Mário V. Carvalho: "Eleições primárias" e abertas (a não militantes !!* )
Como é habitual, Mário Vieira de Carvalho oferece-nos, hoje, no Público, um excelente artigo. Ajuda-nos a compreender o mundo da alienação que é o nosso. O mundo dos mercados. O mundo dominado pelas plutocracias que têm como principal instrumento de domínio os bancos e o sistema financeiro em geral, articulados com o controlo, através de sofisticadas formas de corrupção, dos governos, dos parlamentos, do poder judicial, das forças armadas e policiais.
Se não conseguirmos alterar a natureza dos partidos e a forma de intervenção na vida política e social, o nosso voto, em periódicas eleições, não passa de uma cortina que esconde o verdadeiro poder da plutocracia financeira.
Os escravos modernos deixaram de ser apenas os operários ou os “trabalhadores” como no século XIX e na maior parte do séc. XX mas e cada vez mais as classes médias e toda a população para lá (da super elite) dos ” 1% “ a que se reduz, hoje, a nova aristocracia rapace.
O caso do BES e antes dele os casos do BPN, do BPP e do BCP são, em Portugal, à semelhança da Europa ou dos EUA, a ilustração desta nova realidade que domina as nossas vidas.
Mas a realidade pode ser alterada. “Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades….” De objeto da História, teremos que ser – cada um de nós – cada vez mais, o sujeito da História. Somos muitos, somos a esmagadora maioria. A CONSCIÊNCIA DA NOSSA FORÇA SERÁ A NOSSA FORÇA e o segredo do triunfo.
... *- «o militante vê-se reduzido à função de votar» (com palmas ou sem elas) ou a afastar-se, ...
(-via PuxaPalavra)
A agitação no BE
(-19/7/2014, http://no-moleskine.blogspot.pt/ )
A última entrada deixou omissos alguns pontos, que se retomam agora.
a) A política de alianças e as coincidências
Muita gente verá nesta crise um passo necessário para vencimento da sua tese de “convergência salvadora”. Já muito se escreveu neste blogue a denunciar tal mito e a demonstrar o seu carácter irracional, senão mesmo oportunista. É difícil calcular o impacto desta corrente “cegamente convergencista”, porque só se dá por ela no Facebook, mas com muita insistência. Pode-se caracterizá-la como a mitificação de uma aliança de “esquerda”, uma esquerda considerada por petição de princípio, sem que se proponha sequer as bases de um programa unitário, se avalie a sua viabilidade e se criem condições para um enquadramento social do diálogo interpartidário.
Não é preciso ser-se analista muito arguto para se perceber, lendo o comunicado da Manifesto, que a posição vai buscar apoio a essa corrente de opinião, recorrendo a argumentos tão coxos como a necessidade – mais, a possibilidade – de evitar a aliança à direita do PS por influência de uma nova força política à sua esquerda, mesmo que com dimensão infantil (não só em termos eleitorais…). Esta posição ficou ainda mais manifesta quando Daniel Oliveira resolveu meter-se na briga.
Também não será provavelmente abusivo pensar em algumas coincidências. Primeiro, a simpatia manifestada, nas entrelinhas, pela candidatura de António Costa. Não prenuncia só uma futura aproximação ao PS como até já a aposta no interlocutor. mesmo as opiniões sobre questões cruciais como o euro, a reestruturação da dívida e o Tratado Orçamental têm estado em rápida guinada oportunista.
Outra coincidência poderá ser com o processo de diálogo que o PCP está a promover, envolvendo o BE. Era altura certa para os “convergencistas” se desmarcarem, dando um recado ao PS.
Só pergunto se Daniel Oliveira, depois de ter visto fracassada a sua tentativa de OPA ao BE feita pelo 3D, e não tendo assumido humildemente a posição da coordenadora do 3D de dar por fim as suas actividades, ainda continuará a tentar juntar para o seu projecto muitas pessoas do 3D sem tão sôfrega ambição política. É o comunicado do Fórum Manifesto e as declarações de Ana Drago e de Daniel Oliveira que se referem ao 3D.
b) E o eleitorado?
