Aqui (-o país do burro )
Como é também o caso do direito de qualquer criança a ter uma família. Fabíola Cardoso, 41 anos, casada, é mãe de duas dessas crianças. A sua angústia sobre o que lhes poderá acontecer depois da sua morte aumentou substancialmente há uns meses, quando lhe foi diagnosticado cancro da mama. O Estado português não reconhece quaisquer direitos à sua cônjuge, que os seus filhos reconhecem como a sua outra mãe mas que não pode protegê-los enquanto tal, a coberto da Lei. A Fabíola foi hoje ao Parlamento assistir a como uma maioria de moralistas brincava com a sua dignidade e com o direito dos seus filhos a serem adoptados pela segunda mãe. ...
"Reformas estruturais necessárias", ou lá o que é
Dinheiros públicos, negócios privados, o lado “magro” do Estado. A semana em que, no lado “gordo” do mesmo Estado, cada funcionário público vai confirmando no recibo de vencimento que aquele
boato dos cortes era mesmo verdade e, o detalhe realmente importante, que o seu salário afinal também encolheu, começou com a notícia de
mais um negócio no sector da Saúde na Segunda-feira, prosseguiu com a notícia das investigações a mais um
negócio no sector da Educação na Terça-feira e, para não variar, continua hoje, Quarta-feira, com notícias de
mais negócios do mesmo tipo, desta vez no sector da Cultura. Hoje é a vez da Casa Fernando Pessoa, a qual, lê-se
aqui, adjudicou vários serviços por ajuste directo, desde o final de 2012, a uma pequena empresa que tem escritório em casa da sua directora artística, a escritora Inês Pedrosa. ...
E em Março haverá mais para todos, mais 1% para a ADSE. ...
O plano (re-engenharia social ou agenda político-económica
ultra/neoliberal de empobrecimento e eliminação de direitos, justiça, democracia e estado social)
Um dado aterrador (-V.Dias, o tempo das cerejas)
Sim, este é um dado aterrador certamente para os cidadãos que são os chamados consumidores domésticos mas também para as empresas e, como esta notícia só fala de taxas e impostos, ainda ficam de fora os exorbitantes aumentos de preços da energia e como eles também afectam a competitividade das empresas portuguesas. ...
Um novo rumo sem ilusões
[a capitulação de Hollande:... "Meu verdadeiro adversário, é a finança", dizia ele...]
A recente conferência de imprensa de François Hollande deu a machadada final nas ilusões dos que ainda alimentavam a ideia de um possível braço-de-ferro entre a França e a Alemanha para travar aquilo que Passos Coelho designa "nova normalidade" - o progressivo desmantelamento do Estado social, qualquer que seja o partido eleito. Perante a pressão política dos interesses económicos e financeiros globais, e seus aliados internos, Hollande declarou a sua convicta adesão à "austeridade expansionista". Como ele próprio em tempos tinha lembrado, "foi François Mitterrand - com Pierre Bérégovoy - que desregulamentou a economia francesa e a abriu amplamente a todas as formas de concorrência. [...] Deixemos, portanto, de vestir roupagens ideológicas que não enganam ninguém" (Serge Halimi, "Le Monde diplomatique", Janeiro de 2014).
Como é do conhecimento comum, a "austeridade expansionista" é uma teoria errada, mas isso pouco importa porque o capital global e a UE continuam a adoptá-la, como sempre fizeram desde que se impôs a liberalização dos movimentos de capitais especulativos. Importa lembrar que no mandato de François Mitterrand, eleito em 1981 com o apoio das esquerdas, o relançamento da economia vinha associado a uma ambiciosa política industrial apoiada por um importante sector empresarial do Estado. Contudo, num ambiente internacional recessivo, o modesto crescimento da procura interna acabou por fazer aumentar os défices público e externo. Estando a França amarrada ao sistema monetário europeu, os capitais especulativos não perderam tempo a dar uma lição ao novo governo socialista. O ataque ao franco obrigou a uma intervenção de larga escala para segurar a cotação da moeda, com a consequente redução das reservas em divisas. Naquele quadro institucional, a política dos socialistas era insustentável. Por isso, no dia 23 de Março de 1983, à noite, Mitterrand tinha pela frente uma escolha com enormes implicações para o futuro da Europa: manter a política económica que tinha sido legitimada em eleições, o que implicava abandonar o SME, contando com a política cambial e o financiamento interno, incluindo o do Banco de França ou, aderir à "desinflação competitiva" (rigor monetário, orçamental e salarial), na expectativa de que uma futura moeda única, eliminando a especulação cambial e reduzindo o poder da Alemanha, viesse a permitir o crescimento com emprego numa Europa social.
