C'est toujours la même histoire?
Para quem tem acompanhado a trajectória de Arnaud Montebourg desde as últimas primárias do PSF para decidir o candidato à Presidência, onde apresentou uma interessante plataforma favorável à desglobalização, o seu afastamento do governo francês de Jean-Baptiste Say só causa admiração por ser tão tardio. Montebourg já andava a fazer um pouco figura de idiota cada vez menos útil há algum tempo. Fartaram-se e fartou-se.
Consolidam-se duas clarificadoras derrotas: os que não desafiam as regras da integração europeia acabam a praticar as políticas neoliberais que nela estão inscritas e, num exemplo de como as preferências políticas podem ser adaptativas, a achar que isso é o melhor que há a fazer; os que, como foi o caso de Montebourg até agora, colocam na “Europa” o peso da construção de uma alternativa desglobalizadora, que não autárcica, claro, estão condenados à impotência, já que a globalização neoliberal é o outro nome da construção europeia. As coisas são como são feitas, como as estruturas são feitas.
A França mostra a Portugal o seu futuro político e de forma diluída, já que ainda está longe da violência da austeridade periférica. Por aqui, o destino político parece então certo enquanto não houver sinais de qualquer possibilidade ou vontade em desafiar as estruturas com escala europeia. A mensagem para a esquerda que não desiste não pode ser mais clara em França ou em Portugal: só a unidade em torno de uma plataforma política que, entre outras dimensões, mobilize e dê densidade programática a um saudavelmente realista eurocepticismo, de resto crescentemente popular, pode a prazo construir uma alternativa com peso e que pese na vida das classes populares. O resto é adaptação e impotência, ou seja, a mesma história que já parece de sempre.
(- por João Rodrigues, 27.8.14, http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/08/cest-toujours-la-meme-histoire.html )
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---- A massa crítica face à UE, a esta UE neoliberal e profundamente antidemocrática, de facto aumenta e como diz João Rodrigues é "crescentemente popular.
A cegueira ou o enfileirar consciente e submisso espanta pela dimensão e pelo carácter quase que acéfalo. ... Ou talvez não.
---- porém, da última vez que vi uma sondagem, mais de metade dos portugueses pretendia confiar o seu voto a quem não se revê nessa proposta. Torna-se pois urgente é saber qual o órgão de comunicação social que ajudará essa ideia a passar...
---- A crise de derrapagem ideológica dos partidos da Internacional Socialista tambem já chegou ao Partido Socialista Francês.
Regaining Control? Capital Controls and the Global Financial Crisis
Kevin Gallagher | 2/23/2011, http://www.peri.umass.edu/236/hash/143733ae92ce3b8ab9c2ab0a3ced57c4/publication/444
Abstract:
The global financial crisis has triggered a transformation in thinking and practice regarding the role of government in managing international capital flows. This paper traces and evaluates the re-emergence of capital controls as legitimate tools to promote financial stability.
Whereas capital controls were seen as “orthodox” by the framers of the Bretton Woods system, they were shunned during the neo-liberal era that began in the late 1970s. There is now an emerging consensus that capital controls can play a legitimate role in promoting financial stability. From 2009 to early 2011 a number of developing nations resorted to capital controls to halt the appreciation of their currencies, and to pursue independent monetary policies to cool asset bubbles and inflation.
A preliminary analysis of the effectiveness of these controls is conducted for the cases of Brazil, South Korea, and Taiwan. This analysis suggests that Brazil and Taiwan have been relatively successful in deploying controls, though South Korea’s success has been more modest. The fact that capital controls continue to yield positive results is truly remarkable given the fact that there has been little (or contrary) support for global coordination, and that many nations lack the necessary institutions for effective policies. The paper concludes by pointing to the need for more concerted global and national efforts to manage global capital flows for stability and growth.
...
• João Galamba, Schäuble e Maria Luís, a mesma luta:
«Maria Luís Albuquerque não percebe que vivemos uma crise que é da exclusiva responsabilidade de quem, como ela, insiste em pôr em prática políticas que são tão absurdas e irracionais que até o BCE as contesta.
