----- O nosso "dia" (-por Helena Sacadura Cabral, 08.03.2015) Gosto de ser mulher. Não invejo os homens e quanto mais velha sou, mais tenho consciência dos seus (in)justificados receios. Mas não gosto de quotas ou comemorações de género porque elas representam que os "outros" ainda as consideram necessárias.
O que eu quero é que não haja (assédio nem) violência sobre elas, que o seu salário não seja inferior ao do seu semelhante, que as suas oportunidades sejam iguais, que a maternidade seja encarada como uma opção séria e não um obrigatório modo de vida, que os filhos sejam uma escolha de dois e não apenas de um.
Ou seja, quero poder ser diferente do homem sem por isso ser discriminada ou menos respeitada. Quero, enfim, ter direito a ser mulher (livre e com direitos) e fazer parte do meu género sem que compita aos homens concederem-me uma parte desse direito.
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Ui, ui hoje é o meu dia ! (-por Teresa Ribeiro, em 08.03.15) Quando me perguntam se gosto de ser mulher, respondo que não. Lamento, mas neste aspecto não soube evoluir. Desde que percebi, ainda na primeira infância, que o mundo é dos homens, este sentimento ficou-me colado aos ossos e não há campanha publicitária de pensos higiénicos que me faça mudar de ideias.
Esta rejeição, que cresceu comigo, nada tem a ver com problemas de identidade sexual. Gosto de cor-de-rosa, de bebés e de sapatos, portanto não há qualquer dúvida, sou muito estereotipada, o que paradoxalmente só veio agravar a relação conflitual que tenho com o meu género desde que me conheço.
Gostava em menina de brincar com bonecas, mas não da terna displicência do meu avô, que só tinha conversas com o meu primo, mas não sabia do que falar comigo. Identificava-me com as princesas das histórias de encantar, mas detestava que me apontassem as regras de comportamento "próprias de uma menina" - sempre mais restritivas que as dos meninos - e ainda mais que fossem a minha mãe, as minhas tias e a minha avó a ditá-las. Gostei de crescer com estas mulheres, mas revoltou-me perceber que, por razões diferentes, todas abdicaram de uma maneira ou de outra do que podiam ter sido só pelo facto de terem nascido com um par de ovários.
Na vida adulta pus-me à prova. De um lado os meus ressentimentos e reivindicações feministas, do outro a realidade, esse tapete onde caí tantas vezes por KO. E tem sido esta a minha vida. Sempre a sopesar o que sou e o que somos. Eu e as mulheres. Eu e elas. Eu que sou elas. Admiro as mulheres que dizem que se orgulham de ser mulheres, mas quando as oiço não consigo iludir a tristeza funda que me nasce da consciência de que o fazem pela necessidade de se afirmarem como iguais. A misoginia, a doença infantil do homem das cavernas, continuará a discriminar, segregar, matar, estropiar e escravizar milhões de mulheres (e meninas) em todo o mundo. E é a consciência disto que me mata à nascença o prazer de pertencer à tribo e ainda mais de festejar esta data. Festejar o quê?
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No Dia Internacional da Mulher uma confissão machista:
não dou grande importância ao dia. Cumpro os rituais habituais:
desejo um bom DIdM
às mulheres importantes na minha vida, coloco um post no blog ou facebook, compro possivelmente uma flor para a minha mãe. Vejo contudo o dia como
pouco mais que uma nova versão do Dia dos Namorados:
sem significado a não ser dizer que existe.
Vejamos as coisas por este prisma: para quem - como eu - entenda que as mulheres e os homens têm que ter uma efectiva igualdade de direitos e que a sociedade tem que criar condições para que estes existam (atendendo a que há diferenças muito reais entre homens e mulheres), o dia não tem grande importância. Eu - e muitos outros como eu - não necessito de ser recordado da importância de lutar pela igualdade de direitos. Para quem esteja no pólo oposto, a questão é ainda mais simples: o dia não fará qualquer diferença. Para quem esteja algures no meio, dizer que o dia 8 de Março é o Dia Internacional da Mulher, sem mais, também pouco adiantará.
O Dia Internacional da Mulher parece-me então ser uma espécie de esmola: dão-se os parabéns às mulheres e siga a vida como sempre que a consciência está aliviada.
Os direitos das mulheres, embora mereçam um dia para serem recordados, devem ser conquistados (e defendidos e usufruídos) todos os dias, geração a geração, entre pequenos gestos e grandes acções. Um dia como este só faz sentido se for usado da mesma forma que os feriados civis nacionais o são: com actividades que chamem a atenção para o assunto. De outra forma, qualquer dia teremos as televisões a anunciarem os descontos do Dia Internacional da Mulher para quem compre uma dúzia de lírios.
(-
por Luís A.-Conraria,8/3/2015, http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/2015/03/quotas-femininas.html)
QUOTAS FEMININAS
Nesta excelente entrada, a Sara P. diz que leva a sério o seu preenchimento da quota feminina neste blogue. É um assunto sempre muito debatido, devem as quotas ser impostas ou não? (Sim, enquanto não se atingir um nível digno de literacia e de igualdade liberdade e solidariedade).
No ano passado, depois de algumas conversas com uma amiga (feminista), a verdade é que me fui tornando um activista da causa feminista e a considerar a hipótese de fazer parte de um movimento nesse sentido. Talvez por isso tenha ficado mais alerta. E houve um dia em que reparei que este blogue com sete co-autores não tinha uma mulher. E, verdadeiramente, pareceu-me absurdo.
