Não passarão.
(14 de março de 2016, por Rui Silva, M74)
O fascismo é um recurso do capitalismo, não é um elemento exterior ao sistema que dele se apodera quando menos se espera. É por isso com apreensão mas sem surpresa que muitos de nós vêem o ressurgimento de forças partidárias de extrema-direita explícita em vários países, dentro e fora da Europa. Perante as circunstâncias do contexto, diferentes na Europa face a vários países da América Latina onde o fascismo ganha garras, o capitalismo não hesita em libertar o seu velho cão raivoso. Foi assim nos anos 30 do século passado.
O crescimento eleitoral de forças políticas-partidárias da extrema-direita assumida, com destaque para a Frente Nacional em França e agora a AfD alemã, não espantará aqueles que desde há muito avisam para os riscos de uma política desastrosa por parte de instituições nacionais e supranacionais, que abre portas à afirmação de dirigentes "pós-políticos" (geralmente eleitos com um discurso anti-partidos e céptico face a elementos determinantes de qualquer sistema democrático), que se afirmam acima dos interesses que na verdade lhes dão corpo, e que deles beneficiarão caso ditaduras terroristas do grande capital cheguem novamente (ou pela primeira vez) ao poder nos países onde ganham força.
Discursos populistas, racistas, misóginos e excepcionalistas, como aqueles protagonizados por boa parte dos candidatos republicanos na corrida à Casa Branca, ganham noutras paragens formas diferentes, entroncando em estratégias golpistas, como aquelas que são evidentes no Brasil e na Venezuela. Trump é aprendiz de reaccionário quando comparado com Capriles. E o lumpemproletariado que em parte enche os pavilhões - e os bolsos - das campanhas da extrema-direita norte-americana está a milhas da disponibilidade golpista daqueles que desfilam pelas ruas de Brasília e do Rio de Janeiro com o braço estendido "à romana", denunciando vinculação ideológica de má memória.
O fascismo é a ditadura e a guerra e o capitalismo é a maternidade do monstro fascista que lhe pede todos os dias que o liberte, para melhor o servir. Na última vez que isso aconteceu, em larga escala, foram precisos muitos anos, muitas lutas, milhões de mortos e a destruição inteira de gerações para decepar a cabeça à besta. É também por isso que importa denunciar desde já as campanhas golpistas em curso em países como o Brasil e a Venezuela, custe o que custar.
Contra o fascismo não pode haver descanso, não podem ser concedidas tréguas.
Não passarão.
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Carta de Bruxelas
(22/03/2016, por Marisa Matias*, Aventar, https://aventar.eu/2016/03/22/carta-de-bruxelas/#comments )
Escrevo de Bruxelas, onde hoje ocorreram atentados terroristas hediondos. Perdoem-me a crueza das palavras, mas escrevo de Bruxelas como tenho escrito de tantos lugares onde todos os dias morrem pessoas vítimas do terrorismo. Sim, todos os dias morrem pessoas vítimas de terrorismo. E, sim, tenho estado e tenho escrito de muitos desses sítios.
Ainda no Domingo estava em Piréus, na Grécia, onde continuavam a chegar refugiados que fugiam do terrorismo e da guerra. Nesse Domingo morreram quatro crianças. Ainda há duas semanas outro destes hediondos atentados aconteceu em Bagdad, ninguém deu por isso.
Hoje foi diferente? Foi. Não o nego. Como foi diferente Paris. Mas a única diferença é ter sido em lugares onde estão pessoas que amo. Precisamos desesperadamente que elas nos digam que estão bem para aliviar o coração. Estava a sair de casa para uma reunião e precisei de saber com urgência se “os meus” estavam bem. Se a E. ainda estava em casa ou já estava no aeroporto com os miúdos, se as restantes estavam bem, se os meus amigos estavam bem. O M. usou um grupo privado do facebook para comunicarmos e assim fomos fazendo ao longo do dia. Foi também diferente porque recebi mensagens dos que amo e que estão em casa, esse imenso e enorme conforto que é sabermos que gostam de nós.