À falta de sondagens sobre estes acontecimentos, pode dar alguma indicação a pequena amostra das centenas de comentários “online”. Parece patente que há perplexidade e incompreensão, não sendo lógico compatibilizar o desejo de convergência da esquerda com a pulverização partidária, mesmo que se anuncie essa pulverização como passo para unificação seguinte. As pessoas sabem intuitivamente que postos os santos nas suas capelinhas não se transferem para uma igreja comum, mesmo que maior e mais rica. E ainda falta o Podemos em versão portuguesa...
A não ser que parte dos comentários, com muita ambiguidade política e simpatia PS nas entrelinhas da crítica, reflictam a posição de pessoas que ainda têm em comum: i. a ideia não rigorosa de que o PS é um partido de esquerda, adoptando elas significados românticos e apenas historicistas do termo; ii. uma perspectiva não classista da política e do processo histórico; iii. uma exclusão muito forte, quase visceral, do PCP como força indispensável de qualquer aliança de esquerda.
Ninguém sabe bem o que é e o que vale o eleitorado “de esquerda” do PS, bem como o eleitorado potencial deste novo polo de esquerda moderada que agora aparece, esta nova espécie (como noutros países) a querer compensar a crescente deriva social-liberal do PS. Não há que especular prematuramente. É certo que se sente uma forte sensação de necessidade de mudança urgente, mas há muita coisa incerta, a amadurecer. Certo é que quem anda a agitar as ondas não pode invocar a vontade desconhecida de um eleitorado particular, que nem sequer está delimitado. Invoque-se apenas o seu direito – indiscutível – de intervirem como acham melhor e depois serem responsabilizados, também pela frustração dos eleitores.
c) Conclusão
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De
Xa2 a 20 de Julho de 2014 às 23:37
A agitação no BE
(-19/7/2014, http://no-moleskine.blogspot.pt/ )
...
...
c) Conclusão
Repetindo e recompilando muitas propostas já aqui apresentadas,
A aliança entre a esquerda à esquerda do PS e este é importante e indispensável, por muitos anos, para derrotar a ofensiva do capitalismo em fase de neoliberalismo, mas passa, primeiro, pelo reforço de uma aliança mais coesa e consequente entre as forças políticas, sociais e comunitárias e os indivíduos sem partido da esquerda à esquerda do PS.
Por isto, é de lamentar que, estando a decorrer processos de diálogo para fora do partido promovidos tanto pelo PCP como pelo BE, sejam iniciativas separadas e aparentemente não convergentes.
O eixo fulcral da luta popular e patriótica (no bom sentido do termo) contra o domínio neoliberal é um programa comum coerente e mobilizador e não os arranjos partidários para a formação de governos, tudo indica que conjunturais e frágeis.
A tese dos secessionistas de que o seu novo polo político, sem o PCP e o BE, e mais simpático ao PS, contribui decisivamente para impedir uma aliança PS-PSD (eventualmente CDS) é uma falácia. Parece a anedota dos escuteiros que iam ajudar a atravessar a rua a velhinha que não queria atravessar. Os dissidentes devem esclarecer, por imperativo de ética política, como se consegue tal milagre que, para mais, vai contra a experiência política de dezenas de anos.
A defesa do estado social, de que os dissidentes fazem ponto único da sua agenda e por si só justificativa de um governo do PS com esta “nova social-democracia”, é uma bandeira aparentemente consensual. Todavia, isso torna-se numa farsa se não houver entendimento programático em relação aos seus requisitos a montante, nomeadamente a rejeição do Tratado orçamental e a preparação o mais breve possível da restruturação da dívida.
A ideia de que o PS é o centro de uma salvação a curto prazo da política de austeridade, seja a que preço for, é oportunista. A história ensina que há cedências que se pagam caro e que a impaciência não é uma virtude revolucionária, por muito que custe a quem sofre até ao momento do avanço na luta.
