---- Umparaíso fiscal (ou 'offshore' ou 'taxhaven') é um estado ou região autónoma (ou zona com jurisdição especial) onde a lei facilita a aplicação de capitais (estrangeiros ou 'apátridas'). Atualmente, na prática, ocorre a facilidade para aplicação de capitais que são de "origem desconhecida", protegendo a identidade dos proprietários desse dinheiro, ao garantirem o sigilo bancárioabsoluto. São territórios marcados por grandes facilidades na atribuição de licenças para a abertura de empresas (ou apenas 'caixas de correio' como sede fiscal, e/ou contas bancárias 'discretas'),além de os impostos serem baixos ou inexistentes. São geralmente avessos à aplicação das normas de direito internacional que tentam controlar os fenómenos da lavagem de dinheiro e da evasão fiscal. * Os «refúgios da pirataria fiscal e...»:
«Messi quer fugir aos impostos, há bancos - como o BES - que querem fugir ao regulador, traficantes que querem fugir à lei, políticos que querem ocultar pagamentos de corrupção. Todos querem fugir, e todos querem sigilo (bancário...) absoluto. É disso mesmo que vive esta complexa teia, que não começa nem acaba no Panamá. Conforme o grau de benefício fiscal, proteção e discreção que se procura, poder-se--á escolher entre Bahamas, a Suíça, o Luxemburgo ou mesmo a Madeira (ZF). (ou …City of London, Holanda, Delware, VI-usa, ... *). Ao mundo dos offshore só acedem os mais ricos. Para os outros, os que trabalham (por conta de outrém) e ganham o salário mínimo ou o médio, fica o peso de uma administração tributária implacável e a responsabilidade de, com os seus impostos, financiar os estados (os equipamentos e os serviços públicos e sociais).»
---(OJumento): "É por isso que os Panamá Papers é mais uma lista, uma lista que terá o mesmo destino que tiveram outras listas e quem não se lembra da lista Lagarde, da lista dos trafulhas da Operação Monte Branco ou da Operação Furacão. É neste país que alguém que foi apanhado por fraude fiscal na Operação Furacão aparece depois como candidato presidencial a dar lições ao país e tendo por mandatário nacional um ex-ministro das Finanças. Enfim, talvez seja melhor começarem a fazer listas de 'palhaços' que é o que nos falta fazer.
«O escândalo revelado pelos Panama Papers não constitui uma surpresa. Há décadas que sabemos que as coisas se passam assim.
Sabemos que existem paraísos fiscais que proporcionam este tipo de serviços – muitos deles no seio da própria União Europeia, apesar do hipócrita discurso moralista dos seus dirigentes. (…) Sabemos que os paraísos fiscais, mesmo quando não são ilegais, são imorais e ilegítimos e promovem a desigualdade, a pobreza, o crime organizado, a corrupção, as ditaduras e as guerras, sendo como são espaços impenetráveis ao escrutínio dos cidadãos.
Sabemos tudo isso. Sempre soubemos tudo isso. Há milhares de indícios que apontam nestas direcções e que sabemos que são minúsculas pontas de um gigantesco iceberg. (…)
O facto que esta fuga de informação põe em evidência é algo que a esmagadora maioria dos cidadãos continua a não querer ver: o facto de as leis serem aplicadas à massa de cidadãos trabalhadores, os cidadãos com menos rendimentos ou mesmo declaradamente pobres, que são obrigados a pagar os seus impostos, mas poupando ilegitimamente os mais poderosos, uma minoria de pessoas que detém quase toda a riqueza do mundo e que consegue viver à custa do sacrifício de todos os outros, comprando Lamborghinis com o dinheiro que não pagaram em impostos e que deveria ter sido usado para aliviar a pobreza, a fome e a doença. O sistema (não democrático e neoliberal) impõe regras aos mais pobres e permite todas as batotas aos mais ricos.
Esta é uma iniquidade moralmente intolerável e socialmente destruidora. Mas tem sido tolerada por legisladores, governantes e até pelos cidadãos eleitores, que aceitam com bonomia que um homem como Jean-Claude Juncker, cujo governo ajudou a transformar o Luxemburgo numa estância de evasão fiscal (como a LuxLeaks, uma outra fuga de informações, mostrou), seja, para nossa vergonha, presidente da Comissão Europeia.
