Um país que secou
(24/11/2016 por j. manuel cordeiro, Aventar)
A propósito dos chineses que passaram a controlar o BCP, Nicolau Santos faz uma análise daquilo em que se tornou o país em meros 5 anos. É um retrato desolador, de uma nação que deixou de ter controlo sobre os seus mais sensíveis e estruturais elementos. Ilustra, ainda, como estavam profundamente errados aqueles que defenderam (e defendem) um Estado minimizado, vendido ao sector privado.
reucaliptização
A reeucaliptização da banca
O cronista do Expresso aponta o mandato de Passos Coelho e Paulo Portas como a causa do problema. Foram anos de completa reviravolta, é verdade, mas não chega para explicar onde chegámos. Apesar do fanatismo ideológico que atingiu o expoente máximo com o anterior governo, a loucura já vem de trás. É anterior a Sócrates, o mal do mundo, veja-se só.
Podemos sempre recuar mais, mas há um marco, a adesão à CEE, que divide dois momentos. Um antes de pobreza e um depois de abundância. Foi nesse tempo de vacas gordas que o país cresceu sem par, mas também foi então que as grandes clientelas se encostaram ao Estado. Viveram durante muito tempo dos fundos comunitários, com Cavaco Silva como primeiro-ministro. Findos estes, era preciso continuar com a sua rica vidinha a que estavam habituados. A duplicação do Estado (lembram-se das Empresas Municipais, por exemplo?) e as PPP, foram o o meio de o conseguir, com Guterres como chefe do governo. Foi também este quem iniciou a onda de privatizações, continuada por Sócrates, a qual foi mais uma forma de alimentar os negócios. Chegados a Sócrates e a Passos Coelho, já não havia dinheiro para obras e a maior parte das empresas do Estado tinham sido privatizadas. Como continuar, então, a alimentar a multidão que vive dos negócios trazidos pelos partidos? Sobravam os sectores estratégicos e os sectores centrais do Estado, como a Educação, a Saúde e a Segurança Social. Foi nestes que o ataque se deu e ainda vai ser nestes que vai continuar até que haja um corte radical com a forma como se ganham eleições em Portugal.
divida
Fundos comunitários, Saldo Orçamental e Dívida Pública
Mesmo assim, o maior dos ataques ao país veio do sector financeiro. Desde 2008 que tem sido uma torneira aberta a enterrar dinheiro na banca e nos juros da dívida. Repare-se que o dinheiro não se evapora. Ele tem que ir para algum lado e as centenas de milhares de milhões de euros que nos saíram do bolso estão, neste momento, na posse de alguém. A concentração de poder e riqueza atingiram valores em que há pessoas com mais poder do que um país inteiro.
Portugal perdeu quase tudo sem dar por isso, tal foi a cacetada que levámos. Mas tivemos a raposa no meio das galinhas durante décadas, fazendo de conta que ela não estava lá. Mas estava.
------ Alt says:
24/11/2016
Minha cara, o problema não é do Estado, são das pessoas eleitas por todos nós para tomar decisões políticas,
as quais tomam decisões quase sempre em função de interesses de uma pequena parte dos cidadãos(por sinal todos eles a comer à mesa do orçamento directa ou indirectamente ).
Aliás, esta escumalha floresceu exactamente por incutirem em anónimos como a minha cara, a ideia que o Estado é mau e o que interessa é que se fosse privado era melhor para todos.
O privado só é melhor quando está em ambiente de competição e em bens transaccionáveis.
De resto, por esse mundo fora, não faltam maus e bons exemplos, mas são muito maiores os maus do que os bons.
--------EMVR:
...
... É, de facto, surpreendente a cegueira do votante. Ou será inconsciência … ignorância … incultura? (iliteracia, alienação, ...)
Seja por que razão seja, é isto que explica porque chegamos onde chegamos: “Iniciador” e “continuadores”, goste-se ou não da política seguida.
Há, quer se queira ou não, de facto, um terrível “Arco da Governação” (PSD/CDS +PS) que nos tolhe, pois é um opositor ao contraditório e um contínuo agente lixiviador.
De
[FV] a 24 de Novembro de 2016 às 17:20
Este blog tem, desde o seu início, sido um espaço de opinião livre e de denúncia das políticas que os seus postantes consideram relevante na vida nacional e internacional, isto independentemente de nem sempre terem razão (mas quase sempre) e muitas vezes por antecipação a factos que se vêm, infelizmente, mais tarde confirmados.
Nem sempre as opiniões dos diversos intervenientes são alinhadas, o que a meu ver, é bom sinal, pois mostra a liberdade de pensamento e de expressão de cada um. É essa diferença que nos separa e nos une simultaneamente. Mas o que ainda me espanta é a apatia com que a grande maioria dos cidadãos do meu país se alheia da vida política nacional dos diversos (des)governos e a indiferença perante a perda de soberania nacional, seja ela para a "mão dos "alemães" ou para a China, Angola ou outros. Dizem que cada um tem o que merece e se calhar com razão, mas quando toca a todos (ao portugueses e a Portugal) custa-me muito.
Mas como diria o meu pai: Cá se fazem, cá paga. E o que não se pagou cá, leva-se lá! Espero que seja verdade e ele tivesse razão.
Contudo não deixa de ser muito triste e preocupante esta fase que o país atravessa: mediocridade política, social e sobretudo, intelectual.
De « 'isto' está tudo ligado !!» a 28 de Novembro de 2016 às 10:40
FV tem razão ...
mas não é só em Portugal, é global ... «isto está tudo ligado!»:
neoliberalismo, transnacionais, tratados TTIP/CETA/... UMonetária/Euro, finança/banca offshores, ... media (mídia: TVs, jornais, jornalistas atemorizados ou comprados, ...), academia / 'thinktanks', partidos políticos do centrão de interesses, ... iliteracia, novilíngua, marketing, ...
Parabéns pela vossa persistência em continuar este blog de política (mesmo/ também desalinhada) !!.
Zé T.
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