Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

Ajustar a troika    (-por N.Serra, Ladrões de B., 14/5/2014)

    ...  Já assinalámos neste blogue por várias vezes (por exemplo aqui), a discrepância crescente entre as previsões iniciais inscritas no Memorando de Entendimento (assinado em Maio de 2011) e os resultados e previsões (rectificativas) que foram sendo estabelecidos ao longo das sucessivas revisões do MdE. Tal como já sublinhámos o facto de o optimismo inflamado da troika se ver consecutivamente obrigado a postergar no tempo o ansiado início do sucesso do programa, à boa moda dos «amanhãs que cantam», mas sempre no amanhã que está por vir. Os gráficos ali em cima ilustram bem tudo isto: a descoincidência entre a linha vermelha (previsões iniciais) e a linha azul (previsões da 11ª Avaliação) demonstra a persistente margem de erro da troika, podendo-se igualmente constatar que em regra, nos termos das previsões iniciais, as estimativas de inversão de tendências já deveriam ter ocorrido (o que de facto não sucede, como demonstra a divergência entre as previsões e a linha a negro, relativa a resultados).
     ...   ... as previsões da troika também não oferecem muito mais. Se nos recordarmos que a versão inicial do memorando previa que a economia estivesse já a crescer a 1,2% em 2013, quando na verdade assistimos a uma contracção na ordem dos -2,1%, estamos conversados. Aliás, percebe-se muito bem por que razão a tese da sustentabilidade da dívida pública - esgrimida por todos quantos querem evitar, irresponsavelmente, que se discuta a sua reestruturação - não tem chão minimamente firme que a suporte.
          A  arte  de  inventar  sucessos     (-por J.Galamba, Ladrões de B., 13/5/2014)

Os dados do emprego divulgados na passada sexta-feira pelo INE são um exemplo paradigmático de como os sucessivos "sucessos" do programa de ajustamento se revelam, afinal, uma ilusão.
    Foi assim com o ajustamento externo, que depende do empobrecimento do país (quando saímos da recessão, as importações voltam a crescer mais do que as exportações); foi assim com a descida dos juros, algo que acontece em toda a periferia, incluindo a Grécia; foi assim com a chamada saída limpa, que não foi uma escolha soberana do país, mas sim o resultado dos nossos parceiros não nos terem dado alternativa.   No emprego passou-se o mesmo: decretou-se um sucesso que, em rigor, não o é.
    É-nos dito repetidamente que o mercado de trabalho está a recuperar e que isso prova que as reformas estruturais resultam e que a austeridade não é incompatível com a criação de emprego. Acontece que os dados do INE desmentem quaisquer ideias de retoma e de transformação estrutural da economia portuguesa.
    Quando comparado com o pior período desta crise, o emprego subiu, de facto. Mas dos 72 mil empregos criados entre 1º trimestre de 2013 e o 1º trimestre de 2014, 40 mil (55%) foram nos setores O [Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória], P [Educação], Q [Atividades da saúde humana e apoio social]).
    Tudo isto são "empregos" criados ou financiados pelo Estado, na grande maioria resultantes das chamadas políticas activas de emprego (estágios, etc). Como é evidente, as políticas activas de emprego não são necessariamente negativas, não podem é ser usadas para fabricar sucessos meramente estatísticos e muito menos podem servir para sustentar a tese de que estamos perante uma retoma sector privado e um dinamismo induzido pelas famosas reformas estruturais.
    Se olharmos para os dois últimos trimestres, ou seja para o período entre outubro de 2013 e março de 2014, constatamos que esse mesmo sector privado destruiu 100 mil empregos líquidos. A destruição de emprego só foi menor porque o Estado - directa ou indirectamente - interveio, atenuando (e mascarando) a dinâmica negativa do sector privado.
    Se olharmos apenas para o primeiro trimestre de 2014, constatamos que há menos 40 mil empregos líquidos do que no trimestre anterior. A descida da taxa de desemprego para 15.1% não é, pois, um sucesso, como tem dito o governo e a sua claque (nacional e internacional). É, isso sim, uma enorme tragédia: a taxa de desemprego baixa, não porque haja mais emprego, mas sim porque a população activa caiu.
    A haver alguma dinâmica ela não é seguramente positiva. A tal transformação estrutural virtuosa - a que pressupunha canalizar recursos para o sector dos bens transacionáveis - pura e simplesmente não existiu. Desde que este governo entrou em funções, não só se destruiu mais de 350 mil empregos, como o emprego nos setores transacionáveis caiu 14%, enquanto o de bens não transacionáveis a queda foi de 5%.
    Não estamos a construir nada, e só não destruímos mais porque o Estado - essa instituição que nos dizem ser um entrave ao desenvolvimento e competitividade do país - tem sido usado como paliativo.      (artigo publicado no Expresso online)


Publicado por Xa2 às 07:52 | link do post | comentar

2 comentários:
De Nó górdio da quádrupla Crise portuguesa a 16 de Maio de 2014 às 10:49

Nó górdio

A CRISE da economia portuguesa não é uma só; são várias. E é necessário compreendê-lo para que possamos começar a sair da situação em que nos encontramos.