É urgente promover-se a realização de uma grande iniciativa unitária marcadamente de esquerda, com "paridade funcional" do PCP e do BE, mais organizações, movimentos sociais, organismos comunitários formais ou informais e cidadãos que partam de pontos essenciais comuns para um programa de esquerda: combate à política de austeridade, reposição dos esbulhos dos últimos três anos, crescimento e emprego; rejeição do tratado orçamental; noção de que a dívida é insustentável e precisa de ser reestruturada, em moldes técnicos a estudar.
(Na imagem, Lúcio Quíncio Cincinato, exemplo histórico de ética republicana, em Roma)
(- por João Vasconcelos-Costa, No Moleskine)
E as primárias (abertas) aqui tão perto
Manuel Alegre: «Não basta apregoar a ética. É preciso cumpri-la.»
Cristina Martins, que foi coordenadora da secção do PS da Sé Nova, em Coimbra, foi expulsa do PS, porque denunciou a existência de inscrições de militantes com «moradas que não existem», «moradas erradas» e «duplas filiações», entre outros casos.
Cristina Martins, que era também a antiga responsável pela entrada de novos militantes na Federação Distrital de Coimbra, disse que alertou o secretário-geral António José Seguro, apresentou queixa à Comissão de Jurisdição Federativa e à Comissão Nacional de Jurisdição (CNJ) e entregou cópias das fichas de inscrição alegadamente falsas a dirigentes do PS e ao presidente da CNJ, Ramos Preto. «Nunca obtive uma resposta», disse a militante do PS.
As manifestações de apoio a Cristina Martins não se fizeram esperar. António Campos, fundador do PS, afirmou que os «princípios fundamentais da ética, da liberdade e do funcionamento normal da democracia estão em causa» com este processo. Manuel Alegre corroborou a opinião de António Campos: «Estou muito incomodado e considero, tal como António Campos, que há neste assunto um problema de ética. Não basta apregoar a ética. É preciso cumpri-la. Esta situação tem de ser repensada e esclarecida para salvaguarda do bom nome do PS de Coimbra».
São estes os cadernos eleitorais que vão servir para a realização das eleições primárias?
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Anónimo disse...
O problema é mais profundo. Estamos a falar das instituições basilares do poder na Democracia - os partidos. Divorciados da missão. O PSD é hoje um aparelho de negócios, apoiado nos grandes escritórios de advogados e nos agentes da extorsão obediente e venda do pais a retalho. E o PS foi-se transformando numa constelação de castas fechadas e defensivas a par de uma cacicagem de aparelho, flores abundantemente regadas nos últimos anos, sem princípios, sem exigência, aplicando regras golpistas e métodos do tempo da maria cachuca. Muitas sedes mais parecem agremiações de bairro ou secções de bombeiros.Fichas escritas em papel costaneira, funcionários ronceiros. Reina a confusão administrativa e o mosaico. Confusão é poder. Neste momento qualquer um que se proponha ser admitido como militante entrega ficha, ninguém lhe pergunta nada, passado um mês já tem cartão na morada. A quota do militante é de 1 euro. Por isso não admira que em Coimbra a militante que ousou dizer"O rei vai nu" seja persona non grata. Só pode.
2014,Jul 21,
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O PS/Novo Circo (Partido Segurista-Costista Nepotista e Tachista) transformou-se numa tropa fandanga de canalhas e oportunistas, que conjuga o pior da máfia siciliana com o melhor das masmorras de Alcatraz.
Duvido já da sua recuperação e regeneração. É altura das pessoas disponíveis e bem-intencionadas do Centro-Esquerda nacional começarem a perceber que o ciclo histórico do PS de Abril de esgotou com o desaire político de José Sócrates às mãos (cúmplices) dos Brutus cavaquistas, passistas, esquerdistas e seguristas e que JÁ SÓ UM RECOMEÇAR DO ZERO poderá fazer renascer a confiança dos portugueses do Séc. XXI no Socialismo, ou Social-democracia, neste momento histórico recheado de perigos, mas por isso mesmo repleto de OPORTUNIDADES.