No seu discurso em Jackson Hole, Mario Draghi fez aquilo que nenhum presidente do BCE havia feito até hoje: disse que a eficácia da política monetária depende da política orçamental e falou da importância da procura agregada - um conceito keynesiano que Frankfurt tende a desprezar. Na actual conjuntura económica - marcada por desemprego elevado, baixo investimento e crescimento baixo ou mesmo nulo - os países da zona euro devem explorar toda a flexibilidade dos tratados e pôr a política orçamental ao serviço da economia, isto é, os países da zona euro devem abandonar o dogma austeritário e pensar em políticas amigas da economia e do emprego. Com as cautelas que um presidente do BCE não pode deixar de ter, foi isto que Draghi disse no encontro mundial de banqueiros centrais.
Como não podia deixar de ser, as reacções dos sacerdotes da austeridade não se fizeram esperar. Schäuble, ainda não refeito do choque, disse que Draghi tinha sido mal-interpretado. Maria Luís Albuquerque fez exactamente o mesmo. Para Maria Luís Albuquerque, a flexibilização das regras orçamentais é um erro, sobretudo para um país como Portugal, que tem uma dívida pública e privada muito elevada. Mostrando que não aprendeu nada, a ministra das finanças continua a achar que se reduz a dívida com austeridade.
Sim, a ministra das finanças de um dos países que mais tem sofrido com a viragem austeritária e pré-keynesiana que se impôs na Europa aquando da crise grega (Maio 2010), ao invés de ver no discurso de Draghi uma oportunidade, tratou-o como uma ameaça que tinha de ser imediatamente travada. Não é a primeira vez que isto acontece. Depois da polémica em torno dos multiplicadores orçamentais, que mostrava que os efeitos negativos da austeridade tinham sido grosseiramente subestimados, o Governo português volta a mostrar que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade (para pôr em causa as políticas que objectivamente prejudicam o interesse nacional).
Quando vemos Maria Luís Albuquerque dizer que "enfrentámos ao longo deste três anos a maior crise dos últimos 80 anos" percebemos melhor o que se passa. Mais do que o dogmatismo ideológico de Vítor Gaspar, a actual ministra das finanças decidiu apagar da sua memória a verdadeira crise, a que começou em 2007/8, e inventou outra, que terá começado algures em Junho de 2011. Maria Luís Albuquerque não percebe que vivemos uma crise que é da exclusiva responsabilidade de quem, como ela, insiste em pôr em prática políticas que são tão absurdas e irracionais que até o BCE as contesta. Numa coisa Maria Luís tem razão: há, de facto, uma enorme crise que começou em 2011. Foi a crise que este Governo fabricou ao instalar-se e que só acabará quando a actual maioria sair de cena.»
⇒ Miguel Abrantes , Camara corporativa, 2/9/2014, http://corporacoes.blogspot.pt/
A queda da França (2/9/2014, EntreAsBrumasDaMemória)
A ler, na íntegra, um texto de Paul Krugman no New York Times. ( http://www.nytimes.com/2014/08/29/opinion/paul-krugman-the-fall-of-france.html?smid=fb-share&_r=2 )
Os parágrafos finais:
«A Europa precisa, desesperadamente, de um líder de uma das grandes economias – de uma que não esteja numa situação péssima –, que se levante e diga que a austeridade está a matar as perspectivas económicas do continente.
Hollande podia e devia ter sido esse líder mas não é.
E se a economia europeia continuar estagnada ou piorar, o que acontecerá ao projecto europeu – esse esforço de longo prazo para assegurar a paz e a democracia através de uma prosperidade compartilhada?
Com o fracasso da França, Hollande está a levar também a Europa, como um todo, ao fracasso – e ninguém sabe até que ponto isso pode vir a ser mau.»
Social-democracia liberal
( ou Social-Democracia «social-liberal»/ neoLiberal ? )
http://www.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2014/09/01/qu-est-ce-qu-etre-social-liberal_4479920_4355770.html
(- por Vital Moreira , CausaNossa, 2/9/2014)
Aquece em França o debate ideológico dentro do PS (F), desencadeado pela alegada "deriva liberal" de Manuel Valls à frente do Governo, com a cobertura de Hollande.
Num partido socialista onde a noção de social-democracia é suspeita, a qualificação de "liberal" é uma acusação e a noção de "economia de mercado" é de direita, compreende-se a dificuldade em conciliar economia de mercado e socialismo político, liberalismo económico e Estado social.