Esperemos os próximos capítulos deste escândalo e esperemos os nomes dos políticos ocidentais e portugueses, que não deixarão certamente de vir à superfície. Depois, iremos deixar os paraísos fiscais na mesma, como temos feito até aqui?» --por José Vítor Malheiros
Não se preocupem, está tudo bem. É só mais um esquema de fraude fiscal e desvio de dinheiro em quantidades industriais. É só mais uma história protagonizada por banqueiros, políticos, monarcas, celebridades, terroristas e uns quantos outros criminosos, corruptos e burlões que usaram os liberalíssimos offshores para fintar a lei, lavar dinheiro e fugir às suas responsabilidades fiscais. É só mais um episódio que completa uma trilogia que promete não ficar por aqui e que já deu ao mundo enormes sucessos como Luxleaks (2014) e Swissleaks (2015). Bem-vindos ao admirável mundo trafulha dos Panama Papers.
Pouco se sabe para já. O enredo é denso, a terminologia extremamente complexa e o esquema inclui tráfico de armas e droga, financiamento de grupos terroristas e mistura ditadores sanguinários com a sacrossanta banca europeia. O que sabemos é que a quantidade de dinheiro desviada é colossal, e que por cada um destes terroristas que desvia dinheiro ou financia actividades ilícitas, há alguém (muitos) que fica(m) a perder. E esse alguém sou eu, é o leitor e é a esmagadora maioria da população mundial, os tais 99%, que resgatam bancos e são sujeitos à violência da austeridade cega que procura “corrigir” os desequilíbrios provocados pelo terrorismo do mercado desregulado, controlado pela lei do mais forte.
Acompanhem este caso, não o deixem cair no esquecimento em que aparentemente caíram os casos que o sucederam. E lembrem-se de tudo isto que está a acontecer da próxima vez que os esquadrões ultraliberais vos tentarem convencer que o estado-providência não é sustentável. Aqui ou no Japão. O que não é sustentável é continuarmos a ser permanentemente assaltados pelos jihadistas do terrorismo financeiro. Declaremos-lhes guerra sem quartel ou assistamos, impávidos, ao alargar do fosso e à interminável imposição de sacrifícios de cada vez que a bolha rebentar. Até quando queremos ser escravos da ganância?
O transporte marítimo é o pilar central do comércio internacional e um dos principais motores da globalização, movimentando cerca de 80% do comércio mundial e mais de 70% do seu valor. Toda esta mercadoria, que vai das bananas aos automóveis de luxo, é transportada e distribuída por mar pelos portos de todo o mundo, alimentando as economias e as “necessidades” de consumo das sociedades ditas desenvolvidas ou em desenvolvimento.
O Panamá é um país da América Central onde foi construído um dos canais marítimos artificiais mais movimentados do planeta, precisamente o Canal do Panamá, que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, para facilitar o movimento da Marinha Mercante, evitando o longo desvio pelo Estreito de Magalhães. Embora com uma área territorial inferior à de Portugal, o Panamá é a maior nação marítima da Terra, circunstância que se deve ao conceito de Estado Bandeira, mais concretamente à Bandeira de Conveniência. Quem nunca ouviu falar de navios com “Pavilhão do Panamá”, ou seja, registados sob as leis do Estado panamiano, leis essas particularmente benéficas para os proprietários dos navios, quer do ponto de vista fiscal, quer do ponto de vista das normas que regem o Trabalho Marítimo, processo em tudo semelhante ao que acontece com as chamadas “off-shores”, procuradas por empresas e particulares com “planeamento fiscal agressivo” e que agora estão a ser objecto de atenção cirúrgica por parte de grupos “independentes” de jornalistas. A verdade é que a Pirataria é uma das mais antigas e sofisticadas actividades desenvolvidas pelo Capitalismo, sendo nela que se funda o verdadeiro poder sobre o planeta, bem expresso, aliás, no movimento que pelo menos desde o tempo dos Descobrimentos toma o nome de Globalização e em resultado da qual todos podemos comprar “gadgets” vindos do outro lado do mundo, comer alimentos de nome impronunciável, conduzir viaturas com duas bufadeiras e, enfim, alimentar o modelo de sociedade humana que decidimos impor uns aos outros, baseado no consumo, no dinheiro e na corrupção. Pois a Pirataria é não só o esteio do Capitalismo, mas o pilar central da nossa civilização, tendo desde sempre nela residido o verdadeiro poder sobre as nações da Terra. Papéis do Panamá? Se fossem higiénicos poderiam ser úteis. Sendo o que são não passam de uma breve escaramuça entre Piratas. (e... - Porque será que a Suíça, país sem mar e entalado entre montanhas, tem uma das mais poderosas Marinhas Mercantes do mundo? !!)
