Os sonsos
22/09/2015 por José Xavier Ezequiel
(http://aventar.eu/2015/09/22/os-sonsos/#more-1235452 )
Os dirigentes do PAF (PSD/CDS) ‘indignaram-se’ no último fim-de-semana com o facto de António Costa (PS) ter anunciado que, caso perca as eleições, não viabilizará o próximo orçamento de estado.
Segundo Passos Coelho, é inaceitável que um partido que pede estabilidade não aceite viabilizar o ‘seu’ orçamento, caso ganhe.
Acrescenta Paulo Portas que, ainda por cima, se recusa a viabilizar um orçamento que não conhece.
Vamos lá por partes, como dizia o meu falecido primo Delfim, quando começava a ficar com um copito a mais. O PAF apresentou-se a este acto eleitoral sem programa.
Ao contrário do que aconteceu há quatro anos, o PAF já nem sequer faz promessas. Limita-se a dar ‘garantias’.
A mais importante de todas é a de que prosseguirá, caso ganhe as eleições, a mesma linha de governação.
Se assim é, e não há razões para acreditar que estejam outra vez a mentir, já todos conhecemos as linhas gerais do próximo orçamento, caso o PAF ganhe as eleições.
Ora, se o PS votou contra os últimos orçamentos, porque diabo iria agora viabilizar o próximo que, mais vírgula menos vírgula, será mais do mesmo?
Façamos a pergunta ao contrário:
se Pedro & Passos perderem as eleições podem desde já assegurar, em nome da estabilidade, evidentemente, que viabilizarão o orçamento de um governo PS?
Bom, a pergunta é perfeitamente ociosa. Mas apenas porque o assunto é, absolutamente, de lana caprina.
Se António Costa perder as eleições, manda a tradição que se demita no dia seguinte.
Alguém imagina um PS sem liderança a forçar a queda do governo e, consequentemente, novas eleições legislativas?
No meio das eleições presidenciais, ainda por cima?
Aliás, falta-me saber se, constitucionalmente, um PR em fim de mandato pode convocar eleições.
Caso não seja possível teríamos um governo de gestão até que o novo PR as possa convocar. Em todo o caso, seria um verdadeiro suicídio político.
E um partido do ‘arco da governação’, como o PS, sabe-o melhor que ninguém.
Nas eleições que se seguiriam, o voto ‘flutuante’ do centro fugiria todo, irremediavelmente, para o centro-direita.
Em nome da estabilidade, claro, coisa que a maioria do centro preza mais que quase tudo.
O mesmo raciocínio vale para Passos Coelho e para o PSD. Que, além do mais, não poderá hipotecar a forte possibilidade de ver um militante seu ganhar as presidenciais.
Como se constatou nestes últimos dez anos, ter um amigo na presidência dá muito jeito, mesmo quando na oposição.
Resumindo e concluindo, ganhe quem ganhar, perca quem perder, o próximo orçamento será viabilizado.
Os outros logo se vê, mas o primeiro está garantido. Ainda que seja apenas o CDS a ter que fazer o frete.
Por isso, proclamar num comício que não se viabilizará o próximo orçamento, em nome da luta partidária, tem o mesmo valor que pedir, em nome da estabilidade governativa, uma maioria absoluta.
Ou seja, é apenas retórica eleitoral. Vale o que vale.
E essa validade expira no dia 4 de Outubro. O que não vale a pena, a Passos & Portas, é fazerem-se de sonsos.