Quarta-feira, 13 de Abril de 2016

                  O regresso da Islândia   (-    Com a demissão do primeiro-ministro (de direita), envolvido no escândalo dos off-shores do Panamá, a Islândia volta ao centro das atenções (lendo só o que se tem escrito há anos sobre a Islândia no Facebook, até é estranho que o país tenha um primeiro-ministro de direita com contas em off-shores - pensei que já fosse uma democracia popular direta sem banqueiros, ou coisa do gênero...).       Mas não é sobre os acontecimentos imediatos que me apetece escrever, mas sobre um assunto que já se arrasta há anos - a revisão constitucional islandesa.
     Em 2010 foi eleita uma assembleia constituinte na Islândia, por voto único transferível (um sistema eleitoral em que os candidatos concorrem individualmente, e os eleitores ordenam-nos por preferência no boletim de voto; um candidato precisa de um dado número de votos para ser eleito -  numa eleição para n lugares, será necessário ter algo como 1/n do total dos votos para a eleição - e se tiver mais, os votos excedentes transitam para os candidatos ordenados a seguir no boletim; supostamente esse sistema terá a mesma independência pessoal dos deputados que no sistema uninominal e a mesma representação das minorias que no sistema proporcional); é a essa eleição que se referem os mails em cadeia que circulam há anos dizendo que na Islândia uma assembleia de cidadãos assumiu o poder.
      Pouco depois o Tribunal Constitucional declarou essa eleição ilegal e dissolveu a constituinte; em resposta, o parlamento (que continuou a funcionar normalmente; a assembleia constituinte era mesmo só para fazer uma nova constituição) decidiu, com os votos dos partidos de esquerda, criar uma comissão para elaborar um projeto de reforma constitucional, e escolheu para essa comissão as mesmas pessoas que inicialmente tinham sido eleitas para a assembleia constituinte.      A assembleia constituinte/conselho constitucional elaborou um projeto de nova constituição, incluindo pontos como a separação entre a Igreja e o Estado (coisa que ainda está longe de acontecer nos paises nórdicos supostamente progressistas), permitir a petições de cidadãos convocar referendos, etc.
      Em 2012, foi feito um referendo consultivo sobre as propostas de revisão, que foram aprovadas pelos votantes; no entanto, o projeto de revisão tem estado congelado, ainda mais desde que a direita regressou ao poder, em 2013.
             Proposta de nova constituição islandesa [pdf]   e   Constituição atual [pdf] 

-----  Estes  islandeses...     (-por J.Rodrigues, 16/3/2015, Ladrões de B.)
 