Nesse enquadramento ideológico, aliás reforçado pela tradição francesa de intervencionismo económico do Estado (que não é exclusiva da esquerda) e pela vocação anticapitalista do socialismo francês,
noções como as de "social-democracia liberal", de "economia social de mercado" ou de "social-liberalismo" só podem ser compreendidos como estrangeirismos exóticos, na melhor das hipóteses
e uma capitulação política e ideológica perante o "neoliberalismo", na pior, para além de uma contradição conceptual nos termos.
Nunca tendo passado por uma explícita mutação ideológica, como o PSD alemão (Bad Godesberg), nem tendo incorporado assumidamente o liberalismo económico, como o trabalhismo britânico (Tony Blair) ou a social-democracia escandinava,
o PS francês vê-se a braços com a contradição entre o arcaísmo ideológico dominante e a dura realidade da governação de um modelo económico e social em crise.
O que daqui vai resultar ninguém pode prever...
http://www.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2014/09/01/qu-est-ce-qu-etre-social-liberal_4479920_4355770.html
Un 'socialisme' «social-liberal», quer dizer ...?
« Social-Libéral », « social-libéralisme »… Au PS, depuis quelques jours, on se renvoie cette expression comme le Mistrigri.
« Le Parti socialiste ne sera pas social-libéral », martelait dans nos colonnes son patron, Jean-Christophe Cambadélis, alors que la presse s’interroge sur le « virage social-libéral » de Manuel Valls et de son gouvernement, ou estime que le nouveau locataire de Bercy, Emmanuel Macron, est un « social libéral patenté ».
Mais, finalement, qu’est-ce donc que ce fameux « social libéralisme » ? Explications.
1. Un héritage anglo-saxon
On pourrait disserter longuement sur la notion de « social-libéralisme », qui existe depuis le XIXe siècle en philosophie. Il s’agit au départ d’une branche du libéralisme, inspirée de penseurs comme Mill ou Hobson.
Contrairement aux autres courants issus de la pensée d’Adam Smith sur la « main invisible » des marchés, cette branche cherchait à concevoir une société économiquement libérale, mais avec des idéaux de justice sociale.
Pour résumer très grossièrement, le socialisme libéral se distingue alors du socialisme marxiste – partisan de l’abolition de la propriété privée et du strict encadrement du marché – en prônant des marchés les plus libres possibles, mais avec un encadrement de certains points par l’Etat, par exemple la question de l’héritage (qui doit être taxé pour des raisons de justice sociale, selon les sociaux-libéraux).
Il ne revendique donc pas la disparition de l’Etat ou sa réduction aux fonctions régaliennes comme le fait le libéralisme pur et dur. Economiquement, il est représenté au XXe siècle notamment par John Maynard Keynes.
Le « social-libéralisme » se développe essentiellement dans le monde anglo-saxon ou dans les pays nordiques. On peut, pour schématiser, dire que le « social-libéralisme » est l’une des grandes sources des partis de gauche américain et anglais, (Parti démocrate et Parti travailliste) : un Etat qui, s'il intervient le moins possible face aux marchés, le fait dans certains domaines (éducation, pauvreté, santé…) pour rétablir une justice sociale.
En France, à la fin du XIXe siècle, Charles Renouvier évoque le « socialisme libéral » comme étant, toujours, une conciliation entre justice sociale et liberté économique.
Ces termes issus du XIXe siècle ont quelque peu changé de signification. Pour le replacer sur un échiquier politique français contemporain, le social-libéralisme se situerait plus au centre que la social-démocratie – entre celle-ci et le néolibéralisme – et s’inspirerait surtout des figures étrangères que sont le Britannique Tony Blair et l’Allemand Gerhard Schröder.
Tous deux, issus de partis de gauche, ont mené dans leurs pays des politiques de privatisations et de libéralisation du marché du travail, voire théorisé le rôle de l'Etat comme créateur d'un terrain favorable à l'activité économique.
2. Une notion épouvantail en France
En France, l’histoire de la gauche a longtemps été celle d’une contestation fondamentale du capitalisme. Contrairement, par exemple, au SPD Allemand qui a fait son aggiornamento social-démocrate en 1959 lors du fameux congrès de Bad Godesberg, abandonnant les idéaux marxistes, les socialistes français n'ont jamais assumé clairement ce virage. Et dans leur bouche, le mot « libéral » est le plus souvent péjoratif.
