Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2015

Juros da dívida, um vírus mortal    (-por M.Tiago, M74, 5/2/2015)

    Por cada dia que passa, incluindo sábados e domingos, o país paga cerca de 21 milhões de euros de juros da dívida. Religiosamente.
            Portugal gasta cerca de 71 milhões de euros com complicações de saúde desenvolvidas nas fases finais da infecção crónica por HepatiteC. O mesmo que gasta em 3 dias e meio com juros da dívida.
    Morrem cerca de 1.117 pessoas por ano em Portugal devido a complicações com origem na infecção por HepC.
    Ora, para acabar com as mortes por HepC em Portugal, o Estado teria de iniciar um plano de diagnóstico precoce e um programa de tratamentos. Na hipótese de serem detectados todos os infectados (sendo que cerca de 70% desconhece que é portador do VHC), Portugal teria de gastar ao longo dos anos (para curar 150 mil portadores) 3,6 mil milhões de euros.
     Na hipótese realista, provavelmente isso significaria um custo de 400 milhões de gastos com medicamento por ano, a que subtrairia parte importante do que já se gasta com complicações da doença crónica. Mesmo que apenas se poupassem 35 milhões por ano, significa que o acréscimo no Orçamento da Saúde teria de rondar os 365 milhões. Em 10 anos, estaríamos perante uma doença residualmente presente.   

      1.117 pessoas por ano morrem devido à HepC.    26 milhões de euros anuais impediriam essas mortes.    30 horas de juros da dívida.    Cada uma hora dessas 30 horas de juros da dívida custa-nos 37 mortos por complicações de saúde devidas à Hepatite C.   Ou seja, com 30 horas de juros podíamos impedir quase 1200 mortes anuais. 
      Quando Passos Coelho diz que se devem salvar as vidas, mas não custe o que custar e ao mesmo tempo diz que se deve pagar a dívida custe o que custar, está precisamente a dizer-nos que a dívida custa vidas.
     A importância da renegociação dos juros, dos montantes e dos prazos da dívida também se mede em vidas.

              Eles  moem  e  matam      (-por R.M.Santos, M74, 4/2/2015)

"Eu vou dar-lhe os números". Foi desta forma que Paulo Macedo respondeu numa audição parlamentar, pedida pelo PCP, sobre o estado das urgências. O agendamento teve de ser potestativo para que Paulo Macedo se dignasse a ir ao Parlamento dar explicações aos deputados.   De outro modo, continuaria calado, mudo, que é como eu o ouço quando vem com as frases feitas que ouvimos todos os dias do gangue de criminosos que nos governa.   "Eu vou dar-lhe os números", disse ele. Entretanto, as urgências continuam caóticas. Os tratamentos para o cancro em modo de espera e o medicamento para a hepatite C está a ser sonegado a cerca de 4.000 pessoas que dele necessitam para sobreviver.
    Se é inegável que a indústria farmacêutica funciona numa espécie de máfia, talvez o lobby mais poderoso dos nossos tempos, a verdade é que morreu uma doente com hepatice C que poderia ter sido salva. O governo está a negociar, ao que parece, porque o fármaco custa 40.000 euros.
    Seria importante saber a partir de que valor o governo considera que vale a pena salvar uma vida. 40.000 euros, pelos vistos, é demasiado. Assim, deixou morrer. Dito de outra forma, matou. Matou aquela mulher como matou muitos outros que chegam ao SNS depois de contarem os tostões para saber se podem pagar as taxas moderadoras. E demasiado tarde, com certeza, não raras vezes.
    "Eu vou dar-lhe os números", disse o Paulo Macedo, que continua ministro. O ministro de um governo que faz tanta questão de assinar de cruz tudo o que a Troika mandou, de braço dado com o PS, está agora a negociar a vida das pessoas. Contas feitas por alto, de acordo com o governo, para os 4.000 seres humanos que precisam do medicamento, incluindo os cerca de 160 que precisam dele urgentemente, 16.000.000 de euros é um preço demasiado alto. São 16 milhões de euros, 1000 vezes menos do que estamos a pagar para resgatar bancos, propriedade dos amigos dos sucessivos governos.
     É evidente que é preciso encontrar forma de travar a indústria farmacêutica, que joga com a vida das pessoas da forma que for mais rentável. Mas isso faz-se consistentemente, com um plano de acção que não é só nacional, não se faz quando as pessoas estão a morrer porque o governo se recusa a dar-lhes assistência.
      "Eu vou dar-lhe os números", disse ele, com a maior naturalidade. O problema está aqui, como sempre esteve. Quando se fala de números há quem esqueça que estamos a falar de pessoas, de seres humanos, de gente que tem de ter acesso aos direitos mais básicos numa sociedade que se auto-intitula desenvolvida.
      "Eu vou dar-lhe os números", digo agora eu.  Dou-lhe o 1.000.   1.000 vezes criminoso, 1.000 vezes incompetente, 1.000 vezes assassino.


Publicado por Xa2 às 13:28 | link do post | comentar

3 comentários:
De «A si, eu vou encontrá-lo !» a 10 de Fevereiro de 2015 às 14:26
------ "Não me deixe morrer" sr. ministro!

