Terça-feira, 5 de Maio de 2015

Lembrem-se do Oceanário    (-por N. Serra, Ladrões de B., 30/4/2015)

  O governo já deu início ao processo de privatização do Oceanário, ignorando olimpicamente a moção aprovada pela Assembleia Municipal e o interesse manifestado pelo Turismo, a Câmara e a Universidade de Lisboa (entre outros parceiros), tendo em vista «assumir a gestão do equipamento, garantindo a manutenção em funções da equipa que tem nele trabalhado e que o tem gerido».   Tal como no caso do Pavilhão Atlântico (lembram-se?), o Oceanário é um dos equipamentos da Parque Expo que desde 2007 sempre proporcionou lucros (que atingiram, no ano passado, 1,1 milhões de euros) e um dos espaços culturais mais visitados na cidade de Lisboa. 

     Como sublinha Nicolau Santos, «o Oceanário está pois no ponto exato para ser privatizado: dá lucro e os utentes/clientes estão satisfeitos», pouco importando que se não se perceba a razão que leva a «que o Estado aliene o que está na esfera pública e corre bem. (...)    Ou seja, o Governo entrega a um privado, cujo objetivo é seguramente o lucro, uma instituição que não existiria se não tivesse sido construída com dinheiros públicos».   Poderá argumentar-se (na linha das justificações invocadas no decurso da privatização do Pavilhão Atlântico), que os 40 milhões de euros que a «concessão» do Oceanário a privados permite arrecadar decorrem da necessidade de amortizar a dívida de 200 milhões da Parque Expo.   Só não deixa de surpreender que, a par deste «sacrifício», supostamente «necessário», seja ao mesmo tempo com a maior descontração e leviandade que o governo abdica, por exemplo, de 85 milhões de receita em favor do Novo Banco (ex-BES).   Pelas mais nobres razões de defesa do bem comum e da sustentabilidade das finanças públicas, seguramente.

     Por isso, quando ouvirem dizer que «não há dinheiro», que o Estado é mau gestor e não tem receitas para assegurar políticas sociais decentes, lembrem-se do Oceanário.    Quando vos disserem que é preciso «reformar» e encolher os sistemas públicos de saúde e educação, lembrem-se do Oceanário.    Quando insistirem que não há condições para garantir os mínimos de subsistência aos mais excluídos, lembrem-se das privatizações do Pavilhão Atlântico e do Oceanário.    E também dos CTT, já agora.      Nota:    Assinem aqui a petição «Pela manutenção do Oceanário de Lisboa na esfera do domínio público».

         Lembrem-se do Oceanário (II)     (- N.Serra, 6/5/2015)

 
    O Ministério das Finanças que «precisa» encaixar 40 milhões de euros com a privatização do Oceanário de Lisboa (prescindindo assim da entrada, nos cofres do Estado, dos lucros que este equipamento permite anualmente obter) é o mesmo Ministério das Finanças que decidiu atribuir prémios aos funcionários do fisco, no valor de 57 milhões de euros, pelo seu excepcional desempenho em matéria de «cobranças coercivas» (ajudando talvez a perceber melhor como se pôde chegar aqui). 
      Se somarmos estes 57 milhões de euros aos 85 milhões de receita de que o governo abdicou, com o perdão fiscal concedido ao Novo Banco - e sem que se perceba igualmente o interesse público dessa decisão - chega-se a um valor que permitiria evitar a privatização de quase quatro Oceanários de Lisboa. Percebam pois, de uma vez por todas, que (estão a  ENGANAR-nos quando dizem que) «não há dinheiro» e «não há alternativas».
-----xxx----- e     - Quem  ganhou  com  as  privatizações ?
Fundamental ouvir (M.Mortágua) para recordar a história dos factos e interpretar a realidade actual.
   
--------xxx-------

    Escamoteia-se o lucro que o Oceanário dá (daí o apetite...). Esquece-se que o projecto não é um dos néscios e gordos exemplares dos capitalistas nacionais. 

     Esconde-se que a cultura deve estar ao serviço das populações e não alvo das mixórdias obscenas das negociatas privadas. Patrocinadas pelo próprio governo, com o exemplo feliz dado pelo autor do post quando denuncia os 85 milhões de receita em favor do novo banco.
    Mas este paleio dos "jobs for the boys", como justificação para a pilhagem do que é de todos, torna-se particularmente abjecta porque tenta apagar quem são os jobs, quem lhes dá 'tacho' e em que medida estes boys fazem parte activa do estádio do desenvolvimento do capital.
    Ora vejamos.Quem nos tem governado tem sido o arco da governação, membros cativos da direita e da extrema-direita, mais o PS que se tem confundido com estas na concretização das políticas criminosas neoliberais.
    Quem tem nomeado os boys para os jobs tem sido quem agora quer a privatização. Do que dá lucro. Para que depois os seus boys se amesendem nos negócios privados a continuar os lugares de designação governamental.
    A promiscuidade entre o público e o privado  (e entre 'políticos' e empresários...) tem sido um dos vectores chave do processo capitalista. A colocação de gestores em lugares-chave tem tido muitas vezes como único objectivo o servir numa bandeja o prato para os interesses privados... que esses mesmos gestores servem.
  Quem não conhece os casos de ferreira do amaral e seus muchachos? Quem não conhece os casos de oliveira e costa e o seu banco? Quem não conhece os casos de catroga ou de relvas?
     A governança governa com e em função dos seus boys. Governa em defesa dos interesses privados. Este exemplo do Oceanário é particularmente obsceno, porque quem o criou e o tem levado a bom porto foi o Público.
    E agora aí estão os coyotes e os vampiros, com a mão na massa a tentarem apanhar mais massa.   E a fingirem que não têm nada a ver com os boys ... dos seus jobs regimentais.    (-De)