O resultado de Marinho Pinto em Maio demonstra claramente essa disponibilidade do eleitorado para a vassourada-mestra de que este sistema partidário esclerosado está a pedir - e bem a precisar!
O deputado do PS Sérgio Sousa Pinto arrasa a direção de Seguro
O problema do PS é político, por mais que o queiram converter numa novela
...
...
... compreender a hemorragia eleitoral do PS, de eleição para eleição, até à evidência de que não estaria à altura de libertar o País da direita mais reacionária e implacável que o Portugal democrático conheceu.
A queda do PS nas indicações de voto não é de ontem. O PS precisa de tempo e de força para poder protagonizar uma verdadeira alternativa, que rompa a gaiola de ferro do neoliberalismo europeu e doméstico. Mas isso supunha que quem está agarrado ao poder no partido aceitasse disputá-lo democraticamente, em nome do País e do interesse geral. Este PS, indiferente à agonia lenta que se autoimpôs, permanece refém de uma cultura implacável de sobrevivência, uma esperteza feita de habilidade e manha, completamente estranha à cultura do partido, mas profusamente enfeitada de princípios e valores. Esperemos que as primárias, nascidas desse caldo, sejam o instrumento da sua destruição.»
PRESUNÇÃO E ÁGUA BENTO
Sem data: “VIVEMOS ACIMA DAS NOSSAS POSSIBILIDADES”
Setembro de 2010. “VIVEMOS 10 ANOS ACIMA DAS NOSSAS POSSIBILIDADES”
Novembro de 2010: “ESTAMOS HÁ DEZ ANOS A VIVER CERCA DE 10% ACIMA DAS NOSSAS POSSIBILIDADES”.
Outubro de 2011- “NÃO HÁ LIMITES PARA OS SACRIFÍCIOS”
Setembro de 2012- “DURANTE ANOS VIVEMOS ACIMA DAS NOSSAS POSSIBILIDADES”.
Outubro de 2013: “VIVEMOS OS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS ACIMAS DAS NOSSAS POSSIBILIDADES”
Março de 2014: “O PAÍS EMPOBRECEU MENOS DO QUE PARECE. O PAÍS JÁ ERA POBRE,VIVIA ERA COM VIDA DE RICO"
Julho de 2014: VITOR BENTO CONVIDADO PARA PRESIDENTE EXECUTIVO DO BES
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16/7/2014,
BANCADA CENTRAL
Philippe Legrain, ex-conselheiro de Durão Barroso (e não um perigoso esquerdalhão), publicou um livro explicando que
os programas da troika em Portugal e na Grécia serviram para salvar os bancos alemães e franceses.
Estes estavam demasiados expostos à dívida pública desses países e queriam evitar perdas.
Além disso, a UE injetou nos bancos 1,3 biliões de euros em 4 anos. Sobretudo nos alemães, franceses e ingleses.
Valor astronómico quando comparado aos empréstimos troikanos que em nada beneficiaram países como Portugal.
Aliás, antes da crise financeira, a nossa dívida era 68% do PIB. Agora é mais do dobro.
Portanto, é mentirosa a ideia de que os alemães nos sustentam e de que vivemos acima das nossas possibilidades.
Nós sustentámos os bancos alemães que viveram acima das suas possibilidades.
E o sistema financeiro tem um poder absoluto sobre as democracias.
Neste pós BPN, veremos como se desenrolará o caso BES.
Para já, fez disparar os juros da dívida, coisa que nunca a Constituição e os seus juízes, os nossos salários ou direitos conseguiram.
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GOVERNO INIMIGO e natalidade
O que pode fazer um governo de um país onde
as grávidas vão para o hospital porque têm fome,
há empresas que obrigam as mulheres a assinar declarações em como não engravidam
ou que despedem quem está de bebé (números que não param de aumentar)?
Muitas coisas.
Mas a miséria, o desemprego e a injustiça não se combatem com a diminuição do imposto para veículos com mais de 5 lugares, como propõe Passos Coelho.
A diminuição da natalidade como consequência da crise (existem outras causas)
combate-se parando de convidar os portugueses a emigrar,
apostando na criação de emprego,
aumentando o salário mínimo,
diminuindo a precariedade e insegurança no trabalho.
