Sexta-feira, 1 de Maio de 2015
* Recebi uma carta da Autoridade Tributária e Aduaneira (i.e., o Fisco, Finanças )... e tremi.
Não, não era uma coima, processo ou penhora, nem a carta de demissão do seu Director-Geral, nem do tutelar Secretário de Estado.
Era apenas uma carta para não me esquecer de pagar o IMI  (imposto municipal sobre imóveis)…
Não vou aqui falar da injustiça de ser taxado por ter comprado um  apartamento T2  (obrigado pelo desgoverno deste país), numa altura em que era mais caro alugar um apartamento do que pagar a prestação do empréstimo ao banco. 

O que me REVOLTA  é saber que o Ricardo Salgado **  (o ex?- "DonoDistoTudo" )  não recebeu uma carta idêntica (i.e. Não paga IMI ) porque  NÃO TEM imóveis (luxuosa moradia na Qtª da Marinha, Herdade da Comporta, etc, etc.)   declarados em seu nome… (foi o Sec. Est. Finanças, quem o disse).

     Relativamente a impostos  (principalmente IMI, mas também outros), o que me revolta é saber que:
os partidos políticos não pagam.
os fundos de investimento não pagam.
as igrejas não pagam.
as IPSS não pagam.
os sindicatos não pagam.
as associações patronais não pagam.
os estádios de futebol não pagam.
as misericórdias não pagam.
as fundações não pagam.
 ... a especulação financeira, fundiária e terrenos expectantes ... não pagam.
Ou seja, o que me REVOLTA é saber que em Portugal 560 mil imóveis não pagam imposto e o MEU apartamento PAGA!...

PIOR, o que me  REVOLTA  é  SABER  e  quase  NADA  FAZER  ou que o meu interesse e actos para defesa do BEM COMUM, da maioria dos cidadãos, são IMPEDIDOs ou DESFEITOs por uma minoria de PODEROSOS  e uma maioria de ALIENADOS !

  Aliás ** não é só este (ex?- 'bangster' DDT) Riquíssimo Usufrutuário mas indigente contribuinte, ... este OLIGARCA e quase TODOS os RICOS/milionários, as multinacionais/ grandes empresas e seus donos/ maiores accionistas e administradores (gestores de topo e 'consultores', ...) NÃO PAGAM quaisquer IMPOSTOS em Portugal ... (nem IMI, nem IRC, nem IRS, nem IVA, nem IUC, nem NADA !!!)... 
   pois,  todos os seus
    BENS (quintas/ herdades, palácios, casas, carros, aviões, helicópteros, barcos, aparelhos, ...),
    RENDIMENTOS (salários, dividendos, prémios, comissões, ... juros, rendas) e
    COMPRAS (almoços, hotéis, viagens, prendas, computadores, telefones, relógios, jóias, revistas, ...
    SERVIÇOS de médicos, advogados, colégios, férias, ginásios, electricidade, domésticos, jardineiros, motoristas, amantes, ...)
    estão/ são feitos EM NOME DE empresas (contas e cartões) com sede em 'OFFSHORES / paraísos fiscais !! !!
     Assim, e sabendo nós que :
--. os Pobres também Não Pagam (IMI, IRS), porque não têm rendimento suficiente declarado, nem casa própria, ... nem emprego legal e continuado); e que
--. muitos trabalhadores por conta própria e donos de PMEmpresas fogem aos impostos (IRC, IVA,...), não declarando todas as receitas ou deduzindo tudo e mais alguma coisa nas contas da empresa ...;
--. restam aqueles que NÃO têm hipótese de FUGIR aos IMPOSTOS : a classe média, em especial os trabalhadores por conta de outrem !!     São estes que PAGAM tudo e fazem o Estado funcionar.
 
    Mas ...  quem acham que tem mais 'peso' cívico-político (nas eleições, nos partidos, nas campanhas, nas atenções dos políticos e governos, nas medidas económicas) ??
    Claro que não é a classe média (embora educada... é muito desunida e diversificada) e muito menos o segmento dos trabalhadores por conta de outrem da classe média ...
 
