É evidente que assistimos a uma guerra económica que também nos atinge – se bem que nos atingiria menos, não fosse a ruinosa gestão do país conduzida pelos sucessivos governos, mas isso é tema de outros artigos. Esta guerra trava-se com bombas financeiras, capazes de aniquilar um país com mais eficácia do que as bombas reais que a segunda guerra mundial lançou sobre as populações. Explodem agora mas foram sendo carregadas e armadilhadas ao longo das últimas décadas de construção de mercado europeu. Grupos como o eixo franco-alemão, agora claramente mais alemão do que francês, despejaram dinheiro a rodos noutras economias, tapando os olhos à corrupção e à real utilidade da forma como esse dinheiro estava a ser gasto, a troco de fecho de sectores da economia e da criação de um mercado interno, esse mesmo que tem permitido à Alemanha ser o colosso económico que hoje é.
Ironicamente, tal como na anterior guerra mundial, a Alemanha está no centro do conflito e a ela, novamente, se juntam colaboracionistas como é o caso dos reincidentes Portugal e Espanha. Em breve veremos se essas bombas rebentam com a Grécia e com outras ténues resistências que aqui e ali se manifestam. Até lá, fica a brilhante jogada de Tsipras ao defender que os seus interlocutores não são grupos cuja única legitimidade é o capital mas sim governos e instituições democraticamente eleitas. É o quebrar do ciclo de ausência de legitimidade das decisões na Europa, trazendo de volta o controlo à política e aos cidadãos.
(Legendagem: Hélder Guerreiro ). Esta é uma reportagem da televisão pública alemã sobre a crise na Grécia, sobre o dinheiro que foi de facto emprestado e sobre a história da carochinha que foi contada aos alemães. Sabíamos que a Alemanha estava a beneficiar com a crise, mas não era claro a escala desse ganho.
No passado dia 30 de Janeiro, o FMI voltou à carga com a necessidade de Portugal voltar ao início, com mais cortes nos salários e pensões. Deixou críticas ao enfraquecimento do espírito reformista em vésperas de eleições e apelou "para esforços de revigorar reformas estruturais, de forma a orientar a economia para mais elevadas exportações e investimento, reconstruir o stock de capital da economia e absorver" - e agora leia-se os termos usados para designar desemprego... - a significativa folga de trabalho" ("the significant labor slack"), para criar as fundações de um crescimento sustentável". Por outras palavras: 1) o investimento não descola; 2) as exportações não desgrudam das importações; 3) o desemprego não está a ser absorvido por aquela magnífica criação de postos de trabalho que o Governo e a Maioria tanto repetem estar a acontecer. 4) o crescimento não está a ser sustentado. Ou seja, a receita não está a funcionar. Sobre este relatório, já Nicolau Santos disse tudo na Antena 1, no programa de hoje das "Contas do dia" (é possível que não esteja já disponível hoje, mas a crónica é imperdível).
Estatísticas das Empresas, INE
Em todo o seu mandato, o Governo esteve bastante empenhado em reduzir os gastos de pessoal, o que redundou numa enorme transferência de rendimento dos trabalhadores para as empresas, sem efeitos na melhoria de competitividade externa. Agora, no final de mandato, deveria ocupar-se dos restantes 80% dos custos de produção, nomeadamente nos serviços externos contratados pelas empresas, como energia, telecomunicações, etc., etc... Aliás, na linha do que sempre foi reivindicado pelas confederações patronais, quando se reuniram pela primeira vez com a troika, em 2011. Os sindicatos poderão dizer: "Nós (trabalhadores) já pagámos, agora paguem os outros". Venham, pois, as reformas estruturais!