Anónimo     O sector privado está totalmente envolvido em corrupção. A agenda de privatizações e liberalização tem sido corrompida em si mesma gerando rendas elevadas, usadas para exercer influência política.    ...
    Em vez do governo moderar os excessos das forças de mercado, trabalha conjuntamente para aumentar as disparidades de rendimento. (p. 50) Nos EUA um estudo mostrou que, em média, os serviços privatizados cobram ao governo mais do dobro do que seria pago a trabalhadores de serviço público para efetuarem serviços comparáveis. (p. 143). Esta captação de rendas (via  privatização, concessão, ppp, outsourcing, boys, nepotismo, corrupção, ... i.e., captura do estado) permite às grandes empresas (privilegiadas) obter vantagens sobre o resto da sociedade (pag. 46).  - J. Stiglitz, The price of inequality, p. 7, Ed. W. W. NORTON & COMPANY, 2013. Existe também edição portuguesa da Ed. Bertrand. Os números de página entre parêntesis são os da edição em língua inglesa e referem-se a conteúdos ou ideias expressas por Stiglitz.



Publicado por Xa2 às 07:46 | link do post | comentar

6 comentários:
De Desgoverno e Saque/ Ladroagem a 7 de Maio de 2015 às 17:34
---N. Serra:

A partir do momento em que se justificam cortes na saúde, educação ou segurança social, alegando que o Estado não tem receita para manter a despesa social, que sentido faz privatizar, justamente, uma fonte de receitas?
E não se trata de nacionalizar uma empresa privada. Trata-se de vender/concessionar ao desbarato um equipamento construído com dinheiros públicos (e com finalidades de serviço publico - e que nada garante, pelo contrario, sejam mantidas a partir do momento em que a gestão passa a ser privada).

---- DE:
Qual dispersão do Estado?

Que "distracções" podem ocorrrer?

As "distracções" que ocorreram nos sectores privados da banca foram também devidas à dispersão dos grandes grupos pelas restantes actividades? Com a consequente posterior "nacionalização" dos prejuízos?

As questões básicas permanecem:
Escamoteia-se o lucro que o Oceanário dá ( daí a apetite...). Esquece-se que o projecto não é um dos néscios e gordos exemplares dos capitalistas nacionais e ou internacionais. Esconde-se que a cultura deve estar ao serviço das populações e não alvo das mixórdias obscenas das negociatas privadas.

-Faz sentido o estado ser dono e proprietário dum oceanário que constituiu um projecto nacional

- O valor da putativa venda faz lembrar o choradiunho a respeito da venda dos CTT. Um crime maior que ainda tem que ser corrigido.Uma enorme negociata patrocionada pela governança neoliberal.
----


De PPCurandeiro e estragos . a 13 de Maio de 2015 às 16:27

E disse isto sem se rir? Não, aí é que está o problema

(12 Maio 2015,por Penélope , http://aspirinab.com/penelope/e-disse-isto-sem-se-rir-nao-ai-e-que-esta-o-problema/#comments )

Passos Coelho disse ontem, aparentemente bem disposto, que, na aplicação da sua terapia ao país, não importou atentar à dor causada nem aos efeitos colaterais. Havia um doente e ele dispôs-se a curá-lo. Ele, reparem bem. E acha que o curou.

Ora bem, alguma observações:

1.Mesmo que o homem fosse médico e não curandeiro, ele há médicos e médicos. Muitos erram ou são pouco interessados, pouco sensíveis, ou, pura e simplesmente, não são bons profissionais. Não me parece que, só por se intitular médico, alguém tenha que ser considerado um génio. Nem todas as terapias são adequadas. Algumas provocam até alergias graves, quando não lesões irreversíveis. Será este o caso. Fazer crer que não há outros médicos nem outros «tratamentos» é próprio dos incompetentes, dos ignorantes, dos ditadores e dos vigaristas.

2.E, para começar, Portugal estava doente? A «doença» era o défice excessivo provocado pelo combate a uma crise de consequências imprevisíveis? Essa é que era a doença? Ainda por cima, induzida pela UE? É que o medicamento foi apontado exclusivamente a esse «mal».

