu que me fizeram desconfiada, não tendo nada a ver com a dúvida metódica…..
Submersos em metas grotescas e exames inadequados
(29/04/2015 por Santana Castilho *)
Dar-se-ão os cidadãos conta de que o sistema nacional de ensino está praticamente por conta de exames até final do ano lectivo ?
O curso normal das aulas e do trabalho lectivo do 3º período tem sido consideravelmente perturbado pelas acções de formação previstas para os 2200 professores envolvidos no Preliminary English Test for Schools. Conforme já escrevi nesta coluna, o direito às aulas por parte dos alunos cedeu ao “direito” de uma instituição estrangeira utilizar professores pagos pelo Estado português, para os industriar na aplicação de instrumentos com os quais impõe a supremacia de uma língua de negócios, num quadro comunitário multicultural e plurilinguístico. E não são apenas as aulas sacrificadas. É também o restante trabalho não lectivo desses professores, de que serão dispensados durante o resto do ano. Alguém o fará, em injusta sobrecarga, ou ficará por fazer. Volto ao tema, porque ele toca o inadmissível.
A 7 de Fevereiro, a jornalista Maria João Lopes descreveu no Público a “fábrica” da Cambridge English Language Assessment, que produz os testes aplicados nas escolas portuguesas. A expressão “fábrica” é dela e é feliz, porque é de uma fábrica que se trata: fábrica de exames, fábrica de domínio linguístico e fábrica de dinheiro. São 21 mil metros quadrados de área, onde não entram sacos pessoais nem telemóveis, 9 quilómetros de estantes e um armazém de 30 mil caixas de enunciados devolvidos (convenientemente, os denominados testes de Cambridge não são públicos, não podendo aqueles que a eles se submetem ficar com os enunciados, fotocopiá-los ou fotografá-los), tudo vigiado por 180 câmaras. Espalhados pelo mundo, esclareceu-nos Maria João Lopes, a fábrica tem mais de 500 funcionários, para além de dezenas de milhares de examinadores e professores, entre outros profissionais. No último ano foram feitos 5 milhões de testes e outorgados 7 milhões de certificados, distribuídos por 170 países clientes, que pagam os serviços requeridos. E quem paga os custos enormes de toda a logística portuguesa? Disse Nuno Crato, quando deu a boa nova ao país, que não era o Estado, outrossim os parceiros de uma sui generis e filantrópica PPP, a saber: Banco BPI, S.A., Porto Editora, Lda., Novabase, S.A., GlobeStar Systems, Inc. e Fundação Bissaya Barreto. Em momento de anúncio de novo assalto ao financiamento da Segurança Social (reincidência na ideia de baixar a TSU das empresas) e de mais uma bordoada no Estado de Direito e na sua credibilidade (corte de 600 milhões nas reformas), convinha que o ministro da Educação, ou alguém por ele, explicasse por que razão o nº6 do artigo 34º do Decreto-Lei nº 36/2015 (que estabelece as disposições necessárias à execução do Orçamento do Estado para 2015) reza assim:
“Durante o ano económico de 2015, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) pode efetuar, com recurso ao procedimento de ajuste direto, a despesa relativa à aquisição de serviços para a realização do teste diagnóstico de Inglês e para a emissão do certificado de proficiência linguística”.
Enquanto isto, até 8 de Maio decorrem, em 248 escolas seleccionadas aleatoriamente, os exames a que se sujeitam cerca de 10 mil alunos de 15 anos de idade, no quadro do famoso PISA. E daqui a pouco mais de um mês, teremos os alunos dos 4º e 6º anos também em exames, com as metas de Português e Matemática a voltarem à berlinda. De professores de uma e outra disciplina, com quem fui trocando impressões, não encontrei um único que não referisse a impossibilidade de tratar, com adequação pedagógica mínima, a extensão das matérias impostas, tanto mais quanto foi pouco eficaz, como era facilmente previsível, o plano de recuperação das aulas perdidas com o calamitoso arranque do ano-lectivo. Todos referiram o conflito gritante entre a necessidade de tempo para consolidar o que se aprende e a extensão daquilo que a alteração de programas significou, circunstância agravada pela frequente incoerência entre metas e programas, entre conteúdos e estádios de desenvolvimento psicológico e cognitivo dos alunos e pela forte instabilidade que os desastrados processos usados transferiram para escolas, alunos e professores.
