Sem alma
“No meio do processo de venda foi ferido na alma de qualquer banco, a confiança dos depositantes.” Helena Garrido perscruta a alma da banca. Camilo Lourenço, também no Negócios, fala da banca como o sector mais “sensível” de uma economia, uma sensibilidade que só os políticos perturbariam, claro.
Tudo para concluírem que o Estado português terá de aceitar perder dinheiro que injectou no Banif, sem entretanto ter exercido cabalmente o poder que vem com o capital, em mais um banco dito privado que caiu, com a “alma ferida”, dada a sua “sensibilidade”.
A verdade é que a banca é realmente especial, dado que o crédito é um bem público que tem de ser bem tratado, com a confiança que, em última instância, só o soberano pode dar.
Não pode por isso ficar entregue à lógica da míope concorrência mercantil ao serviço de banqueiros ávidos de dinheiro e de poder.
É evidente que isso Garrido e Lourenço nunca dirão.
Ficam-se pelo moralismo imoral, incluindo a defesa da transferência dos custos para baixo por via de mais austeridade.
Mas sabem que mais?
O Estado pode mesmo ter de suportar custos financeiros e a desonestidade do anterior governo foi não assumir isso, empurrando o problema com uma barriga cada vez maior.
A banca é um problema de todos e a sua propriedade terá simplesmente de reflectir essa realidade.
O Estado terá de procurar minimizar os custos, fazendo pagar muitos dos que estão financeiramente envolvidos no Banif, incluindo, se necessário for, depositantes com mais de cem mil euros.
O banco terá provavelmente de ser “resolvido”, como agora se diz, e o que sobrar integrado e diluído com tempo num pólo bancário público revigorado, que passará a incluir também os restos do antigo novo banco.
Sem clarificações radicais, esta crise bancária em câmera lenta não terá fim, com os custos associados.
Só com uma propriedade maioritariamente pública da banca é possível uma regulação pública deste bem público, dirigindo-o para os sectores economicamente mais promissores, sem pressões míopes para a especulação ou para o crédito improdutivo.
Tudo muito bonito, mas quem manda não deixa, Frankfurt e Bruxelas não deixam.
Dizem que o Estado fica com demasiado poder de mercado.
O mito da concorrência não morre por lá, impondo vendas apressadas, servindo para dificultar as soluções por cá.
Pois é, precisamos de um Banco que seja de Portugal e que não se limite a ser o que é: uma sucursal do estrangeiro, ao serviço do capital financeiro, perdão, da “estabilidade financeira”.
(por João Rodrigues 15.12.15 , http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/ )
FMI. Dívida de Portugal devia ter sido reestruturada
Luís Reis Ribeiro 17.12.2015
Peritos do FMI dizem que instituição facilitou ao conceder empréstimos a países do euro sem se proteger contra problemas de sustentabilidade da dívida
(--- A seguir 1 FMI. Dívida de Portugal devia ter sido reestruturada. 2 Bundesbank. Países falidos devem ter mais tempo para pagar dívida. 3 Regling. "Pacto de Estabilidade é muito complexo. Nem especialistas o entendem" ---)
- Portugal só teve acesso em 2011 a um programa de resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI) porque se fechou os olhos aos problemas latentes de sustentabilidade da dívida do país, reitera uma equipa de peritos da instituição num estudo ontem divulgado. O relatório reafirma dúvidas levantadas em junho de 2014, mal Portugal fechou formalmente o seu programa de resgate.
No novo artigo, noticiado hoje pelo Diário Económico, o FMI admite que na altura em que se concederam os resgates a países como Portugal foram criadas exceções à regra. Era suposto os países avançarem para reestruturações mais definitivas para terem acesso ao apoio do Fundo, mas a regra acabou por não ser considerada porque optar por não ajudar nações da zona euro geraria contágios sistémicos relevantes e perigosos a nível global.
“Difícil provar que dívida portuguesa era sustentável”
Diz o estudo do FMI: “Em Portugal, foi difícil de afirmar categoricamente que havia uma alta probabilidade de a dívida ser sustentável a médio prazo. No entanto, tendo em conta as preocupações relativas a contágios sistémicos internacionais, a exceção sistémica foi invocada para justificar o acesso excecional [à assistência do FMI].”
O mesmo foi feito em relação à Irlanda (em 2010) e ao segundo programa da Grécia (2012). O FMI constata que essa “exceção sistémica” foi “crucial” para evitar incumprimento dos governos junto dos privados. Este é, a seu ver, um dos méritos de não ter seguido estritamente as regras.
Dívida era 97% e hoje vai em 130%
A parte má é que o FMI ficou (e continua aparentemente) com dúvidas sobre se os soberanos vão conseguir mesmo pagar o que devem, designadamente a parte por si emprestada.
Portugal teve acesso a 26 mil milhões de euros, já começou a devolver parte, mas ainda lhe falta saldar 20,7 mil milhões.
Quando obteve o resgate, Portugal tinha uma dívida pública em redor dos 97,3% do PIB (168,8 mil milhões de euros).
Atualmente, o rácio está em 130,5% (231,9 mil milhões de euros), ainda que estabilizada em máximos. O problema é que o crescimento potencial é muito fraco, bem como o ímpeto das reformas estruturais, tem observado o FMI.
Percebe-se assim o desconforto da instituição de Washington quando olha para o fardo da dívida portuguesa. Sem crescimento sólido e duradouro, o país terá dificuldades em pagar o que deve.
Em junho de 2014, no documento intitulado “The Fund’s Lending Framework and Sovereign Debt”, o Fundo diz que a “exceção” criada para a Grécia (posteriormente aplicada a Portugal e Irlanda), permitiu saltar a parte da renegociação de dívida. Essa condição era vista como demasiado rígida por “implicar uma reestruturação de dívida definitiva”.
Mas, logo nesse mês de junho, o FMI defendeu que a regra devia ser substituída por uma que impusesse a reestruturação sempre que existissem dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida dos soberanos.
Ou seja, o Fundo só pretende prestar nova assistência na condição de que os países aceitem remédios mais definitivos e radicais.
Recorde-se que, já este ano, aquando das negociações do terceiro resgate grego (julho de 2015), o FMI voltou à carga no tema e defendeu que, desta vez, devia haver garantias mais firmes de que a dívida da Grécia entraria num caminho mais sustentável,
propondo inclusive um polémico “perdão” de dívida ao país por parte dos parceiros europeus no valor de 53 mil milhões €. Mas neste caso concreto, o FMI colocou-se de fora o grupo de credores que aceitariam o tal perdão. No estudo ontem divulgado, o Fundo torna a lamentar os efeitos da austeridade sobre a capacidade de crescimento. “Os efeitos contracionistas da consolidação orçamental sobre o Produto Interno Bruto podem ter contribuído, juntamente com outros fatores, para aumentar mais os rácios da dívida sobre o PIB do que o esperado, no curt
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