------- A luta de classes nos escalões do IRS (--por OJumento, 2/1/2017)
A esquerda conservadora portuguesa insiste em ter esta abordagem quase religiosa da luta de classes, chamando ao seu regaço os que considera mais pobres, mesmo que algumas realidades eleitorais no estrangeiro sugiram que são estes grupos sociais os mais firmes apoiantes da extrema-direita. O próprio PS não resistiu a esta tentação e tem no secretário de Estado dos Assuntos Fiscais o seu guru ideológico, foi quem definiu quem era rico e ficava fora da sua generosidade, esses malandrecos que ganham 2000 euros/mês. Não só foram condenados a suportar a austeridade, agora em dose dupla, continuaram com cortes e IRS em sobre-dose, ao mesmo tempo que suportam o aumento dos IECs.
A luta de classes já não é o que era, já não se assaltam palácios de Inverno, agora tudo é feito de forma ordeira por via do IRS, imposto sobre os que trabalham. A nossa versão da palavra de ordem “os ricos que paguem a crise” tem uma abordagem que foi explicada pelo tal guru do PS, que isso faz-se por redistribuição fiscal dos rendimentos. Isto é, as famílias dos primeiros escalões são aligeiradas de impostos ou os seus rendimentos são financiados pelo Estado através da TSU, e tudo isto é suportado pelos burgueses dos outros escalões. (dos que pagam impostos)
O problema é que se a política pode funcionar às mil maravilhas com base numa geringonça, o mesmo já não sucede com uma economia. Se a situação económica já não é brilhante por causa da falta de investimento, pode mesmo gripar se os tais 'ricaços' dos 2000 euros continuarem a emigrar. A verdade é que esses 'ricaços' não são só os que ganham mais, são também os que produzem mais, os que viabilizam a realização dos investimentos que apostam em novas tecnologias e os que suportam a despesa pública com os seus impostos directos e com os impostos sobre o seu consumo. São também os que investem mais na educação dos filhos e que desta forma alimentam essa coisa tão apreciada que são as 'startups'. Se continuarem a asfixiar esses ricaços dos dois mil euros, um dia destes Portugal é um país de pensionistas pagos pelos impostos que incidem sobre ordenados mínimos, o que não deverá ser muito viável.
Talvez não seja má ideia pensar que há duas gerigonças, a geringonça da política e a geringonça da economia e que não é muito inteligente conseguir que uma funcione gripando a outra.
------------ Classe média vs indignidades sociais (-por Zé T., 2/10/2016) :
Delimitar a classe dos 'ricos', dos 'pobres', da 'classe média' e suas subclasses é sempre contestável ... mas isso não invalida a categorização até por comparação de rendimentos e bens (de que se é dono ou usufrutuário) que permitem (ou não) uma melhor (ou pior) qualidade de vida.
Existem critérios internacionais (nível de pobreza, desvio de rendimentos em relação à média ou à mediana, ...), existe a consciência/moral de que a sociedade só se mantem estável, coesa e solidária (como comunidade/ nação/ estado) se existir justiça e a maioria dos seus membros conseguir suprir as necessidades consideradas fundamentais (incluindo alimentação, habitação, saúde, educação/literacia, ...). Por isso é que os países com melhor qualidade de vida são aqueles em que existe menor desigualdade/ disparidade de salários/rendimentos e tem uma grande classe média (com poucos pobres e poucos ricos).
Como actualmente muitos 'ricos' usam empresas ('offshore' -quase isentos de impostos- e não só ... e tb fundações) para deter bens e receber pagamentos/ remunerações/ comissões/ rendas/ dividendos/ benefícios ... e, como usufrutuários, fazem vida de ricos mas, legalmente, esses indivíduos não têm rendimentos ou bens suficientes que possam ser taxados como ricos ... aliás (quase) não pagam IMI, IRS, IRC, ... e mesmo o IVA nas aquisições de bens ou serviços pessoais ou familiares é pago não por eles mas pela empresa... que abatem aos lucros, pelo que também por esta outra via (quase) não pagam IRC...
E como os pobres estão isentos de impostos IRS e IMI ... quem paga para o Estado funcionar (segurança, saúde, infraestruturas, ...) é apenas a 'classe média', especialmente os trabalhadores por conta de outrem (e do Estado) e os reformados, que não podem fugir ao IRS...
É necessário que aqueles que beneficiam de um elevado nível de vida também contribuam para a sociedade ... para isso é preciso taxar os fluxos mobiliários (dinheiro, acções, ...) e os bens imóveis (independentemente de serem detidas por empresas offshores ou isentadas e até subsidiadas!! por ex. a sede do cds -partido que recebe subsídios- está em imóvel da 'igreja', isentado de IMI).
