Terça-feira, 30 de Junho de 2015

Krugman e Stiglitz defendem que gregos votem "Não" no referendo  (Lusa,

 Os dois economistas, distinguidos com o prémio Nobel, criticam a troika e defendem que a Grécia tem mais a perder do que a ganhar se o "Sim" vencer.  ... defenderam nesta segunda-feira que os gregos devem votar "Não" no referendo, considerando que, sem mais medidas de austeridade, podem ter esperança no futuro.

    No artigo de opinião de hoje no The New York Times, Paul Krugman escreve que "a Grécia deve votar 'Não' e o Governo grego deve estar preparado, se necessário, para sair do euro", argumentando que é verdade que o executivo grego "estava a gastar acima das suas possibilidades no final dos anos 2000" mas que, "desde então, cortou repetidamente a despesa e aumentou impostos".

    "O emprego público caiu mais de 25% e as pensões (que eram de facto demasiado generosas) têm sido cortadas abruptamente. Se a isto se somarem todas as medidas de austeridade, fizeram mais do que o suficiente para eliminar o défice e passarem a ter um amplo excedente", nota Krugman.

    A explicação para que a correcção não se tenha verificado na Grécia é que "a economia grega colapsou, muito devido às muitas medidas de austeridade, que afundaram as receitas" do Estado, defende o economista norte-americano, acrescentando que este colapso "esteve muito ligado ao euro, que amarrou a Grécia num colete-de-forças económico".

    Krugman aponta três razões para que os gregos votem "Não" no referendo:    "Após cinco anos [de duras medidas de austeridade], a Grécia está pior do que nunca", "o tão temido caos gerado por um 'Grexit' [saída da Grécia da zona euro] já aconteceu", ou seja, os bancos estão fechados e foram impostos controlos de capital e, finalmente, "ceder ao ultimato da troika iria representar o abandono final de qualquer pretensão de independência grega".

     O Nobel da Economia de 2008 deixa mesmo um apelo aos gregos: "Não se deixem levar pelos que dizem que os oficiais da troika são apenas tecnocratas a explicar aos gregos ignorantes o que tem de ser feito. Estes pretensos tecnocratas são, de facto, fantasistas, que desconsideraram tudo o que sabemos sobre macroeconomia e estiveram sempre errados. Isto não é sobre análise, é sobre poder — o poder dos credores para dispararem sobre a economia grega, que vai persistir enquanto a saída do euro for considerada impensável".

     Para Krugman, "é tempo de pôr fim" a esta visão de que sair do euro é impensável ou então "a Grécia vai confrontar-se com uma austeridade interminável e com uma depressão sem solução e sem fim".

Também Joseph Stiglitz, que foi distinguido com o Prémio Nobel da Economia em 2001, assina hoje um artigo de opinião no jornal britânico The Guardian, intitulado Como eu votaria no referendo grego.

Stiglitz reconhece que "nenhuma alternativa, aprovação ou rejeição dos termos da troika, vai ser fácil e ambas implicam riscos" e sublinha que, se ganhar o "Sim", isso vai significar "uma depressão quase sem fim".

"Talvez um país empobrecido — que vendeu todos os seus activos e cujos jovens brilhantes emigraram — possa finalmente conseguir um perdão da dívida. Talvez transformando-se numa economia de rendimentos médios, a Grécia possa finalmente aceder à assistência do Banco Mundial. Tudo isto pode acontecer, na próxima década ou talvez na década a seguir a essa", resume o economista ao retratar o futuro da Grécia, caso os gregos aceitem as condições que os credores internacionais estão a pedir.

   Já num cenário em que os gregos votam "Não" no referendo de 5 de Julho, Stiglitz considera que isso, "pelo menos, ia abrir a possibilidade de a Grécia, com a sua forte tradição democrática, ter a oportunidade de decidir o seu destino por si".

    "Os gregos podem ganhar a oportunidade de desenhar um futuro que, ainda que não seja tão próspero como no passado é, de longe, mais esperançoso do que a tortura sem consciência do presente", reitera o economista.