   Estes islandeses são loucos, dirão as nossas elites intelectuais e políticas: sem grande eco por cá, na semana passada, a Islândia decidiu meter mesmo na gaveta (retirar) um pedido de adesão à UE e eventualmente ao euro, estranhamente aí apoiado por alguns sectores de esquerda, o que de resto pode ajudar a explicar a sua derrota nas últimas eleições.
     Não se esqueçam que (os islandeses, com o eclodir da crise/bancarrota, impuseram) controlos de capitais, política cambial, Estado social robusto, imposição de perdas aos credores e recuperação económica já com anos não são para nós. Nós por cá somos então mais assim: a soberania é coisa do passado e o Estado-nação também, já que a UE e o euro protegem os nossos interesses ou podem, por milagre, vir a protegê-los (!!). E, de qualquer forma, são irreversíveis, tal como a globalização.(!!)
    Também não se esqueçam, que quem pensa o contrário, quem pensa que é possível e necessário recuperar margem de manobra nacional, só pode um perigoso populista, um aliado objectivo, e até quiçá subjectivo, de Le Pen ou mesmo um admirador de Estaline. Ou todas estas coisas ao mesmo tempo, tanto faz. E guerra, fale-se muitas vezes de guerra, com um ar grave de quem sabe do que está a falar.
    A sabedoria convencional e o que passa por pensamento crítico em certas áreas acabam por partilhar o mesmo desígnio pós-nacional, com a diferença que a sabedoria convencional ainda proclama hipocritamente “Portugal acima de tudo”, mas só porque os partidos que dela se servem têm eleições para disputar. É que a ideia de soberania ainda é popular...
----- 
            O  "Milagre"  NeoLiberal    !!!    --(por R.P. Narciso, PuxaPalavra, 17/3/2015)
     Entrou-me pela casa dentro, com a ajuda da RTP, um tal JYRKI KATAINEN, com ar de embaixador dos "mercados"     mas que afinal é o vice-presidente da Comissão Europeia, líder do Partido da Coligação Nacional (partido conservador NEOLIBERAL) e ex-1º Ministro da Finlândia.
      Este cavalheiro, um acólito de Ângela Merkel, veio garantir a um país atónito, que a política do Governo (do PSD/CDS), nestes três anos, representa um VERDADEIRO MILAGRE.
      Está em visita ao 1ºM PPC e recomendou-lhe, ali à nossa frente, SEM VERGONHA, que prossiga a sua política de "mudanças estruturais".     Mudanças estruturais?! Está a referir-se a quê?
     À dívida que passou de 90% do PIB para 130%,
     ao desemprego que subiu para o dobro,
     aos cortes de salários da administração pública e dos reformados,
     aos cortes na Saúde, na Educação, na Segurança Social,
     à maior vaga de emigrantes desde os anos 60 e agora com o predomínio de licenciados e quadros técnicos?
     Ou estará a referir-se à privatização de empresas estratégicas da economia nacional?
     O mais certo é o GRANDE MILAGRE que refere ter consistido em libertar os BANCOS alemães e franceses que arcavam com a maior parte da insegura dívida soberana portuguesa.
     Esse Sr. KATAINEN está a tomar-nos por parvos?
     Está a falar de "milagre" a um país socialmente devastado, a uma população condenada à pobreza?!
     Ou estará a referir-se aos 840 multimilionários portugueses que aumentaram as suas fortunas   de 90 para 100 mil milhões de dólares em 2012, um dos anos de maior empobrecimento dos "outros portugueses" ?!!   ( "Relatório de Ultra Riqueza no Mundo 2013" do banco suíço UBS) .  


Publicado por Xa2 às 07:52 | link do post | comentar

13 comentários:
De Especuladores, agências, abutres ... a 17 de Março de 2015 às 11:54
O capital financeiro e as matilhas assimétricas.

[ Nos jornais de hoje: Juros da dívida inauguram novo ano abaixo de 2,6% , mas o rating de crédito continua em "lixo financeiro".]

A inquisição económica das agências de notação continua a condenar-nos ao inferno do lixo.
Mas os mercados da dívida soberana, noutros casos tidos como sacrossantos, têm-nos deixado frequentar o paraíso dos juros baixos.

Que pecado é o nosso que nos faz ser condenados ao inferno por uns, para nos deixar repousar no paraíso pelos outros?
Sendo que uns e outros estão, alegadamente, ungidos pela mesma santidade que os conduz a uma objectividade serena e férrea.

É estranho; quase parece que a sua santidade tem os pés de barro e a sua objectividade é apenas um EMBUSTE de uma subjectividade bem pesada.

Quase podia garantir, perante tão contraditórios julgamentos, que o serviço de uns e outros é muito menos aquilo que quer fazer parecer do que aquilo que lhes dita a função de peças estratégicas da produção ideológica do capital financeiro.

De facto, se uns e outros, ou alguns deles, não são tontos, a parafernália de instrumentos informáticos e de técnicos de ponta que se espraiam pelas suas salas,
não são na verdade instrumentos para identificar conjunturas económicas e para informarem investidores, levando-os a directivas desencontradas que os desqualificam.
Estamos apenas perante pesquisadores de argumentos que possam ser colocados AO SERVIÇO das estratégias politicas NEOLIBERAIS de teor algo VAMPIRESCO dos grandes centros de poder FINANCEIRO mundial e dos poderes institucionais que os exprimem e suportam.