Por essa altura, decidi convidar 4 mulheres para fazerem parte do blogue. A Sandra M., a Sara P., a Vera G.B. (que por motivos profissionais teve de abandonar o blogue) e a Rita C.. Diga-se de passagem que eu já tinha pensado convidar cada uma delas antes. Apenas não o tinha feito porque pensava que não estariam interessadas. Mesmo assim, senti-me um pouco envergonhado ao convidá-las por atacado. Ainda por cima, a Sara P. reagiu logo a perguntar-me se eu a estava a convidar para preencher a quota feminina. Fiquei sem saber o que responder.
Quase em simultâneo, e apenas por coincidência, fui convidado a escrever na Maria Capaz. E fui convidado precisamente para preencher a quota masculina dessa plataforma feminina/feminista.
Tudo isto das quotas pode parecer a muitos um pouco absurdo. Mas a verdade é que alguns dos melhores artigos da Maria Capaz foram escritos por homens (incluindo o meu, diga-se). No caso deste blogue, permitam-me, mais uma vez, a falta de modéstia, a diferença foi fabulosa. Ganhou uma vivacidade, poder de choque e uma qualidade que não tinha graças às novas autoras.
Talvez um dia, quando as empresas forem pressionadas a ter mais mulheres em lugares de topo, percebam isto mesmo. Só têm a ganhar. Não porque as mulheres sejam melhores (ou piores) do que os homens, mas, simplesmente, porque, ao considerarem a possibilidade de recrutar mulheres para lugares de topo, verão duplicada a sua base de recrutamento. E, obviamente, o melhor de entre 100 homens não poderá ser melhor do que a melhor pessoa de entre 200.
Um bom Dia da Mulher para todas e para todos. Mas, em especial, para a minha mulher, que já percebeu que tem um tecto de vidro invisível para quebrar, e para as minhas duas filhas.
----------- IsabelPS:
Uma vez fiz parte dum júri, melhor dizendo, fui assessora dum júri constituído só por homens: corrigi provas escritas e fiz perguntas nas orais de acordo com as minhas capacidades linguísticas, mas só eles tinham direito de voto.
Para meu grande espanto constatei que quando eu fazia uma pergunta a um homem era frequente que ele respondesse duma forma para mim inesperada, quando os meus colegas faziam uma pergunta a uma mulher, acontecia muitas vezes o mesmo: a resposta delas, que me parecia perfeitamente razoável, era visivelmente muito surpreendente para eles.
Tornou-se-me evidente (por isto e por outras coisas que não tinham a ver com género) que os "grupos" tendem a seleccionar quem seja semelhante a eles. Não é por mal, nem é de propósito, mas pura e simplesmente quem seja diferente corre um altíssimo risco de não ser escolhido/ entendido nas suas respostas.
Logo aí decidi que, se eu mandasse, os júris da minha instituição teriam de ser obrigatoriamente constituídos por homens e mulheres. E desde então olhei para as quotas com outros olhos.
----------- Zé T.:
À parte a justeza de acesso e participação das mulheres ...- convém introduzir as Quotas também para salvaguardar o acesso dos HOMENS, sim para proteger os FUTUROS candidatos do outro género a qualquer coisa, pois as mulheres (na sociedade portuguesa e ocidental) estão a conquistar/ obter a maioria dos lugares em várias profissões e categorias:
mais licenciadas, mais professoras, mais enfermeiras e médicas, mais dirigentes, ... mais vendedoras de loja, mais nas caixas de supermercado, ...
Actualmente, nas listas eleitorais (de vários partidos) tem de existir uma pessoa de outro sexo/género em pelo menos 1 em cada 3 lugares (33%) ... - por mim está bem, no mínimo legal deveria ser sempre 1 em cada 5 (20%) para o outro género e poderia ir até 1 em cada 2 (50%) - mas devendo o lugar desta quota mínima ser na 2ª posição ou intercalada ... e nunca no fim (pois nessa posição geralmente fica de fora, em lugar dificilmente elegível, viciando o objectivo).
--- + Contratação Colectiva para diminuir Exploração (de mulheres e de homens) (-por j.simões,8/3/2015, http://derterrorist.blogs.sapo.pt/ )
8 de Março de todos os anos, num país e sociedade que se quer melhor
É por isso que é importante (a melhoria e defesa da legislação laboral/ código do trabalho,) a CONTRATAÇÃO COLECTIVA (e a respectiva acção dos sindicatos e a inspecção da ACT/Estado), porque lá vem, preto no branco, as categorias profissionais, as funções, as condições... e que para determinada categoria profissional corresponde determinada remuneração, independentemente do sexo, e da única vez em que a palavra "mulher" aparece é num capítulo do acordo de trabalho que diz "alínea xis, gravidez".
Faz-me confusão, muita confusão, quando ouço ou leio que as mulheres ganham menos que os homens para trabalho igual. (só pode ser) Nas empresas privadas, dos empresários criadores de emprego e mui liberais, a famosa rigidez patronal. Só pode.
E sem Contratação Colectiva, sem Direitos Laborais, (e com a merd.. desta selvajaria neoLiberal, desreguladora, "flexível", ...) a EXPLORAÇÃO salarial não é limitada aos trabalhadores do género feminino (trabalhadoras) mas estende-se em especial aos "estagiários", aos precários (sem contrato ou com contrato de curta duração), aos "externos" das Empresas de Trabalho Temporário, ... aos mais fracos ou sem poder de negociação nem defesa legal efectiva.
... Da difícil, contínua e indefetível luta pelos Direitos Humanos das Mulheres, temos o exemplo simbólico no facto de só em 1975, a ONU ter proclamado o dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres.
