SONDAGENS: PREVISÕES E RESULTADOS
6/2/2006,Púb.
análise objectiva de algumas questões.
Uma breve observação aos diversos «estudos de opinião» revela uma «realidade» bem diferente da que acabou por acontecer no dia 22 de Janeiro. Mudança repentina das escolhas dos eleitores? Falta de rigor? Incompetência? Manipulação? Ou…?
--História
Recorde-se que a importância das sondagens como fonte de informação para os media é um fenómeno relativamente recente. Só a partir dos anos trinta do século XX, G. Gallup e E. Roper iniciaram um novo tipo de sondagens, com amostras estruturadas. O aperfeiçoamento do método de auscultação levou à expansão das sondagens “científicas” a partir de 1936.
Os avanços técnicos, científicos e tecnológicos vieram tornar mais fácil a auscultação da opinião pública, nomeadamente, através da entrevista telefónica.
...
Os diferentes meios de comunicação noticiosos estabeleceram parcerias entre si. Partilhando os custos e rentabilizando os resultados através de processos combinados de divulgação na TV, na rádio e nos jornais. As sondagens institucionalizaram-se como fonte de informação.
--Teoria
Pedro Magalhães nas páginas do “Público” e Carlos Gonçalves, Jorge Cordeiro e Vítor Dias no “Avante!”, entre outros, fornecem-nos importantes elementos de reflexão.
Importa, desde logo, lembrar que as sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra.
Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro.
E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada.
E métodos de inquirição fiáveis.
E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
--Divulgação
O tratamento jornalístico de sondagens requer conhecimentos específicos e reveste-se de bastante sensibilidade.
Os seus resultados prestam-se a várias interpretações.
Uma análise incompleta e pouco rigorosa dos dados de uma sondagem pode ter consequências graves e imprevisíveis, para a imagem das pessoas, ou instituições, submetidas a escrutínio.
Além de enganar ou confundir aqueles que não tenham a curiosidade de verificar, em pormenor, esses dados.
--Prática
A esmagadora maioria das sondagens relacionadas com as eleições para a Presidência da República, vindas a público entre 28 de Outubro e 22 de Janeiro, não preenchiam estes requisitos.
Não os cumpriam quanto aos parâmetros elementares de credibilidade.
Nem quanto ao critério das amostras consideradas.
Nem quanto à fiabilidade dos métodos de inquirição.
Nem quanto aos procedimentos complementares de estimação.
Nem finalmente quanto à forma como foram apresentadas por quase todos os meios de comunicação.
--Realidade
Foram as sondagens e a comunicação social, que as encomenda, quem manteve acesa a chama da candidatura de Cavaco Silva, durante os quase dez anos que o ex-primeiro-ministro esteve «retirado da vida política».
Foram umas e outra quem o catapultou para a posição de, mais que favorito, vencedor antecipado.
--Estatística
Analisemos duma forma objectiva dois casos.
Por um lado, a sequência das 24 sondagens registadas, entre 27 de Outubro e 20 de Janeiro, no âmbito das eleições presidenciais.
Por outro, o caso particular representado durante 12 dias pela sondagem da Marktest.
Sobre a primeira, sublinhem-se três constatações:
Em primeiro lugar, o facto de nas 24 sondagens publicadas ter sido sempre atribuído a Cavaco Silva valores bem superiores ao seu resultado.
Sendo que em 17 delas as previsões estiveram sempre mais de 5 pontos percentuais acima do que obteve.
Depois, o pormenor de em 15 destas 24 sondagens Francisco Louçã aparecer sempre com valores superiores (alguns bem superiores) àquilo que mostrou valer nas eleições.
Finalmente, a proeza de em 24 das 24 sondagens Jerónimo de Sousa aparecer sempre com valores inferiores ao que os que decidem lhe quiseram dar.
...
Notas finais
Não se pense que estas questões se restringem ao âmbito político-eleitoral. Também nas audiências televisivas e radiofónicas, por exemplo, se manifesta a imprecisão, a falta de rigor e profissionalismo, a incompetência, a manipulaç...
