Quarta-feira, 5 de Fevereiro de 2014

      Mulheres  sem  medo   (-por Ana C. Câmara, Sol, 2/2/2014)

.   ... Na capital capital do estado de Uttar Pradesh – um dos mais pobres da Índia –, (o grupo feminino) Brigada Vermelha leva uns anos de vida a repor alguma ordem na cidade, trajando preto e vermelho, as cores do protesto e do perigo.  O grupo (de auto-defesa de raparigas e mulheres) nasceu após uma professora ter sido alvo de uma tentativa de violação. Quis apresentar queixa, mas a Polícia não fez caso. O agressor permaneceu impune. Usha Vishwakarma acabou por descobrir que todas as suas alunas já tinham vivido experiências de abusos com homens – no plano verbal ou físico. E disse basta.”A ideia é humilhar os homens. E estamos no nosso direito, é autodefesa. A Polícia não nos apoia e temos de nos defender”, contou a docente à CNN.

Em grupos de cinco, as jovens abordam rapazes ou homens que andam a assediar mulheres e avisam-nos de que esse comportamento tem de acabar. Se o alvo não dá importância à mensagem, as jovens da Brigada Vermelha avançam para o passo seguinte: a humilhação pública – o terror na machista sociedade indiana.

Em casos pontuais, admitem recorrer a estalos. E estão preparadas para isso, com aulas de artes marciais onde aprendem técnicas que podem salvar-lhes a vida.

------------   V, de Violação

   Mais uma violação colectiva, numa zona rural da Índia, voltou a revoltar o país. Mas as grandes manifestações de Dezembro de 2012, que levaram milhares de pessoas para as ruas de Deli a exigir uma justiça mais célere e dura, parecem ter ficado para trás.

     Por ter sido encontrada com um homem numa cabana da aldeia, numa zona remota da Índia, uma mulher de 20 anos foi condenada a violação colectiva, na semana passada. A família não tinha como pagar 27 mil rupias (pouco mais de 310 euros) da multa aplicada pelo conselho tribal, o que levou o ancião de Subalpur a ordenar aos homens que "usufruíssem dela", segundo disse a vítima à Polícia. O relatório médico estima que W – a vítimas de violação – terá sido violada por entre 5 e 15 homens. 13 foram detidos. O lugarejo de Subalpur reagiu, aliando-se contra W.

     Há um muro de negação – e de silêncio – naquela aldeia do estado nortenho de Bengala Ocidental. Os habitantes não refutam que, na segunda-feira da semana passada, W foi surpreendida numa das cabanas com outro homem, casado, de uma aldeia vizinha. Nem que ambos foram atados a uma árvore, enquanto o conselho tribal resolvia a punição que o caso merecia, dado que relações com membros de outras comunidades são proibidas – para mais com um muçulmano. Nem tão-pouco que a sentença foi uma multa (que a família do homem infractor conseguiu pagar). ...

     Os conselhos tribais, de minorias étnicas que habitam regiões isoladas do país, regulam os povoados e gerem as disputas, em lugares onde a justiça tarda e é vista com desconfiança. "É assim que fazemos. Não vamos à Polícia. Se há um problema, resolvemo-lo entre nós", explicou Fulmoni Tudu, de 40 anos, cujo marido está entre os 13 detidos.

    Segundo conta o Guardian, W estava longe de ser acarinhada pela comunidade, onde a esmagadora maioria não sabe ler nem escrever. Há quatro anos, tinha decidido trabalhar em Deli: a mais de 1.600 km de distância, é quase o mesmo que dizer que se mudou para outro planeta, numa terreola onde os vizinhos nunca chegaram sequer à cidade mais próxima, Suri, a 35 km dali.

   "Os nossos homens trabalham no campo. Nós ficamos com as crianças. Porque é que algum de nós iria para uma cidade, a não ser para fazer alguma asneira?", questionou Manika Tudu. W teria arranjado um trabalho numa cozinha em Deli, mas em Subalpur dizem que era prostituta.