Seguir-se-ão os exames do 9º e 12º anos, ...
Submersos em metas grotescas e exames inadequados
...
...
Seguir-se-ão os exames do 9º e 12º anos, sob comando do patusco IAVE e a previsível trapalhada trazida pela obrigatoriedade da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, que poderá custar, teoricamente, até quatro valores aos que não respeitem a palhaçada em que foram apanhados.
Quando a destruição estiver consertada e o afastamento temporal permitir a análise desapaixonada, de Crato serão claras as marcas que sobram para a história: brutal redução do financiamento da Educação, subjugação do público ao privado e do personalismo ao utilitarismo e deriva desvairada para tudo subordinar a metas grotescas e exames inadequados.
* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
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Dora says:
30/04/2015 às 02:17
O que se passa neste 3º período nas escolas é surpreendente!
– exames do 4º ano
– exames do 6º ano
- exames Cambridge de 9º ano ( com professores a entrar e sair das escolas para a realização das provas orais, em cima de “formação” para tal e em cima de “formação ” para correção escrita)
– elaboração de provas de equivalência à frequência de 6º, 9º, 11º e 12º…
Uma visita à maioria das escolas dá conta de painéis a transbordar de datas, calendarizações, reuniões preparatórias, troca de salas, júris de exame e vigilantes efectivos e suplentes.
Professores a não leccionarem as suas aulas, nomeadamente em turmas que têm exames nacionais fundamentais para os alunos e o seu percurso académico/profissional mais próximo e a combinarem aulas extra para compensarem;
alunos que fazem exames e depois continuam com aulas….
A loucura e promiscuidade vã e sem sentido em que só por acaso não se tem a funcionária da cantina ou do bar a vigiar os exames.
Uma loucura patrocinada por quem não conhece o funcionamento da escola, jorrando leis e normativos do conforto de gabinetes para ministro assinar.
Exames e provas para todos os gostos, a funcionarem em simultâneo com aulas e professores a sairem de vigilâncias e a leccionarem de seguida sem hora para almoço/descanso.
O que faria, no mínimo, a diferença? Acabarem as aulas 1 semana mais cedo e avançar-se para os exames a todo o vapor a seguir.
Isto é equacionado? Não. Porquê? Não há resposta.
Os directores das escolas, em reunião, tomam 1 posição contra isto?
Ao que sei, não tomam.
(a maioria são "yes man" que querem manter o seu cargo ... até para evitarem sujeitar-se a dar aulas, ser maltratado por alunos e pais, perder a saúde física e a sanidade mental para manter um mínimo de qualidade de ensino nas suas turmas ) !!!
A olhar para os rankings
15/10/2012 por A.F. Nabais
Sempre que são publicados os rankings, voltam os mesmos erros de análise, o que quer dizer que o sol continuará a ser tapado com uma peneira.
Dos insurgentes e comentadores similares não se pode esperar mais do que um simplismo algo hermético, porque, para gente desta, resolver os problemas de Educação em Portugal resume-se a olhar para quem fica no topo dos rankings.
Os responsáveis pelos colégios, para explicar os bons resultados, portam-se, obviamente, como directores de empresas que têm um produto para vender (e, com isto, não pretendo pôr em causa a qualidade dos profissionais que aí trabalham, incluindo os próprios dirigentes). João Trigo, director do Colégio do Rosário, explica que os bons resultados se devem a “uma aposta na formação global dos alunos”, o que é tão vago que pode ser aplicado a muitas outras escolas cuja colocação no ranking seja inferior. O mesmo director atribui a fama de elitista ao facto de “os pais dos (…) alunos terem de ter dinheiro para pagar as propinas”, necessárias para a sobrevivência da instituição.