Quem quer ter filhos não está à espera de deduções no IRS.
Anseia por um emprego com direitos, escolas públicas disponíveis, a possibilidade de uma casa.
Um futuro.
O resto é conversa moralista e propaganda – melhor ilustrada pelo nome do relatório encomendado pelo governo:
“Por um Portugal amigo das crianças, das famílias e da natalidade” Uau.
Por um Portugal dos pequenitos. Está tudo dito.
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De 5 em 5 minutos
O 25 de Abril só foi há 40 anos, mas grande parte do país esqueceu-se como foi viver em DITADURA, como se apagasse uma memória traumática.
E parte das elites políticas agradecem esse oblívio.
Não havendo serviço nacional de saúde, mulheres, bebés e mais velhos caíam que nem tordos.
Muitos pais em vez de berço tinham caixão.
Não existindo estado social mas apenas assistencialismo, miúdos e graúdos
passavam dias a trabalhar em jejum, tinham sapatos depois dos 20 e só ao Domingo.
Os mendigos iam para centros reeducativos, como a Mitra, para aprender obediência, culpa e gratidão.
Com uma escola pública mirrada, a regra era “filho de pescador és, pescador serás”.
Muitos abalavam, com os passadores, a salto, tolhidos de fome e frio, a pé, para chegar a Paris semanas depois.
Era a fuga para ganhar a vida e ganhar vida.
Foi só há 40 anos.
Agora, sai um português para o estrangeiro cada 5 minutos.
Muitos partem cheios de esperança, oxalá vinguem, mas partem-nos a nós a esperança de que isto volte ao sítio.
Sobretudo, trazem-nos muitas recordações.
(-por J.A.Dias)
Ou a finança ou o povo
A crise do BES, gerada ao longo de décadas de finança à rédea solta, será um excelente caso de estudo para usar em aulas sobre a financeirização do capitalismo. Infelizmente, a matéria não faz parte dos programas da licenciatura em Economia, e por isso não é de espantar que a esmagadora maioria dos economistas portugueses se sinta surpreendida com a queda do império GES e refira os casos BPP e BPN como casos de polícia, não esquecendo o Banif.
Porém, estão completamente enganados. Todos estes casos, e outros que vão aparecer, são ao mesmo tempo casos de polícia e manifestações do normal funcionamento de um capitalismo financeirizado. Contrariando o discurso dos analistas da televisão, não se trata de casos anómalos de um sistema que regra geral funcionaria bem. Pelo contrário, é assim que o capitalismo hoje funciona, e por isso mesmo o número de crises financeiras disparou desde que, a partir dos anos 70 do século passado, se foram abrindo as portas à circulação de capitais de curto prazo. Na Europa foi crucial a decisão de Mitterrand, na Primavera de 1983, de ceder à especulação financeira para não pôr em causa o sistema monetário europeu que amarrava as várias moedas ao marco alemão. Com esta escolha, os socialistas franceses deixaram cair a sua política económica de promoção do crescimento e do emprego, relaxaram o controlo dos movimentos de capitais e adoptaram uma agenda de liberalização do negócio financeiro. Em suma, meteram o socialismo na gaveta.
Com Bill Clinton, o regresso à integração entre banca comercial e banca de investimento financeiro foi oficializado (fim do Glass-Steagall Act), enterrando assim uma das lições aprendidas com o colapso que deu início à Grande Depressão. Desde então, cresceu o poder da finança, que, especulando à escala global, já tinha aliciado os governos da América Latina e de África ao endividamento improdutivo, até ficarem nas mãos dos credores a quem entregaram os activos mais importantes. Na Ásia, os capitais afluíram em massa e desencadearam bolhas especulativas na bolsa e no imobiliário para, entre 1997 e 1998, abandonarem subitamente estas economias, deixando para trás o caos económico-financeiro, social e político. À medida que foram entrando, valorizaram a taxa de câmbio tornando barato tudo o que era importado. Quando o défice externo se tornou insustentável, não havia reservas cambiais acumuladas que pudessem aguentar o abandono do capital estrangeiro e do nacional que apostava na desvalorização para regressar com o respectivo ganho especulativo. Os mesmos mecanismos funcionaram na Rússia, no México e na Argentina, os casos mais discutidos. Hoje, a "banca sombra" que faliu no GES, a que está fora da supervisão oficial leve, tem um peso à escala global idêntico ao que tinha antes da crise do subprime.
