Sexta-feira, 26 de Setembro de 2014

Os  trabalhadores  que  paguem  a  si  próprios     (-por J. Gusmão,

Parece que a CIP já "admite" (sic) uma subida do salário mínimo para os 505 euros, mas sublinha que estes acréscimos têm de ser "compensados". Os representantes dos patrões querem uma descida da TSU para "compensar" o aumento "principesco".
   Na mesma notícia recorda-se que, já em 2010, o aumento do salário mínimo foi "compensado" com uma redução de um ponto percentual na TSU (taxa social única, para a segurança social). A linguagem e raciocínio das nossas elites são todo um programa, que merece ser escrutinado:
   1. Em primeiro lugar, aquilo a que se chama o "aumento do salário mínimo" é, na realidade, menos do que uma actualização. Mesmo que o comparemos a anos de referência mais recentes (2007 ou 2011), os valores em debate não chegam a repor o poder de compra perdido;
    2. Nesse sentido, não se percebe porque é que os patrões hão-de ser compensados pela actualização do salário mínimo, ou mesmo, por um aumento real que acompanhasse o aumento da produtividade, como tanto têm pregado os economistas liberais.
    3. A "compensação" que exige a CIP para "admitir" a menos-do-que-actualização do salário mínimo consiste na mobilização de recursos da segurança social, ou seja, da reforma, para pagar o salário actual.  O trabalhador paga com a sua reforma a actualização do seu salário. Paga a si próprio. O saldo de tudo isto é uma redução real do salário mínimo associada a uma redução nominal da reforma futura.
    4. Esta operação serve ainda dois propósitos políticos:    (a)  antecipa rendimento da reforma futura para o salário actual, (minora a miséria actual aumentando a miséria futura)  e puxa ligeiramente pela procura actual à custa do Sistema de Segurança Social e     (b)  dá mais um contributo activo (com tantos outros) para a descapitalização da segurança social que continuará, claro, a ser atribuída a "factores demográficos".
    Isto sem entrar noutros dossiers como a contratação colectiva ou as horas extra, que governo e patronato já prometeram por em cima da mesa como moeda de troca, sempre no espírito da "compensação":    se os trabalhadores não quiserem continuar a perder (tanto) salário terão de perder direitos.   Se for esta a proposta final, só espero que tenhamos unidade sindical na sua rejeição.          A ver vamos...
-------

Anónimos:

-- Vemos, não sem surpresas, alguns vociferarem contra o salário mínimo.     Estes avanços civilizacionais são uma chatice.    Sobretudo se são exactamente os mesmos que justificavam a fuga aos impostos do soares dos santos e a gestão de topo dos banqueiros e coisas afinsOra vamos lá a colocar os pontos nos is.
-- Alguém fala em "produtividade" da forma superficial (e com manha?) a que nos habituou a imprensa fidelizada que repete as atoardas governamentais (que por sua vez replicam os desejos do grande patronato).   É bom lembrar um post de Ricardo Paes Mamede (que devia ser repetido até à exaustão):  http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2013/02/pela-n-esima-vez-produtividade-do.html 
-- Quanto às "apressadas" tiradas sobre a segurança social e o véu nebuloso que cobre as negociatas do neoliberalismo em curso. Ou o silêncio (provavelmente da falta de memória que agora acomete os desbragados troikistas) das transferências dos fundos de pensões e outras jogadas próprias de telenovelas de baixo-nível:  http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2012/STI-Viseu.pdf



Publicado por Xa2 às 07:49 | link do post | comentar

7 comentários:
De SMN: ofensas ao País e à inteligência. a 6 de Outubro de 2014 às 12:39

O dia em que ofenderam o país

(-por Mariana Mortágua, 3/10/2014 Expresso)

O dia em que Paulo Portas e Passos Coelho
-- ofenderam o país foi o dia em que transformaram o Salário Mínimo Nacional (SMN) num instrumento de campanha eleitoral.
O acordo, anunciado com aquele jeito muito próprio de quem sabe partilhar uma garrafa de Murganheira, já existia desde 2011.
Foi o Governo que chegou tarde e sem compromisso de futuro.
O aumento é pontual, como convém, e, ao contrário do anterior (suspenso pelo governo Sócrates), não faz parte de qualquer estratégia de valorização do trabalho no longo prazo.