Menos números
(e + atenção e apoio às Pessoas)

Paulo Macedo juntou-se ao silencioso cortejo de governantes em agonia política. Bastou uma simples quanto terrível frase
("não me deixe morrer" , diz doente com hepatite C ao ministro da Saúde )
para que isso acontecesse. Isto depois de um mandato bem gerido - interna e mediaticamente - até ao momento em que
deixou de poder antecipar as consequências de alguns actos técnicos, financeiros e administrativos que, pela natureza deles, porventura lhe escaparam.
Todavia, politicamente está ao leme desses mistérios insondáveis da burocracia. E a burocracia não pode ser nunca um fim - e, em certos casos dramáticos, "o" fim - mas, antes, um meio ao serviço de qualquer coisa concreta e, sobretudo, das pessoas.
"Quem salva uma vida salva o mundo inteiro", lê-se no Talmud.
No tempo político que lhe resta à frente do ministério da saúde, sugiro-lhe delicadamente que reflicta mais nisto do que nos números.

(-João Gonçalves, Portugal dos pequeninos)
-----------

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Saude/Interior.aspx?content_id=4380643&page=-1
...
...José Carlos Saldanha, doente com hepatite C, interrompeu a audiência.
"Não me deixe morrer", "acabem com isto por favor", gritou durante a intervenção da deputada Carla Cruz, do PCP.
Este doente diz ter oferecido a Paulo Macedo metade do custo do tratamento, não tendo recebido qualquer resposta da parte do Ministério da Saúde.

José Carlos Saldanha pediu depois desculpa aos deputados pela sua intervenção, não sem antes avisar Paulo Macedo:
"A si, eu vou encontrá-lo".

Fora da sala, o doente explicou aos jornalistas que se encontra à espera de autorização para tratamento.
"Não me contive mais. O senhor ministro tem de fazer a sua parte.
A doença é silenciosa, mas nós não nos vamos calar".
...
...

-----Valores vs canalhas
Quanto vale a vida de um canalha?

06/02/2015 por João José Cardoso , Aventar

Por exemplo, admitamos que um ano vida de uma pessoa normal vale 1 QALY, e que uma pessoa com hepatite C vê a qualidade de vida reduzida em 50%, ou seja, 0.5 QALYs. Se o tratamento para a hepatite C permitir recuperar esses 0.5 QALYs durante 30 anos, então o valor desse tratamento será de 0.5 vezes 30, 15 QALYs.

Mais uma vez tenho de agradecer ao Mário Amorim Lopes o imenso favor de demonstrar que o neoliberalismo mata, e muito. Não tanto como os fascismos, dizem, porque não mata a eito e com milícias, assassina com folhas de cálculo e uma religião a que chamam economia. Como os mortos ficam mortos na mesma, e a lógica ditatorial (é óbvio que um regime neoliberal é insustentável em democracia) não varia tanto como isso, lá vai cumprindo o seu papel sucessório, arquitectado pelos hayekes e pelas randes deste mundo.

Quanto à pergunta: eu acho que a vida do Mário Amorim Lopes não tem preço. Mais que não seja, perder um idiota tão útil seria um desperdício.

-----------------

Ah tal não somos a Grécia.
E com efeito, nota-se.
Eles trabalham para reconquistar a soberania e aqui baixam-se as calças.
Quanto à cassete da austeridade, é de ver a reportagem – surpresa, surpresa! – do canal 1 alemão sobre os ganhos da Alemanha com a crise do euro.


------ Apontar e dizer que o ia encontrar !

Havia necessidade? Governo de cobardes!
(05/02/2015 por Noémia Pinto )


Bastou o homem apontar-lhe o dedo e dizer que o ia encontrar.
O medicamento já está a caminho.
Shame, shame, everybody knows your name!

---- http://aventar.eu/2015/02/05/havia-necessidade-governo-de-cobardes/


De Farmacêutica lucra q.se farta ! a 10 de Fevereiro de 2015 às 16:40
Terá sido obra do Opus Macedo?


«As ações da Gilead Sciences, empresa de biotecnologia que fabrica o medicamento mais eficaz contra a hepatite C (Sofosvubir) caíram mais de 10% na passada quarta-feira, apesar de os resultados financeiros divulgados terem excedido as expectativas dos analistas.
A razão do mau comportamento dos títulos foi a divulgação de que a empresa vai fazer uma forte redução no preço de venda do Sovaldi, nome comercial do Sofosbuvir.

A empresa, baseada na Califórnia, assumiu num comunicado que vai fazer já este ano nos Estados Unidos "um grande ajustamento" no preço dos medicamentos Harvoni e Sovaldi, ambos contra a hepatite C, que vão custar menos 46%.
Os analistas esperavam um desconto de no máximo 30%.
A previsão de margens de lucro mais estreitas causou o mau comportamento das ações, apesar da expectativa da Gilead ser de, só este ano, tratar mais de 250 mil pacientes com hepatite C.» [Expresso]


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