Mitterrand preferiu a segunda opção, a conselho de Jacques Delors e contra a opinião de Jean-Pierre Chevènement. Não foi uma escolha inconsequente, já que, ainda antes da derrota de 1986, os socialistas franceses avançaram para a liberalização dos mercados financeiros. De seguida, o Acto Único Europeu concedeu a liberdade de circulação aos capitais, permitindo-lhes a especulação com a dívida dos estados. Como lembra Liêm Hoang-Ngoc, professor de Economia e deputado socialista francês no Parlamento Europeu, a interpretação liberal dos critérios de Maastricht "generalizou-se na década de 90 entre os 13 governos social-democratas e depois entre os conservadores que lhes sucederam, todos felicitados pelos governadores monetaristas dos bancos centrais e pelos comissários que não paravam de impor "reformas estruturais" liberais no que toca à protecção social e aos serviços públicos através de múltiplas directivas" (Refermons la parenthèse libérale, p. 77).
Revisitar a história da substituição do socialismo democrático pelo social-liberalismo europeísta é importante para percebermos o que hoje se está a passar. De facto, Holande não capitulou frente à finança e ao ordoliberalismo, apenas deu continuidade à história do seu partido e da sua família política europeia nas últimas décadas. Em Portugal, também o PS será coerente com a sua identidade. Talvez para eliminar quaisquer dúvidas, afirma em "Um Novo Rumo para Portugal" a fidelidade a "uma Europa política, social e económica com uma dimensão federal" e a necessidade de construir uma alternativa política, mas "Sem demagogias. Sem ilusões".
(O meu artigo no jornal i)
--- Jorge Bateira, 24/1/2014 http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/
Europa gastou um décimo da sua riqueza para salvar bancos
Bancos receberam 1,3 biliões de euros de "auxílio" estatal não-escrito desde que a crise começou
Quanto vale a noção de que os bancos são "demasiado grandes para falir"? Essa garantia, que os mercados avaliam desde que a crise financeira rebentou, em Wall Street, funciona como um aval dos Estados. E vale muito dinheiro. O eurodeputado belga dos Verdes, Philippe Lamberts, coordenou um relatório sobre o valor real dessa ajuda, escondida, ao sector financeiro.
O estudo conclui que as ajudas "implícitas" valem o dobro das que são públicas. 1,3 biliões de euros, em quatro anos. ...(o New York Times e o El País), que recebeu o relatório antecipadamente. ... as principais conclusões e na quinta-feira, na edição impressa, saiba como Lamberts pensa combater esta "DISTORÇÂO dos mercados que cria INCENTIVOS para a ESPECULAÇÃO".
Vinte vezes mais do que o empréstimo da Troika
Desde que a crise financeira começou, com a falência do banco norte-americano de investimentos, Lehman Brothers, em setembro de 2008, a Europa transferiu enormes verbas para "resgatar" os seus bancos. Segundo dados da Comissão Europeia, presidida por Durão Barroso,
foram atribuídos auxílios à banca no valor de 634 mil milhões de euros (oito vezes mais do que o valor do empréstimo da troika a Portugal).
Essas ajudas, tornadas públicas, assumiram três formas:
ajudas à liquidez, empréstimos para a recapitalização e compra de activos "tóxicos".
Houve, ainda, a disponibilização de 492,2 mil milhões de euros em "garantias" à banca, mas esse valor não constitui uma verba que tenha sido, de facto, usada. Era mais uma salvaguarda.
Com todo este arsenal de milhares de milhões de euros, a Europa (Comissão, BCE e Estados Membros) quiseram passar uma ideia: Não deixariam que os seus bancos falissem.
Essa foi, de resto, a razão invocada em Portugal para a nacionalização do BPN (que já custou aos contribuintes um valor próximo dos seis mil milhões de euros).
Salvar os bancos em dificuldades impediria que uma falência contagiasse todo o sector financeiro e, por arrasto, destruísse a própria economia.
Foi assim um pouco por toda a Europa, com o caso mais paradigmático a ocorrer na Irlanda, onde o Estado resgatou toda a banca, com uma "garantia integral sem limites" que
arrastou o país para o programa da troika com um défice orçamental de 32%.
Esta "muralha" que os Estados europeus construíram para salvar a banca tem um preço. Elevado.
Segundo o eurodeputado belga Philippe Lamberts, ela custou 1,330.41 mil milhões de euros. Ou seja, 1,3 biliões de euros.
Para se ter uma noção da ordem de grandeza deste número diga-se que representa 10% de toda a riqueza produzida na Europa.