Não me interessa culpar ou ilibar seja quem for da acusação de elitismo. Falta, no entanto, reafirmar que, graças a um estatuto socioeconómico e/ou sociocultural elevados, há alunos que, ao entrar na escola (em qualquer escola), já partem com avanço relativamente a outros oriundos de classes desfavorecidas. Os primeiros foram expostos, desde pequenos, a actividades e bens culturais e perceberam que os pais valorizavam a Educação e a Escola. Os outros, por razões culturais ou económicas, podem não ter recebido os mesmos estímulos, o que os prejudicará, quase inevitavelmente, no que respeita a coisas simples como, por exemplo, a capacidade de concentração ou de aquisição de conhecimentos.
Nada disto significa que uma boa escola ou um bom professor não façam a diferença na vida de qualquer aluno. A verdade, no entanto, é que directores e professores não são santos milagreiros, embora, na realidade, possa ser considerado um milagre o momento em que um aluno com dificuldades consegue superar-se, mesmo que isso não se traduza numa boa classificação. Para aqueles que só conseguem pensar com base em números, grelhas e classificações, eu explico: pode ter tanto ou mais mérito um professor que ajuda um aluno carenciado a atingir os dez valores do que aquele cujos alunos de elite alcançam vinte num exame.
Todos os que trabalham nas escolas públicas e privadas sabem disto, mas, mesmo entre os responsáveis pelas primeiras, há quem justifique os bons resultados e as boas classificações nos rankings com os mesmos argumentos dos directores dos colégios. Ora, se é verdade que é difícil alcançar bons resultados sem uma boa organização e sem bons profissionais, é muito mais difícil isso acontecer sem bons alunos. Diria, ainda, que os bons alunos conseguem, até, sobreviver a maus professores, o que deriva, também e não só, da capacidade económica de os pais pagarem explicações.
Não condeno que as escolas sintam orgulho nos resultados dos seus alunos e, portanto, no próprio trabalho da instituição, mas seria importante que, por outro lado, soubessem assumir que esses resultados dependem de vários factores externos à própria instituição. Se conseguissem fazê-lo estariam a prestar um serviço importante à Educação, algo mais importante do que suscitar afagos públicos ao próprio ego.
A propósito de olhares sobre os rankings, leia-se a notícia sobre os fracos resultados no exame de Português do 9º ano, na freguesia de Rabo de Peixe. Em primeiro lugar, o título, absolutamente enganador, releva da primeira informação dada pela Presidente da Junta: “Pronúncia determina más notas a Português em Rabo de Peixe”. Se estivéssemos distraídos, poderíamos pensar que o exame era oral ou que não existe, em Portugal, uma grande variedade de “pronúncias”. Logo a seguir, ficamos a saber que as crianças “escrevem como falam”, como se esse problema não afectasse alunos em todo o país.
A verdade só começa a surgir, quando ficamos a saber que existem problemas de assiduidade e que há “crianças filhas de famílias com situações problemáticas”, questões muitas vezes relacionadas. Ao ler o resto da notícia, ficamos a perceber que a maioria dos alunos sofre de carências várias,
A olhar para os rankings
15/10/2012 por A.F. Nabais
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... perceber que a maioria dos alunos sofre de carências várias, por razões socioeconómicas.
Os alunos que “escrevem como falam” fazem-no, em qualquer parte do país, não porque a pronúncia que usam seja mais ou menos cerrada, mas porque foram vários os condicionalismos que dificultaram a aprendizagem da escrita. Não estranharia que estes alunos de Rabo de Peixe revelassem, ainda, dificuldades de compreensão em muitas outras matérias.
Olhar para os rankings deveria servir para confirmar tudo isto e levar a que as políticas sociais e educativas fossem substancialmente alteradas. Em vez disso, entre muitos outros disparates, Nuno Crato aumenta o número de alunos por turma. Curiosamente, e a propósito, o Colégio Horizonte tem turmas pequenas, “o que facilita a tarefa dos professores.” Se isto é verdade para as meninas privilegiadas que frequentam este estabelecimento, é-o, por maioria de razão, para as crianças de Rabo de Peixe.
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--Zico447:
Boa descrição do panorama educacional associado aos rankings. Não nos esqueçamos que os rankings servem um determinado lobby.
Daqui em diante teremos um ensino baseado em exames, desde o 1ºciclo até ao secundário. Bem, até no pré-escolar já andam com a mania dos testes. Se o ser humano fosse assim tão “desintegrado” era tudo mais fácil. Mas não é!