   Quem mais beneficia (e 'suga' e manda) neste Estado (capturado e neoliberal) são:
--. os membros da privilegiada classe alta, o topo 1% especialmente,  (por via de fugas aos impostos, isenções, concessões, contratos e PPP ruinosas para o Estado mas lucrativas para os privados, detenção de cargos/ tachos e privilégios, etc.),  que, com o seu poder económico financeiro e poderosos lóbis, apoiam/compram e ameaçam políticos e governantes, controlam/ manipulam TVs, jornalistas, académicos, comentadores, capatazes, caciques, ... audiências e votos;
--. os da classe pobre recebem alguma coisa (embora sejam migalhas, mas porque são muitos pesam...), o indispensável para os continuar a manter iliteratos, enganados, alienados e explorados;
--. e a classe média ? ah esses são para enfraquecer/ ESPREMER cada vez mais (com impostos e cortes nos rendimentos e direitos sociais !) e esmagar a sua liberdade e capacidade de pensar e questionar o alto poder, o 'sistema' e os agentes do regime (neoliberal local e global ) !!!
     São estas condições/ factores e este ciclo vicioso que levam a nação/país/Estado ao DESASTRE (pobreza, desigualdade, alienação, corrupção, injustiça, crime, ditadura, ...) e/ou a uma Revolução. 
     Para se obter/viver numa sociedade desenvolvida e mais democrática o objectivo deveria ser :
fortalecer e alargar cada vez mais o nº de cidadãos na classe média (o oposto do que está a acontecer em Portugal, pois está a ser  reduzida e empobrecida); reduzir a pobreza e as aberrantes desigualdades económicas e de acesso, promover a ascensão social, a educação, a saúde, o trabalho digno, a justiça e a transparência...
-------
(* Adaptado do comentário «IRS e IMI só PAGA a classe média.» ao post "Impostos 2011 a 2015 mas há mais ... e menos disponibilidade familiar", de 29/10/2014, Luminaria


Publicado por Xa2 às 07:53 | link do post | comentar

14 comentários:
De Téc. superior, "privilegiado", ... a 4 de Maio de 2015 às 16:45
Ser técnico superior no país da austeridade, (por Luís Capucha Pereira ,4/5/ 2015, Manifesto 74 )
7Série "Ser no país da austeridade"

Sou o Luís, tenho 34 anos, e dizem que sou um privilegiado. É o que me fazem crer, e a realidade, muito sem eu querer, obriga-me a anuir – tenho trabalho, dos mais estáveis e dos que apresentam melhores condições.
Nunca ganhei muito, mas o salário nunca atrasou.

No entanto, desde 2008 que não tenho aumentos. Um terço do meu salário esvai-se em impostos diretos.
Já não era bom, mas tem piorado, fruto da sobretaxa de 3,5% em IRS, do aumento dos descontos para a ADSE, eu sei lá!, até tenho medo de olhar para o meu recibo de vencimento…
Como sou um privilegiado, impuseram que trabalhasse 40h semanais como os restantes trabalhadores portugueses, também eles privilegiados, mas um pouco menos.
Como sou um privilegiado, impuseram que tivesse 22 dias de férias, e não 25, como os restantes trabalhadores portugueses, também eles privilegiados, mas um pouco menos.
Como sou privilegiado, retiraram-me quatro feriados – um privilégio para todos os trabalhadores portugueses: esses privilegiados de grau diverso. (É preciso… pois!)
Tenho a minha carreira congelada e, quando descongelar, sei que vou demorar 10 anos para progredir um pouquinho, para esperar mais dez anos para progredir mais outro pouquinho e, assim, de dez em dez anos, até à reforma cansada (com sorte e o colesterol controlado talvez dure além da esperança!).

Perdi, nos últimos cinco anos, 25% do meu poder aquisitivo.
Sou o Luís, tenho 34 anos e dizem que sou um privilegiado porque tenho trabalho, dos mais estáveis e dos que apresentam melhores condições - se me portar bem, não tenho que emigrar.
Trabalho numa Câmara Municipal. Não conheço ninguém cujo sonho seja, ou tenha sido, trabalhar numa Câmara Municipal!

Mas... licenciatura em engenharia terminada (paga a sacrifícios familiares),
perspetivas incertas como profissional de teatro, pouco useiro em anglicanismos e
com pouco acesso a patrocínios para arriscar profissão de entrepreneur, dado a utopias emancipatórias que recusam a apropriação das mais-valias do meu trabalho,
racionalizei - muito cá para mim - que trabalhar na função pública era trabalhar para todos e por todos
e que o concurso para estágio profissional que decorria era uma boa oportunidade.

Concorri e entrei. Em 2007, trabalhar numa Câmara Municipal dava-me perspetivas.
Em 2015, oito anos depois, ganho efetivamente menos do que quando entrei, como estagiário profissional;
a perspetiva que tenho é a de que, quando me reformar daqui a trinta anos (?), possa ganhar aproximadamente mais 200€ do que aquilo que ganhava em 2007.
De que serve mais um mestrado, mais uma formação avançada, mais uma e outra e outra formação,
e a dedicação às populações que a autarquia serve?
(Que me livrem e guardem de parecer mal-agradecido!)
-------------------------
Olho à minha volta:
quantas vezes duvido que esta malta desmotivada e desiludida ainda saiba o que é sonho?
O entusiasmo ao revés que advém do facto de, neste momento, trabalhar num município português talvez faça deste texto um exercício de escrita trágica e cansada. Sonho?