Como humanamente se pretende que o conjunto da sociedade tenha boa qualidade de vida deve-se diminuir a pobreza e as desigualdades aplicando impostos progressivos e diminuindo a abismal disparidade de rendimentos nas empresas -em algumas os 'trabalhadores' de topo (accionistas, administradores, dirigentes) chegam a receber mais de 100x e 200x o rendimento dos trabalhadores de nível mais baixo (às vezes abaixo do salário mínimo) !! e outros trabalhadores nem sequer são pagos pela empresa, trabalham à comissão ou são estagiários não pagos ou pagos pelo Estado/iefp/ss !! ou são trabalhadores precários, sem contrato (de média/ longa duração ou 'amarrados' a empresas de trabalho temporário), obrigados a sujeitar-se a salários baixíssimos, a horários extra e/ou irregulares, a serem constantemente ameaçados com o desemprego (sem justa causa nem indemnização) são explorados, assediados e maltratados !!.
----- A luta de classes no Parlamento (-por J.R. Almeida, 28/1/2017, Ladrões de b.)
Contas por fazer
Estão as empresas muito preocupadas com compensações à subida do SMN.
Relembre-se que, só entre 2011 e 2015, as empresas e entidades receberam 770 milhões de euros de estágios-emprego e mais 137 milhões de euros em contratos emprego-inserção.
E mais 366,9 milhões para apoios à contratação.
Ou seja, em cinco anos receberam 1270 milhões de euros de recursos públicos para usar mão-de-obra barata!
Um poço sem fundo.
- por João Ramos de Almeida, 26/1/2017, http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/
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- Miguel Madeira disse...
Um problema desse argumento é que não existe o coletivo "as empresas"; será que as empresas que pagam o SMN são as mesmas que recebem esses apoios? (bem, no caso das "IPSS", talvez o sejam)
-Adelino Silva:
O actual estado português quer governo central quer a governança autárquica, no decorrer dos anos, tem servido para isso mesmo, servir o grande capital.
Às vezes fico cogitando se ainda e´ legitimo dizer-se estado português, quando não passam de paus-mandados de Bruxelas.
Às vezes também me pergunto se a produção nacional e´ baixa, se a maioria das terras estão improdutivas, se os salários não crescem, mas aumenta o desemprego, onde e´ que o estado vai buscar tantos milhões para enricar os senhores dos anéis (empresas) e diz não ter uns míseros cêntimos para as reformas de miséria…
Custa a crer que desde de Novembro de 1975, já la´ vão 40 anos, os dirigentes deste país ainda não tivessem olhado bem para quem realmente produz, para a força motriz de qualquer estado moderno – o trabalhador. Custa a crer…
-Anónimo disse...
O privado sempre a necessitar do dinheiro público.
E a açambarcar os lucros, esses sim, já privados.
Com um exército de mão-de-obra barata para o efeito
-João Ramos de Almeida disse...
Caro Miguel,
É bem verdade o que diz. Do ponto de vista micro, é possível que os dois universos não coincidam. O universo das empresas com SMN é bem mais lato que o das apoiadas com apoios à contratação.
Mas o que digo é que o governo está disposto a pagar 40 milhões de euros em apoios ao SMN (que até iria recuperar em mais descontos para a Segurança Social - 80 milhões), mas não é capaz de cortar nos apoios à contratação, de forma a compensar o apoio concedido aos SMN... Nem "as empresas" deixam!
Este era o meu ponto. Não ficou bem explicado, tem razão.
--Anónimo disse...
Jose está confuso
Não percebe o acordo.
Mas porque está confuso se ainda há meia dúzia de dias pulava de contente com o voto anunciado do coitado do Passos?
Sonhava com a sonhada queda da dita geringonça. Sonhava tanto, sonharam tanto, que atraiçoaram a sua própria base de apoio.
Como alguém dizia...há males que vêem por bem.
E este acordo foi oferecido de bandeja adivinhe-se por quem?
Jose está confuso? Pois, não é só ele. Passos também
-Anónimo disse...
É um escândalo os contribuintes pagarem ás empresas para estas contratarem pessoas.
Este tipo de apoio são um estimulo à rotatividade dos que estão numa condição precária e uma pressão para aqueles que têm vínculos permanentes,
em ultima análise os trabalhadores estão a contribuir para a sua própria insegurança laboral.
A lógica é sempre a mesma, os lucros privados são para salvaguardar já os custos e os prejuízos são para ser assumidos pelos que têm mais dificuldade de os pagar.
O investimento do Estado devia ser em prol de todos.
As pessoas não podem ser peões num jogo que não controlam, isto não é forma de tratar ninguém.
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