5 comentários:
De 4ºCongresso dos Jornalistas a 16 de Janeiro de 2017 às 16:20
--JR.Almeida:

(...) nasce de um equívoco. (...) A direcção do Sindicato, com a preocupação de alargar o congresso a todos os jornalistas, delegou essa tarefa - ... - numa organização externa à direcção do Sindicato. A comissão executiva da comissão organizadora não conta com as entidades que promoveram a realização do congresso: o sindicato, Casa da Imprensa e Clube dos Jornalistas.

E se a preocupação inicial era a de que o congresso não fosse apenas dos sindicalizados, o congresso tornou-se quase um congresso sem orientação sindical.

Na minha opinião, o congresso deveria ter sido um congresso SINDICAL, com longos debates sobre o estado da arte, em que se ouvisse e se discutisse soluções. Mas foi montado como uma mistura entre conferência sobre o jornalismo e um congresso académico, onde se ouvem comunicações (umas dezenas) e em que se deixa pouco tempo para os jornalistas falar: foi-lhes reservado, na melhor das hipóteses, 7 horas em 22 horas nas sessões do congresso (isto não contando com a de discussão e votação das propostas apenas com 3 horas...). Os congressistas foram, na prática, sentados como público.

Há vários sinais desta ausência de orientação sindical:

1) O congresso reparte-se por seis sessões de duas horas (em média), cada uma com um painel de convidados. Metade do tempo deveria ser para ouvir resumos de comunicações e os convidados. E a outra metade para os congressistas, embora caso fizessem perguntas, as suas respostas seriam remetidas novamente para o painel de convidados... Estava claro o que iria acontecer: os convidados seriam privilegiados em relação aos congressistas. A organização foi alertada a tempo, mas tudo se manteve de pé. E claro, os congressistas não tiveram tempo. Na primeira sessão, dedicada ao “Estado do Jornalismo”, o painel tinha oito pessoas convidadas (8!) e apenas houve tempo para os congressistas fazerem 4 perguntas (quatro!). E nada de intervenções... Apenas na terceira sessão, a organização decidiu abrir aos congressistas o debate, em prejuízo dos convidados, e notou-se de imediato a diferença.

2) As quatro mesas redondas previstas parecem tiradas de uma conferência em que se quis analisar as várias vertentes de quem influi no jornalismo: uma, ontem, com 19 (19!) directores de órgãos de comunicação social, em que os congressistas – mais uma vez - mal tiveram tempo para intervir porque as perguntas foram feitas pelo moderador Adelino Gomes que impediu o "pelotão de fuzilamento", para usar a expressão do Sérgio Figuiredo (director da TVI)! Haverá outra mesa com assessores de imprensa (sim!) e virão 6(!): António Cunha Vaz, Eric Burns (BCP), João Líbano Monteiro, José Arantes, (RTP África), Luís Bernardo (WL Partners), Nuno Jonet, (Tabaqueira). Uma outra sobre “Novos projetos” (com vários directores, alguns deles onde se trabalha a mata-cavalos e que nunca foram contra os recibos-verdes). E mais grave: o congresso fecha com uma mesa redonda com os patrões do sector e com a ERC (o poder político), que se chama "E agora?"

3) As sete sessões do congresso dispersam-se por muitos assuntos, sem tempo para se aprofundar devidamente nenhum deles: “O Estado do Jornalismo”, “O jornalismo de proximidade e a profissão fora dos grandes centros”, “Afirmar o jornalismo - independência e credibilidade”, “Ensino, acesso à profissão e formação profissional” e “Regulação, Ética e Deontologia” ou “Viabilidade económica e os desafios do jornalismo que é, aliás, um tema de fronteiras ténues entre os profissionais e as administrações...

4) O tema das condições de trabalho e de produção de informação – que deveria ter sido o tema nobre do congresso, pelo menos a julgar pela forma como emergiu nas várias sessões de ontem! – foi remetido para duas horas de um sábado às 9h30. ... À primeira vista, não me parece um horário nobre. ...
Todos os jornalistas são responsáveis por ter deixado as coisas atingir este estado. Mas na verdade, há jornalistas mais responsáveis do que outros. E entre esses dois mundos, a organização do Congresso não teve em conta o estado de espírito das redacções – em que todos querem falar, denunciar o que se vive. Acabou por dar muito mais espaço – quase sem contraditório- a quem está, dia após dia, a contribuir para o aprofundamento da crise actual do jornalismo