Como a história ensina, substituir câmbios fixos (padrão-ouro, SME, euro) e uma política monetária uniforme em países estruturalmente diferentes por câmbios flutuantes, no respeito pela livre circulação de capitais, é deixar intacta a sujeição do Estado democrático aos interesses do capital financeiro. Uma saída progressista para a crise que estamos a viver requer um apertado controlo dos capitais de curto prazo, como há pouco fez a Islândia e, quando a zona euro tiver sido desmantelada, a criação de um arranjo cooperativo do tipo "moeda comum", com taxas de câmbio flexíveis e domesticação da banca, como defendia Keynes na conferência de Bretton Woods.
Ann Pettifor, a economista britânica que previu a crise financeira de 2007-8 (ver o sítio Debtonation), lembra-nos que "Por trás da cortina de fumo da austeridade", os governos se conluiam com o capital financeiro para confiscar essa riqueza e usá-la para salvar os bancos privados, "convertendo créditos fictícios em ganhos mais tangíveis" (The Next Crisis, Real-World Economics Review, no. 64). De facto, a crise financeira ainda está aí (ver Satyajit Das, Credit Bubbles Redux) e uma escolha política fundamental impõe-se: ou a finança ou o povo.
(O meu artigo no jornal i)
por Jorge Bateira, 24/7/2014, http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/
A carta escrita pela Ministra da Cultura e Comunicação francesa, Aurélie Fillippetti, e enviada ao presidente François Hollande e ao primeiro-ministro Manuel Valls, foi ontem publicada no jornal Le Monde link merecendo ser lida e analisada.
Nessa carta aberta estão estampadas questões fundamentais que inquinam o programa político do Governo Francês (questões de lealdade aos ideais e compromissos eleitorais) mostram que a actual crise interna em França não se resolve com remodelações governamentais.
O balanceamento entre Solidariedade, Responsabilidade e Lealdade
está bem presente no conteúdo do documento tornando-se esta trilogia político-partidária importante mas prioritariamente condicionada por uma outra impressa no cabeçalho da referida carta
(Liberdade, Igualdade e Fraternidade).
A desilusão que está patente ao longo de todo o texto desta carta é reveladora do modo como a liderança e o desempenho do Governo do Presidente Hollande desmotivou alguns ‘compagnons de route’ e, mais profundamente, desapontou a maioria dos franceses.
De fora ficam por apurar os danos colaterais para toda a Esquerda europeia.
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Quelques heures à peine après la démission du gouvernement et l'annonce de la formation d'une nouvelle équipe, lundi 25 août, la ministre de la culture, Aurélie Filippetti, détaille dans une lettre ouverte, publiée par Le Monde, les raisons de son départ :
« Il y a un devoir de solidarité, mais il y a aussi un devoir de responsabilité vis-à-vis de ceux qui nous ont fait ce que nous sommes. Je choisis pour ma part la loyauté à mes idéaux. Je ne serai donc pas (...) candidate à un nouveau poste ministériel. »
La ministre rappelle sa loyauté « sans faille » pendant les deux années passées, malgré les « difficultés » (fermeture des hauts-fourneaux de Florange, baisse du budget de la culture, statut des intermittents). Mais, faisant référence à la contestation de la politique de l'exécutif par le ministre Arnaud Montebourg, elle estime que « le débat qui a été ouvert sur la politique économique est salutaire et nécessaire », dans un contexte de « désarroi » des électeurs. Ceux-ci, affirme-t-elle, sont de plus en plus tentés par le Front national, et attendent du gouvernement « une politique réaliste mais de gauche ».
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