Para terminar, isto é tão estúpido que querem alunos mais criativos e inovadores e baseiam todo o ensino na memorização.
-- Universidade do Porto: os alunos mais bem preparados vêm das escolas públicas – ... :
-- Xeque ao ensino: o meu cheque-ensino é melhor do que o teu
-- Quem percebe de Educação? Os gestores, claro! (3)
[…] uma vez, estamos na presença do pensamento simplista que reduz a avaliação das escolas ao lugar que ocupam no ranking.
O mundo reduzido a listas e gráficos parece muito simples, sobretudo quando não se quer perceber […]
--Tiques e decisões: a propósito da prova final de quarto ano
[…] quando, na realidade, os exames, tal como eram aplicados, só serviram para aprofundar a interpretação pervertida dos rankings
e a consequente transformação das aulas em mero treino.
Ao mesmo tempo, tomou decisões […]
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--MCR (15/10/2012):
Acabaram como o comércio tradicional ??? pois só há supermercados –
O ensino privado é co-financiado” ?? pois então é uma PPP – o ensino privado é melhor ?? pois dão notas mais altas porque não podem fechar a porta e são assim supermercados do ensino – ensino Cooperativo como a Lusófona – pois é uma mina de dinheiro
– E do meu IRS sai para o ensino público e privado + saúde pública e privada
+ para banquetes ministeriais e topos de gama a deputados e governantes + eurodeputados
+ mais os jantares de deputados e festas de golf + $$ para partidos e eleições+ para ordenados milionários de empregados das TV
+ para o teatro e cinema que querem sempre “ajudas” + para fazer rotundas no Marquês –
mas que rica fui e agora ainda há as tais fundações e só a de soares é 1.5 milhões de euros/ano fora as multas do carro que lhe demos e anda a 35o km/h – talvez queiram que lhe pague a “bica” e engraxar os sapatos –
mas não lavam as ruas nem regam as árvores e ontem vi e nunca pensei ver – o belo relvado frente à Torre de Belém é um campo de terra – o senhor da CML não regou porque um tractor pisou o sistema de rega automático
e é um verdadeiro deserto
– miseráveis miseráveis miseráveis miseráveis miseráveis miseráveis – que rica podia ser e nunca tendo sido
o facto é que de acordo com o ebgº Picanço do sindicato dos quadros
já sacaram aos FP 44% mas quais FP – já que sócrates misturou todos os que recebem reformas de zero a 100 no mesmo sistema pelo que quando eram “reformas separadas” cada um recebia da CGD o seu e agora eu pago mais pelos que ganham mês o que ganho ano
– desestruturaram todos os sistemas (sócrates) e este novo primeiro ministro nada fez voltar ao que estave ainda piora – MISERÁVEL que ele é – é o mais miserável de todos e todos são como ele .
Mais informação, melhor informação
Paulo Guinote 12/12/2015
... ordenações de escolas com base no desempenho dos seus alunos em exames ou provas finais (no ensino básico limitadas a duas disciplinas) e começa ...uma fase de ... obtenção de melhor informação. ... os rankings (não) são a panaceia ou o demónio, preferindo encará-los como uma fonte de conhecimento que é necessário alargar, filtrar, contextualizar.
E prefiro ter acesso aos seus dados do que não ter, até porque da micro à macro escala eles me dão indicações úteis, mesmo se é inegável que deles são feitos frequentes aproveitamentos demagógicos com base em indicadores truncados.
Mas esse é um risco que pode e deve ser desmontado e não um factor que justifique a sua inexistência.
Para que os rankings ...mais racional e menos vulnerável a devaneios emocionais, parece-me essencial que se invista ...na qualidade da informação:
a consistência dos dados analisados ao longo do tempo e a transparência e equidade desses mesmos dados entre todas as escolas classificadas.
--- aspecto da consistência:
é complicado estabelecerem-se análises significativas do desempenho dos alunos, no seu todo, e de cada escola em particular sem a fixação de um modelo de exames ou provas finais que não seja vulnerável a humores conjunturais de quem coordena a sua elaboração.