---GM: ...Porque é que os políticosdonos do mundo não acabam com os offshores? Será que não têm poder para isso? (ou não querem?! ou são 'fantoches' das oligarquias, máfias e empresas transnacionais?!!) O mundo é governado por uma máfia, começando pelos políticos corruptos, e aqueles que não se julgando corruptos, também o são, porque sabem perfeitamente como as coisas funcionam e são coniventes com o sistema. Enfim, ainda há pouco foi revelada a conversa entre dois tubarões do FMI, tratando de afundar ainda mais o povo Grego na miséria. Porque é que os economistas quando vão à televisão, não falam disto, dos biliões e trilhões de dólares que são desviados das economias dos países por estas autênticas máfias que dominam o mundo, e que põem cada vez mais na miséria grande parte da população mundial. Não existe justiça para os pobres, pois esta está ao serviço dos poderosos do mundo e as forças de segurança e forças armadas estão aí para proteger estes ladrões, pois se o povo protestar, (nas ditaduras e falsas democracias) leva porrada e ainda vai preso. ...
------- https://panamapapers.icij.org/ :
The Power PlayersExplore the offshore connections of world leaders, politicians and their relatives and associates.
Stairway to Tax HeavenDiscover a parallel universe of shell companies and wealth managers, and learn how to hide your cash away.
Spies and Shadowy AlliesFirm helps CIA operatives and other characters — real or fanciful — from the world of espionage set up offshore companies to obscure their dealings.
------- A corporate haven is a jurisdiction with laws friendly to corporations thereby encouraging them to choose that jurisdiction as a legal (fiscal) domicile (headquarter or post box).
De Poder do $$ €€ ££ e política neoliberal. a 6 de Abril de 2016 às 15:20
Ainda me lembro de quando J.Sócrates foi (a 1ª vez como 1º Min.) a Bruxelas e falou que levava o assunto das "offshores"/ paraísos fiscais para a reunião dos chefes de estado/governo europeus ... e nunca mais voltou a falar nisso.! nem ele nem nenhum governante !!
A que pressões (/ humilhações/ ameaças/ promessas ...) é que ele foi sujeito (para se calar) ? Dos outros poderosos governantes ou dos poderosíssimos lóbis da banca e das multinacionais sempre presentes em Bruxelas? e do pessoal do Clube Bilderberg ?
E porque é que os economistas da praça Neoliberal e comentadores da treta dos canais tugas ... também nunca falam do problema ?! Estão comprados ou à espera de serem corrompidos com tachos e avenças ?!!
244 empresas ( 23 clientes, 34 beneficiários, e 255 accionistas) portuguesas envolvidas no caso do Panamá.
------ -- E nos outros 'offshores'/ paraísos fiscais quantas mais haverá ?
Aliás, o Panamá nem deve ser actualmente o mais importante ... e há tantos ... e entre eles há uma guerra/ concorrência 'desleal' (até entre estados da Europa) para captar mais clientes na fuga a impostos ou sua redução ... -------
-- E qual o papel dos mídia (M.C.S., imprensa e TVs) ?
... o Expresso tem acesso aos materiais, mas continua sem divulgar nada de jeito. Limita-se à auto-promoção. Lêem-se neste jornal algumas banalidades, justificadas por, dizem, ainda estarem a investigar.