    A crise que opõe o Governo grego aos credores internacionais — Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu — assumiu um rumo inédito depois de o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ter anunciado, na sexta-feira à noite, a convocação de um referendo sobre o programa apresentado pelos credores para desbloquear a ajuda financeira ao país. No sábado, o Eurogrupo recusou-se a prolongar o programa de assistência financeira à Grécia, que termina nesta terça-feira, dia 30.

    A Grécia, que enfrenta problemas de liquidez, arrisca-se a entrar em incumprimento, tendo de pagar até terça-feira à noite mais de 1,5 mil milhões de euros ao FMI.

 A Grécia entre a democracia, a demagogia e o colapso financeiro   (JPT Fernandes,

1. Os referendos são benéficos para a democracia. Alexis Tsipras, Yannis Varoufakis e o governo do Syriza têm bons argumentos para contestar a tecnocracia europeia e do FMI. A sua excessiva prevalência nas decisões políticas e sobre as escolhas democráticas é, deveria, ser, objecto de preocupação. Têm também argumentos válidos quando contestam a prevalência, quase absoluta, dos mercados sobre os Estados. Não é bom para a democracia.

   A isto poderia acrescentar-se a intransigência negocial dos credores, sobretudo do FMI, face a uma economia e população já sujeita a enormes sacrifícios. Apesar dos seus muitos méritos, a União Europeia, pela própria forma como foi construída, não é um exemplo das melhores virtudes democráticas. A tecnocracia na Comissão e no Banco Central Europeu são dominantes. Estão impregnadas de uma visão (neo)liberal da economia, quase imune às preferências dos eleitores.

    Para além disso, os processos de ratificação dos Tratados – e os contorcionismos para evitar os referendos, ou obrigar à sua repetição –, mostram o problema desde os anos 1990. Na Dinamarca, no referendo para ratificação do Tratado de Maastricht em 1992, ganhou inicialmente o “não”, embora por escassa margem; depois, por pressão europeia, fez-se novo referendo em 1993, chegando-se a um “sim”. Na Irlanda, houve similar ocorrência com Tratado de Lisboa. Em 2008, num primeiro referendo, a votação foi “não”; a seguir veio a pressão europeia para um segundo referendo, efectuado em 2009, que deu uma votação “sim”. Nessa altura o processo parou, depois de se chegar ao “bom” resultado.     Ironia: o “não” ao referendo em França (e Holanda) em 2005, ao Tratado Constitucional Europeu, não levou a repetição da consulta ao eleitorado. A solução foi negociar novo Tratado. Aparentemente, nos grandes Estados, essas coisas são impensáveis.  ...  ...



Publicado por Xa2 às 07:41 | link do post | comentar

2 comentários:
De Não diz-se «Oxi» em Grego. a 30 de Junho de 2015 às 16:21
Não diz-se oxi

Tudo aquilo que o Governo grego fez desde Janeiro até ao dia da convocação do referendo só tem racionalidade se o objectivo for tirar a Grécia do euro, convencendo os gregos que foram os europeus que a empurraram para fora da moeda única (…) Sim, têm sido extraordinariamente inteligentes, frios e manipuladores.

Num editorial de puro ódio, típico de quem não aprendeu nada com esta crise, Helena Garrido até acabou ontem no Negócios por inadvertidamente agigantar a liderança grega. No entanto, Garrido está errada, creio. Eles não deixam de ser políticos com p grande, mas talvez por outras razões.

Quem tenha feito um esforço, por pequeno que seja, para conhecer o Syriza e seus aliados, sabe que a maioria da sua liderança política é (era, tenhamos esperança)
composta por convictos europeístas, dos da euro-keynesiana “modesta proposta”, dos do Plano Marshall para o Sul, dos da superação da austeridade com reestruturação da dívida dentro do Euro, dos de “uma outra Europa é possível”;
sabe igualmente que o Syriza é composto por democratas convictos.
Estes meses representaram um esforço para negociar num espírito de conciliação de princípios irreconciliáveis no quadro institucional do Euro,
bastando ver a última e dolorosa proposta apresentada e rejeitada com vermelho e tudo.