Ao fim de um determinado número de anos (fiquemo-nos por uma mão-cheia deles) em que se admite que se façam experiências ou acertos, não me parece razoável que alguns dos instrumentos da avaliação externa em disciplinas fundamentais (no básico são apenas duas) vejam a sua estrutura ou grau de dificuldade variar a cada ano ou par de anos.
Seja como resultado de alterações dos programas, seja porque alguém acha que é necessário tornar mais fáceis ou difíceis as provas por razões exógenas (leia-se, na maior parte dos casos, “políticas”).
Quem acompanha por dentro o que se passa, aplicando as provas e classificando-as sabe que se torna quase impossível definir tendências credíveis em relação aos seus resultados no curto, médio ou mesmo longo prazo, sem entrar com ponderações subjectivas.
Enquanto os exames forem usados como instrumento político e ideológico, analisar do ponto de vista diacrónico os seus resultados é um exercício académico pouco útil.
Assim como se estarão apenas a analisar desempenhos relativos (quem subiu, quem desceu) e não o desempenho global de todo o sistema de ensino (que não pode basear-se apenas nos testes PISA).
--- transparência:
começa a ser tempo de exigir às escolas privadas tudo aquilo que é exigido às públicas.
Quem fez pressão para que os dados dos resultados dos exames fossem conhecidos publicamente também deveria pressionar para que não fossem apenas as escolas públicas a revelar os dados de contexto desses resultados.
Eu gostaria de ter rankings em que não fosse apenas a rede pública a revelar os dados sobre o nível socio-económico dos seus alunos ou as habilitações académicas dos pais, enquanto as escolas privadas os ocultam ou conseguem que não lhes sejam exigidos.
O mesmo se passa com a necessidade de conhecermos indicadores como a incidência de alunos com necessidades educativas especiais ou adaptações curriculares em todas as escolas ou ainda o peso relativo de turmas “não regulares”.
Ou as condições de acesso e funcionamento de muitas escolas privadas, se são escolas de tendência confessional ou não, que políticas de propinas praticam, quais as escolas privadas com subsídios públicos.
Seria mesmo interessante conhecer que modelo de gestão existe.
Todos estes elementos são fundamentais para sabermos caracterizar o perfil de cada escola para além da sua posição relativa no ranking.
E, a partir daí, termos uma maior qualidade da informação disponibilizada ao público, quando se comparam escolas públicas e privadas ou mesmo cada um desses subsistemas.
...a tese de que o factor que mais faz a diferença no desempenho dos alunos são os professores
e uma outra que se esforça por demonstrar que o que permite melhores resultados são as práticas pedagógicas e organizacionais das escolas privadas.
e se afinal há um 3º factor determinante:
as expectativas das famílias dos alunos, seu perfil académico e a sua capacidade de pressão económica sobre a gestão das escolas.
---- A pressa é inimiga da Educação
(11/12/2013 por António Fernando Nabais, https://osdiasdopisco.wordpress.com/2013/12/11/a-pressa-e-inimiga-da-educacao/ )
A Educação é um território frequentemente invadido por ignorantes atrevidos que desprezam os que trabalham
nas escolas com a mesma sobranceria com que os colonizadores decidiam que era necessário civilizar e evangelizar indígenas evidentemente ignaros.
O atrevimento do ignorante nota-se na facilidade com que debita opiniões sobre o que não sabe.
As razões para se ser ignorante podem ter na sua origem a impossibilidade de se informar, mas, na maior parte das vezes,
derivam da total ausência de vontade de se informar, porque, entre outras razões, correr-se-ia o risco de se ser obrigado a exprimir uma opinião contrária à sua própria crença.
Uma das muitas coisas que o ignorante ignora, no que se refere à Educação, corresponde ao facto de que
os efeitos da acção educativa são sempre mediatos, o que deve levar-nos a analisar dados, usando do maior distanciamento possível e resistindo, ao máximo, a preconceitos ideológicos.
Ao mesmo tempo, as ilações a retirar devem estar sujeitas a uma dúvida metódica que é tão saudável como estranha numa época em que se exprimem tantas certezas absolutas.
Convém, é claro, não esquecer que não há ninguém melhor do que um ignorante para ter certezas absolutas.
