Democracia : seus limites e defesa necessária.
Daniel Oliveira no Expresso diário de 01.02.2017:..(...)
--- Como chegou Hitler ao poder? (ou: do desemprego, medo, manipulação,... à ditadura)
----"Branquear" Trump
(por Vital Moreira , 3/2/2017, https://causa-nossa.blogspot.pt/ )
Apesar de embaraçada com o rompante radicalismo agressivo de Trump, a direita ideológica, entre nós e lá fora, ensaia duas justificações para branquear a sua deriva autoritária:
que ele foi eleito democraticamente e que ele está a cumprir o que anunciou.
Mas o clube dos autocratas por esse mundo fora está cheio de presidentes eleitos que anunciaram ao que iam antes de o serem, desde Maduro a Duterte, desde Putin a Erdogan.
A eleição e o anúncio prévio não podem validar o populismo, a arbitrariedade, a violação de compromissos internacionais.
Ao contrário do que defendem muitos comentadores de direita, o problema não está na dificuldade em optar entre o radicalismo de Trump e o radicalismo de alguns dos seus opositores mais vocais, mas sim entre
a evidente tentação autocrática de Trump e os princípios e "convenções" da democracia liberal e do Estado de direito.
A incapacidade da direita liberal de se demarcar de Trump é comprometedora.
Os "nossos" autocratas não são menos perigosos do que os outros!
----- Autoritarismo em Washington
(por Vital Moreira)
1. No seu ataque à herança política moderada nos Estados Unidos,
Trump anunciou a revogação da chamada "emenda Johnson" de 1954, ou seja, da norma legal que proibia
a ingerência das igrejas (e outras organizações não lucrativas beneficiárias de isenção de impostos) nas campanhas eleitorais,
por exemplo, financiando, apoiando ou rejeitando candidatos ou partidos, sob pena de perda daquelas isenções fiscais.
Ao revogar essa regra até agora politicamente consensual nos Estados Unidos, Trump manifesta ostensivamente o seu agradecimento político pelo empenhado apoio que recebeu dos meios evangélicos no seu caminho para a Casa Branca.
Com a revogação da referida lei, Trump vai passar a ter um comício favorável em cada templo evangélico e os púlpitos vão transformar-se em plataformas privilegiadas de combate político, misturando política e religião sem limites.
2. Ora, o princípio da separação entre o Estado e as igrejas num Estado não confessional como os Estados Unidos deve ser simétrico, estabelecendo limitações tanto para o Estado como para as confissões religiosas.
Não deve limitar-se a proibir o Estado de adotar uma religião oficial e de interferir na organização ou ação das igrejas,
devendo incluir também a proibição de as igrejas e os seus ministros, nessa qualidade, interferirem nas eleições e na seleção dos titulares de cargos políticos.
Nos termos da lição bíblica, Deus e César (que o mesmo é dizer, a religião e o poder político) devem coabitar um com o outro, mas não devem imiscuir-se nos negócios um do outro.
Os procedimentos democráticos dizem respeito aos cidadãos, religiosos ou não, e não às igrejas.
Na sua profunda e arrogante falta de cultura democrática, Trump não respeita nenhum obstáculo legal, por mais razoável que seja.
3. Os Estados Unidos estão mesmo em muito más mãos.
Neste momento a questão é já a de saber se a democracia liberal americana resiste sem graves entorses a este devastador terramoto político!
Com o superpoder pessoal que o regime presidencialista lhe dá, rodeado na Casa Branca por uma tribo de fundamentalistas fieis,
apoiado por uma maioria política (do P. Republicano, direita) nas duas câmaras do Congresso e podendo contar dentro em pouco com um Supremo Tribunal Federal alinhado (conservador,...),
quem pode salvar a decência e a moderação política do autoritarismo arbitrário de Trump?
---- O fantoche e as mãos
(-por H.Araújo, 1/2/2017, http://conversa2.blogspot.pt/ )
[caricatura em que:
S.Bannon (grande) tem ao colo D.Trump, (pequeno) a assinar mais uma 'ordem executiva'.
-S.B: Isso, quem é um rapaz grande agora? (That's it, who's a big boy now ?)
-D.T: Eu sou um rapaz grande! (I'm a big boy !) ]
------ Os dois Stephen
(-por E.Pitta)
Trump, o Presidente, é a mão que assina as decisões de Stephen Bannon e Stephen Miller.
Nunca ouviu falar deles? Convém saber quem são. Ambos estão dispostos a subverter a ordem constitucional americana.
--Stephen Bannon, 63 anos, militante da ala direita do Partido Republicano, foi nomeado anteontem Chief Strategist da Casa Branca e membro permanente do Conselho de Segurança Nacional.
É o homem mais influente da actual administração americana.
Dirigiu a campanha de Trump e agora está no comando do país (isto não é uma metáfora).
Proprietário e CEO da Breitbart News Network, website de extrema-direita fundado em 2007, defende posições que fazem de Marine Le Pen uma menina de coro.
A Breitbart não fica pelo proselitismo xenófobo, pró-Vida, anti-gay, anti-ecologista, ou pela defesa da supremacia branca e doutrinas afins.
Para defender os seus pontos de vista, a Breitbart INVENTA NOTÍCIAS em que milhões de americanos acreditam.
Oriundo da working class irlandesa, católico, Bannon serviu na Marinha e foi BANQUEIRO na Goldman Sachs antes de fundar o seu próprio banco.
Tem um diploma de Harvard em economia.
Acusado de violência doméstica, encontra-se divorciado da terceira mulher.
Define-se a si próprio como um nacionalista branco.
--Stephen Miller, 31 anos, militante da ala direita do Partido Republicano, oriundo de uma família judaica de tradições liberais filiada no Partido Democrata, foi nomeado assessor-principal do Presidente no passado dia 20.
É um acérrimo defensor e legislador da política anti-imigratória.
Redigiu o discurso da tomada de posse de Trump e foi quem propôs a ordem executiva de sábado passado que impede a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos.
Tem um diploma de Duke em ciência política.
Ao pé deles, Karl Rove, o controverso e todo-poderoso chefe de gabinete de Bush, é um príncipe da Renascença.
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