    A jovem relatou às autoridades que foi levada para outra cabana e repetidamente violada durante a noite. ...Fechada em casa e ameaçada de represálias caso saísse, W escapou graças à mãe e a dois irmãos que, dois dias depois, conseguiram levá-la a uma clínica – de onde foi transferida para um hospital, devido à gravidade dos ferimentos. Daí ao alerta da Polícia foi um passo.

          O caso Nirbhaya

    A história de W não provocou até agora as ondas de choque do caso Nirbhaya – nome que significa ‘sem medo’, dado à estudante universitária de 23 anos que em Dezembro de 2012 foi violada e espancada por seis homens num autocarro em Nova Deli.

    Após a morte da jovem, que não resistiu aos ferimentos, milhares de pessoas tomaram as ruas da capital e enfrentaram a Polícia, para exigir mais segurança para as mulheres.  "Não posso vestir o que quero, não posso ir onde quero sem ter homens especados a olhar para mim... Onde está a minha liberdade?", perguntava uma manifestante. "Ela podia ter sido eu", reconhecia outra, identificando-se com a vítima.

    Mas essa empatia por uma universitária, que motivou multidões na megacidade de Deli, não tem eco quando se trata de uma jovem analfabeta de um meio rural, num país a desenvolver-se num colete-de-forças de castas, onde o machismo impera apesar de milhões venerarem no dia-a-dia as mais variadas divindades femininas.

    Mais impacto teve a notícia, em meados de Janeiro, da violação e assalto de uma turista dinamarquesa de 51 anos, em Nova Deli, por cinco homens – três já foram detidos. Ou o caso da polaca violada por um taxista que a levava (e à filha) para a capital indiana. Ou a suíça que no ano passado também foi vítima de uma violação colectiva no centro do país. Ou ainda a história de uma cidadã britânica que para escapar a uma agressão saltou pela janela do hotel em Agra, a cidade do Taj Mahal.    Esse impacto, teme o Governo indiano, pode reflectir-se no turismo  : os números são de crescimento, mas registam desaceleração (9,3% em 2010; 13% em 2011; 5,4% em 2012 e 4,1% em 2013, segundo o Ministério do Turismo).

Dados do Gabinete de Estatísticas Criminais, do Ministério da Administração Interna indiana, referem que a cada 22 minutos uma mulher é violada

     Após o caso Nirbhaya, o Governo instituiu uma comissão para rever a legislação sobre a violência sexual contra mulheres. Daí resultaram várias medidas, como a criação de tribunais ‘rápidos’, que obrigam a que um julgamento por violação tenha sessões diárias até à sentença – mas a pesada máquina judicial continua lenta (e denegando justiça).

     Também se alargou a pena de morte para violadores reincidentes ou em casos de violação que levam à morte das vítimas. À excepção de um menor que foi condenado a três anos e outro réu que apareceu morto na prisão, os agressores de Nirbhaya foram sentenciados à morte – uma medida que vai contra as opiniões das organizações que defendem os direitos humanos, como a Human Rights Watch, que, no relatório publicado no início do ano, chamou a atenção para o facto de a lei indiana ainda não ter medidas eficazes "para a protecção das vítimas ou das testemunhas".

   Mesmo com mudanças – como obrigar os polícias a aceitar queixas por agressão sexual –, estas organizações avisam que a maior dificuldade será implementar as leis quando, por exemplo, apenas 7% do efectivo policial é constituído por mulheres. E quando se estima que só um em cada 100 ataques é comunicado às autoridades.  ...



Publicado por Xa2 às 07:42 | link do post | comentar

2 comentários:
De Política d'ouro vs 'cheta' cidadãos 2ª a 11 de Fevereiro de 2014 às 10:07
--'gold': Vistos, tribunais, impostos, burocracia, ... para estrangeiros e elite rica...
--'cheta' para o povo (cidadãos de 2ª e 3ª): os direitos são cortados, negados, atrasados/adiados, reduzidos, ... e as Pessoas são pisadas, espremidas e expulsas !!