Num partido onde existe uma minoria crescentemente influente, com um diagnóstico bem mais realista da economia política do Euro,
justamente convicta de que a saída é a única solução,
confrontada com a integração europeia realmente existente, com a sua natureza pós-democrática, feita de mil formas de corrupção da democracia,
incluindo a cooptação das elites do poder,
a maioria do Syriza revelou capacidade de aprendizagem, optando pela democracia quando as convicções europeístas se revelaram obstáculos a esta.

Estamos gratos pelos gestos deste fim-de-semana, misturando instinto de sobrevivência política,
ou não fosse o objectivo das instituições europeias derrubar o governo,
fidelidade ao povo e seriedade de propósitos.

Uma liderança assim, que aprende com os erros, que aprende com o isolamento a que foi votada,
com as operações de desestabilização financeira,
com a intransigência dos credores, tem toda a “racionalidade”.
É extraordinariamente “inteligente”, como só podem ser as lideranças que emergem das organizações plurais e forjadas nas lutas sociais.
Espero que seja “fria” e calculista e outras coisas supostamente mais quentes também.
Precisamos mesmo de príncipes modernos, de partidos deste tipo.
Já as “manipulações”, deixo-as para os políticos com p pequeno e para os seus ideólogos.

É que neste processo, o que estamos a ver não é uma manipulação, mas sim uma vontade geral nacional-popular sendo forjada.
Creio, e é mais uma aposta num texto cheio delas, que a vitória do não no referendo é um momento importante deste processo criador do tal nós,
a primeira pessoa do plural de que depende a hegemonia.
Em Portugal, estamos bem mais atrasados, claro, se calhar também porque, como aventava Pacheco Pereira no sábado,
a consciência nacional foi aqui mais erodida do que na Grécia.
Enfim, teremos, e é a última aposta, de queimar etapas...

(por João Rodrigues às 30.6.15 , Ladrões de B.)


De Euro implosão da não democracia a 1 de Julho de 2015 às 16:19
Como se constata, o problema nunca esteve nas diferenças entre as duas propostas.

(30/06/2015 por j. manuel cordeiro, Aventar)

[euro implosão]

Juncker sugere a Tsipras acordo de última hora. Com a condição em que seria preciso “aceitar [por escrito; por escrito?!] a proposta de sábado das três instituições” e, ainda, dar o dito pelo não dito (campanha pelo sim).
Possivelmente, baixar as calças também poderia vir a ser pedido.

Exactamente, o que é que mudou que impedia que o acordo de sábado fosse aceite mas agora já é proposto de novo? Nada.
Ah, não, a Grécia vai referendar uma decisão europeia, algo sucessivamente recusado em anteriores contextos. Quais?

Por exemplo a adesão dos países ao euro, o Tratado de Lisboa, o Tratado de Maastricht e as cotas alfandegárias (estas mesmas que conduziram à destruição da nossa indústria têxtil).
Só para citar alguns exemplos, pois no fundo a União Europeia é um exemplo acabado de ausência de legitimidade democrática.

Agora repare-se no detalhe.
A dita carta que Tsipras deveria enviar dirigir-se-ia a quem?
Ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ao presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, à chanceler alemã, Angela Merkel e ao presidente francês, François Hollande.

Parece que há uma coisa, ou se calhar havia, chamada decisões por unanimidade.
Mas assim se percebe que uns mandam e outros lambem migalhas.
Percebe agora, ó sr. Passos, porque é que se está a associar ao lado errado?
Você está a colar-se a um grupo onde nada manda. Alternativamente, poderia ter voz.
E não se esqueça, 18 menos 1 dá 17. O sr. Aníbal que lhe diga.

-----
Nightwish says:

Os líderes alemães e franceses estão-se a cagar para os seus cidadãos, não se importam nada de lhes continuar a roubar dinheiro para enriquecer a banca lavando o dinheiro pela Grécia, isso não está em negociação.
O que lhes chateia é que haja quem queira deixar de ser escravo e que lhes estrague o negócio dizendo que o rei vai nu e provando que a austeridade é uma treta que nem no excel faz sentido.


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