--- Sobre a Desigualdade num Mundo Globalizado
(25/11/2015 por Ana Moreno, Aventar)
Joseph E. Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001 e ex- economista-chefe do Banco Mundial é um dos mais reconhecidos autores em matéria de desigualdade e uma das vozes mais críticas em relação à globalização comercial e financeira.
Excerto de uma entrevista a Joseph E. Stiglitz publicada na edição de 22.09.15 no jornal alemão der Freitag:
(…)
Stiglitz: Em todo o caso, é mais do que claro que o programa de reformas acordado com a Troika vai agudizar ainda mais a recessão no país (Grécia).
Jornalista: O ministro das Finanças Wolfgang Schäuble responder-lhe-ia: Veja a Espanha, Portugal ou a Irlanda: nestes países voltou a haver crescimento e o mercado de trabalho está a recuperar.
Stiglitz: Isso é uma visão muito distorcida. É mais ou menos como se alguém caísse do vigésimo andar e depois da queda você dissesse: que sorte ele não ter caído ainda mais fundo.
A verdade é muito diferente:
nestes países, tanto o produto social bruto como o potencial de crescimento são hoje muito mais baixos do que antes da crise financeira.
Emigraram muitos jovens qualificados que não voltarão.
Claro que uma taxa de desemprego de 50% entre os jovens é melhor do que uma de 60%, mas tanto uma como outra representam um desperdício maciço de recursos,
já para não falar na dimensão social – as crianças sofrem de malnutrição, os sistemas de saúde e de educação estão arrasados.
----Conferência por Joseph Stiglitz: Terça-feira, 1 dez 2015 | 18:30 | Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian
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Mapa-múndi/ 2
No Sul, a repressão. Ao Norte, a depressão.
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A moda do Norte, moda universal, celebra a arte neutra e aplaude a víbora que morde a própria cauda e acha que é saborosa.
A cultura e a política converteram-se em artigos de consumo.
Os presidentes são eleitos pela televisão, como os sabonetes, e os poetas cumprem uma função decorativa.
Não há maior magia que a magia do mercado, nem heróis mais heróis que os banqueiros.
A democracia é um luxo do Norte.
Ao Sul é permitido o espectáculo, que não é negado a ninguém.
E ninguém se incomoda muito, afinal, que a política seja democrática, desde que a economia não o seja.
Quando as cortinas se fecham no palco, uma vez que os votos foram depositados nas urnas, a realidade impõe a lei do mais forte, que é a lei do dinheiro.
Assim determina a ordem natural das coisas.
No Sul do mundo, ensina o sistema, a violência e fome não pertencem à história, mas à natureza, e a justiça e a liberdade foram condenadas a odiar-se entre si.
--- Eduardo Galeano, O livro dos abraços (via Entre as brumas, 25/11/2015)
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