Segunda-feira, 15 de Dezembro de 2014

PODEMOS, pois claro !   Tomar partido aqui e agora.

    No próximo fim de semana tem lugar a Assembleia Cidadã do “Juntos PODEMOS”. Essa assembleia encerra com um plenário no Domingo para “apresentar propostas e chegar a conclusões”. Espero que uma dessas conclusões seja a constituição de uma plataforma política que concorra às próximas eleições legislativas de 2015.

    Defendo que para responder à grave crise social, económica e política em que estamos submersos é necessária a constituição desse novo projecto… Um projecto que para ser consequente e ter peso na correlação de forças necessariamente terá de se expor e submeter ao julgamento popular efectuado através de eleições.  Sendo que a sua actividade não deve estar reduzida ao “circo parlamentar”, estando intensamente orientada para os movimentos e lutas sociais. Deixo aqui o meu contributo para a discussão:

- O que temos? 

No início de 2014 escrevi o seguinte (ver final deste texto):   O aparecimento do MAS, do Livre, o Congresso Democrático das Alternativas, os encontros da Aula Magna, o manifesto 3D, a persistência da Rubra, são fenómenos que com todas as suas diferenças, mostram que existe vitalidade e energia à Esquerda. Estas movimentações demonstram que na Esquerda existe uma massa crítica, para lá dos partidos instituídos, que procura construir alternativas, quer organizacionais, quer a nível programático. Este fervilhar é altamente positivo e é condição necessária para que surja uma nova síntese, mais poderosa e alargada a médio prazo.(…)     No plano politico-partidário este é o momento de se porem cartas na mesa, de se discutirem os diferentes programas e suas nuances, de disputar influência junto das massas, criar novas propostas, divulgar ideias, mobilizar o enorme descontentamento difuso de diferentes formas. 

     Ora, neste momento, olhando para as forças à Esquerda/alternativas ao “arco da governação” (PSD+CDS+PS) o que é que temos?   O Livre que pretende coligar-se com o PS e que julga que obtendo um lugar no conselho de Ministros será capaz de fazer aquilo que o Presidente da França não conseguiu… incluindo uma reforma da União Europeia que “recupere o espírito dos pais fundadores”, em busca de um passado mítico vagamente social-democrata, que na realidade nunca existiu para além de meras proclamações propagandísticas (ler isto).   O Bloco de Esquerda que perdeu toda a sua chama e capacidade de mobilização. Um bloco em desagregação, perdido nas suas contradições (ler ponto 6 deste texto) e entregue a uma liderança com carisma zero.    Um PDR do Marinho e Pinto que na sua substância é uma espécie de Livre versão rural-popularucha. Qualquer observador atento percebe que, para lá da retórica, Marinho e Pinto é um aliado natural do PS e apoiará o próximo governo se isso for necessário ao regime.    Temos ainda o PCP. Sólido, disciplinado e muito respeitador das instituições. Admiro o percurso do PCP ao longo da sua vasta História e não me surpreende o seu percurso ascendente nos últimos anos. Mas há vários limites para aquilo que o PCP pode e quer fazer. Espero que o PCP possa vir a ser parte de uma futura alternativa, mas nunca partirá do PCP nenhuma iniciativa ou acção capaz de mudar qualitativamente a actual relação de forças na sociedade portuguesa. (uma discussão mais profunda do actual mapa político aqui).   Para lá das críticas e “alfinetadas” que acima lancei, creio que todas essas forças podem, cada uma à sua maneira, dar um contributo para uma possível alternativa progressista ao actual status quo a médio prazo. Mas existe um vasto descontentamento popular a que nenhum desses partidos dá resposta. Existe espaço para uma nova força política alternativa.

     O que precisamos?     A Assembleia do “Juntos PODEMOS” identifica três eixos centrais “programáticos”:

  • Não há Democracia com Corrupção
  • Temos direito de escolher o modelo económico sob o qual vivemos
  • A Democracia é de todos, o Povo é quem mais ordena

Citando o recente artigo do Nuno Ramos de Almeida:   Existem condições para aproveitar uma hegemonia social e transformá-la em mudança política. A maioria dos portugueses é contra a existência de uma casta política e económica que vive da corrupção, não está de acordo com uma política de austeridade que liquida a vida e a economia e só serve os especuladores, e pretende ter voz activa no seu futuro. Nestes três eixos (corrupção, economia e democracia) há uma posição maioritária das pessoas para mudar. É só preciso dar-lhe uma voz credível.  Concordo em pleno, mas acrescento que nenhum dos actuais partidos quer ou tem capacidade para ser essa voz. É preciso algo mais que as forças existentes para transformar essa hegemonia social em transformação política. É necessário um PODEMOS em Portugal.        ...   ...   ...