Os desígnios insondáveis das sondagens
(08/07/2015 por José Gabriel , Aventar)
Tendo recebido um telefonema em que alguém se propunha sondar-me em matéria eleitoral e tendo eu declinado o convite – como sempre fiz – lá fui parar, mais uma vez, à coluna dos que “não sabem/não respondem”.
... Geralmente são jovens a procurar ganhar um parco salário e, por isso, merecem-me, geralmente, simpatia e cordialidade. ... quando lhe perguntam que programas de televisão prefere, estão, de facto, a relacionar os seus dados pessoais com os seus gostos no sentido de escolher espaços de colocação da publicidade televisiva
-, estas agora mais raras, sobretudo desde que as empresas aprenderam a piratear dados das redes informáticas (como esta…)
e desenvolveram métodos mais fiáveis de medição de audiências. ...
Agora que as sondagens – e, quando querem poupar dinheiro, as entrevistas sobre o valor das ditas – estão a ferver, devidamente comentadas por entrevistados conspicuamente parciais, quer sejam assumidamente pertencentes a partidos – quase sempre próximos do poder –
quer sejam jornalistas sabujos e servis, espécie que abunda em todos os canais e jornais, ocorre-me deixar aqui esta nota.
Quanto ao valor e credibilidade das metodologias usadas e dos resultados, se os sucessivos fracassos não vos convencem,
. ..Aí estão elas disparatando em grande – olhem o exemplo da Grécia – e usadas, como é habitual, como arma política grosseira oriunda da ciência da banha da cobra.
Nem vou perder tempo com o valor das amostragens, muitas delas simples e preguiçosos painéis.
Notem, porém, a natureza dos inquéritos: os telefónicos, ... mas os próprios inquéritos por entrevista directa ou presencial. Por muito simples e directas que sejam as questões, a primeira objecção surge logo na forma da entrevista:
é uma série de perguntas em que o entrevistador pergunta e escreve as respostas e o inquirido responde sem conhecer a série de quesitos em causa e sem qualquer controlo sobre os acontecimentos?
Ou um inquérito que é entregue ao entrevistado, que o preenche pessoal e confidencialmente e o coloca numa urna selada?
A diferença entre estes dois métodos, como qualquer pessoa minimamente informada em matéria de psicossociologia sabe, é abissal e as duas vias produzem – mesmo que as perguntas sejam as mesmas! – resultados diferentes.
Tanto, que, por mim, só aceito responder quando é usado o segundo método. ... até porque temos acesso a todas as questões e podemos recusar pura e simplesmente responder, já que o modo como elas são feitas está longe de ser indiferente.
Exemplo? Qualquer de nós é capaz de alinhar quatro perguntas que conduzam, quase inexoravelmente, a uma conclusão e, depois, só publicar essa última questão, omitindo todas as outras.
Claro que muitos dos meus amigos sabem que entre as duas metodologias de inquérito referidas há uma razoável variedade de técnicas intermédias.
Mas penso ter ilustrado o meu ponto.
... abordando a grosseira prática de, em algumas sondagens, aparecerem, não só inúmeras variáveis parasitas mas verdadeira e pornografia sociológica.
Quer procurando indagar de modo simplório sobre atitudes – e as atitudes avaliam-se por escalas, sejam quais forem os autores preferidos de quem inquire, que dão um trabalho que os encomendantes não querem pagar e os encomendados não querem ou não sabem fazer –,
quer tentando indagar o que “ as pessoas” pensam do que os outros pensam, como aconteceu em recente sondagem em que aparece a pergunta sobre qual o partido que os inquiridos pensam que irá ganhar as próximas eleições. Sem surpresa, o resultado desta pergunta é muito diferente dos dados obtidos pelas opções partidárias evidenciadas. O partido em segundo lugar nesta sondagem aparecia com maioria absoluta na convicção dos inquiridos sobre o comportamento alheio. Um disparate, a não ser que a agência – que publicava uma ficha técnica armadilhada, como é habitual – quisesse fazer uma espécie de psicanálise para totós. Porque, bem sabemos pelo velho e bom tio Sigmund, “quando Pedro me fala sobre Paulo, eu fico a saber mais sobre Pedro que sobre Paulo”.
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