De Jorna. e precários sub-óptimos.!!. a 16 de Janeiro de 2017 às 19:06
O dia seguinte, sub-óptimo

(16/01/2017 por P.S. Luz)
Voltei do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses (...) já não sou uma privilegiada-dos quadros-de uma empresa de comunicação social, mas – sabe-se lá porquê – continuo a ser jornalista. Ainda me entusiasmo com as histórias dos outros, ainda insisto, ainda resisto.
E por isso lá fui três dias para Lisboa, à guarida da Sandra. Levava na mala uma comunicação escrita a 10 mãos, algures entre Leiria e Coimbra, para ler na sexta-feira de manhã, num painel que poderia servir para nomear todo o Congresso:
O Estado do Jornalismo.
Pelo teor do escrito, também poderia caber naquele outro painel que se chamava”As condições de trabalho dos jornalistas”, já que fala sobretudo do fim das Redacções fora de Lisboa, do abandono do país por parte dos Media, da solidão dos jornalistas-freelancers-precários.
(...) Não me serve de consolo perceber que a maioria dos jornalistas em Portugal está no mesmo barco ou num parecido, eu que vivo num cantinho-sagrado, mas daqueles onde não chega a Casa da Imprensa, cujo presidente aproveitou a sessão de abertura para dizer que “há jornalistas a receber o rendimento social de inserção”.
Sabia que não corríamos o risco de transformar aquilo apenas num muro de lamentações, pois que a direcção do Sindicato já planeava moções e propostas que obrigassem o poder político a olhar de frente para o(s) problema(s). E por isso nunca me incomodaram as palmas aos depoimentos, pois que se tornaram numa arma. Prefiro sempre palmas a apupos, se é que me entendem. Ouvi as comunicações tocantes do João Torgal (um das centenas de trabalhadores da RTP conhecidos como CPS’s – contrato de prestação de serviços) da Catarina Gomes, do José Pedro Castanheira, do jovem Ruben Martins – que me emocionou pela solidariedade com as centenas de estagiários maltratados e explorados por toda a parte.
Num tempo em que já não nos encontramos uns com os outros, como era desejável, foi muito bom sentir os abraços e os olhares de tantos camaradas, perceber que ainda somos de carne e osso, mesmo quando nos querem fazer crer o contrário.

No sábado havia um painel supostamente dedicado à imprensa regional. Entristeci-me com o facto de haver apenas duas comunicações, embora isso não me surpreendesse de todo: vinha de um roteiro pelo país em que o SJ promoveu encontros com jornalistas, já com o objectivo de recolher contributos para este congresso. E tinha na memória o exemplo de Coimbra, quando as direcções dos dois diários nos impediram de entrar nas Redacções e conversar com os jornalistas.
Por contraponto, lembrava-me de Famalicão. Mas sei bem como é este silêncio ensurdecedor, num país onde há tanto por fazer no jornalismo de proximidade. Foi importante ouvir Michael Rezendes, o luso-descendente cuja reportagem venceu o prémio Pulitzer e deu origem ao filme “o caso Spotlight“, para perceber como é que o Boston Globe (um jornal regional…) está tão perto e tão longe de nós. Na sala havia, afinal, muitos jornalistas que trabalham na imprensa regional, onde não há conselhos de Redacção, delegados sindicais, tão-pouco sindicalizados, não raras vezes.
Espero que o próximo Congresso – que há-de acontecer no Porto, daqui a dois anos – consiga finalmente acabar com a expressão “jornalismo regional”, num tempo em que é mais fácil ler o que acontece no fim do mundo do que no fim da rua…

(...) assisti pela net à transmissão do último painel – com os patrões.
Levei logo com Gonçalo Reis, da RTP, que “não pode contratar gente para os quadros e tem de estar em jogo porque o mundo mudou.
As várias administrações foram suprindo as necessidades com prestadores de serviços. (…) [Mas] não aceito que haja discriminação negativa. É uma solução sub-óptima“. Foi esse o murro no estômago na notícia daquele painel. O senhor ainda disse que também lhe faz confusão “que se fale nos precários, mas não se fala nas perdas de emprego. O que realmente é dramático é o desemprego, é o desemprego nos jornalistas”. Vale a pena lembrar este administrador que sair do espeto e meter-se na sertã nunca foi boa opção. E que o desemprego é, tantas vezes, o primeiro degrau para a precariedade. E é para quem quer ... (...)


