----- Eutanásia: de farisaicos está o país cheio
Ordem dos Médicos ou Santo Ofício?
A Ordem dos Médicos, em comunicado assinado pelo seu bastonário, insurge-se contra as declarações públicas da bastonária da Ordem do Enfermeiros, nas quais afirmava,
sobre casos de eutanásia, “vivi situações pessoalmente, não preciso de ir buscar outros exemplos”, concluindo que “quem trabalha no Serviço Nacional de Saúde sabe que estas coisas acontecem por debaixo do pano, por isso vamos falar abertamente”.
A enfermeira Ana Rita Cavaco não disse nada que alguém não soubesse, constatou uma evidência e confirmou factos conhecidos, até por anteriores declarações de vários médicos, feitas em diversos contextos e circunstâncias.
Diz a Ordem dos Médicos que “deconhece qualquer caso de eutanásia explícita ou encapotada nos hospitais do SNS”, afirmação que só não surpreende porque a Ordem dos Médicos desconhece muita coisa que se passa nos hospitais.
O que surpreende é a iniciativa, anunciada no mesmo comunicado da Ordem dos Médicos, de participar ao Ministério Público das declarações da bastonária dos enfermeiros.
As declarações são públicas, a queixa não faz qualquer sentido e nada acrescenta.
Só serve mesmo para satisfazer os impulsos corporativos e exibir a costela inquisitorial do senhor bastonário.
João Semedo no Facebook
---Victor Nogueira disse:
Sendo uma questão polémica, seria contudo interessante e útil que a Ordem dos Médicos mostrasse o mesmo zelo em denunciar
a política "neo-liberal" que leva ao corte de salários e pensões de reforma e os baixos níveis dos mesmos rendimentos,
bem como à degradação do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema Publico de Segurança Social
a favor do negócio da Medicina Privada, das IPSS e das Seguradoras.
tudo conduzindo à degradação das condições de vida e de saúde, a morte em vida ou a vegetabilidade.
---- CDS, cuidados paliativos e morte assistida
(14/3/2016, http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/ )
João Semedo no Público de hoje:
«Sobre cuidados paliativos, defendi no Parlamento dois projetos apresentados pelo Bloco de Esquerda, o primeiro em 2012 e o outro em 2014, ambos recomendando ao governo a instalação de uma unidade de cuidados paliativos para crianças e adolescentes na cidade do Porto. (…)
A ideia foi recusada, os votos do PSD e do CDS/PP chumbaram-na duas vezes. Em 2012, votaram contra, pura e simplesmente. Mas, em 2014, não querendo repetir a triste figura que fizeram dois anos antes, apresentaram um projeto em que recomendavam ao governo – ao seu governo – “que reforce o estudo e devidas respostas no âmbito dos Cuidados Paliativos Pediátricos e que implemente as medidas necessárias à disponibilização efectiva desses cuidados no nosso país”.
O projeto acabou por ser aprovado por unanimidade, confirmando que a defesa de cuidados paliativos não é um exclusivo da direita e, muito menos, do CDS. Apesar disso, nada foi feito, mas, enfim, a ideia também não era essa. De facto a direita não pretendia que o governo fizesse fosse o que fosse, era mesmo só para fingir alguma preocupação e apagar a iniciativa da oposição.
É por isso extraordinário o que se passou agora no congresso do CDS/PP com a apresentação, por iniciativa, entre outros, de Isabel Galriça Neto, Pedro Mota Soares e Teresa Caeiro, de uma moção reclamando o alargamento da rede nacional de cuidados paliativos. O descaramento não tem limite: saíram do governo há pouco mais de três meses, no Parlamento votaram contra a criação de novas unidades e já estão a reclamar do novo governo o que eles não fizeram durante quatro anos. “Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz”...(…)
A moção não traz nada de novo, é mais do mesmo: os cuidados paliativos eliminam a dor e o sofrimento, são o garante de uma morte digna e, portanto, não é necessário despenalizar a morte assistida, basta alargar a rede e tudo fica resolvido.
Como sabemos, nada disto é certo, bem pelo contrário, está entre a crença e a publicidade enganosa. Os cuidados paliativos não são 100% eficazes, não se aplicam em muitas situações de fim de vida, sofrimento ou dependência, arrastam o doente para um estado vegetativo e, imagine-se o sacrilégio, a sedação paliativa acaba por antecipar a morte do doente, como têm vindo a reconhecer todos os profissionais que a praticam.
Defendo o crescimento da rede de cuidados paliativos e a despenalização e regulamentação da morte assistida. Não são respostas que se excluam ou que sejam alternativas. São respostas diferentes e legítimas, ambas necessárias para os difíceis momentos do fim de vida.»
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