Segunda-feira, 20 de Abril de 2015
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Verdade e poder
(por VIRIATO SOROMENHO MARQUES, 24/4/2015, DN)
Quem julga que no Eurogrupo de hoje se vai discutir a Grécia com argumentos racionais, está enganado.
Depois de cinco anos de austeridade imposta pela troika, a Grécia perdeu mais de 25% do seu PIB, viu a sua mão-de-obra jovem e qualificada partir.
As receitas impostas por Bruxelas e Berlim, com a cumplicidade do FMI, fizeram os gregos, de todas as classes sociais, descer aos níveis de rendimento de 1980.
Se para Schäuble e Dijsselbloem o que estivesse em cima da mesa fosse a verdade objetiva, então valeria a pena reconhecer que
é altura de mudar de política, pois a receita de austeridade revelou--se uma máquina de fazer pobres em toda a periferia, ameaçando a integridade e a viabilidade da própria união monetária.
Se o que está em cima da mesa fosse garantir que os 240 mil milhões de euros dos dois resgates gregos serão devolvidos aos contribuintes europeus que os pagaram (para salvar a banca francesa e alemã que financiou a megalomania dos conservadores gregos),
então, talvez fosse útil escutar o governo grego, que, para poder honrar as suas dívidas, pretende mudar o rumo da economia, criando emprego, aumentando as receitas fiscais, dando confiança aos consumidores.
Infelizmente, para o democrata-cristão Schäuble e para o socialista Dijsselbloem, o que está em causa na negociação com Varoufakis e Tsipras não é o poder dos argumentos, mas os argumentos do poder.
Puro e duro. Schäuble e Dijsselbloem querem continuar a impor as suas teses absurdas à Grécia, não por essas teses serem corretas, mas simplesmente
porque se sentem com poder para obrigar Atenas a engoli--las outra vez.
Para mal da UE, e não apenas de Atenas,
a Schäuble e Dijsselbloem não lhes faltam a determinação e a disciplina que fazem da banalidade do mal uma incontornável força histórica.
--- http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4529462
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