Le terme de « social-libéral » tend donc en général plutôt à désigner les politiques qui s’inspirent des partis de gauche anglo-saxons ou du SPD allemand.
De manière générale, on ne peut pas dire que le qualificatif a une connotation très positive. On l'emploie depuis assez longtemps pour dénigrer des politiques jugées pas assez à gauche, qui se limiteraient à atténuer les effets supposés du libéralisme économique sans chercher à le combattre sur le fond.
Le terme se popularise à partir de la fin des années 1990. Ainsi, Robert Hue, alors premier secrétaire du PCF, fustigeait en 1998
« la droite et d'autres milieux qui rêvent d'une Europe dirigée par une social-démocratie mettant en œuvre une politique inspirée de un "social-liberalisme". ...
...
Social-libéralisme, c'est-à-dire une volonté non de faire front à cet ultralibéralisme pour en faire reculer les méfaits et la logique, mais de se borner à quelques mesures sociales pour l'encadrer ou en “civiliser” un peu les ravages ».
La Fondation Copernic, think tank à la gauche du PS, publiait en 2001 un ouvrage critiquant la politique de Lionel Jospin comme étant « un social-libéralisme à la française ».
3. Valls, une ligne qui flirte depuis longtemps avec le « social-libéralisme »
Au sein du PS, on trouve peu de personnalités qui s’assument « social-libérales ». Ce fut le cas de Jean-Marie Bockel, qui prônait « un socialisme libéral » au congrès du Mans, en 2005, avant de rejoindre le gouvernement Sarkozy et de quitter le PS pour fonder son propre parti.
Proche des milieux d’affaires, Dominique Strauss-Kahn a été dans, les faits, plutôt sur ce positionnement, mais ne s’est jamais qualifié de « social-libéral ». On peut aussi citer Bertrand Delanoë, qui avait dû longuement expliquer qu’il était libéral et socialiste, mais surtout pas « social-libéral ».
Manuel Valls ne s’est jamais défini lui-même comme social-libéral, mais il a toujours flirté avec cette notion. Comme Jean-Marie Bockel, il n’a jamais caché son admiration pour la personnalité de Tony Blair.
Si on retrouve dans ses discours de 2005, par exemple, la volonté de « construire une alternative forte au libéralisme », il tient à partir de 2007 des propos nettement différents. Ainsi, il propose en 2008 de « concilier la gauche avec la pensée libérale », et évoque à la primaire de 2011 la nécessité pour la gauche de se moderniser pour « régénérer l’Etat-providence en l’adaptant aux réalités de notre époque » .
En 2011, lors de la primaire socialiste, M. Valls insiste :
« La gauche est victime du syndrome de “Fort Alamo”. Elle ne retrouve plus son orgueil qu’en s’imaginant menacée de toute part par les assauts de “l’ultralibéralisme”. Ce qu’elle propose aux électeurs, c’est de venir la rejoindre entre les murs de la citadelle assiégée ; c’est de participer à sa lutte désespérée contre les vagues de fond de la mondialisation. »
4. Qu'est-ce que le socialisme aujourd'hui ?
Si on tente de revenir à des choses plus concrètes, peut-on réellement définir une politique « social-libérale » différente d’une politique « social-démocrate » ? La réponse est plutôt non. Ou alors le PS, comme Monsieur Jourdain, fait depuis longtemps du social-libéralisme sans le savoir.
Au-delà des discours et de la rhétorique militante, en effet, le PS français ne cherche plus depuis longtemps à rompre avec le capitalisme ou à le contester radicalement. Et Manuel Valls ne fait qu’assumer ce fait plus clairement que d’autres.
La « deuxième gauche » de Michel Rocard, qui a toujours assumé une ligne social-démocrate, existe depuis les années 1980. C’est elle qui domine le Parti socialiste depuis bien longtemps au travers des héritiers de Jacques Delors – de Martine Aubry à François Hollande en passant par Laurent Fabius, Ségolène Royal ou Dominique Strauss-Kahn.
Et au-delà des discours, la réalité de la pratique du pouvoir socialiste a depuis longtemps basculé dans une forme d’accompagnement du libéralisme économique : la « gauche plurielle » de Lionel Jospin a ainsi été le gouvernement qui a le plus privatisé d’entreprises sous la Ve République.