Somos o resultado dos sonhos enviesados dos que nos governam - o Soares sonhou e olhem para nós cá na Europa connosco lá;
o sonho húmido do Sá Carneiro é a espuma bolorenta dos nossos dias…
É o sonho deles que comanda a nossa vida, o que querem que diga?
Como sonhar numa realidade que confunde a esperança e o futuro dos homens com um exercício de estatística?
É mais fácil acreditar na minha estreia no D. Maria e na apresentação do meu mais recente livro na Feira Internacional de Paraty, que terei que conciliar com a preparação do dueto com o Leonard Cohen…
-------------------------
(Pronto: já me acalmei…)
Esta crónica teve dezenas de começos e, agora que me aproximo do fim, ainda não sei se sei escrever sobre o que me propus.
Sou o Luís, tenho 34 anos e chateia-me chamarem-me privilegiado porque trabalho numa Câmara Municipal.
Mas vivemos numa sociedade de mínimos e de devoção às inverdades – enleiam-nos no discurso das inevitabilidades
e é mais fácil culpar o funcionário público mais à mão,
numa fuga para a frente que é a génese do ódio.

Não condescendo. ...


De Func. Público, "privilegiado", ... a 4 de Maio de 2015 às 16:52
Ser técnico superior no país da austeridade,
...
...
... Não condescendo. E prefiro não atacar moinhos.
Para toda a culpa há culpados e para todo o problema há solução.
Não estou sozinho. Sim, resisto e resistimos. Sim, luto e lutamos.
Sim, claro, há sonho em mim e há sonho em nós.
Sim, há o desejo de fazer um bom trabalho, um trabalho digno, que facilite a vida aos munícipes, que lhes proporcione uma boa qualidade de vida, que enquadre a sua felicidade.

Sim, queremos afirmar e reforçar os nossos direitos, pelos quais tanta gente lutou e que tanto custaram a conquistar.
Sim, é uma tarefa hercúlea encontrar e inspirar motivação, mas faz-se - dia a dia.
Sim, quero ser feliz e sonhar sempre.
E não o quero fazer sozinho.
Sou o Luís, tenho 34 anos e tenho o privilégio de trabalhar para todos e por todos numa Câmara Municipal.

*Blogger Convidado
Luís Capucha Pereira, Técnico Superior na CMVFX
-------------
Nota de referência:
A luta de classes é o motor da História, e por isso é preciso ir oleando a engrenagem.
A luta do Manifesto74 é feita com palavras.

É por isso que aqui não há colaboradores, empreendedores e empregadores.
Escrevemos trabalhadores, empresários e patrões.

Nesta luta temos o nosso lado bem definido. Estamos com os trabalhadores e as suas famílias, com os explorados e oprimidos.
É para estas pessoas que escrevemos.
São estas pessoas que queremos escutar.

Publicaremos aqui uma série de textos de profissionais de várias áreas onde simplesmente lhes pedimos que nos falassem da sua profissão, do seu trabalho, do seu dia a dia.

As palavras, as reflexões, as propostas, as denúncias, as exigências são de quem as escreve.

Que os seus testemunhos sirvam para esclarecer e alimentar o debate.
Que as palavras acrescentem força à luta e com eles se fortaleça.


http://manifesto74.blogspot.pt/2015/05/ser-tecnico-superior-no-pais-da.html#more

---------

a mesma idade, a mesma situação profissional com a duração de menos dois anos apenas e... ASSINO POR BAIXO!!!

Dizem mesmo que somos privilegiados e com uma arrogância que nos quer remeter para o silêncio e para conformidade porque...
AFINAL SOMOS PRIVILEGIADOS!!!
Não, não somos!!!
E temos direitos e sabemos que não nos devemos calar!

"Como sou um privilegiado, impuseram que trabalhasse 40h semanais como os restantes trabalhadores portugueses, também eles privilegiados, mas um pouco menos.":
Como somos tão privilegiados e sob a égide da igualdade entre o privado e público impuseram-nos trabalhar 40 horas
mas, ao contrário do privado, recebemos o mesmo ou seja, o valor hora diminui substancialmente!

Mas, somos privilegiados! Eu considero que, essencialmente, não somos resignados e, lutamos para que doravante os "privilegiados", numa acepção diferente da mencionada,
existam de facto porque o direito ao trabalho com todos os seus direitos inerentes estão presentes na Constituição de Abril.
Aquela que faz tanta comichão a tanta gente mas, que é das mais progressistas do Mundo!

R. G


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