A semana passada, marcada pela discussão em torno dos efeitos de uma palavra que é grega, confirmou a natureza da sabedoria convencional das elites nacionais, as que se imaginam no centro europeu, as que se imaginam no topo da cadeia imperialista, credoras, a olhar de cima a chusma periférica: ridículas, certamente; desonestas, claro; objectivamente antipatrióticas, sempre; perigosas, sobretudo. Consideremos só um exemplo, mas bem representativo:
dizem-nos com gravidade que cada português terá já emprestado, em média, mais de 250 euros aos paralíticos gregos e que por isso cada português deve seguir fielmente a linha alemã papagueada pelas elites. Ninguém pode esquecer que globalmente Portugal é um país devedor ao estrangeiro, obra da integração disfuncional em que os da “Europa connosco” nos meteram, e dos maiores devedores mundiais em termos relativos (mais de 100% do PIB, em termos líquidos). Ninguém pode esquecer por isso que Portugal é o país que mais tem a ganhar globalmente com o precedente que seria aberto por uma reestruturação bem sucedida da dívida oficial grega, mesmo que perdesse parte do que emprestou à Grécia. Isto é simples, mas é algo que é ofuscado pela sabedoria convencional. Nós estamos na periferia, entre os devedores, mas temos uma elite que fala e age como se não fosse daqui. E sabem que mais? Num certo sentido não é mesmo, dado que a sua posição depende, hoje mais do que nunca, da dependência do país face ao centro, face a Bruxelas-Farnkfurt. A palavra casta aplica-se a uma gente que olha para o povo grego da mesma forma que olha para o povo português. Está na altura de reciprocar: nunca as questões nacional e social estiveram tão imbricadas e nunca o patriotismo, da Grécia a Portugal, foi tão internacionalista...
A nova dívida entre 2010 e 2015 foi esmagadoramente para pagar o quê? Pensões? Ordenados? PPP's? Não, foi para juros. Para os credores. E sim, inclui o dinheiro da troika. Não somos gregos? Ai não que não somos:
Maria J. Marques (no Insurgente) escreve um longo post em relação ao qual, e porque nele sou mencionado (...) tenho de dizer cinco coisinhas:
1 – A “esquerda socialista” de que falas pode ter uma tonelada de defeitos, mas ter-me como porta-voz não é um deles. E vice-versa, já agora.
2 – O ponto em que acertas é este: “o viveram acima das possibilidades” foi uma estratégia comunicacional de Passos e Gaspar e não tem um pingo de sustentação nos factos.
3 – Que foi o excesso de endividamento externo das empresas e, em especial, do sector financeiro que lhes concedeu empréstimos a eito que afundou a Economia em 2008, acabando por arrastar, numa mistura de negligência do BCE e esperteza dos alemães, a capacidade de financiamento de alguns Estados Europeus (e não só Portugal) é do domínio da história. Com mais de 250% do PIB de dívida privada e metade disso de dívida pública (em finais 2012) não é dificil de perceber.
4 – Os 'bailouts' ("resgates") aos países periféricos acabaram por servir, como a história demonstrou, para transferir do sector privado para os contribuintes/Estado. Directamente e através da recapitalização dos Bancos. Foi assim na Irlanda, foi assim na Grécia e foi assim em Portugal.
5 - A ideia de que foi a insustentabilidade de uma dívida pública de 90% PIB que gerou um problema de acesso aos mercados que, miraculosamente, está actualmente disponível a níveis historicamente baixos com aquele indicador em 127% do PIB falece por si mesma.
«(…) Não é possível, e muito menos é sério, falar do radicalismo do Syriza sem falar do radicalismo (e absurdo) do que foi imposto aos gregos desde 2010. Recapitulemos o que se passou desde 2010, quando foi acordado o primeiro programa de resgate à Grécia: desprezando todos os ensinamentos da história, foi pedido à Grécia que, no meio de uma violenta crise económica e financeira, encolhesse selvaticamente a sua economia para honrar os seus compromissos com os credores. Tudo isto enquanto se emprestava mais dinheiro à Grécia para cumprir tão desvairado programa. Como é evidente, os resultados são os que se conhecem: a economia grega encolheu mais de 25%, o desemprego está acima dos 25% há quase cinco anos (acima dos 60% para os jovens), há um partido Nazi com assento no Parlamento. E a dívida, apesar de várias restruturações, disparou, aproximando-se dos 180% do PIB.
O Syriza é, portanto, uma consequência, nunca a causa, dos problemas que a Grécia enfrenta. (…)»
----- Também somos a Grécia:
«(…) O ano de 2013 foi o ano em que o Tribunal de Constitucional travou parte da austeridade desejada por este governo. Aconteceu o mesmo em 2014 e em 2015. Já sabemos que isso ajudou a economia a estabilizar e a sair da recessão. Mas tudo indica que não tenha sido suficiente para pôr termo à crise social criada pelas políticas deste governo.
