Terça-feira, 15 de Novembro de 2016

---- Where the Democrats Go From Here.      (via Entre as brumas...)

«I am saddened, but not surprised, by the outcome. It is no shock to me that millions of people who voted for Mr. Trump did so because they are sick and tired of the economic, political and media status quo.» --Bernie Sanders (Dem., USA)

 ----  O sistema por outros meios

  Daniel Oliveira, no Expresso de 12.11.2016. (via Entre as brumas...)
---- A seta da história, o progresso, a Tina e Trump
 José Pacheco Pereira, no Público de hoje (via Entre as brumas...)
«No debate à volta de Trump há uma contínua recorrência de um argumento que vai de uma interpretação da história para a política e que curiosamente é usado quer à esquerda, quer à direita. Esse argumento pode ser enunciado da seguinte forma simples: “não se pode voltar para trás”, na história há o “velho” e o “novo” e a tentativa de manter o “velho” contra o “novo” é inútil e reaccionária, a história “anda sempre para a frente”. Quando se traduz esse argumento nas várias partes em que é usado, encontramos diversas variantes que vão do pregressismo comteano à esquerda ao “não há alternativa” (Tina) à direita, tendo todos em comum a ideia de que na história há uma seta do tempo que define um “progresso”, e que, a partir dela, se pode definir e classificar determinados eventos como indo no sentido da história e outros não. (…)
     É interessante verificar como a eleição de Trump nas suas interpretações é vista à luz desta teoria da história. Nesse sentido, repetem-se muitos argumentos do "Brexit", muita discussão sobre a globalização, muita da transposição social e política daquilo que se entendem ser os efeitos das novas tecnologias, muito do deslumbramento psicológico com as “redes sociais”, os “mundos virtuais”, etc., etc. (…)
    O anátema do “velho” é hoje um instrumento do conflito social usado como classificação para homens como Jeremy Corbin ou Bernie Sanders que são o “velho Labour” ou o “velho socialismo dos anos 60”, para os jornais em papel que estão caducos, porque ler em papel está “ultrapassado” por “ler” nos telemóveis, para justificar a desregulação, a Uber, o fim da privacidade, o trabalho precário, tudo aquilo a que nos temos de “habituar”, porque é o “mundo novo” que as “novas” tecnologias e globalização trazem inevitavelmente, tornando “ultrapassado” as soberanias, o proteccionismo, as nações, e por aí adiante. (…) Foi do “caixote do lixo da história” que se levantaram muitos milhões de eleitores de Trump, dos campos ignorados pela nossa ideia da América, das cidades industriais póstumas, de uma coorte de pessoas a quem a crise financeira tirou as casas e os rendimentos e as fez passar de uma vida que lhes parecia mais digna para outra muito menos digna. (…)
    A vontade de mudar, o elemento mais decisivo nestas eleições, foi parar às piores das mãos, mas foram as únicas que lhes apareceram. Quando Bernie Sanders, outro “antiquado”, cuja candidatura “falava” para estas mesmas pessoas, foi afastado – conhece-se hoje o papel de um conjunto de manobras dos amigos de Hillary Clinton no Partido Democrático –, ficou apenas Trump. E, como já disse, não tenho a mínima simpatia por Trump, a mínima. Mas tenho uma imensa simpatia pela vontade de mudar, que tanta falta faz nos dias de hoje nas democracias esgotadas na América e na Europa.»


Publicado por Xa2 às 19:15 | link do post | comentar

2 comentários:
De Mídia manipula democracia e liberdade. a 24 de Novembro de 2016 às 12:03
----- O sucesso das notícias falsas

No Público de hoje, José Vítor Malheiros aborda o tema que está na ordem do dia, num texto intitulado «Menina de sete anos grávida pela segunda vez»:

«O título desta crónica reproduz o título de uma reportagem publicada neste jornal no dia 18 de Junho de 1993. A reportagem era assinada pela jornalista Tereza Coelho (1959-2009) que, no primeiro parágrafo, desvendava a razão do título: “É sobre o concerto de Donovan na quarta-feira em Lisboa, mas com outro título ninguém lia. (…)

Não havia, da parte da jornalista, a mínima intenção de defraudar os seus leitores – tanto mais que a artimanha era desmontada nas primeiras linhas do texto (…) Mas a verdade é que a provocação de Tereza Coelho punha em evidência a perversidade do jogo em que a imprensa estava a mergulhar para garantir as audiências que assegurassem a sua sobrevivência. (…)

Uma notícia falsa atrai mais leitores precisamente porque é falsa. Porque o conteúdo pode ser tão bizarro ou escandaloso quanto se queira e não custa quase nada a produzir porque não é preciso fazer entrevistas, deslocações e investigação: basta sentar-se à secretária e inventar. E o tráfego gera receitas através da publicidade que é colocada no site.

