Sábado, 3 de Outubro de 2015

A quinta dos animais ou o triunfo dos porcos 

Passam 70 anos sobre a primeira edição de "Animal Farm", de George Orwell, que, à letra, intitulava-se "A quinta dos animais, uma história de encantar". Por cá, e noutras línguas, também foi recebido como "O triunfo dos porcos", "O porco triunfante" ou "A revolução dos bichos". Esta extraordinária fábula política, escrita antes do final da guerra, metaforizava o universo concentracionário do regime estalinista e, de certo modo, o fracasso "humanista" da revolução russa.    Todavia o ironismo da obra tem permitido que se recorra a ela para denunciar, ou simplesmente ilustrar, qualquer organização ou sistema aberrantemente totalitário criado à sombra das melhores intenções.  Orwell, numa carta posterior, explicou o propósito com meridiana clareza:

    "Não há revoluções a menos que sejamos nós próprios a fazê-las uma vez que inexiste algo parecido com ditadores, ou ditaduras, benevolentes". Quem diz revoluções, diz democracias liberais e democratas liberais. Os maus hábitos de civilidade entranhados nos regimes pós-guerra, do Atlântico aos Urais, fazem de grande parte deles autênticas "quintas dos animais" no sentido orwelliano do termo.     Os (altos) burocratas das administrações públicas, da economia, da finança, dos partidos e das corporações triunfam alarvemente enquanto a liberdade e a iniciativa crítica recuam.  

    Aos cavalos sucederam os porcos: "os porcos não trabalhavam efectivamente, antes dirigiam e supervisionavam os outros" e "toda a administração e organização desta quinta repousam sobre os (seus) ombros".   E a bravura?   "A bravura não chega - disse Tagarela. A lealdade e a obediência são mais importantes". Por isso - e aqui podemos entrar, por exemplo, pelo calçadão de Quarteira, por "agendas para a década" ou pela "reforma do Estado" reflectida num grosso de pequeninos e grandes chefes sem mundo ou biografia - dá "a impressão de que a quinta enriquecera sem que os próprios animais tivessem enriquecido - exceptuando, é claro, os porcos e os cães".   É que os porcos têm de "labutar todos os dias para completar coisas misteriosas chamadas "arquivos", "relatórios", "minutas" e "memorandos" a fim de zelar pelo bem-estar da quinta onde todos somos iguais embora uns sejam mais iguais do que outros.   Afinal, como escreveu Orwell num prefácio premonitório que nunca chegou a sair, "são os liberais que temem a liberdade", esse "direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir".   - Jornal de Notícias



Publicado por Xa2 às 12:01 | link do post | comentar

1 comentário:
De Canadá, Portugal, Grécia, U.E.. a 14 de Outubro de 2015 às 16:28
Carta do Canadá: a casa da avó

(http://aventar.eu/2015/10/14/carta-do-canada-a-casa-da-avo/#more-1236957 , fLeitao)
... ...
...
... Queriam saber como era o povo canadiano.
É bom, ajuda todos, mas não dá palmadinhas nas costas nem convida logo para casa. Mas quando chega a convidar, isso quer dizer que temos ali amigos para toda a vida.
E como é o país? É seguro e tem respeito pelas pessoas, adiantamos. Suspiram que, no Brasil, não há segurança nem respeito. É a vida, consolamos nós.
Viajam muito?, queremos nós saber. Que sim, o dentista e a mulher fazem todos os anos uma grande viagem, de preferência pela Europa. De Tomar, dizem: “ah a cidade dos templários, como é linda!”. Conhecem o quê em Portugal? Tudo, ao comprimento e à largura. E explicam: quando chegam ao fim duma grande viagem, seja em que continente for, tiram sempre uns dias de repouso em Portugal. Ora essa! Porquê? Entreolham-se, sorriem tímidos e a senhora esclarece:
“Sabe, Portugal tem bom clima, boa comida, bom vinho, um povo óptimo. Sentimo-nos mimados, acompanhados. É como ir todos os anos a casa da avó”.

Portugal, Casa da Avó, pode haver coisa mais terna e linda?

Por isso mais entristece , e revolta, que por causa de MAUS políticos, FALSOS políticos, Portugal seja muitas vezes pátria MADRASTA dos seus nacionais.
Madrasta que os trata mal, lhes mente, os manda embora, porque os bens públicos são USURPADOS em favor de um pequeno grupo.

Talvez seja tempo de pedir ao povo bom, meigo, generoso, que não transforme a RAIVA em fado.
Talvez seja tempo de ao povo lhe dar uma travadinha que inverta esta situação.
Não sugiro direitas nem esquerdas, porque em democracia não se exclui ninguém, como quer aquele senhor que está em Belém a brincar de rei.
Desejo que seja em frente, em linha recta, cortando a direito e aproveitando o que há de melhor num lado e no outro.
Sem complexos, sem medo, por amor de Portugal.

Tanta má língua contra a Grécia e, afinal, nenhum chega aos calcanhares do Tsipras ou do Varoufakis.
Esses, vê-se que são antigos, são milenares, têm a sabedoria que lhes permite estar acima da espuma medíocre. E o povo apoia-os.
E a União Europeia, ou leva uma volta, ou acaba.


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