Os cortes no Rendimento Social de Inserção, os cortes no Complemento Solidário para Idosos, e os cortes no Abono de família são uma constante ao longo de todo o mandato e têm um impacto muito significativo na pobreza em Portugal. Todos os anos o Partido Socialista propôs medidas para atenuar a crise social. Neste último orçamento, por exemplo, propusemos aumentar o abono de família e o subsídio social de desemprego. Estas propostas custavam menos de metade da redução da taxa de IRC. O governo, como já o havia feito no passado, chumbou todas as propostas.
A ideia de que o retrocesso social tinha poderes salvíficos e regeneradores foi aplicada na Grécia, foi aplicada em Portugal, foi aplicada em Espanha, foi aplicada na Irlanda, foi aplicada em Itália, e tem sido aplicada um pouco por toda a Europa. Em maior ou menor grau, é por isso que somos todos a Grécia. É natural que o Primeiro-Ministro se não reconheça este facto. Fazê-lo seria equivalente a reconhecer a sua própria responsabilidade pela existência e pela manutenção da crise social (económica e política) que afeta uma parte significativa da Europa e da qual a Grécia é apenas um caso extremo.»
⇒via Miguel Abrantes , Camara corporativa, 2/2/2015
FMI aprovou 12 vezes. à 13ª descobriu que está tudo mal. !! ... ... ... ... Nicolau Santos, no Expresso 2/2/2015.
Anos disto e a saga continua e continuará. Ulrich é que tinha razão: nós aguentamos mesmo tudo. (somos mesmo burros !!, carneirada, BESTAS ! ) -----------------
A ALEMANHA hoje e há 73 anos (1942 Nazi), o mesmo objectivo: DOMINAR a EUROPA
A Alemanha pretende fazer hoje com a política monetária e de crédito o mesmo que há 73 anos fazia com as divisões da Wermacht: dominar a Europa. Então, também ela tinha bons aliados na Península Ibérica e muitos derrotistas por essa Europa fora, a começar pelos franceses. Então, como hoje, houve quem achasse que não valeria a pena lutar contra a Alemanha. A luta só tornaria mais dolorosas as consequências da derrota.
Esse era o sentimento dominante na maior parte da Europa. Só que havia a outra parte, a que se não vergou, a que sofreu as duras consequências de ter tido a coragem de combater. Entre esses estiveram os gregos, que, primeiramente, resistiram e contiveram Mussolini e, depois, lutaram heroicamente contra os alemães, apesar das perdas que sofreram e dos sacrifícios por que passaram. Hoje, como há 73 anos, os gregos voltam a resistir ao domínio alemão e recusam a humilhação nacional. Tal como hoje, também então os alemães contaram com a cumplicidade e a colaboração dos que internamente traíram a pátria, mas que nunca foram suficientes para quebrar a resistência de quem não aceitava a submissão ao domínio estrangeiro.
Hoje, como há 73 anos, a Alemanha não aceita acordos nem compromissos. Exige a capitulação sem reservas. É essa natureza arrogante e autoritária da Alemanha que se mantém intangível como o demonstra a recusa de um encontro bilateral com Tsipras.
Merkel e Schäuble têm hoje no BCE e na Comissão Europeia os instrumentos que desempenham um papel semelhante ao das divisões militares com que há 73 anos essa mesma Alemanha supunha ter dominado a Europa, um domínio que ia desde os Pirenéus até às portas de Leninegrado e de Moscovo e quase às margens do Volga. Hoje, o panorama de dominação é muito idêntico: de fora apenas a Grã-Bretanha e a Rússia tal como há 73 anos.
Há 73 anos os que tiveram a coragem de se opor aos alemães e de os combater ganharam. Hoje, para vencer os alemães é preciso LUTAR. Uma luta guiada pela ideia de vitória. Os que estiverem à espera que seja a Alemanha e os seus aliados a mudar a Europa, acordarão com uma Europa germanizada constituída por “patrícios” e “Untermenchen” (sub-pessoas, servos/escravos). Quando verdadeiramente despertarem do logro em que caíram já nem forças terão para lutar. Estarão exaustos económica, política e moralmente.
Essa a razão por que a luta da Grécia exige a nossa SOLIDARIEDADE. A luta da Grécia é a NOSSA luta. Não participar nessa luta por calculismo político ou oportunismo de ocasião equivale a cavar a sepultura da nossa insignificância futura.
Nesta luta não haverá meio-termo. Ou se está por ou se está contra. E o que importa é que as águas fiquem divididas com clareza. O pior que poderia acontecer seria tomar por aliado quem realmente o não é. Quem vai tomando posição em função das circunstâncias, aguardando ambiguamente que o tempo passe e a situação se esclareça para não ter de arcar com as desvantagens da luta.