Representa quase 20 vezes mais que o empréstimo da troika a Portugal.
Esta é a principal conclusão do relatório "Subsídios implícitos no sector bancário da União Europeia" hoje publicado em Bruxelas.
Bancos de países ricos ganham mais
E como se calcula este valor? Lamberts contou com a ajuda do analista financeiro Alexander Kloeck, que analisou detalhadamente as reacções dos mercados financeiros e, nomeadamente, o custo do dinheiro a que os bancos se financiaram desde 2008.
Reparou que a notação (rating) dos bancos europeus, ao contrário dos Estados, conseguiu resistir melhor à crise.
Isso significou que "o custo do dinheiro baixou". Especialmente para os grandes bancos dos países com rating elevado.
"Quanto mais baixo é o risco soberano do país, mais alto é o subsídio implícito para os bancos desse país", revela Kloeck.
Ou seja, um grande banco alemão recebe mais do que um grande banco português, ou grego, ou espanhol.
Isso significa que grande parte deste valor de "subsídios implícitos" do Estado à banca se concentrou, segundo Lamberts, em três países europeus: "Alemanha, França e Reino Unido."
Tudo isto cria "distorções nos mercados", alerta Lamberts. Desde logo, entre o sector financeiro e outros sectores da economia, que sem esta garantia Estatal implícita não conseguem obter financiamento nos mercados a preços tão baixos.
Depois, entre Estados, dentro da União. E entre os próprios bancos.
Com os grandes a receberam muito mais do que os pequenos. Lamberts afirma, no relatório, que "os números demonstram ...
Europa salva Bancos e arruina Estado Social
Europa gastou um décimo da sua riqueza para salvar bancos
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... Lamberts afirma, no relatório, que "os números demonstram claramente que sem estes subsídios as grandes instituições bancárias na União Europeia estariam a declarar perdas substanciais." Mas com este apoio estatal os grandes bancos europeus declararam lucros de 16,2 mil milhões, em 2012.
Dinheiro livre para especular
Perante esta evidência, Lamberts questiona, :
"Porque devem os contribuintes pagar o crédito dos bancos.
O preço a que os bancos estão a financiar-se é fictício. E para que tem sido usado esse dinheiro?
Para estimular o consumo ou, ainda pior, para especular..."
Segundo o último Relatório de Estabilidade Financeira, de Novembro de 2013, do Banco de Portugal
"uma parte significativa das carteiras de títulos das instituições financeiras é composta por activos nacionais, designadamente de dívida soberana, que continua a proporcionar níveis de rendibilidade relativamente altos."
Estarão os Estados a financiar directamente os bancos para que estes inflacionem os juros das dívidas públicas,
provocando dificuldades no financiamento dos Estados, sobretudo dos mais fracos
Essa parece ser a conclusão, também ela implícita, deste relatório.
Ler mais: http://visao.sapo.pt/europa-gastou-um-decimo-da-sua-riqueza-para-salvar-bancos=f766758#ixzz2rcKj5FpR
Como é que se diz depois queixem-se em francês?
(27/1/2014, Ladrões de B., João Rodrigues)
Um espectro percorre a Europa austeritária, mas, hoje, desgraçadamente, é o do crescimento das heterogéneas forças de extrema-direita nas próximas eleições europeias em muitos países. O caso da francesa Frente Nacional (FN), que continua a aparecer à frente nas sondagens para as europeias, é o que tenho acompanhado com mais atenção. Destaco o seu enraizamento popular – metade da classe operária declara votar FN e deteta-se uma forte relação entre desemprego e implantação a nível regional – e destaco a viragem programática operada por Marine Le Pen no campo da economia política: do populismo neoliberal do pai, anti-impostos e anti-regulação, de resto já em mudança desde os anos noventa, passou para uma plataforma que, em certa medida, se apropriou de diagnósticos e propostas elaboradas sobretudo por intelectuais críticos à esquerda, da desindustrialização à desglobalização, passando pelo apontar o dedo ao elefante na loja de porcelana chamado euro.
Com ironia feroz, Frédéric Lordon chama a atenção para a forma como este processo de parasitagem deixa certos sectores da esquerda com complexos, podendo levar, por um medo absurdo de associações espúrias, a um total vazio programático neste campo.
...
...
... enquanto a esquerda não enfrentar os três tabus, diagnosticados por Aurélien Bernier, que foi quem, tanto quanto sei, cunhou a ideia de desobediência, que ajudámos a trazer para o debate nacional –
Europa, Estado-Nação e globalização, ou seja,
-- desobediência a sério,
-- recuperação da soberania no campo socioeconómico e
-- um certo proteccionismo –, ...
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