A directiva é afundar a Grécia? Disparem-se as munições guardadas que façam parecer que a Grécia é um caos em potência.
A palavra de ordem é salvar a Irlanda? Dispare-se o fogo de artifício que a transporte até ao céu da tranquilidade.
Quanto a Portugal, está para se ver ? Ponha-se um lado a distribuir cachaços e outro a ministrar afagos.

Que os beneficiários deste embuste de luxo e os donos desta MATILHA de excelência paguem regiamente aos atores e autores deste “grande teatro económico” pode compreender-se.
Que os poderes públicos, que deviam representar os povos agredidos, também paguem á canzoada que os morde, parece-me um tanto ou quanto estúpido.
Talvez não seja CORRUPÇÃO ilegal, talvez nem sequer seja pecado, mas é estúpido.


(-por Rui Namorado 2/1/2015, OGrandeZoo)
Marcadores: capitalismo, economia internacional, especulação


De 'Acomodação' à Finança USA e CHINA,... a 18 de Março de 2015 às 12:53
A "desdolarização" da economia mundial e a irritação dos EUA face à Inglaterra

(http://antreus.blogspot.pt/ 18/3/2015 )

A China anunciou recentemente o lançamento do seu próprio sistema de pagamentos internacionais, o CIPS, naquele que é considerado mais um passo para reforçar a sua moeda – o yuan – e reduzir a dependência do país face ao dólar.
Segundo informa a Reuters, o sistema para transações internacionais em yuanes deverá entrar em funcionamento entre Setembro e Outubro deste ano.

A iniciativa chinesa ocorre cerca de um mês depois de a Rússia ter avançado no mesmo sentido, pondo em funcionamento um sistema alternativo ao SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Globais), de forma a reduzir os impactos negativos das sanções que lhe foram impostas pelos EUA e União Europeia.

De acordo com o portal do Sputnik News, cerca de uma centena de entidades de crédito russas integram o novo sistema, que permitirá aos bancos do país comunicar através do Banco Central da Rússia (BCR).
A implementação do sistema próprio, levada a cabo pelo BCR, surge na sequência de reiteradas ameaças dos EUA e UE de desligarem a Rússia do SWIFT impedindo assim as suas transacções com o Ocidente.
Nas novas circunstâncias, segundo os especialistas, é possível reduzir significativamente o domínio financeiro do Ocidente sobre a Rússia.

Actualmente a maioria das transacções interbancárias internacionais, como ordens de pagamento e transferências bancárias, são realizadas por meio da rede SWIFT, que está sob o controlo dos EUA e que Washington utiliza como arma económica.

Num caso paralelo a este, Washington deu um puxão de orelhas a Londres por ter decidido juntar-se ao Asia Infrastructure Investment Bank (AIIB), lançado por Pequim.
A administração de Barack Obama, numa atitude pouco comum para com o seu aliado privilegiado na Europa, considerou mesmo a decisão de Londres como prova de uma "constante acomodação" do Reino Unido à China.
Washington teme que Pequim, se tiver o poder de veto, possa utilizar a nova instituição financeira como instrumento da sua política externa. Londres mantém a sua opção.

"Temos consciência de uma tendência de constante acomodação com a China, o que não é a melhor forma de comprometer uma potência em ascensão", afirmou um responsável americano.

A irritação dos EUA justifica-se com o facto de o AIIB, lançado em 2014 por Pequim, ser visto como um rival do Banco Mundial (BM),
sediado em Washington e dominado pelos ocidentais (e sempre presidido por um norte-americano), e ao Banco Asiático de Desenvolvimento.

Um responsável da administração Obama afirmou ao Financial Times que a decisão britânica foi tomada sem "praticamente qualquer consulta com os Estados Unidos",
numa altura em que o G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) tem estado a discutir a forma de tratar com o novo banco.

------ os BRICS (Brasil, Rússia, China e ÁfricaSul) negoceiam e querem ser uma alternativa à dominância Político-Financeira dos EUA (com seus acólitos UE, Can., Árabes, ... e, sobretudo, os oligarcas multimilionários e as grandes empresas transnacionais).


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