Já sabíamos que 'eles' não viviam no mesmo país (da dificil realidade) que nós, aliás actuam como se estivessemos noutro mundo !!

Agora, está tudo 'legalizado', sub-vivemos na:
« República Apartheid da europa far West » !!

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Golden Age

(-por carlos carujo, em 09.02.14, http://linhasdaira.blogs.sapo.pt/ )


O PS propõe juntar às políticas de visto gold para investidores ou craques internacionais das ciências os tribunais gold para «investidores» estrangeiros. A ideia é oferecer resolução mais rápida de conflitos através de um «tribunal com uma competência especializada para apreciar os conflitos emergentes das relações contratuais onde está envolvido investimento estrangeiro».

Ao que se pode ler aqui e do ponto de vista de um leigo absoluto nestas matérias, a proposta não é nada clara. Fica a ideia de uma trapalhada ad hoc «dependendo das verbas envolvidas, algo que seria definido consoante o contexto económico, por exemplo anualmente.» E fica a incerteza do âmbito de aplicação: os conflitos com outras empresas são claramente nomeados mas estaremos também a falar em conflitos com o Estado português ou com os trabalhadores? Como se garantem direitos processuais de defesa que impliquem tempo se o determinante é a pressa de resolução? É uma via verde ou implica mesmo o que parece: tribunais especiais que só julgam este tipo de casos? É recíproco ou unilateral, ou seja, se um/a trabalhador/a for despedido/a ilegalmente de uma destas empresas será também resolvido em prazo dourado ou limita-se a ser no que diz respeito aos interesses do «investidor»?

A via verde na justiça cria não só um regime de um país, dois sistemas mas, sobretudo, institui a desigualdade no direito ao acesso à justiça. E isto é, do ponto de vista democrático,inaceitável.

Com esta proposta, o PS entra imponderadamente na insana corrida louca ao ouro, cede à mitificação do investimento estrangeiro e dos/as investigadores/as estrangeiros e contribui para as simétricas respostas nacionalistas a troco da promessa de milhões em investimento e de empregos. Só que é preciso sublinhar que a política dourada é a que vende facilidades a alguns mantendo ou reforçando as dificuldades de todos. Os vistos dourados são a outra cara de Lampedusa, de uma Europa cúmplice das mortes de milhares de pessoas. Os vistos para craques cientistas são a outra cara da política de destruição da ciência indígena,da precariedade e do êxodo forçados de investigadores/as. Os tribunais dourados serão a outra cara de uma justiça injusta lenta e absolutamente desigual.

A idade do ouro neoliberal é a institucionalização da desigualdade em nome dos negócios. Começa como um visto, uma bolsa ou tribunal. Onde acabará?


Tags: neoliberalismo ps


De Crime e Prostituição... a 28 de Fevereiro de 2014 às 10:19
Onde o Código Penal não deve ser chamado

(-por Vital Moreira,27/2/2014 , http://causa-nossa.blogspot.pt/ )


Esta semana no Parlamento Europeu votei contra uma recomendação de criminalizar os clientes de PROSTITUIÇÃO.

Seja qual for o juízo que fizermos sobre a prostituição em si mesma, tenho por certo que a criminalização dos clientes de um serviço sexual voluntário entre adultos não seria uma solução adequada, por mais positiva que se julgue ser a chamada "solução nórdica" (o que está longe de ser consensual).
Sempre defendi que a criminalização é uma solução de último recurso e que há áreas em que ela pode ser um problema, mais do que uma solução. Esta é uma delas.
No caso, a criminalização só contribuiria para clandestinizar a prostituição e para tornar ainda mais vulneráveis as prostitutas (e já agora os prostitutos...) à sua exploração por "gangs" organizados e pelos proxenetas.

Tudo o que importa ser penalizado nesta matéria já é crime:
tráfico de mulheres, prostituição forçada, exploração económica da prostituição.

Deixemos de lado o Código Penal lá onde ele não é chamado.


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