Num ano em que se juntou o resultado dos testes PISA à habitual divulgação dos rankings,
os ignorantes atrevidos agitaram-se nas suas tribunas e deixaram escapar muitos disparates, porque o ignorante atrevido sofre do problema de opinião precoce:
– no que se refere aos rankings, os crentes nas virtudes absolutas da privatização global
voltaram a explicar que a solução está em privatizar, uma vez que são as escolas privadas que estão no topo da classificação, e ponto final parágrafo.
Os outros factores exógenos, como o estatuto socioeconómico ou sociocultural da família, são absolutamente desvalorizados, como faz José Manuel Fernandes, ao explicar que já houve investimentos mais do que suficientes na escola estatal para que se possa continuar a fazer referência a esses factores,
não colocando, portanto, a hipótese de que o investimento não tenha resolvido os problemas sociais, realçando, como exemplo, as obras da Parque Escolar, numa estranha associação entre construção civil e iluminação interior;
– a queda da Suécia privatizadora e a contínua subida do Portugal comunista nos testes PISA fez disparar as sirenes no terreno dos ignorantes atrevidos da direita,
ao ponto de Vítor Cunha ter tentado explicar a ideia de que as falhas suecas se deviam ao afluxo de emigrantes.
É estranho, no entanto que tantas escolas, tão virtuosas porque privadas, não tenham conseguido resolver o problema descoberto pelo especialista blasfemo.
Descobrir que os fundamentos de uma religião ou de uma ideologia são menos sólidos do que se pensava é sempre traumático:
Vítor Cunha está a olhar para as escolas privadas suecas com o mesmo espanto horrorizado com que um comunista empedernido terá visto cair o Muro de Berlim;
– José Sócrates, um dos mais bem classificados no ranking dos ignorantes atrevidos, já veio afirmar que os resultados dos testes PISA são resultado da acção dos seus dois governos, o que poderia ter piada se não tivesse sido tão grave.
É o costume:
já em 2010, o mesmo Sócrates tinha falhado na explicação dos testes PISA 2009, utilizando a mesma técnica de José Manuel Fernandes,
ao ignorar o maior número possível de factores e ao tirar conclusões precipitadas, como qualquer ignorante atrevido que se preze.
Entretanto, nas escolas, continuam directores e funcionários a permitir que tudo vá funcionando,
suportando as decisões CRIMINOSAS de ministros ignorantes e as opiniões de ignorantes que não são ministros.
---- O campeonato dos hospitais
(12/08/2014, por A.F. Nabais, Aventar)
Para os iluminados pelo espírito empresarialês, o mundo não é mais do que um conglomerado empresarial (holding para os amigos), o que faz com que qualquer instituição seja vista como uma empresa. No fundo, o empresarialismo é uma religião, com os gestores, erigidos em sacerdotes abençoados pela infalibilidade, a anunciarem virtudes cardeais como a concorrência ou a competitividade ou o empreendedorismo.
Sendo uma religião proselítica, é claro que os clérigos tudo fizeram até impor as suas crenças a entidades que não eram empresas, como é o caso das escolas e dos hospitais. Assim, criaram a ilusão de que o sucesso é sempre mensurável: a Igreja fazia proclamações; o empresarialismo anuncia estatísticas, rankings e percentagens. Como sempre aconteceu, a maioria, embrutecida, repete a ladainha.
Mais uma vez, hoje, pude confirmar a omnipresença desta seita. Silvério Cordeiro, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Gaia/Espinho e antigo director do Centro de Formação Profissional da Indústria da Cortiça, queixava-se de falta de obras e de equipamentos, em entrevista ao Jornal de Notícias. Para o administrador, isso fez com que a instituição perdesse “claramente competitividade face aos hospitais da região.”
Vivendo eu nas trevas, tinha sido levado, por instantes, a pensar que as obras e os equipamentos fossem necessários para oferecer melhores condições aos doentes, mas estes, no fundo, são meios para melhorar a competitividade. Os doentes, portanto, não valem mais do que a cortiça, tal como a cerveja é igual à televisão.