Entre esses nomes, cujas ligações o Expresso ainda está a investigar, estão beneficiários últimos, acionistas das sociedades offshore, intermediários e clientes. Grande parte dos nomes não são figuras públicas, mas entre eles estão vários empresários e gestores nacionais.
A questão que se coloca é porque é que continua o segredo. Lembram-se do que fez o Expresso com os telegramas do Wikileaks, dos quais o jornal adquiriu o exclusivo de divulgação? Para quem não se lembre, o que se passou foi o seguinte:
A dois de Março do corrente [2011], publicou o Expresso um primeiro conjunto de “telegramas Wikileaks” sobre Portugal. Ironicamente, resolveu este jornal censurar parte desses mesmos telegramas. Mas, uns dias depois, Ricardo Costa, director deste semanário, esteve presente num debate/chat com os leitores do Expresso onde afirmou categoricamente:«No site vamos publicar na integra todos os telegramas. Quem quiser pode ler tudo. No jornal, enquadramos, editamos e corrigimos». (auto-citação)
Acontece que o prometido não foi cumprido e a censura nunca foi levantada.
Ao ver os dias passar sem nada se saber sobre os portugueses envolvidos e observando comportamentos anteriores deste jornal, a questão que se me coloca é se o Expresso está, novamente, a fazer panelinha para proteger alguns.
[ TREASURE I$LANDS : Tax havens and the men who Stole the World; Nicholas Shaxson] ( Ilha$ do Tesouro: paraísos fiscais e os homens que ROUBAM o MUNDO)
Perante o enésimo escândalo envolvendo infernos fiscais, podemos repetir duas ou três coisas, baseando-nos em parte numa boa análise desta pouca-vergonha institucionalizada.
Em 1º lugar, os infernos fiscais são o produto deliberado da acção de muitos Estados desenvolvidos, os principais nós da rede dos paraísos fiscais, da Suíça à Grã-Bretanha, passando pelo Luxemburgo. Os infernos fiscais mais ou menos tropicais são muito falados, mas são apenas as periferias de uma rede.
Em 2º lugar, esta rede foi tecida sobretudo a partir dos anos setenta e é indissociável do fim progressivo, em particular nos países mais desenvolvidos, dos controlos de capitais, parte do processo mais vasto de privatização e liberalização dos sistemas financeiros; no continente europeu, este é o outro nome da integração europeia. Não há crise num banco que não passe por um inferno fiscal.
Em 3º lugar, os supostos cosmopolitas progressistas, que nos dizem que a solução depende exclusivamente de acordos europeus ou globais, são aliados objectivos deste estado de coisas. Não é que a cooperação internacional não ajude. Ajuda e muito. Mas na sua base têm de estar acções nacionais unilaterais. Estas passam por reinstituir controlos de capitais, por regular o sistema financeiro de forma muito mais apertada, também através da socialização da sua propriedade, por deixar de depender de poupança externa. Por desglobalizar, a começar pela finança, em suma. Só assim os infernos fiscais podem vir a perder alguma da sua relevância.
É claro que há um detalhe que nos interessa por cá: a liberalização financeira está no ADN da integração europeia, do Euro. Em economia política isto está mesmo tudo ligado.
"O mundo acordou ontem com uma revelação explosiva. Os chamados Panama Papers prometiam colocar a nu um escândalo sem precedentes, de dimensão global, depois da fuga de documentos de uma empresa de advogados especializada em esconder dinheiro, a Mossack Fonseca, do Panamá.
Importa referir desde já que há centenas de empresas que prestam este tipo de serviços, logo, esta lista está longe de ser completa. Afinal, o que diferencia esta lista que agora vamos conhecendo, do Wikileaks? Muita coisa. Demasiada. A primeira grande diferença em relação ao Wikileaks é que, neste caso, a informação foi fornecida em bruto e está acessível a quem pretender consultá-la. No Panama Papers, a informação surge filtrada por um consórcio internacional de jornalistas de investigação, cerca de 200, oriundos de 65 países. O "Centre for Public Integrity (CPI) é uma organização que tem como principais doadores a Fundação Ford, a Fundação Carnegie, o Fundo da Família Rockefeller, a Fundação W. K. Kellog e a Fundação Open Society, propriedade do sinistro George Soros. E lá se foi a independência. Só isto deveria fazer soar campainhas de alarme em relação ao objecto da divulgação e ao ser real objectivo. As matérias parecem estar a ser tratadas com mãos de fada pelos benfeitores da CPI."