Mas não quero ser hipócrita, de cada vez que estou num lugar onde vejo morrer ou ouço falar de mortes de quem tudo perdeu, incluindo os seus, penso que também têm pessoas a quem fazem falta, também têm vida, também estavam a tentar fazer a sua vida normal até ser completamente destruída.
Estou cansada do tratamento desigual. Estou farta de sermos mais importantes do que os outros. Estes atentados não estão a acontecer só em cidades europeias. Há um mundo inteiro que está a ser apagado da fotografia e nós não podemos deixar que isso aconteça. De cada vez que deixamos vai-se um bocadinho mais da nossa humanidade.
A meio da manhã saí para ir comprar comida para podermos juntar-nos todos em casa. À tarde voltei ao Parlamento. A cidade quase deserta, as poucas pessoas cabisbaixas e um arsenal de segurança e armamento a toda a volta.
Ouvir os líderes europeus é já quase um acto de desespero. É feio usar a morte aleatória e insuportável de pessoas como nós – sejam de Bruxelas, de Bagdad ou de Beirute – para acicatar o medo, para alimentar a xenofobia, para defender uma suposta superioridade. Mistura-se terrorismo com imigração e com refugiados. Fazem de nós parvos, dizem que a resposta está numa sociedade ainda mais vigiada e ainda mais securitária. Foi isso que fizeram nos últimos anos e não evitaram um único atentado. Estou farta de que finjam que não percebem o monstro que estão a alimentar.
O comportamento recente das grandes potências mundiais face ao terrorismo é de uma dualidade atroz. Quando acontece uma tragédia como estas dizem sempre que vamos estar todos unidos no combate. Mentira, continuaremos separados. Continuaremos de olhos fechados aos milhões que alguns países lucram com o armamento, às medalhas de honra e outros prémios a príncipes sauditas, a acordos vergonhosos com líderes que continuam a fazer jogo duplo e a alimentar o terrorismo, à compra de crude extraído nos poços ocupados pelos terroristas porque o negócio vale a pena. O terrorismo não tem fronteiras, mas só existe e se expande porque está bem de saúde em termos financeiros.
Hoje em Bruxelas a solidariedade que os líderes europeus teimam em liquidar fez-se sentir nas pessoas, nos taxistas que disponibilizaram gratuitamente os táxis para quem precisou, nas mensagens, nas pessoas que correram para acudir aos feridos, nas pessoas que começaram a encher o chão de mensagens escritas a giz.
Continuar a jogar o jogo do medo nada fará para terminar com o terrorismo. É do medo que ele se alimenta. Não é de uma guerra de civilizações que estamos a falar. E, sim, repudio este ataque em Bruxelas e dói-me cada uma das mortes.
*Eurodeputada
De Rogerio Fernandes a 4 de Dezembro de 2016 às 00:11
Mas qual Fascismo ??Mas que filmes de Ficção andam a ver??O que eu vejo nesta UE é a construção do totalitarismo, a liberdade de pensamento cada vez tá mais em perigo e não é por Fascistas, na verdade os que se dizem Antifascistas são aqueles que mais condicionam a liberdade de pensamento.
Existe agora uma verdadeira ditadura do pensamento único, onde o “politicamente correcto” funciona como organismo dessa censura; onde os dogmas e assuntos tabu, por si arquitectados, como sua polícia política. Hoje, condiciona-se até a própria liberdade de pensamento!
Deitando mão dos termos malditos, que como tal definiram, tais como “racismo”, xenofobia”, “homofobia”, “discurso do ódio” e tantos outros que na verdade nada querem dizer (por falta de substância e de rigor), visam calar e condenar quem pensa e defende um modelo de sociedade diferente. O que é isto se não a mais abjecta censura por parte de quem detém o poder total? São eles os verdadeiros totalitários!
É bom que as pessoas comecem a pensar neste assunto muito seriamente! É bom que percebam que têm que sacudir as correntes do politicamente correcto e do medo, ou um dia sem terem dado conta nem poderão questionar o que quer que seja e pensar pela sua cabeça.
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