--O dia em que Carlos Silva, secretário-geral da UGT, ofendeu o país, foi o dia em que considerou 'justo' o 'aumento' do SMN para €505, esquecendo-se que o 'aumento' de 20€ não chega sequer para compensar a inflação desde 2011.

--O dia em que Mota Soares, o Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, ofendeu o país, foi o dia em que deixou de ver o salário mínimo como um mecanismo de combate à pobreza e de defesa da dignidade dos trabalhadores,
para o transformar num mecanismo de chantagem sobre a produtividade.

É insultuoso, num país onde 14% dos trabalhadores por conta de outrem sobrevivem com o SMN, e 41% não ultrapassam sequer os 600€, brutos!
Talvez por isso, para uma em cada dez pessoas, o trabalho não chega para fintar a pobreza, mesmo já contando com as prestações sociais.

--- É perverso, porque as empresas menos produtivas são exatamente aquelas onde se faz trabalho menos qualificado e mais mal pago
e, portanto, o resultado prático é condenar estas pessoas a um salário que devia envergonhar um país que se diz 'desenvolvido'.

--E é ignorante, porque a produtividade não depende do esforço dos trabalhadores.
Depende do investimento em setores de mais ou menos valor acrescentado, com mais ou menos intensidade tecnológica,
que trabalham em economias com mais ou menos custos de contexto, mais ou menos competências, e
com melhores ou piores estratégias empresarias e de política económica.

--O dia em que Mota Soares, o Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, ofendeu duplamente o país, foi o dia em que retirou 23 milhões ao Orçamento da Segurança Social para 'compensar' os patrões pelo aumento do SMN.
Das duas, uma:
ou é a Segurança Social que se descapitaliza (para que depois o governo venha dizer que não é sustentável),
ou então são os contribuintes que vão ter de compensar a borla aos patrões.

--O dia em que o Governo ofendeu o país foi o dia em que permitiu que Bruxelas mandasse um porta-voz avisar o país que a Comissão Europeia está desagradada com o 'aumento' do Salário Mínimo, e que 'vai avaliar a decisão', sabe-se lá com que consequências.
Porque, claro, neste país arrasado pela austeridade,
onde se pagam swaps especulativos a bancos agiotas,
PPP com rendas leoninas,
e se amparam todos os golpes de banqueiros sem escrúpulos,
a preocupação de Bruxelas, e partilhada pelo governo, é sobre os impactos negativos de um aumento miserável de um salário, já ele, miserável. É o avesso da decência.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-dia-em-que-ofenderam-o-pais=f892015#ixzz3FMbKe79B


De Salário Mínimo p. subdesenvolvidos a 6 de Outubro de 2014 às 12:48

Portugal low cost

Apesar de se tratar de um mero descongelamento salarial e da aplicação incompleta e atrasada de um acordo;
apesar da absurda compensação dada aos empregadores, em sede de TSU, pelo incómodo de terem podido congelar durante três anos os salários mais baixos;
apesar de termos um salário mínimo mais baixo do que os dos países que dominam a política europeia, mesmo em comparação com os respetivos PIB, Bruxelas ficou desagradada.
Parece que a ideia era especializar Portugal no "low cost".
Um exército de miseráveis a produzir mau e barato.

(-por Daniel Oliveira , 1/10/2014, Expresso)

O Salário Mínimo Nacional (SMN) não vai propriamente ser aumentado.
Vai ser descongelado, depois de quatro anos de perda real do seu valor.
A sua atualização deixa-o abaixo do valor que tinha em 2007.
Os parceiros sociais tinham acordado atualizar o salário mínimo em 500 euros, em 2011.
Ele chega aos 505 no final de 2014.
Resumindo:
os trabalhadores foram prejudicados e os empregadores que pagam salário baixos foram beneficiados.
Conseguiram, à custa dos salários mais baixos, reduzir os seus custos em trabalho.
Apesar do congelamento e do não cumprimento do acordado em sede de concertação social, não foram os trabalhadores os compensados pelas perdas que sofreram.
Foram os empregadores que pagam salários mais baixos.
Como compensação por terem reduzido, durante três anos, o valor real dos salários que pagavam e por terem visto adiado o cumprimento do acordo que assinaram receberam uma redução em 0,75 pontos percentuais da TSU.
Bónus que terá de ser pago pelas nossas reformas.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/portugal-low-cost=f891735#ixzz3FMdwz16j


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