Finalmente, é bom que se perceba que as propostas que a Grécia apresenta à Europa são praticamente idênticas àquelas de que a Alemanha beneficiou depois da derrota para pagar as suas dívidas. Com uma diferença de vulto: a Grécia é país pacífico. Nunca invadiu a Alemanha!
O professor de Economia José Maria Castro Caldas afirmou hoje, em Coimbra, que o dinheiro emprestado pela troika a Portugal não foi para pagar salários e pensões, mas para pagar a credores.
“É falso que sem aquela ajuda não havia dinheiro para pagar pensões e salários aos funcionários públicos até final do ano” de 2011, sublinhou o docente e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
Portugal não tinha dinheiro para “amortizar a dívida pública que vencia nessa altura e a ajuda da troika veio para pagar aos credores, excepto 13 mil milhões de euros” destinados a “recapitalizar a banca” portuguesa, sustentou o economista, que falava ontem à noite, em Coimbra, num debate promovido pela Iniciativa Auditoria Cidadã (IAC) à Dívida Pública Portuguesa.
“Existem ideias feitas sobre a dívida” de Portugal que “não correspondem à realidade”, frisou Castro Caldas, considerando que “a maioria das pessoas acredita que os 78 mil milhões de euros da troika eram para pensões e salários”.
Três dívidas...
Discordando de alguns participantes no debate, que defenderam que a dívida pública portuguesa não deve ser paga, Castro Caldas disse que “há uma parte da dívida” que deve ser paga, designadamente, ao Fundo de Segurança Social, aos pequenos aforradores que investiram em Certificados de Aforro e à banca portuguesa.
Uma parte da dívida não deve ser paga, como a que resulta de “contratos ilegítimos”, e “a outra parte deve ser renegociada”, advogou.
Olinda Lousã, sindicalista e membro da IAC, considera, igualmente, que Portugal deve apenas “renegociar a parte legítima da dívida”, mas antes, advertiu, é necessário saber qual é essa parte e apurar a dívida ilegítima. “O futuro não se resolve com esta austeridade cega”, salientou.
O músico Manuel Rocha também entende que a dívida pública deve ser renegociada, e de forma a permitir que o país “possa ter desenvolvimento económico”, investindo nas pequenas e médias empresas e na exportação e “tributando os bolsos onde há dinheiro”.
------Dos mitos orçamentais em Portugal: a look back to 2011 (4/1/2015, http://financaspublicas.blogspot.pt/2015/01/dos-mitos-orcamentais-em-portugal-look.html )
Em 2011 foi popularizada a ideia de que uma das razões porque Portugal tinha mesmo de pedir assistência financeira «porque já não havia "dinheiro para pagar salários e pensões"».
E essa afirmação corresponde à verdade? Bom, só se decidirmos que de repente Portugal tinha de pagar reembolsos de dívida primeiro porque os mercados não quereriam renovar as linhas de crédito.
Mas isso corresponde a uma normal gestão orçamental? Claro que não.
Vamos simplificar: precisamos pagar salários, pensões e dívida. Se concebermos as coisas nesta perspectiva, e deixarmos a dívida para o fim, havia dinheiro para salários e pensões?
A resposta é, havia. E há mais quem pense isso (cf. aqui e aqui)
E havia porque as receitas gerais do Estado davam para cobrir os salários e as da segurança social davam para cobrir as pensões (fonte: Emanuel dos Santos, “Sem Crescimento não há Consolidação Orçamental – Finanças Públicas, Crise e Programa de Ajustamento”, Lisboa, Edições Sílabo):
Então faltava dinheiro para quê? Bom, para amortizar em vez de renovar dívida porque os mercados estavam a cobrar demasiado dinheiro para esse efeito. O que normalmente não se faz.
Portanto, a afirmação que não havia dinheiro para salários e pensões só é sustentável se presumirimos e escolhermos presumir que se pagaria antes tudo o resto (dívida e juros), que os mercados se fechavam e que no fim é que se ia ver se sobrava algum dinheiro para salários e pensões.
Simples, mas complicado. Como sempre.
(-por Marco Capitão Ferreira, 4/1/2015, http://financaspublicas.blogspot.pt/2015/01/dos-mitos-orcamentais-em-portugal-look.html
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