Le PS a appelé à voter « oui » au traité constitutionnel européen de 2005, qui sanctuarisait les règles de libre concurrence, de liberté de circulation des capitaux, de libéralisation de l’économie, etc. Et les députés socialistes ont également approuvé le traité de Lisbonne, qui reprenait l’essentiel du TCE de 2005.
5. De la social-démocratie au social libéralisme ?
Plus récemment, avec François Hollande, le Parti socialiste a entériné une « politique de l’offre » visant à offrir un terrain favorable aux entreprises, avec le pacte de compétitivité », ou le « choc de simplification » administrative.
Il a également dû voter le pacte de stabilité négocié avec l’Allemagne, qui prévoit une politique de réduction des déficits. Autant de choix qui n'offrent pas une différence très marquée avec la politique économique menée par l'UMP.
Avec Arnaud Montebourg et le « redressement productif », on a pu retrouver
A mão de Smith tem artrite
•(Mariana Mortágua, via http://corporacoes.blogspot.pt/):
«(…) Independentemente de serem consideradas mais ou menos ousadas, as medidas anunciadas pelo Super Mário (Draghi, presid. BCE) europeu não tocam no fundo da questão:
para além de injetar dinheiro cegamente no sistema financeiro,
a outra forma - mais eficaz - de combater a deflação é através de políticas fiscais e orçamentais.
Não fosse por um absoluto dogmatismo que vem, aliás, dos tempos de Smith, o que
o Banco Central deveria estar a fazer era a comprar dívida pública,
a financiar os Estados a juros baixos e prazos longos.
E o que os Estados deveriam estar a fazer era
promover o crescimento pelos salários,
pelo investimento no setor produtivo,
pela criação de verdadeiros programas de combate ao desemprego.
Sim, estamos a falar de políticas industriais e sociais, e de uma finança controlada pelo poder público.
Faz sentido, é o oposto do que nos trouxe até aqui.»
"Esta Europa não vai salvar ninguém"
«Tal como aconteceu nos anos 20 com o padrão-ouro, a social-democracia está objectivamente bloqueada num trágico impasse, que a leva a defender constantemente aquilo mesmo que impede a mudança que reclama.
Nos anos 20, o padrão-ouro, ao fixar paridades entre moedas nacionais que eram supostas poderem converter-se em ouro, abriu as portas ao espectro deflacionista que, com a "panne" da economia real,
levou a uma austeridade que se abateu pesadamente sobretudo sobre o mundo do trabalho.
Situação que só se alterou mais tarde, com as lições da grande depressão, as políticas expansivas e os acordos de Bretton Woods, que vigoraram até aos anos 70 do século passado.
O euro veio, infelizmente, repor uma situação análoga à que se viveu nos anos 20 com o padrão-ouro -
e foi essa situação que entretanto se conseguiu impor em termos de "necessidade".
Ora argumento da necessidade, em política, é quase sempre o mais falacioso dos argumentos:
ele apresenta como neutro o que o não é
e transforma em leis o que são meras opções.
A ironia, é que esta necessidade lembra cada vez mais a do socialismo "científico" de má memória...
Dobrados ao argumento da necessidade, os socialistas democráticos acabam por aceitar quase tudo o que dizem querer rejeitar:
os constrangimentos da gestão financista, os critérios da banca, o sobe-e-desce das agências de notação, o paternalismo burocrático de Bruxelas, etc.
O último Conselho Europeu, de sábado passado, ilustra bem tudo isto:
uma desesperante incapacidade política para responder à Rússia na Ucrânia, a escolha de personalidades de segundo plano para as funções de presidente do Conselho Europeu e de alto-representante para os Negócios Estrangeiros.
Por fim, lá se marcou, para o Outono, mais uma cimeira sobre o crescimento!!!...
Não, assim esta Europa não vai salvar ninguém - a não ser,
talvez, que a deflação acabe por quebrar o império desta falaciosa necessidade
e imponha uma reconfiguração radical da União Europeia e da zona euro.»