Quanto à justeza da persistência desta luta, são tantos os argumentos, em pleno século XXI, que basta referir alguns dos problemas com que, nesta matéria, nos debatemos nas sociedades ocidentais:
. desigualdades salariais, desigualdades de tratamento,
. violência de género, violência doméstica, violência sexual,
. assédio sexual, tráfico de seres humanos para efeitos de exploração/ prostituição,
. exposição a estereótipos consumistas (publicidade, 'modelos') de mercados masculinizados
e tantas, tantas outras, maiores e menores formas de expressão de "machismos" e "micro-machismos"!...
Isto sem falar na urgência de solidariedade que é preciso reforçar e promover, por esse mundo fora, noutras esferas civilizacionais, em que as mulheres não têm direito de voto, nem de estudar, não podem conduzir, não podem circular nas ruas sem estarem sujeitas à humilhação e falta de dignidade -que, muitas vezes, as próprias não reconhecem!- de cobrirem completa ou parcialmente o seu corpo, onde lhes é negado o direito ao livre-arbítrio, imposto o casamento forçado, a mutilação genital, a impossibilidade de determinar o seu futuro... e onde são, simplesmente!, consideradas, nada mais, nada menos, do que mero património familiar e propriedade patriarcal.
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Portugal e direito ao voto das mulheres Hoje não é o «meu» dia coisíssima nenhuma: é de todos, homens e mulheres, que lutaram, e têm de continuar a lutar, pela não discriminação de metade da humanidade.
Quanto a direito ao voto feminino, em Portugal foi assim:
Tudo começou com o decreto 19.692, de 5 de Maio de 1931. Mas com excepções, como a de Carolina Beatriz Ângelo (na foto) que foi a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto (nas constituintes de 28.05.1911), concedido por sentença judicial, após exigência da condição de chefe de família, dada a sua viuvez.
Em 1933 e em 1946 foram levantadas algumas restrições, mas só quase no fim de 1968, já durante o marcelismo, é que acabaram por ser removidas quaisquer discriminações para a eleição de deputados à Assembleia Nacional. (Depois do 25 de Abril 1974, o direito universal de voto passou a aplicar-se também às eleições presidenciais e autárquicas.)
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Feminismo e anti-sexismo (-J.Vasco, 24/2/2016, EsquerdaRepublicana)
E se é verdade que a implicação inversa não é necessariamente verdadeira, é fácil constatar que a esmagadora maioria das/dos
feministas são-no por serem antes de mais anti-sexistas. Só uma ínfima minoria de feministas não é anti-sexista.
Por outro lado, é possível ser-se anti-sexista sem ser feminista, mas isso exige um enorme grau de desconhecimento da realidade: uma imagem muito distorcida/equivocada a respeito da sociedade actual. Já tomei contacto com pessoas nesta categoria:
dizem-se anti-sexistas e afirmam
querer um mundo justo onde os homens não são privilegiados - e eu acredito nelas -
mas não se consideram feministas pois não consideram que as mulheres sejam significativamente mais injustiçadas/prejudicadas que os homens no contexto em que vivemos. Nalguns casos reconhecem algumas injustiças para com as mulheres, mas contrapõem outras injustiças sexistas para com os homens (por exemplo, em relação à custódia dos filhos) e alegam que as
injustiças num sentido e noutro têm uma importância e gravidade semelhante, ou resultam apenas das escolhas livres feitas pelas mulheres.
Importa pois desfazer este profundo equívoco. Independentemente de pequenos rituais de etiqueta para os quais pode existir uma pressão social mais forte ou mais fraca consoante o contexto, ou algumas situações extremas (e raras) onde as diferentes expectativas sociais podem ser mais ou menos favoráveis a um sexo/género que outro, devemos
centrar a discussão sobre a desigualdade naqueles aspectos que determinam grande parte dos recursos (em tempo e dinheiro) da esmagadora maioria da população:
as tarefas domésticas e os ordenados. Sobre a primeira questão, os dados são claros (para Portugal:
17h de diferença; para vários países da União Europeia:
cerca de 14h de diferença; para os EUA:
cerca de 10h de diferença) - em média as
mulheres passam muito mais horas que os homens a realizar trabalho doméstico. A discrepância é elevada o suficiente para que não a possamos atribuir exclusivamente a alegadas diferenças relativas a gostos ou preferências. Os indícios a respeito de uma pressão social inescapável e consequente são significativamente claros. Não posso deixar de destacar que estes são valores médios, e que existirão casos onde a discrepância será muito superior a esta. Vale a pena também destacar que os valores apresentados correspondem à carga semanal - cerca de 750h anuais
é algo com um impacto tremendo na vida de qualquer um.
Já no que diz respeito aos salários, sabe-se que existem
disparidades salariais significativas (na UE
podem oscilar entre os 3.2% na Eslovénia, 13% em Portugal ou 29.9% na Estónia, para uma média geral de 16.3%; nos EUA
rondam os 22%), e mesmo que algumas delas possam ser atribuíveis a diferentes escolhas pessoais ou características físicas, é
bastante clara a existência de uma
discriminação sexista que não dá as mesmas oportunidades a todos. A este respeito não posso deixar de falar de três estudos elucidativos (entre muitos outros):
. A partir do momento em que as audições para contratações de músicos esconderam o sexo/género do candidato,
a contratação de mulheres aumentou significativamente. Grande parte desse aumento deveu-se a esta alteração no processo de selecção.
Perante o conhecimento destes factos (e muitos outros), qualquer indivíduo que mantenha a convicção de que não existe um desequilíbrio na nossa sociedade que desfavorece as mulheres ao nível dos direitos e oportunidades está simplesmente em negação. Se continua sem ser feminista, não é certamente anti-sexista. ---
Viva o 8 de Março - Da Realidade à Política e à Arte!
No dia 8 de Março de 1857, as operárias de uma fábrica de têxteis em Nova York, iniciaram uma luta indefetível pelos direitos das mulheres!