---(Ricardo M.Santos, 5 de abril de 2016 )
"Como referido atrás, o Wikileaks permite-me, ainda hoje, pesquisar tudo e mais alguma coisa, nomeadamente através de emails trocados por milhares de pessoas e entidades com a Stratfor, uma organização que se dedica a análises geopolíticas e que actua como centro de interesses dos Estados Unidos da América em todo o mundo.
Ao contrário dos Panama Papers, em que a informação há-de ser divulgada aos poucos e com um critério que se desconhece, no Wikileaks eu consigo verificar as jogadas de bastidores e, por exemplo, o trajecto de Poroshenko para chegar ao governo da Ucrânia. E, no entanto, ele serviu só como peão, sendo um dos mencionados também nos Panama Papers. Outro exemplo que posso consultar sem filtros é a forma como a Stratfor mediava o patrocínio do RAAM pela Chevron, em Angola, para preparar um golpe de Estado.
Como se verifica acima, há uma enorme diferença, e não é pequena: são os filtros por onde a informação passa até chegar a nós. Percebe-se, por isso, o corporativismo do Ricardo Alexandre, editor do Internacional da RTP, quando elogia a divulgação dos dados pelos jornalistas, garantindo a idoneidade deles. Pelos patrocínios atrás mencionados, faria tanto sentido acreditar que não há uma agenda nos Panama Papers como na imparcialidade das análises de Marques Mendes."
---- Colapso ético num inferno paradisíaco. (Bagão Félix)
«Com estes paraísos a globalização ganhou novos e corruptos contornos, o capital sujo fica branco como clara de ovo, o terrorismo e as mafias consolidam o arsenal monetário para financiar o medo e espalhar a morte, a droga e o armamento progridem na amoralidade do vil metal.
Neste domínio, os paraísos fiscais são a vergonha mais despudorada de que o crime compensa, a esperteza vence, o golpe rende. (…)
Uma última nota: enquanto nada mudar de substancial, serão sobretudo os rendimentos do trabalho os mais penalizados com taxas insuportáveis para compensar a fuga de rendimentos de capitais para offshores. Como de costume, tudo desemboca aqui.»
----- A Leste do paraíso fiscal
(Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje, 7/4/2016):
«O que os chamados Panama Papers revelaram não é do âmbito da finança, é do âmbito da teologia: há paraísos fiscais e infernos sociais.
O funcionamento é ligeiramente diferente do habitual. Quem se porta mal vai para o paraíso. Quem se porta bem (normalmente, porque não tem outra alternativa), vive no inferno.»