Manuel Maria Carrilho, DN, via http://portugaldospequeninos.blogs.sapo.pt/ , 4/9/2014
O Estado da Europa
( por AG, 3/9/2014)
Reiniciamos ontem em Bruxelas os trabalhos do Parlamento Europeu, numa conjuntura internacional tão preocupante que leva
alguns parlamentares veteranos, de esquerda e da direita, do norte e do sul, de oeste e de leste, de países ricos e de outros empobrecidos, como o nosso,
a pensar e a dizer alto que já não julgam mais impossível voltar a ver guerra na Europa.
...
A UE falha nas relações externas
porque está a falhar no essencial, que é a própria governação europeia:
a estratégia austeritária só fez crescer desconfiança e descontentamento entre os cidadãos
e criou níveis de desemprego insuportáveis, com um quarto da população jovem impedida de encontrar emprego
(e quantos dos jihadistas europeus não são jovens revoltados por se sentir excluídos e sem futuro).
A UE falha porque a estratégia austeritária não só não a extraiu da crise,
como agora ameaça também os indicadores económicos e sociais dos seus mais fortes e ricos Estados Membros.
A UE está a falhar porque a estratégia austeritária é anti-solidária e, logo, anti-europeia.
Ou a UE arrepia rapidamente caminho relativamente à austeridade que a está a arruinar, ou será arrasada pela guerra.
---(Extractos da minha intervenção, ontem, no Conselho Superior, ANTENA 1, que pode ler-se na íntegra na ABA DA CAUSA, aqui: http://aba-da-causa.blogspot.be/2014/09/o-estado-de-portugal-reflecte-o-da.html)
Integração à alemã
(-2 de Setembro de 2014 ,Penélope, http://aspirinab.com/)
O ministro das Finanças alemão e o vice-presidente da Comissão de Defesa do Parlamento alemão assinam hoje um artigo no Diário Económico sobre a UE. O artigo é importante, dada a influência alemã no processo europeu. Em resumo, a sua ideia é
continuarem a ditar o rumo da Europa no contexto de um núcleo restrito de países (o que lhes permite dar as ordens mais facilmente, no diretório),
reforçar o controlo dos países considerados prevaricadores (o moralismo e o preconceito, sempre eles, como se os alemães fossem seres superiores)
através da nomeação de um comissário com direito de vetar os orçamentos nacionais (imaginamos que alemão ou apoiado pela Alemanha, e portanto sob as suas ordens e conivente com os seus ditames) e,
falando embora em mais integração, afastar qualquer hipótese de união política e de mais democracia na Europa, que afinal é só um mercado e sob o seu controlo
(por exemplo, já que pretendem comandar, seria conveniente que se submetessem ao voto dos restantes europeus
ou então que admitissem um governo europeu eleito;
uma oligarquia assente na chantagem financeira é que não pode ser, meus caros).
Eis um parágrafo revelador:
“Consideramos que a União Europeia (UE) deve concentrar-se essencialmente nas seguintes áreas:
um mercado interno justo e aberto; comércio; moeda e mercados financeiros; clima, ambiente e energia; política externa e de segurança.
Ora, só é possível alcançar um sucesso duradouro nestas áreas se os Estados-membros agirem ao nível europeu.
Actuação idêntica se impõe face a desafios como a demografia e a escassez de mão-de-obra especializada. Precisamos de trabalhadores qualificados para sermos fortes e competitivos.“
Mercado aberto para os alemães comprarem tudo o que interessa.
Moeda. O resultado da competência alemã. É verdade que também da carneirada que colaborou. A moeda, claro está, deve estar ao serviço de suas excelências, ou não será.
“Agirem a nível europeu?”
Tem graça, porque neste mesmo artigo confessam que o princípio da subsidiariedade é o mais importante, parecendo ignorar, porque lhes convém, a interdependência da banca, da economia, etc.
E, já agora, agir a nível europeu com base em que estrutura democrática?
“Desafios como a demografia e a mão de obra especializada?” “Precisamos de trabalhadores qualificados?”
Quem? A Europa toda ou a Alemanha? Portugal e a Itália, por exemplo, não precisam?
Precisam apenas de empobrecer? Não precisam de pessoas (demografia), de um ensino de qualidade e de trabalhadores qualificados?
É por isso que Shäuble promove a situação atual, que favorece a fuga destes da periferia para a Alemanha?