Por melhores condições de trabalho e de vida, melhores salários e igualdade de tratamento!...
a luta que as ameaçou desde logo, teve continuidade por muitos, longos e penosos anos
em que as suas reivindicações levaram a que fossem ameaçadas, perseguidas e reprimidas pela polícia
- ao ponto de, já no século XX, também nos EUA, acabarem cercadas num incêndio que deflagrou nas instalações de uma fábrica onde trabalhavam e onde resistiam às pressões externas de uma sociedade masculina e patriarcal.
Houve vítimas e até, pelo menos, uma morte entre estas corajosas, solitárias e solidárias mulheres!
O facto, enquanto atentado contra os direitos das mulheres e dos trabalhadores, foi sendo conhecido e o dia 8 de Março começou a ser assinalado, progressivamente, um pouco por todo o mundo.
Desta luta temos hoje um excelente registo no filme "Anjos Rebeldes" (originalmente intitulado: Iron Jawed Angels), um trabalho cinematográfico notável da realizadora Katja von Garnier que conta com a extraordinária interpretação de Hilary Swank no papel de Alice Paul, uma das mulheres cujo nome ficará para sempre, associado à luta memorável e exemplar das Sufragistas
a que, nesta obra, dão corpo e voz, também, outras atrizes de reconhecido e justo mérito como Julia Ormond e Angelica Houston.
Da difícil, contínua e indefetível luta pelos Direitos Humanos das Mulheres, temos o exemplo simbólico no facto de só em 1975, a ONU ter proclamado o dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres.
Quanto à justeza da persistência desta luta, são tantos os argumentos, em pleno século XXI, que basta referir alguns dos problemas com que, nesta matéria, nos debatemos nas sociedades ocidentais:
desigualdades salariais, desigualdades de tratamento,
violência de género, violência doméstica, violência sexual,
assédio sexual, tráfico de seres humanos para efeitos de exploração,
exposição a estereótipos consumistas de mercados masculinizados
e tantas, tantas outras, maiores e menores formas de expressão de "machismos" e "micro-machismos"!...
Isto sem falar na urgência de solidariedade que é preciso reforçar e promover, por esse mundo fora, noutras esferas civilizacionais,
em que as mulheres não têm direito de voto,
não podem conduzir, não podem circular nas ruas sem estarem sujeitas à humilhação e falta de dignidade
-que, muitas vezes, as próprias não reconhecem!- de cobrirem completa ou parcialmente o seu corpo,
onde lhes é negado o direito ao livre-arbítrio,
imposto o casamento forçado e a impossibilidade de determinar o seu futuro...
e onde são, simplesmente!, consideradas, nada mais, nada menos, do que mero património familiar e propriedade patriarcal.
(por Ana Paula Fitas )
Etiquetas: Direitos Humanos; Política; Direitos Humanos; Sociedade; Política; Justiça; Cultura;
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6/3/2015:
Desigualdade Salarial, o rosto institucional da Discriminação Sexual...
Por não existir igualdade salarial entre homens e mulheres, em Portugal,
as mulheres são obrigadas a trabalhar mais 65 dias por ano para obter a mesma remuneração anual que os homens...
Para ilustrar o que este facto significa, instituiu-se assinalar o Dia da Igualdade Salarial no dia 6 de Março, por ser exactamente neste dia que, a partir do 1º dia do ano, se completam os tais 65 dias de trabalho excedentário feminino para efeitos de igual remuneração, pelo desempenho de uma mesma tarefa realizada por homens.
Se a este facto somarmos todo o trabalho não remunerado que, apesar da progressiva partilha dos afazeres domésticos e familiares entre pessoas de sexo diferente,
continua a sobrecarregar a maioria das mulheres, a evidência de ausência de fundamento racional e o grau de injustiça desta realidade é incontornável.
Quando uma sociedade legitima desigualdades básicas, como esta!, não pode, em caso algum!, considerar-se
uma sociedade efectivamente republicana e democrática, pautada pela afirmação de valores tais como a igualdade, a liberdade, a responsabilidade social e a solidariedade.
(- por Ana Paula Fitas )
8 de Março de todos os anos de um ano qualquer
(-por josé simões, http://derterrorist.blogs.sapo.pt/)
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É por isso que é importante a CONTRATAÇÃO COLECTIVA, porque lá vem, preto no branco, as categorias profissionais e que para determinada categoria profissional corresponde determinada remuneração,
independentemente do sexo, e da única vez em que a palavra "mulher" aparece é num capítulo do acordo de trabalho que diz "alínea xis, gravidez".
Faz-me confusão, muita confusão, quando ouço ou leio que as mulheres ganham menos que os homens para trabalho igual.
(só pode ser) Nas empresas dos empresários criadores de emprego e mui liberais, a famosa rigidez patronal. Só pode.
E sem Contratação Colectiva, sem Direitos Laborais, (e com a merd.. desta selvajaria Neoliberal, desreguladora, "flexível", ...) a EXPLORAÇÃO Salarial não é limitada aos trabalhadores do género feminino (trabalhadoras) mas
estende-se em especial aos "estagiários", aos Precários (sem contrato ou com contrato de curta duração), aos "externos" das Empresas de Trabalho Temporário, ...
QUOTAS FEMININAS
Nesta excelente entrada, a Sara Pitola diz que leva a sério o seu preenchimento da quota feminina neste blogue. É um assunto sempre muito debatido, devem as quotas ser impostas ou não?
No ano passado, depois de algumas conversas com uma amiga (feminista), a verdade é que me fui tornando um activista da causa feminista e a considerar a hipótese de fazer parte de um movimento nesse sentido. Talvez por isso tenha ficado mais alerta. E houve um dia em que reparei que este blogue com sete co-autores não tinha uma mulher. E, verdadeiramente, pareceu-me absurdo.