De Afirmar o jornalismo: Resolução da 4ºC.J a 16 de Janeiro de 2017 às 19:24
Aprovada na sessão de encerramento do congresso por unanimidade e aclamação.

1. O 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses concluiu que as condições em que se exerce hoje o jornalismo, pilar da democracia, comprometem o direito constitucional à informação, indispensável para o exercício pleno da cidadania.

2. As condições de trabalho – dimensão reduzida das redações com os despedimentos, precariedade, baixos salários e falta de tempo – estão a ter efeitos na qualidade do jornalismo e condicionam a independência dos jornalistas.

3. A profunda mudança no enquadramento do setor está a afetar a credibilidade do jornalismo. O contributo dos jornalistas é determinante para ultrapassar as ameaças e desafios que se colocam à viabilidade da informação de qualidade.

4. A legislação laboral tem de ser cumprida em Portugal no setor do jornalismo, sendo urgente uma ação rápida e eficaz da Autoridade para as Condições de Trabalho para acabar com os falsos estágios, os falsos recibos verdes e os falsos contratos de prestação de serviço.

5. A autorregulação tem de ser reforçada e a regulação tem de ser eficaz.

6. Os jornalistas têm de ter maior peso e presença nas entidades reguladoras. É necessário iniciar um processo de revisão legislativa que torne essas entidades mais eficazes e mais participadas pelos jornalistas.

7. Os princípios éticos e deontológicos têm de ser reforçados, têm de abranger todos os jornalistas e têm de ser aplicados com eficácia.

8. Os conselhos de redação têm de ter um papel ativo, o que exige a proteção legal dos jornalistas que neles participam. Os pareceres dos conselhos de redação têm de ser vinculativos, nomeadamente para os cargos de direção e chefias.

9. É crucial que os jornalistas reforcem as estruturas próprias da classe, desde logo o Sindicato dos Jornalistas e a sua presença nas redações com uma agenda própria, para a defesa dos direitos dos jornalistas e a afirmação do jornalismo.

10. É fundamental avaliar, melhorar e fortalecer a relação do setor com as instituições de ensino superior e outras entidades formativas devidamente credenciadas.

11. É urgente promover a literacia mediática, com iniciativas no domínio da educação pré-universitária e junto da população em geral.

12. Os jornalistas, reunidos no 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, assumem o compromisso de cumprir os deveres e as responsabilidades decorrentes dos princípios ético-deontológicos do jornalismo e das melhores práticas do exercício e regulação da profissão.

Lisboa, 15 de Janeiro de 2017
http://www.jornalistas.congressodosjornalistas.com/resolucao-final-do-4-o-congresso-dos-jornalistas-portugueses/


De Jornalismo em crise... a 16 de Janeiro de 2017 às 16:38

Jornalismo da crise e crise do jornalismo


Ainda a propósito do 4º Congresso dos Jornalistas, a que o João Ramos de Almeida fez referência no post anterior e que decorrerá até ao próximo domingo, vale a pena revisitar o estudo realizado pelo próprio e pelo José Castro Caldas, dedicado às «Narrativas da crise no jornalismo económico», e que foi publicado em 2016 nos Cadernos do Observatório sobre Crises e Alternativas.

Entre os diversos e mais urgentes problemas a que os profissionais do setor e restantes congressistas deveriam dedicar a sua atenção constam dois temas tratados nesse estudo e que temos recorrentemente assinalado neste blogue:
-- o défice de pluralismo no debate político-económico (mais vincado nas televisões e que praticamente não se alterou desde o início da crise financeira de 2008), e
-- a questão da persistência das narrativas hegemónicas sobre a crise e as formas de a superar.
Isto é, as tais ideias feitas que continuam a «arrastar-se nos corredores dos media e afins», como dizia recentemente Pedro Lains.

Sobre estas questões, duas notas a reter no referido estudo do José Castro Caldas e do João Ramos de Almeida:
a ideia de que as narrativas não deveriam ficar «imunes ao desenrolar dos acontecimentos, ou aos "factos"» (mesmo quando abalam «crenças prévias muito enraizadas (...) de indivíduos que desempenham, ou desempenharam, papéis cruciais na produção de narrativas e na gestão política da crise»), e a noção de que a procura de soluções «envolve necessariamente a afirmação de novas interpretações» e de «novos diagnósticos», sendo que «o primeiro passo para essa afirmação é o conhecimento, o escrutínio e a caracterização do discurso sobre a crise que predominou e ainda predomina no espaço público».