--- O “abcnews.com.co” [site de notícias falsas com sede na Colômbia] é um dos muitos sites que pertence a Paul Horner, um empresário de 38 anos desta área de negócio que explodiu durante as eleições presidenciais americanas.
Porque é que isto é importante? Porque Horner acha que foram as suas notícias falsas que puseram Trump na Casa Branca. Porquê?
Porque Horner descobriu que os republicanos mais à direita são o grupo mais fácil de enganar e consomem e partilham as suas notícias sem fazer qualquer tipo de verificação.
Daí que tenha feito centenas de notícias (partilhadas milhões de vezes) sobre as conspirações e a corrupção dos liberais (democratas) e que iam direito às preferências dos americanos mais racistas, homófobos e de uma forma geral reaccionários.

A narrativa sobre a qual assenta a democracia representativa diz-nos que os cidadãos se informam nos media e votam de acordo com os seus valores, interesses e preferências.

--Mas o que acontece quando uma maioria de cidadãos consome “informação” que não é apenas enviesada, mas totalmente falsa?
--As eleições livres continuam a ser possíveis?»


(-J.Lopes, 23/11/2016, Entre as brumas)


De .Social-Democracia... a 22 de Dezembro de 2016 às 15:10
11.6.2016, JPP

O QUE EU DIRIA SE FOSSE A UM CONGRESSO DO PSD...

…onde não posso ir porque não sou delegado, não tive nenhum cargo que me desse esse direito por inerência e não quereria falar numa condição de favor em relação aos que têm o direito de lá estar. Aliás, essa hipótese já se colocou num dos primeiros congressos da era Passos Coelho e foi recusada pela direcção do partido. Aos energúmenos que nos partidos têm a sua única vida profissional e que adorariam essa ocasião para me apupar devo dizer-lhes que é para o lado em que durmo melhor. Já tive na vida muitas mais ocasiões de incómodo e riscos muito maiores, para me assustar com isso. Além disso seria uma honra, como se percebe deste texto. Aqui vai, de fora, como se fosse lá dentro.

Ponham lá nas paredes das sedes do PSD...

Passavam menos de 15 dias sobre o 25 de Abril de 1974, a 6 de Maio, três homens, Francisco Sá Carneiro, Joaquim Magalhães Mota e Francisco Pinto Balsemão, liam a declaração genética do PPD, depois PSD, intitulada Linhas para um Programa. Chamo a atenção: o habitual argumento destinado a desqualificar os documentos dos primeiros anos do PSD, de que são o resultado de habilidades linguísticas destinadas a obter legitimidade nos anos do PREC, não colhe de todo. Este documento é escrito muito antes de se dar a radicalização política do ano de 1975 e aliás não esconde a génese do novo partido na chamada "ala liberal" cuja actividade cessava então "pelo nascimento dum partido de orientação social-democrata". Ou seja, os autores desta declaração estavam a dizer exactamente o que queriam dizer e a situar-se exactamente onde queriam situar-se.

Inscrito a letras de ouro ...

Deixemos de lado a parte do apoio ao MFA e ao 25 de Abril, para nos atermos às demarcações do texto e ao seu conteúdo programático. Primeira demarcação: a "concepção e execução dum projecto socialista viável em Portugal, hoje, exige a escolha dos caminhos justos e equilibrados duma social-democracia, em que possam coexistir, na solidariedade, os ideais de liberdade e de igualdade." A expressão "caminhos justos e equilibrados duma social-democracia" significa que o novo partido se distanciava dos outros "socialismos", em particular dos dois partidos que tinham chegado ao 25 de Abril aliados por um "programa comum": o PS e o PCP. Esse "programa" não durou muito, mas existia.

Para não se esquecerem de onde vimos...

O que é que significava esta "visão social-democrata da vida económico -social"?

"a) Planificação e organização da economia com participação de todos os interessados, designadamente das classes trabalhadoras e tendo como objectivos: desenvolvimento económico acelerado; – satisfação das necessidades individuais e colectivas, com absoluta prioridade às condições de base da população (alimentação, habitação, educação, saúde e segurança social); – justa distribuição do rendimento nacional. b) Predomínio do interesse público sobre os interesses privados, assegurando o controlo da vida económica pelo poder político (…). c) Todo o sector público da economia deve ser democraticamente administrado (…) . d) A liberdade de trabalho e de empresa e a propriedade privada serão sempre garantidas até onde constituírem instrumento da realização pessoal dos cidadãos e do desenvolvimento cultural e económico da sociedade, devendo ser objecto de uma justa programação e disciplina por parte dos órgãos representativos da comunidade política. (…) f) Adopção de medidas de justiça social (salário mínimo nacional, frequente actualização deste salário e das pensões de reforma e sobrevivência, de acordo com as alterações sofridas pelos índices de custo de vida, reformulação do sistema de previdência e segurança social, sistema de imposto incidindo sobre a fortuna pessoal preferentemente ao rendimento de trabalho com vista à correcção das desigualdades)."
... ...
Para quem não sabe o que é a social-democracia...

Talvez a mais significativa frase do texto seja esta:

"Consideração do trabalhador como sujeito e não como objecto de qualquer actividade. O homem português terá de libertar-se e ser libertado da condição de objecto em que tem vivido, para assumir a sua posição própria de sujeito autónomo e responsável por todo o processo social, cultural e económico."
...


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