----A sombra do pecado
«Os "Papéis do Panamá" são um canal com vista para um mundo paralelo que ninguém desconhecia, mas que todos contornavam. Verdadeiro e verosímil. Mas os "Papéis do Panamá" são uma pequena parte da "deep web" da internet do dinheiro escondido e reciclado: um mundo paralelo que nem Júlio Verne nas suas vinte mil léguas submarinas descobriria. Mostra que, entre dinheiro de acções legais e de ilegalidades várias, há um desejo de fugir aos impostos. E esse começa por ser o centro do debate que as "offshores" propiciam: elas põem em causa os princípios do contrato social, de troca por serviços públicos e pela representação democrática. A fuga de capitais e lucros aos impostos (hoje visível na arrogância de empresas como a Google, o Facebook ou a Amazon) é uma das faces desta terra de ninguém em que se tornou a globalização financeira. ... ... Este mundo das sombras necessita de ser iluminado, até para demonstrar a apatia que tem encontrado em quem deveria fazer algo para impedir a existência de territórios sem lei. Afinal a evasão fiscal é fácil. A UE ou os EUA não estão inocentes neste processo. Todos falam da imoralidade da evasão fiscal. Há um consenso. Mas ninguém o pratica.» -- Fernando Sobral, via Entre as brumas ... 7/4/2016
----- O bacanal do Panamá (-J. Quadros) «Não me vão levar a mal, mas este processo, dos jornalistas filtrarem e escolherem os "Panana Papers" para depois nos mostrarem as coisas como são, não me deixa muito descansado. Bem sei que nestas alturas a nossa comunicação social transforma-se e - tal como de repente foram todos Charlie - agora são todos jornalistas de investigação à caça dos poderosos. São todos Panamá Charlie. É aproveitar o embalo e vamos ver os jornais desportivos a fazer um artigo de fundo sobre a Doyen, ou o Expresso a publicar um trabalho de investigação sobre o Bilderberg. Na realidade, nada disto é novo. Não é graças a isto que existe capitalismo? Vamos fazer queixa a quem? Ao Junker? A Lagarde? Ao Goldman Sachs? Ao FMI? Pois.
Assunção Cristas veio logo dizer, antes que revelem os nomes dos portugueses que estão na lista (Jacinto Leite Capelo Rego pode constar), que é preciso ter calma e "separar entre o que é competitividade fiscal e outra coisa que é o uso de esquemas para esconder actividades ilícitas." De salientar a mão leve (e preocupação com privacidade) do CDS com os senhores com dinheiro nos "offshore", quando ainda há pouco, o mesmo partido queria mão pesada para todos os aldrabões do RSI e até usaram violação do sigilo bancário para os apanhar. Com o RSI partem do princípio que os pobres estão a roubar, portanto têm que provar que não estão. Com os ricos dos "offshore" - calma, pode ser legal, não se pode julgar assim as pessoas! - Ou seja, se um sujeito recebe o RSI e tem TV a cores, é suspeito. Há ali qualquer coisa! Não pode ser, é um aldrabão que nos está a roubar a todos! Ele que prove que é pobre, ou não lhe damos os 180 euros/mês! Se o indivíduo tem mega-iate, seis casas e dois aviões mas declara ordenado de trolha, não é um aldrabão. É um indivíduo competitivo fiscalmente. ...«Os ricos nunca roubam. Esquecem-se
O timing é perfeito para a novilíngua vir com "a fadiga das reformas" que é o eufemismo escolhido para suavizar o enjoo, o desagrado e a revolta que as pessoas começam a mostrar com o esbulho fiscal, o saque à classe média, o "elevador social" a funcionar sempre em sentido descendente com a diminuição de salários e pensões, com a fragilização e a precarização das relações laborais, por via do incentivo à rigidez patronal, em nome dos amanhãs que cantam e na melhoria das condições de vida de 1% da população mundial em offshores.
Greetings from Panama City.
------Da série "Não há dinheiro para nada"
(por josé simões, derTerrorist, 2/4/2016)
Este é só um escritório de advogados, esta é só uma offshore, esta é a primeira de uma das faces, agora conhecida, do "não há dinheiro para nada" e do "andámos demasiado tempo a viver acima das nossas possibilidades", o jargão usado em todo o mundo e em todas as línguas para justificar retirada de direitos e garantias, o embaratecimento dos custos do trabalho, a fragilização das relações laborais, o aumento das desigualdades e os Estados colocados ao serviço de interesses privados.
tags: branqueamento de capitais, fisco, impostos, mossack fonseca, offshore, panama papers, paraíso fiscal
Agora deixou de ser possível tergiversar, de empurrar o problema com ... os limites da soberania ou com os custos inevitáveis da globalização
A dimensão do escândalo revelado pelos Panama Papers apareceu aos olhos de todos nós já não como uma ferida mas como uma gangrena que ameaça amputar a já de si frágil transparência do sistema financeiro, mas também a legitimidade que resta às democracias ocidentais. Se a 4ªmaior sociedade do mundo na gestão de negócios com paraísos fiscais é capaz de trazer à luz negócios duvidosos de uma dúzia de governantes, de centenas de políticos, de milhares de celebridades ou de centenas de milhar de empresas, o que estará debaixo do manto do segredo das suas concorrentes? Ou há uma réstia de decência para atacar de frente este esterco que torna o mundo um lugar imundo, ou tarde ou cedo acabaremos afectados pelos vírus da sonegação fiscal, da corrupção ou dos lucros do crime violento e organizado.