Caros senhores: vão a votos na Europa toda. Se ganharem, escrevam todos os artigos, editoriais e constituições nacionais e tratados que quiserem. Até lá, passem bem e continuem a comer salsichas.
Em relação a processos judiciais por fundos “abutre”,
a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, ressaltou que
"não é justo que um punhado de bilionários possam afogar uma nação."
"Não é justo que um punhado de bilionários possam afogar um país e extorquir uma sociedade inteira ameaçando-a com defaults, afastando-a do resto do mundo ",
afirmou o presidente da Argentina, numa cerimónia na Casa do Governo, transmitida na televisão nacional. " O vencermos nâo é apenas a posição da Argentina, é uma posição quem
tem dignidade e quer defender os direitos de seu povo, é a posição de todos os países que não querem ser enganados ",
disse Kirchner, referindo-se ao voto da Assembleia Geral da
ONU, que aprovou a criação de um quadro legal para a reestruturação da dívida soberana
e observou que "mais do que um triunfo da Argentina era um triunfo da dignidade das pessoas".
Nesta terça-feira a Assembléia Geral da ONU aprovou , com 124 votos a favor, 11 contra e 41 abstenções uma iniciativa Argentina para ser obtido um
quadro jurídico para reestruturar sua dívida soberana.
O chanceler argentino, Hector Timerman, descreveu como "histórica" a proposta de reestruturação da dívida soberana. Entretanto, na Argentina as comissões plenárias de Orçamento, Finanças e Petições, Poderes e de Regulamento dos Deputados, deram o seu parecer sobre o projecto Soberano da Lei de Pagamento, que será votada hoje, quarta-feira, no plenário da Assembleia Nacional. O artigo propõe a desenvolver ferramentas para assegurar o pagamento de títulos do governo reestruturados em 2005 e 2010, há uma alternativa proposta pelo Governo a "mecanismos de recolha de obstrução ilegítima e ilegal".
Texto completo en: http://actualidad.rt.com/actualidad/view/139788-kirchner-punado-multimillonarios-ahoguen-pais
Reformas estruturais -- basicamente partir a espinha
do "factor Trabalho", dos desempregados e dos envelhecidos ... e arruinar a classe média.
«(…) # a austeridade faliu por completo nos seus propósitos
e Draghi tem procurado preencher o buraco desde Nov de 2011 injectando dinheiro barato nos bancos,
mas, mesmo assim, por esse "canal de transmissão", a coisa não chega à economia real;
Draghi deu mais um passo em junho e agora em setembro e até prometeu comprar dívida privada a partir de outubro (a tal coisa dos ABS)
e injetar mais massa a partir da próxima semana em novas linhas de refinanciamento para os bancos, na esperança de...
# mas ele não quer ficar sozinho a lançar massa, os outros têm de começar a fazer a parte deles; e, então, resolveu chegar-se à frente, armar-se em político, e promover um compromisso:
eu meto a massa nos bancos e no sistema, um bodo de mais 1 bilião de euros,
o Jean-Claude Juncker (pres. CE) dá massa a partir da Comissão (por vários canais),
mas vocês metem as reformas estruturais em campo e
depois a gente vê a forma de "flexibilizar" essa coisa da margem orçamental (de abrandar o cumprimento do tratado orçamental).
# a matriz do pensamento dos banqueiros centrais como Draghi e do grupo que ainda domina o FMI, como a Madame Lagarde, bebe nessa coisa das reformas estruturais -
- basicamente partir a espinha do "factor Trabalho", dos desempregados e dos envelhecidos,
e obrigar a um processo acelerado de reorganização dos grandes grupos económicos e financeiros,
redistribuindo as margens de rendas financeiras e os quintais de cada um;
para esse grupo da elite que manda isso é mais importante do que a própria austeridade
(sobretudo quando esta é um fiasco como logo Olivier Blanchard do FMI começou por mostrar com aquele coisa dos "multiplicadores",
ou como politicamente se começou a ver que deu cabo da classe média
e produziu um eleitorado estilhaçado
em que correntes fora do 'centro' que fundou a CEE e a UE vão crescendo e ameaçam a tal de "estabilidade governativa"). (…)»
Jorge Nascimento Rodrigues, no Facebook (Os Keynesianitos de Frankfurt e arrabaldes)
⇒ Miguel Abrantes à(s) 15.9.14 , Camaracorporativa
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