Por essa altura, decidi convidar 4 mulheres para fazerem parte do blogue. A Sandra Maximiano, a Sara Pitola, a Vera Gouveia Barros (que por motivos profissionais teve de abandonar o blogue) e a Rita Carreira. Diga-se de passagem que eu já tinha pensado convidar cada uma delas antes. Apenas não o tinha feito porque pensava que não estariam interessadas. Mesmo assim, senti-me um pouco envergonhado ao convidá-las por atacado. Ainda por cima, a Sara Pitola reagiu logo a perguntar-me se eu a estava a convidar para preencher a quota feminina. Fiquei sem saber o que responder.
Quase em simultâneo, e apenas por coincidência, fui convidado a escrever na Maria Capaz. E fui convidado precisamente para preencher a quota masculina dessa plataforma feminina/feminista.
Tudo isto das quotas pode parecer a muitos um pouco absurdo. Mas a verdade é que alguns dos melhores artigos da Maria Capaz foram escritos por homens (incluindo o meu, diga-se). No caso deste blogue, permitam-me, mais uma vez, a falta de modéstia, a diferença foi fabulosa. Ganhou uma vivacidade, poder de choque e uma qualidade que não tinha graças às novas autoras.
Talvez um dia, quando as empresas forem pressionadas a ter mais mulheres em lugares de topo, percebam isto mesmo. Só têm a ganhar. Não porque as mulheres sejam melhores do que os homens, mas, simplesmente, porque, ao considerarem a possibilidade de recrutar mulheres para lugares de topo, verão duplicada a sua base de recrutamento. E, obviamente, o melhor de entre 100 homens não poderá ser melhor do que a melhor pessoa de entre 200.
Um bom Dia da Mulher para todas e para todos. Mas, em especial, para a minha mulher, que já percebeu que tem um tecto de vidro invisível para quebrar, e para as minhas duas filhas.
--(- por Luís Aguiar-Conraria , 8/3/2015, http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/2015/03/quotas-femininas.html#comment-form )
---------
IsabelPS:
Uma vez fiz parte dum júri, melhor dizendo, fui assessora dum júri constituído só por homens:
corrigi provas escritas e fiz perguntas nas orais de acordo com as minhas capacidades linguísticas, mas só eles tinham direito de voto.
Para meu grande espanto constatei que quando eu fazia uma pergunta a um homem era frequente que ele respondesse duma forma para mim inesperada, quando os meus colegas faziam uma pergunta a uma mulher, acontecia muitas vezes o mesmo:
a resposta delas, que me parecia perfeitamente razoável, era visivelmente muito surpreendente para eles.
Tornou-se-me evidente (por isto e por outras coisas que não tinham a ver com género) que os "grupos" tendem a seleccionar quem seja semelhante a eles.
Não é por mal, nem é de propósito, mas pura e simplesmente quem seja diferente corre um altíssimo risco de não ser entendido nas suas respostas.
Logo aí decidi que, se eu mandasse, os júris da minha instituição teriam de ser obrigatoriamente constituídos por homens e mulheres.
E desde então olhei para as quotas com outros olhos.
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À parte a justeza de acesso e participação das mulheres ...- convém introduzir as Quotas ... também para salvaguardar os HOMENS, sim para proteger os FUTUROS candidatos a qualquer coisa, pois as mulheres (na sociedade portuguesa e ocidental) estão a conquistar/ obter a maioria dos lugares em várias profissões e categorias:
mais licenciadas, mais professoras, mais enfermeiras e médicas, ... mais vendedoras de loja, mais nas caixas de supermercado, ...
Actualmente, nas listas eleitorais têm de existir uma pessoa de outro sexo/género em pelo menos 1 em cada 3 lugares (33%) ... por mim está óptimo, no mínimo deveria ser sempre 1 em cada 5 (20%) - mas devendo o lugar desta quota mínima ser no meio ou intercalada ... e não no fim
a carruagem para mulheres que afinal era 12 lugares reservados perto da cabine do pessoal de bordo
http://conversa2.blogspot.pt/ 1/4/2016HelenaAraújo
A notícia em português diz que a empresa Mitteldeutsche Regiobahn vai criar duas carruagens para mulheres, para incentivar um ambiente mais seguro para todos os viajantes do sexo feminino.
Em alemão (Freie Welt, Süddeutsche, Freie Presse, MDR Sachsen, Die Freie Welt, Spiegel) leio:
- A pedido de algumas mulheres, essa empresa vai reservar em cada comboio da ligação Leipzig-Chemnitz dois compartimentos (de seis lugares cada) perto da cabine do pessoal de bordo, para mulheres que viajam sozinhas ou com crianças.
- Na ligação Leipzig-Chemintz a companhia ainda usa carruagens da antiga RDA, divididas em inúmeros compartimentos que são espaços pequenos, fechados e com pouca visibilidade. À noite os corredores são bastante escuros, e ao entrar no compartimento é preciso procurar o interruptor de luz para a acender. Cada comboio tem quatro carruagens deste tipo, e ainda uma quinta, aberta e de construção mais moderna, que é sempre a primeira a encher. É compreensível que as mulheres se sintam inseguras: ao contrário do que se passa nas carruagens abertas, as hipóteses de saídas de emergência são muito reduzidas, e ninguém vê o que se passa dentro dos compartimentos.
- A companhia oferece este serviço para reforçar o sentimento de segurança das mulheres, mas insiste que a medida não tem nada a ver com os incidentes na passagem de ano em Colónia.