3.Mas, mesmo que se queira manter a metáfora do doente, Portugal estava doente ou puseram-no doente? É que a origem de um mal é o mais importante do ponto de vista da terapia.

4.Se as causas do mau estado em que as finanças públicas se encontraram a dada altura se prenderam principalmente com uma crise internacional gigantesca, com a pertença ao clube da moeda única e, sobretudo, à recusa, em 2011, de uma «terapia» menos invasiva, que espécie de cura foi o empobrecimento do país, a sua desqualificação e a fuga da sua população jovem? O que melhorou por efeito direto da terapia aplicada? A redução do défice à custa da violência social pode ser considerada uma cura? Para se seguir o quê? Uma não vida?

5.Portugal nunca foi uma potência económica europeia, sendo totalmente dependente da situação de outros países mais próximos e/ou mais ricos. Também nunca investiu devidamente na educação e qualificação da população, nem na reconversão industrial. Quem ouve falar estes idiotas, dir-se-ia que, subitamente, estamos na rampa de partida para nos tornarmos um Reino Unido do sudoeste. Entre 2005 e 2009 houve um governo que, paralelamente ao rigor financeiro, pretendeu colmatar as lacunas de qualificação, educação e de investimento em ciência e na modernização infraestrutural, puxando pelo melhor que o país tinha. Para esta espécie de charlatães, agora em campanha eleitoral, foram apostas inúteis. Bom, bom é manter o país na cauda da Europa, de onde nunca deveria ter ambicionado sair. E ajoelhado, para ser premiado pela sua docilidade. Uma cura e peras!
-----------

---Olinda:
verme sádico. cura. só se a cura para ele é a eutanásia.

--- Lucas Galuxo:
Curado, diz ele.
http://www.publico.pt/economia/noticia/ha-154-mil-familias-com-o-credito-da-casa-em-incumprimento-1695398

----ignatzia :
Este azar de primeiro ministro que nos saiu na rifa, para além de ser um pirosão, é um medíocre. A continuarmos assim, este curandeiro de meia tijela ainda nos vai levar à verdadeira falência.

look at me, my friend
http://www.publico.pt/politica/noticia/estado-contrata-contabilista-da-tecnoforma-para-gerir-creditos-do-bpn-1695341

----Lucas Galuxo :
Ó Campus,
Essas balelas só serviram enquanto não apareceu o tradingeconomics
http://www.tradingeconomics.com/portugal/government-debt-to-gdp
http://www.tradingeconomics.com/portugal/government-spending-to-gdp
A dívida actual é muito maior e os gastos públicos são muito mais elevados do que nos governos de José Sócrates, até à crise financeira global.
----


De Vampiros à custa de privilégios e rendas a 13 de Maio de 2015 às 16:39
Lições de História


(- por josé simões, derTerrorist, 12/5/2015)
http://derterrorist.blogs.sapo.pt/


Lições de História precisam-se. Da história do século XX, o século dos totalitarismos.
Mas a História não serve para nada e até há quem defenda que deve ser erradicada dos programas escolares, substituída de imediato por disciplinas práticas, tipo o economês, que é o que está a dar.

Os fins justificaram os meios. Os fins continuam a justificar os meios.
70 anos depois do fim da II Guerra Mundial, 26 anos depois da implosão do Muro de Berlim, 39 anos depois da morte de Mao, 40 anos depois da morte de Franco, 17 anos depois da morte de Pol Pot, 9 anos depois da morte de Pinochet, 62 anos depois da morte de Estaline, 41 anos depois do 25 de Abril.

"O objectivo que temos é o de vencer a doença, não é o de perguntar se as pessoas durante esse processo têm febre ou têm dor ou se gostam do sabor do xarope ou se o medicamento que tomam lhes faz um bocado mal ao estômago ou qualquer outra coisa, quer dizer, se os efeitos secundários de todo o processo por que se passa valem ou não valem a cura"

Lições de História precisam-se.
Não para o predicador mas para quem ouve a prédica.
E é por isso que a História ensinada não presta para nada e o economês é que é.
---------
---------
Quando até o Correio da Manha consegue perceber

«Num país sem tradição capitalista,
em que
os grupos económicos estão habituados a viver à custa de privilégios e rendas do Estado,
o processo não passa de uma transferência de propriedade pública para mãos estrangeiras de joias da coroa,
com intermediários nacionais a fazerem fortuna pelo caminho, enquanto milhares de trabalhadores são despedidos.
Foi assim na Banca, nos seguros, na energia, na Cimpor, na PT.
Em alguns casos, houve mesmo crimes de lesa-pátria.
O dinheiro dessas vendas não resolveu nenhum problema.
E o País ficou mais pobre.»


«Uma triste história
A privatização da TAP é mais um triste capítulo de uma história de alienação de soberania nacional.»


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