 

Tomar Partido Agora

É necessário actuar – não para resistir, mas para vencer. Pode ser um desafio impossível, mas a derrota é certa se ficarmos, como agora, parados. (Agora, artigo do Nuno Ramos de Almeida)

Nem mais, podemos e devemos actuar agora. No plenário final de domingo da Assembleia do Juntos PODEMOS espero que os participantes estejam à altura destas palavras e não se fiquem por apelos inconsequentes ao “universo em geral” e decidam ACTUAR tomando o futuro nas suas próprias mãos. Ficar à espera que sejam terceiros a dar voz aos anseios desta assembleia, ficar à espera de indefinidos amanhãs que cantam é a receita certa para a derrota e desmoralização. É preciso concretizar e tomar partido. É preciso um PODEMOS em Portugal.



Publicado por Xa2 às 19:29 | link do post | comentar

1 comentário:
De Quem quer, PODEMOS ! a 22 de Dezembro de 2014 às 17:24
(-por J.Labrincha, 19/12/2014)

Depois da resposta ao meu anterior artigo, decidi aceitar o desafio e fui à Assembleia Cidadã do passado fim-de-semana, organizada pelo Juntos Podemos. Na iniciativa, de onde poderia surgir a constituição de um novo partido inspirado no Podemos espanhol, confirmei a quase totalidade das minhas expectativas. Mas não todas.

O BE, apagado. O PCP, aceso, com forte presença de bloqueio, votando pelo adiamento mais longínquo possível de qualquer passo. Nada de novo. Em Espanha também o Izquierda Unida (comunistas) tentou boicotar enquanto pôde. Curioso foi ver o furioso ataque dos PCs à presença de elementos do partido MAS. Do que vi, parece-me que o último quererá ser o equivalente ao Izquierda Anticapitalista, um integrante coligado do Podemos espanhol. E sabendo que ao PCP não interessa o aparecimento de um novo partido é fácil perceber o ataque ao MAS, que parece querer o sucesso da iniciativa (também para se coligar?).

Outra ala presente foi a dos antipartidários, que acham que os partidos são entidades malignas e, por isso, nunca quererão fazer nada mais do que um movimento. O PCP soube capitaliza-los mas, ainda assim, juntos, estiveram em minoria.

Ora, eu acho que Portugal precisa de maior dinâmica de movimento social e associativo. E tenho contribuído para tal. Mas a experiência fez-me perceber que não é possível promover a mudança urgente de que necessitamos sem um partido que se candidate a eleições. O próprio movimento social e associativo está a ser atacado. A nossa liberdade, saúde, educação, subsistência, as nossas vidas e as dos nossos filhos são diariamente postas em causa!

Chegou a altura de sermos consequentes!

Temos que criar um partido novo, que não tenha medo de ser governo e que seja uma ferramenta de poder para os que não têm voz. Realisticamente, em 5 anos. Mas para que isso seja possível precisamos de ir às eleições de 2015 conseguir o máximo de votos (e quem sabe eleger alguém) que nos permita ter visibilidade e recursos. Assim, poderemos criar bases sociais – locais, regionais, nacionais e internacionais –, círculos de discussão e actuação, tal como se fez em Espanha. Isto consegue-se com um partido. Com movimentos ou associações, a minha experiência diz-me que é muito difícil.

Continuar a dizer que não podemos, que somos poucos, mal preparados e que os espanhóis são super-heróis é, a meu ver, errado e apenas beneficia a casta corrupta governante.

O Podemos tinha poucos meses quando se candidatou às Europeias. E elegeu cinco deputados. Não tinha fundamentos políticos, organizativos nem éticos definidos. As assembleias populares do 15-M desconheciam ou eram (e ainda são) muito críticas do partido, estavam em decadência e a grande maioria já nem reunia. Hoje o Podemos está em primeiro lugar nas sondagens.

Em Portugal as pessoas estão desejosas por uma alternativa. Existem milhares de grupos e associações culturais, recreativos, ambientais, de intervenção comunitária e social, cheios de activistas experientes, certamente disponíveis a juntar-se a um movimento-partido democrático e participativo. E esses trarão consigo outros tantos, milhares, milhões de participantes e eleitores.

Sendo assim, porque é que quem está a iniciar esta dinâmica e tem vontade de fundar um partido continua a pregar sermões aos “Peixes Comunistas e Antipartidários Unidos”?

Podemos, sim, olhar para fora da bolha intelectual-vanguardista-urbana que ali se reuniu e chamar mais gente ao processo, de todos os géneros, classes, etnias, formações, mas que queira seguir um rumo comum: contra a casta e não uns contra os outros. A favor dos 99% da população que sofre diariamente com a ganância dos 1%.



Eu cá estarei. Porque, do que vi, a maioria das pessoas presentes tem vontade de avançar. Façamo-lo sem medo. Com audácia. E com coragem.

Até porque as manobras de que falei só demonstram uma coisa: é a casta quem tem medo de que não tenhamos medo!

Nota: O nome JUNTOS PODEMOS, que está em discussão, parece-me ser má opção porque:
- “Juntos” - plural masculino, é contraditório com a igualdade de género que um partido assim deve defender.
- “Podemos” - não queremos ser uma filial do partido espanhol. Temos dinâmicas diferentes e, apesar da inspiração e dos bons-ventos, com soberania ...


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