- A medida não é inédita. Na Suíça houve um projecto-piloto há 15 anos que, por falta de procura, foi substituído por outro sistema de segurança. Na República Checa houve uma associação de pais (homens) que protestou contra este regulamento semelhante ao apartheid. Na Grã-Bretanha debate-se uma sugestão semelhante do trabalhista Jeremy Corbyn, e há quem a critique por "poder ser sentida como ofensiva, humilhante e embaraçosa tanto por homens como por mulheres". Esta possibilidade já é posta em prática em diversos países (Japão, México, Indonésia, Egipto, Brasil, etc.). Nos comboios nocturnos, há muito que a Deutsche Bahn oferece compartimentos de cama só para mulheres.
- Há um estudo da Middlesex Univ. sobre a segurança das mulheres nos transportes públicos que condena este tipo de solução, considerando-o um retrocesso. (O estudo parece-me muito bom: podem ler aqui. A parte relativa aos compartimentos só para mulheres começa na página 43.)
A medida deu azo a um enorme debate:
-- O Freie Welt pergunta: se se criam lugares especiais para mulheres, apesar da importância que damos à igualdade de género, o que se pode dizer da necessidade de segurança de outros grupos? Lugares especiais para pessoas com ar de estrangeiro (talvez separados por etnias inimigas), para homossexuais, para pessoas da extrema-direita e para pessoas da extrema-esquerda, por religiões? A lista de conflitos possíveis é infindável. A questão é: queremos responder a necessidades pontuais, ou discutir sobre os valores da nossa sociedade, e a melhor maneira de os proteger?
-- Os Verdes da Saxónia (o Estado onde esse comboio circula) não vêem mal nenhum nesta medida: as mulheres não são obrigadas a usar os lugares reservados; se não houver procura, pode-se desistir desta oferta. Os Linke têm oposição contrária. Um deputado deste partido afirma que já não estamos na Idade Média, nem no princípio do século passado, e pergunta se devemos esperar que se siga uma separação por género das salas de espera, das lojas e das piscinas. Enviou ao governo da Saxónia um pedido para se pronunciar sobre estas medidas, e também para dar informações sobre os ataques nos comboios e nas estações.
-- Frauke Petry, da AfD, afirma que a separação entre homens e mulheres é um retrocesso, e que o Estado tem de garantir a segurança das pessoas. "Mas a política está a falhar cada vez mais. Para melhorar esta situação, é preciso fazer mudanças urgentes na Polícia e na Justiça."
-- As redes sociais e as caixas de comentários dos sites informativos estão cheias de comentários sobre a ameaça islâmica, a invasão dos costumes islâmicos, as nossas mulheres terem de se sujeitar à sharia, os refugiados serem uns ingratos que não respeitam os nossos costumes, etc. - A medida, que não tem nada a...
( http://conversa2.blogspot.pt/ , 1/4/2016, Helena Araújo )
...
...
- A medida, que não tem nada a ver com a chamada "ameaça islâmica", está a ser usada para alimentar a xenofobia e a islamofobia. Curiosamente, no Estado de Sachsen só 2,2% da população são emigrantes, e desses, os grupos maiores são vietnamitas e russos (ao contrário dos turcos, no total da Alemanha).
No twitter há um novo hashtag, #ImZugPassiert (acontece no comboio), no qual as mulheres contam incidentes em viagens ferroviárias. Certas reacções de alguns homens mostram a tendência para ignorar que o sexismo é parte normal do quotidiano das mulheres na Alemanha. Em reacção à incredulidade e ao gozo, há quem comente que as mulheres só são levadas a sério quando o atacante é um refugiado.
Alguns relatos (imaginem-se as cenas num cubículo de seis lugares, com uma porta pesada que fecha automaticamente, e sem ninguém a passar no corredor):
...
... ...
revelou a impossibilidade de combinar a luta por uma situação ideal com a necessidade de resolver hoje um problema concreto. Concordo que é preciso educação cívica, muito trabalho nas escolas, campanhas de sensibilização, medidas de empowerment das mulheres, e coragem civil. Mas enquanto isso não é posto em prática e começa a dar abundantes frutos, há que dar algum recurso de segurança a uma mulher que viaja sozinha num comboio de compartimentos pequenos, fechados, e com péssima visibilidade.
Compreendo até certo ponto os argumentos contra esta medida. Até certo ponto:
- Uma medida que menoriza as mulheres, e reforça os preconceitos de género.
Pior menorização das mulheres é recusar-lhes o apoio que pedem para poderem andar com segurança em certos comboios. Mesmo correndo o risco de "reforçar preconceitos", não se pode ignorar a existência da violência de género.
- Uma ofensa para os homens.
É verdade. Para não melindrar os homens, devemos recusar às mulheres a possibilidade de terem acesso a lugares onde se podem proteger melhor da violência de género?
- Vamos agora criar lugares reservados para proteger os negros dos ataques de skinheads e os refugiados dos ataques de neonazis?
Melhor seria perguntar às potenciais vítimas. ... há um problema gravíssimo de xenofobia e racismo. Devemos deixar os refugiados entregues à sua sorte, em nome de um ideal de não discriminação que está muito longe de ser realidade?
- Esta medida é um atentado à igualdade de género.
Pois é. Mas favorece a equidade: permite às mulheres viajar sozinhas em transportes públicos, em vez de escolherem entre ficar em casa, andar de carro/táxi, ou correr o risco de uma experiência desagradável e traumatizante.
- Áreas reservadas a mulheres é um sinal de que o mundo é dos homens, e que as mulheres se devem confinar à área reservada para elas.
Boa questão, sem dúvida. Mas haver, num comboio para várias centenas de pessoas 12 lugares reservados a mulheres não é ainda um caso de apartheid.