É graças a estes fundamentalistas que é possível, por conseguinte, usar expressões como o “melhor hospital do país”. Imagine-se o que pensará uma população crédula, esmagada pela autoridade dos números, quando souber que o hospital das redondezas está entre os últimos classificados: “Estás doente? Olha, deixa-te estar, que o hospital é dos piores: em vez de curar uma pessoa, mata-a. Assim como assim, morres em casa, que é mais quentinho!”
Depois de ter levado os piores anos da minha infância a assistir ao Natal dos Hospitais, chego à meia-idade e passei a seguir o campeonato dos hospitais. Já não deve faltar muito para que os jornais desportivos passem a anunciar a contratação de médicos que, chegados ao aeroporto, poderão declarar coisas como “Estou muito feliz por iniciar esta nova etapa da minha carreira, agradeço a confiança que o presidente depositou em mim e vou trabalhar para dar o meu melhor.” No fundo, voltamos sempre à religião.
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--- OBAdamastor:
...Hilariante ver Hospitais e Centros de Saúde (USF) a competir entre si, como se estivessem focados nos doentes …
Quando apenas estão preocupados com as suas quintinhas …
--- Quem percebe de Educação? Os gestores, claro! ( http://aventar.eu/2014/08/15/quem-percebe-de-educacao-os-gestores-claro/ )
[…] actual paradigma empresarialês, a única opinião legítima é a do gestor-economista-empreendedor-consultor, porque, já se sabe, […]
--- Aprender mandarim ou o primado do empresarialês
[…] substituída por rankings, ou seja, por listas ordenadas (o gestor, apóstolo do empresarialismo, confunde avaliação com classificação, mas, como qualquer membro de uma seita, não admite […]
Professores, escravos da grelha de excel? 4
12 Dez, 2015 in Escola tagged Avaliação / Artigo Semanal by Alexandre Henriques
Este fim de semana tem início uma das tarefas mais difíceis para qualquer professor – avaliar. E avaliar em quantidade… entre 150 a 300 alunos. Pouca coisa…
excelPodemos compreender a avaliação como um ato de validar um determinado saber. Avaliar é como um juízo, resulta de uma série de variáveis para depois deduzir uma conclusão, falível ou não. Na escola também temos essas variáveis, quantificadas por critérios de avaliação e que posteriormente são plasmadas em grelhas e escalas avaliativas. Avaliar é difícil, muito difícil e implica rigor, alguma experiência e muito bom senso.
O processo avaliativo em Portugal é caracterizado pela intitulada avaliação contínua, na qual constam 3 momentos em que essa avaliação é publicada. Aqui reside o primeiro problema, pois não é caso virgem encontrar colegas que apesar de terem conhecimento que a avaliação é contínua, restringem a sua avaliação ao período em si, não tendo em consideração o trabalho realizado em períodos anteriores. Também temos os colegas que baseiam a sua avaliação apenas nos testes e até podem argumentar que a matéria que consta nos ditos inclui os períodos anteriores, mas a avaliação não se restringe aos testes de avaliação e este é um dos erros mais comuns no corpo docente. A prática de somar o valor dos testes, dividir pelo seu número e “chapar” a nota na pauta, revela um amadorismo que não se coaduna com nobreza da profissão, além de não contemplar as diferentes valências do aluno.
Se acrescentarmos a isso a política de ciclo, que muitas vezes é ignorada nos finais dos anos letivos, mais os exames nacionais e a pressão dos rankings escolares – que obrigam indiretamente professores a “selecionar” alunos para que a média interna não seja divergente da média externa-, torna todo o processo avaliativo, algo extremamente complexo e que ultrapassa as simples paredes da sala de aula.
Mas até que ponto é que somos escravos das grelhas de excel?
A grelha de excel, é fantástica, veio facilitar a vida a milhares de professores e encostou a máquina de calcular, eliminando alguns lapsos matemáticos. A grelha de excel, em situações normais, reflete os critérios de avaliação que foram aprovados em sede de departamento e validados pelo conselho pedagógico. Qualquer professor que se restrinja à grelha de excel está “safo”, venha a reclamação que vier que 2+2 ainda são 4. E a matemática nisso é excelente, um 49% não é um 50%, e um 69% não é um 70%, e se um professor quiser atribuir um 2 ou um 3 respetivamente, podem acusá-lo de muita coisa, mas de não cumprir com os critérios de avaliação, isso é que não.