... faz disparar a indignação e a coloca no centro do debate público. Quando há denúncias de negócios duvidosos entre multinacionais e um Estado, como aconteceu no Luxemburgo, pode-se tentar asfixiar o assunto nas habituais justificações da contabilidade criativa, do planeamento fiscal agressivo ou da cobertura legal que, por excelsa generosidade dos Estados, normalmente protege a banca. Mas quando se chega a uma galáxia com a dimensão dos 11.5 milhões de ficheiros gerados pelos escritórios da Mossak Fonseca, deixa de haver sentido para a desculpa ou a explicação.
Governos, Comissão Europeia, FMI, OCDE, G-8 ou G-20 há muito que conhecem a real dimensão do problema. A fuga aos impostos na Europa foi estimada como correspondendo a 2000 euros/ano por cada um dos 500 milhões de cidadãos da União. As perdas para os países pobres ascendem a 125 mil milhões de euros por ano, uma verdadeira sangria de recursos ... Ao todo, o dinheiro depositado em paraísos fiscais pode representar até o dobro da riqueza anual produzida pelo bloco económico mais rico do mundo, a União Europeia. Sem poderem esconder a grandeza da putrefacção, quem governa ou quem lidera organizações internacionais lá foi colocando o problema na agenda. O que não quer dizer que o problema tenha alguma vez sido atacado de frente.
... o cancro dos offshore sai definitivamente da esfera mansa do poder (e dos partidos da esquerda, que o têm ajudado a manter na actualidade) e instala-se na preocupação geral. O bom jornalismo voltou a prestar um inestimável serviço às sociedades abertas. ... A evasão fiscal e a corrupção dos mais poderosos está por todo o lado. O cidadão comum fica afinal a perceber que é ele e os que não dispõem de dinheiro para alimentar cadeias de fuga para paraísos fiscais quem alimenta as funções sociais e de soberania do Estado. Pode suspeitar que, afinal, o estado social não está em crise apenas por causa da demografia ou do aumento dos custos com a saúde ou a educação. É capaz até de entender por que razão países que enriqueceram tanto no pós-guerra dispõem hoje de Estados cada vez mais pobres e deficitários. Mais do que um problema de desigualdade na distribuição de rendimentos, a existência de uma rede tão vasta de pessoas e empresas que se eximem às suas responsabilidades sociais é um retrocesso que destrói essa magnífica e poderosa construção civilizacional que nos diz todos iguais perante a lei.
A luta a favor da transparência dos offshore será longa e incerta. Os interesses dos seus beneficiários são poderosos. A venalidade do poder político e financeiro é imensa. Haverá sempre um Estado falhado ou uma república das bananas pronta a tapar os olhos para beneficiar do afluxo de capitais. E nenhum país isolado consegue atacar uma doença com tantas metástases. Mas, se nos últimos anos houve uma oportunidade para o tentar, essa oportunidade está à nossa frente. A teia clandestina foi trazida à luz. O conforto da opacidade rompeu-se. Quem tem dinheiro nas Ilhas Virgens Britânicas ou no Panamá tem razões para ter medo. Vai haver ...inquéritos judiciais baseados nos ficheiros agora conhecidos. O fio da meada pode, enfim, começar a ser puxado.
Não... aceitar que o vírus da fraude e do crime ... paraísos... hora de atacar as suas causas.