- Se uma mulher não se sentar no lugar reservado para ela está a sinalizar que não se importa de ser alvo de abuso por parte dos homens.
Não vejo os homens como um bando de tarados à espera da primeira desculpa para me saltar para cima. Pode ser que me engane, mas parto do princípio que a maior parte dos homens que anda nos transportes públicos são pessoas decentes, que nunca se lembrariam de usar tal argumento para me faltar ao respeito. Os que seriam capazes de recorrer a esse argumento são os que já têm uma predisposição para o abuso - e nesse caso, ainda bem que há os tais lugares onde eles não podem incomodar as mulheres.
- E porque não chamar a polícia e prender o abusador na paragem seguinte?
Pode ser, claro, mas os argumentos dos adversários da criminalização do piropo: e a polícia está disponível para isso? e como é que provas? e vais incomodar o sistema de justiça por tão pouco?
- Lugares reservados a mulheres podem conter em parte os ataques sexistas nas viagens de comboio, mas não resolvem o problema de fundo.
A solução está muito longe de ser a ideal, mas enquanto a violência de género nos espaços públicos for uma realidade, e enquanto não se arranjar uma solução melhor, há que dar uma resposta concreta aos problemas concretos das mulheres que hoje querem andar naqueles comboios.
--- Manifestação histórica na Argentina contra femicídio e violência de género e assédio
A campanha contra a violência machista #NiUnaMenos culminou numa manifestação nesta quarta-feira que ocupou as ruas de dezenas de cidades argentinas. O protesto acabou por se estender também a países como Chile, Uruguai e México.
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http://www.esquerda.net/artigo/manifestacao-historica-na-argentina-contra-femicidio-e-violencia-de-genero/37255
http://www.tvi24.iol.pt/politica/mariana-mortagua/qualquer-mulher-no-parlamento-ja-sentiu-que-tem-de-trabalhar-o-dobro
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No dia em que a TVI dedicou a emissão às mulheres, Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda (BE), e Mariana Mortágua, deputada do BE, falam sobre a presença das mulheres na política e as desigualdades de género em Portugal em entrevista no Jornal das 8.
Na política, como noutras áreas da sociedade, a mulher deve, na opinião da porta-voz do BE, ser encarada e reconhecida pelo seu mérito e não pelo género.
“As mulheres devem ser protagonistas pelo trabalho que fazem e não por serem mulheres”, disse.
Para Catarina Martins, “a presença de homens e mulheres na política é uma questão de democracia” apesar de muitas decisões da vida nacional “estarem fechadas num grupo de homens” que nem sempre abordam os temas do quotidiano que acabam por afetar mais as mulheres.
Mariana Mortágua partilha da mesma opinião.
“Sempre que são afetadas áreas estruturantes da sociedade são as mulheres que sofrem em primeiro lugar”,
como aconteceu quando o abono de família foi diminuído ou foram aumentados os encargos com lares e educação.
Numa altura em que se debate o Orçamento de Estado para 2016, Catarina Martins sublinhou que “há uma série de medidas sociais que foram debatidas não só por mulheres, como é o caso do aumento do abono de família”.
"A desigualdade de género é algo muito sério em Portugal”
Apesar dos esforços para diminuir as diferenças entre homens e mulheres, em Portugal ainda há diferenças salariais, laborais e sociais entre géneros.
“Julgo que há hoje imenso respeito e um certo carinho por haver mulheres na política com as mesmas responsabilidades que os homens”, considera Catarina Martins, mas a desigualdade de género continua a ser “algo muito sério em Portugal”.
(Veja também: Governo vai propor lei para haver mais mulheres a administrar empresas)
Questionada sobre a ausência de mulheres no poder, nomeadamente à frente do Governo e da República, a dirigente bloquista tem uma posição clara e defende que “ninguém cede o poder, tem de ser sempre conquistado”.
Para Catarina Martins, a mulher ainda tem que se esforçar muito para sobressair num mundo onde as diferenças de género lideram.
Este é um país “paternalista, que não leva a sério as opiniões das mulheres e não trata as mulheres como trataria homens nas mesmas posições”.
Apesar desta realidade, a representante do BE considera que a luta por mais direitos e reconhecimento faz parte do papel da mulher e no dia em que tudo esteja mais equilibrado será sinonimo de já não ser necessário “trabalharem mais 65 dias por ano para receberem o mesmo que os homens”.
As mulheres no Parlamento
A lei da paridade portuguesa prevê a presença de uma representação mínima de 33,3% de mulheres nas listas apresentadas para eleger deputados à Assembleia da República.
Nos corredores, esta presença feminina passa muitas vezes despercebida.
A deputada do BE garante que já sentiu a pressão e uma exigência superior por ser mulher.
Na Comissão de Inquérito ao Caso BES, a prestação de Mariana Mortágua foi elogiada diversas vezes pela postura assertiva adotada durante as suas intervenções.
Apesar desta situação, a deputada garante que “qualquer mulher no Parlamento já sentiu que tem de trabalhar o dobro” para se evidenciar e ver o seu trabalho reconhecido porque “as mulheres têm que provar duas vezes o que fazem para que o seu mérito seja reconhecido”.
---As mulheres têm fios desligados
( -crónica de ALA*)
"Há uns tempos a Joana,
- Pai, acabei um namoro à homem.
Perguntei como era acabar um namoro à homem e vai a miúda
-Disse-lhe o problema não está em ti, está em mim.
O que me fez pensar como as mulheres são corajosas e os homens cobardes.
Em primeiro lugar (eles) só terminam uma relação quando têm outra.