Mas existem colegas que simplesmente alteram as escalas. Por exemplo, a positiva começa nos 45 % e um excelente começa nos 85 %. Mas esses mesmos colegas quando confrontados com o problema dos colegas que não as alteram, ou seja, do aluno que tira um 44% ou 84%, ficando a um misero 1% do limite mínimo, o que é que dizem? “Não, não, aí já não mudo!”. Isto só prova que as escalas existem por uma razão e por muito que se estique as ditas, elas têm sempre um início e um fim… por isso meus caros, não adianta fugirem com o dito cujo à seringa, que mais cedo ou mais tarde ela vem para nos picar…
A minha posição é simples e assumo-a publicamente. Eu tenho umas grelhas de excel que só faltam calcular a velocidade do vento e se vai chover no polo norte no próximo… hum… milénio. E fui eu que as fiz, por isso estou a gozar comigo próprio. Mas depois da “notinha” sair do forno, faço aquilo que, espero eu, milhares de colegas também o fazem. Voltam atrás no filme, procuram nas entranhas das memórias criadas em dezenas de aulas e ouvem as suas sensações. Aqui meus caros, surge o momento que distingue o professor pedagógico, do professor “sacana”. O professor “sacana” vai aproveitar para entalar o dito cujo de metro e meio que lhe deu cabo da cabeça em tantas e tantas aulas, só porque sim, porque merece ser castigado. O outro, o professor pedagógico irá atribuir a sua classificação com uma mensagem, mas uma mensagem positiva. Essa mensagem é explicada ao aluno, para que este a entenda e se motive com a classificação obtida, enquanto o professor “sacana” explica
Este fim de semana tem início uma das tarefas mais difíceis para qualquer professor – avaliar. E avaliar em quantidade… entre 150 a 300 alunos. Pouca coisa…
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... Aqui meus caros, surge o momento que distingue o professor pedagógico, do professor “sacana”.
O professor “sacana” vai aproveitar para entalar o dito cujo de metro e meio que lhe deu cabo da cabeça em tantas e tantas aulas, só porque sim, porque merece ser castigado.
O outro, o professor pedagógico irá atribuir a sua classificação com uma mensagem, mas uma mensagem positiva.
Essa mensagem é explicada ao aluno, para que este a entenda e se motive com a classificação obtida, enquanto o professor “sacana” explica a sua nota com um audível “só tens aquilo que mereceste!”
Ser professor é ler nas entrelinhas, “sentir” para onde vai o aluno e calibrar o dito com todos os recursos pedagógicos que tem ao seu dispor.
Não confundir estas palavras com falta de rigor cientifico.
A avaliação é e terá de ser sempre um mecanismo pedagógico, algo que exames e rankings não o são…
Por estes motivos é que eu não gosto de exames e de rankings, eles validam sistemas educativos, politicas educativas,
mas não validam o trabalho do professor, pois o professor não é um robô nem uma grelha de excel.
Afinal, somos escravos ou professores?
Nota: após ler vários comentários nas redes sociais, atualizei o número de alunos de “100 a 150” para “150 a 300”. Espero que chegue 😉
-- ( http://www.comregras.com/professores-escravos-da-grelha-de-excel/ 12/12/2015,: Escola; Avaliação.)
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------- BASTA de ser ESCRAVIZADO, 'grelhado' e 'planifado' !!! por 'gestores-burrocratas' e políticos do 'economês' neoliberal.
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--CCosta:
...Gosto do discurso, mas no meu ponto de vista, o Excel , só existe na avaliação (classificação ) devido à intervenção abusiva dos E.E nas escolas, principalmente quando os mesmos são professores ou então licenciados que “gostariam de ir vender aulas”.
--coeh:
A moda chegou ao 1ºciclo com a introdução da avaliação quantitativa, para conjugar com as notas do exame.
Depois resolveram alguns agrupamentos alargar aos restantes anos de escolaridade.
Do meu ponto de vista torna-se ridículo avaliar testes de alunos dos primeiros anos com tal instrumento.
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