De PSD/CDS dos offshores e o desgoverno... a 11 de Abril de 2016 às 17:57
Panama Papers is … the PSD
...À partida, ficamos apenas com uma certeza: o único que decerto não aparecerá nesta investigação será Balsemão por muito que a realidade pudesse ser diferente. É que isto de ser dono de jornais dá um jeitão para filtrar só a informação que lhe possa interessar... 1º que tudo há que nunca esquecer o facto de ser disponibilizada apenas uma pequeníssima parte de todo o universo relacionado com o dinheiro branqueado ou escapulido para os paraísos fiscais, já que a empresa de advogados panamiana nem sequer é uma das três principais ali existentes para que se criem todo o tipo de esquemas ilícitos relacionados com a ocultação do património.
2º importa ter sempre presente que, existindo trânsfugas fiscais capazes de se eximirem às responsabilidades para com a Autoridade Tributária nacional, somos nós - aqueles que pagamos até ao derradeiro cêntimo o que a lei nos obriga a entregar ao Estado, a sermos causticados com taxas de impostos mais elevadas.
Em 3º lugar também tem sido pouco enfatizado outro facto importante: os utilizadores dos paraísos fiscais são, igualmente, os titereiros das marionetas, que chegam aos lugares da governação para nos quererem convencer da impossibilidade de manter sustentável o Estado Social. Este só poderá falir se continuar a não poder contar com os milhões diariamente exportados para esses abrigos de conveniência.
Sublinhados os três aspetos mais relevantes de tudo quanto tem sido revelado, vamos aos nomes hoje divulgados. -Luís Portela, o presidente da Bial, poderá sempre invocar a delegação da empresa existente naquele país centro-americano e a necessidade de movimentar fluxos monetários a ela necessário. -Manuel Vilarinho representa o lado turvo dos dinheiros do futebol com as comissões aos agentes e os vencimentos pagos aos atletas e dirigentes desportivos a escaparem da tributação, que se justificariam. -Ilídio Pinho já levanta outra questão, que é o envolvimento de Passos Coelho nessa fuga de capitais, se não como ator direto, pelo menos indireto de toda este tipo de práticas. É que os documentos, que incriminam o maior acionista da Fomentinvest reportam a anos em que o ex-primeiro-ministro era aí administrador. E até pela presença constante do empresário a acolitar o antigo pupilo em muitas ocasiões oficiais nos quatro anos da sua desgovernação, permitem pensar que ele mais não estaria a fazer do que a cumprir as políticas de interesse do seu (ex-) patrão.
-A Abreu Advogados, uma das treze empresas do ramo igualmente referenciadas como interlocutora da Mossack Fonseca, é aquela onde a prometida estrela da direita, José Eduardo Martins, é sócio e Marques Mendes consultor. Ademais, o mesmo Marques Mendes volta a surgir através da Sartorial Asset Management, a empresa de gestão de fortuna de Isabel dos Santos e em que o conselheiro de Estado, nomeado por Marcelo Rebelo de Sousa, é presidente da Assembleia-Geral. -Há finalmente o Grupo Espírito Santo, que mais não era do que uma sociedade gestora de centenas de offshores tendo por fachada um dos principais bancos do regime. Desmentindo o que Ricardo Salgado tem vindo a testemunhar nas Comissões de Inquérito do Parlamento, existia um gigantesco saco azul por onde transitavam milhões de euros de gente ainda por identificar.
Como comenta Daniel Oliveira na sua crónica semanal “esta semana o mundo viu o rosto do capitalismo à solta, liberto dos limites das leis dos Estados. Viu o seu próprio rosto. Tão envelhecido como o mais banal dos crimes.”
... Depois de vários anos de campanha sem precedentes, de intrigas e mentiras urdidas pelo PPD/PSD, com forte apoio de alguma Comunicação Social e em particular dos jornais Correio da Manhã, Sol e, diga-se, de alguma Justiça, com o objectivo de deitarem abaixo o Governo do PS, liderado por José Sócrates e abatê-lo políticamente, aquele Partido volta ao poder sob a liderança de Passos Coelho.
... a classe média e os reformados/pensionistas (hoje mais pobres), conheceram bem o sabor amargo do saque a que foram sujeitos durante os quatro anos e meio do seu (des)governo da direita, completamente ao arrepio de todas as promessas feitas em contrário por Passos Coelho no seu Programa de Governo e em campanha eleitoral. Foi mentira e terror permanente ...