Em segundo lugar são incapazes de
- Já não gosto de ti
de
- Não quero mais
chegam com discursos vagos, circulares
- Preciso de tempo para pensar
- Não é que não te amo, amo-te, mas tenho de ficar sozinho umas semanas
ou declarações do género de
- Tu mereces melhor do que eu
- Estive a reflectir e acho que não te faço feliz
- Necessito de um mês de solidão para sentir a tua falta
e aos amigos
- Dá-me os parabéns que lá me consegui livrar da chata
- Custou-me mas foi
- Amandei-lhe daquelas lérias do costume e a gaja engoliu
- Chora um dia ou dois e passa-lhe
e pergunto-me se os homens gostam verdadeiramente das mulheres.
Em geral querem uma empregada que lhes resolva o quotidiano e com quem durmam, uma companhia porque têm pavor da solidão, alguém que os ampare nas diarreias, nos colarinhos das camisas e nas gripes, tome conta dos filhos e não os aborreça.
Não se apaixonam: entusiasmam-se e nem chegam a conhecer com quem estão.
Ignoram o que ela sonha, instalam-se no sofá do dia a dia, incapazes de introduzir o inesperado na rotina, só são ternos quando querem fazer amor e acabado o amor arranjam um pretexto para se levantar
(chichi, sede, fome, a janela de que se esqueceram de baixar o estore)
ou fingem que dormem porque não há paciência para abraços e festinhas,
pá, e a respiração dela faz-me comichão nas costas, a mania de ficarem agarradas à gente, no ronhónhó, a mania das ternuras, dos beijos, quem é que atura aquilo?
Lembro-me de um sujeito que explicava
- O maior prazer que me dá ter relações com a minha mulher é saber que durante uma semana estou safo
e depois pegam-nos na mão no cinema, encostam-se, colam-se, contam histórias sem interesse nenhum que nunca mais terminam, querem variar de restaurante, querem namoro, diminutivos, palermices e nós ali a aturá-las.
O Dinis Machado contava-me de um conhecedor que lhe aclarava as ideias
- As mulheres têm fios desligados
e um outro elucidou-me que eram como os telefones: avariam-se sem que se entenda a razão, emudecem, não funcionam e o remédio é bater com o aparelho na mesa para que comecem a trabalhar outra vez.
Meu Deus, que pena me dão as mulheres.
Se informam
- Já não gosto de ti
se informam
-Não quero mais
aí estão eles a alterarem a agressividade com a súplica, ora violentos ora infantis, a fazerem esperas, a chorarem nos SMS a levantarem a mãozinha e, no instante seguinte, a ameaçarem matar-se, a perseguirem, a insistirem, a fazerem figuras tristes, a escreverem cartas lamentosas e ameaçadoras, a entrarem pelo emprego dentro, a pegarem no braço, a sacudirem, a mandarem flores eles que nunca mandavam flores, a colocarem-se de plantão à porta dado que aquela puta há-de ter outro e vai pagá-las, dispostos a partes-gagas, cenas ridículas, gritos.
A miséria da maior parte dos casais, elas a sonharem com o Zorro, com o Che Guevara ou eles a sonharem com o decote da vizinha de baixo, de maneira que ao irem para a cama são quatro: os dois que lá se deitam e os outros dois com quem sonham.
Sinceramente as minhas filhas preocupam-me: receio que lhe caia na sorte um caramelo que passe à frente delas nas portas, não lhes abra o carro, desapareça logo a seguir por chichi-sede-fome-persiana-mal-descida-e-os-ladrões-percebes, não se levante quando entram, comece a comer primeiro e um belo dia
(para citar noventa por cento dos escritores portugueses)
- O problema não está em ti, está em mim
a mexerem na faca à mesa ou a atormentarem a argola do guardanapo, cobardes como sempre.
Não tenho nada contra os homens: até gosto de alguns.
Dos meus amigos.
De Shubert.
De Ovídio.
De Horácio, de Virgílio.
De Velásquez.
De Rui Costa.
De Einzenberger.
Razoável, a minha colecção.
Não tenho nada contra os homens a não ser no que se refere às mulheres.
E não me excluo: fui cobarde, idiota, desonesto.
Fui
(espero que não muitas vezes)
rasca.
Volta e meia ...
...
...
Volta e meia surge-me na cabeça uma frase de Conrad em que ele comenta que tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que chega tarde demais.
Resta-me esperar que ainda não seja tarde para mim.
A partir de certa altura deixa-se de se jogar às cartas connosco mesmos e de fazer batota com os outros.
O problema não está em ti, está em mim, que extraordinária treta.
Como os elogios que vêm logo depois: és inteligente, és sensível, és boa, és generosa, oxalá encontres etc., que mulher não ouviu bugigangas destas?
Uma amiga contou-me que o marido iniciou o discurso habitual
- Mereces melhor que eu
levou como resposta
- Pois mereço. Rua.
Enfim, mais ou menos isto, e estou a ver a cara dele à banda.
Nem uma lágrima para amostra. Rua.
A mesma lágrima para amostra. Rua.
A mesma amiga para uma amiga sua
- O que faço às cartas de amor que me escreveu?
e a amiga sua
- Manda-lhas. Pode ser que lhe façam falta.
Fazem de certeza: é só copiar mudando o nome.
Perguntei à minha amiga
- E depois de ele se ir embora?
- Depois chorei um bocado e passou-me.
Ontem jantámos juntos.
Fumámos um cigarro no automóvel dela, fui para casa e comecei a escrever isto.
Palavra de honra que na janela uma árvore a sorrir-me.
Podem não acreditar mas uma árvore a sorrir-me.
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* (Crónica de António Lobo Antunes in Visão)
Postado por Carlos Barbosa de Oliveira, 12/3/2016, Crónicas do rochedo.
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