(-- por Nuno Serra, 14.1.2017 , Ladrões de b.)
---------
--A.Silva:
Como pode um “congresso” ser validado se os congressistas de verdade estão cerceados e sem direitos?
Isto quer dizer que o ´branqueamento´ mais uma vez emperrou esta classe de profissionais como tem cerceado outras classes de profissionais neste período de democracia abastardada.

E´ de notar a fórmula corporativista como foi convocado este congresso onde os convidados superam em muito os afiliados do Sindicato dos Jornalista. Ate´ o Presidente da Republica teve acesso, esquecendo-se do acervo romano/cristão «a césar o que e´ de césar, a deus o que e´ deus»,
Compreende-se, o país esta´ como se sabe no Limbo!
-- C.Sério:
«Um jornalista, Serge Halimi, escreveu um dia que desde que os jornalistas começaram a viver com os salários das classes altas, nos bairros das classes altas, a ir aos restaurantes das classes altas, começaram instintivamente a defender os interesses das classes altas, dos banqueiros, dos grandes empresários, e a ignorar os trabalhadores comuns que sobreviviam com dificuldades. Num passado remoto, o jornalista era um operário como os outros".
--ARA:
As Narrativas do jornalismo são o verdadeiro busílis em que o 5ºpoder tem sido pródigo na manipulação das massas sendo ele próprio objeto de manipulação do corporativismo de interesses dos grupos financeiros que o comprou, sendo que o grave já nem é o facto de o jornalismo estar a atravessar uma crise identitária ao bom estilo de Hamlet mas sim a crua verdade de que as massas já buscam alternativas de contra narrativas pois partem desde logo do principio do subliminar propósito, do obscuro objetivo e da parcialidade informativa.

A isocronia da noticia foi posta em causa pela tecnologia individual (qualquer smartphone poderá por em causa a narrativa de um repórter em direto) encontrando um nicho de ação para pseudo-narradores, também eles com concretos propósitos, que acabam por desinformar e ou deturpar a noticia em si.

Muito da culpa de jornalistas, editores e afins classe advêm do seu definhamento deontológico vs capital, abrindo-se uma ferida insanável entre a classe e o mundo com a consequente quebra de confiança entre narrador e leitor e ou espectador e ou ouvinte pois a metaficção utilizada deixou de ser credível.
-- a:
... :o défice de pluralismo no debate político-económico e a questão da persistência das narrativas hegemónicas sobre a crise e as formas de a superar. E sobre estas duas questões avança com duas notas: as narrativas não devem ficar imu


De Condicionar jornalismo ?: Adeus ...! a 16 de Janeiro de 2017 às 18:43

---Adeus, «Público» – para mim, acabou hoje
(-JLopes, 16/1/2017, Entre as brumas)

--Alexandra Lucas Coelho, esta tarde, no Facebook:
«O recém-empossado director do “Público”, David Dinis, propôs reduzir a minha crónica semanal a mensal e cortar para metade a remuneração de cada crónica. Recusei por considerar que essa proposta esvazia o diálogo com o leitor e reduz a remuneração a algo indigno. Nenhuma outra proposta foi feita. Cumprirei, pois, o contrato que tenho até 31 de Março, e a partir daí encerra-se a minha relação de 19 anos com este jornal. Registo que isto acontece na sequência de David Dinis ter dispensado José Vítor Malheiros e Paulo Moura, nomes fundamentais na história do “Público”, e do jornalismo português. Registo ainda o facto de os três estarmos claramente à esquerda do que é o posicionamento do recém-empossado director.»

--Paulo Moura, esta tarde, no Facebook:
A minha colaboração com o Público termina este mês, por iniciativa da actual direcção, de David Dinis. Estou no jornal desde a sua fundação. Saí dos quadros da empresa em 2013, por minha decisão, mas mantive um acordo de colaboração regular. Chega agora ao fim uma intensa e fecunda relação de 27 anos, no mesmo momento em que são dispensados do jornal nomes tão fundamentais da imprensa portuguesa como Alexandra Lucas Coelho e José Vítor Malheiros. Continuarei a fazer reportagem, a escrever e a publicar onde quer que o Jornalismo seja valorizado.

--José Vítor Malheiros
A última crónica


--Que se seguirá» José Pacheco Pereira???


Comentar post