Em meados dos anos '90, a economia portuguesa encontrava-se em processo de convergência real face à média europeia, ainda que a sua estrutura produtiva fosse bastante mais frágil do que as das economias do centro europeu. Optou-se então por um processo de exposição internacional súbito e insensato, que incluiu a perda de autonomia monetária e cambial. O resultado foram défices externos crónicos, endividamento privado externo galopante e uma estrutura produtiva adicionalmente fragilizada pelos incentivos perversos criados ao investimento nos sectores de bens não-transaccionáveis.

Então, na sequência da eclosão da crise financeira internacional de 2007-2008, esta crise latente de inserção internacional e endividamento externo transmutou-se em crise de dívida pública, em parte devido à adopção de uma resposta contra-cíclica activa, mas sobretudo por via da acção dos estabilizadores automáticos (menos receitas e mais despesas em resultado da própria crise). E esta crise de dívida pública, ao abrir a porta à adopção de um programa de austeridade pro-cíclica, somou a camada final à nossa crise actual: uma recessão económica de grandes dimensões, com fortíssimas contracções do investimento e do emprego.

A crise portuguesa é, por isso, pelo menos 4 CRISES sobrepostas:
uma recessão de dimensões históricas em cima de uma crise de dívida pública, que por sua vez é uma transmutação de uma crise de endividamento privado externo, provocada por uma contradição insanável entre a estrutura produtiva e o regime de inserção económica internacional.
Com a agravante de cada dimensão adicional não atenuar, antes reforçar, as dimensões subjacentes.

Se compreendermos isto, percebemos que insistir na austeridade é o grau zero da inteligência económica; que advogar simplesmente uma alternativa contra-cíclica, sem mais, esbarra imediatamente nos limites do endividamento acumulado no passado; e que mesmo o repúdio da dívida acumulada, sem mais, ignora os constrangimentos colocados pelo contradição fundamental entre a nossa estrutura produtiva e o nosso regime de inserção internacional.

Decididamente, trata-se de um nó górdio de que não nos veremos livres tão depressa. Já não será nada mau se pelo menos começarmos aos poucos a perceber o que está verdadeiramente em causa.
(Publicado originalmente no blogue "&conomia à 4ª" do Expresso online)


--por Alexandre Abreu, 16.5.14 , Ladrões de B.


De Desgovernanças a 16 de Maio de 2014 às 14:42
Simulação optimista do esquema de pensamento do funcionário público

(16/05/2014 por jpfigueiredo , Aventar)

reciclado pelo senhor dos passos e pela senhora das portas:

Mais 6%, pá? Ora mais 12% de castigo sobre o estatuto, o corte dos subsídios de férias e de natal, a reposição de um deles subtraída do aumento do IRS e reduzida pela revisão da dedução à colecta e dos escalões, a sobretaxa e a taxa de solidariedade, o congelamento salarial e a inflação, o IVA… Isso dá… Bem, é fazer as contas…

Os outros sacanas é que tiveram culpa, é muita despesa pública. Nos outros países não há concerteza esta despesa com os salários no Estado, aqui é que é o regabofe. O que vale é que há cada vez menos funcionários públicos, bem, postos de trabalho. Mas o pior é que quem fica passa a trabalhar por si e pelos despedidos… É a economia, pá. Não há dinheiro, pé… Temos que compreender, pi. E Deus nos guarde de ficar desempregados, pó. E se for eu a seguir, pu? Ta que pariu, não seria melhor trocar de camisa de forças, que esta já cheira mal?
------------


--A matilha aguça os dentes

Declarações públicas que prejudiquem “imagem” dos serviços são punidas


--O governo tem razão

A economia está a crescer. Para baixo.


--Desta vez concordo com Cavaco

Cavaco diz que “há uma nova esperança a nascer em Portugal”. Chama-se fim dos mandatos e rua com eles.

--Ao desbarato

Da imprensa de hoje: enquanto as Finanças travam a classificação de imóveis como monumentos para vendê-los, o ministro da Economia foi à China vender os transportes de Lisboa e Porto e a EGF.
Até às próximas legislativas, sobrará alguma coisa?

-- Boa malha

o essencial do grande lobby friedmaniano a favor do cheque para escolher a escola da sua fé e credo
é absolutamente contra o apoio do tipo cheque alimentar para os mais desfavorecidos da sociedade, porque diz que eles assim se habituam e ficam uns parasitas sociais.
Paulo Guinote

--Saída à irlandesa

Philippe Legrain, antigo conselheiro da Comissão Europeia, acusa a UE:
“Os irlandeses foram intimidados e tratados de forma ultrajante durante a crise.” (link em inglês)
(e os portugueses foram ainda + ultrajados: pelos 'mercados', ag.rating, pela Troika e pelos desgovernantes tugas !!.)

--Comprova-se, a saída é limpa…

… foi uma limpeza ao bolso dos portugueses.

--Não há dinheiro

Portugal foi dos países onde o peso do rendimento dos 1% mais ricos mais cresceu.


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