Bosansko Proljeće (Primavera Bósnia)
Desde a semana de 3 de fevereiro, altura em que começaram os protestos na Bósnia-Herzegovina, já os houve nas seguintes cidades: Banja Luka, Bihać, Brčko, Bugojno, Cazin, Donji Vakuf, Fojnica, Goražde, Konjic, Maglaj, Mostar, Orašje, Prijedor, Sarajevo, Tešanj, Travnik, Tuzla, Zavidovići, Zenica. Em 8 dos 10 cantões da Federação, há plenums (assembleias populares) geridos pelos cidadãos, numa experiência de democracia directa, principalmente orientada para a contestação e as exigências, que tem feito girar os ponteiros do poder de tal forma que o Alto Representante da Comunidade Internacional para a Bósnia-Herzegovina, Valentin Inzko (o mesmo que chegou a ameaçar com tropas europeias), depois de visitar o Plenum do cantão de Zenica-Doboj, a 28 de fevereiro, já diz querer visitar todos os cantões e seus Plenums.
Com as suas práticas, a sua força e os seus resultados, os Plenums são, hoje, uma realidade incontornável até para as mais altas elites do mundo ocidental. Parece-me, no entanto, importante pensar seriamente sobre os equilíbrios entre a legitimação que se pretende (e que se tem conseguido com e na prática) e a – até agora descartada – institucionalização, normalmente procurada por quem quer manter a contestação dentro da estreita estrada da normalidade. Se a cabeça, há muito, vagueia pela Bósnia, o coração está também em migração ansiosa.
(grande parte das informações que recolho vêm do Bósnia-Herzegovina protest files)
Se Tuzla for Capital da Europa nem é preciso votar nas europeias.
Já por aqui se disse que a economia da ex-Jugoslávia foi literalmente vampirizada pela economia de mercado(s). Com o resultado habitual: aumento das desigualdades, da pobreza, do desemprego (entre 40 e 45%, na Bósnia), privatização dos serviços públicos e da indústria para lucro de grupos económicos essencialmente ligados a um punhado de capitalistas ocidentais (oligarquias e oligopólios).
A revolta, também já se disse, levou, quase no imediato à demissão do governo em Tuzla, a cidade onde que tudo começou. Até hoje, esse cantão está de férias em termos de poder governamental. Na sua ausência, um plenum (assembleia popular aberta a toda a população da cidade) começou a reunir-se regularmente – de início quotidianamente, hoje duas vezes por semana – para tratar dos problemas correntes e das questões políticas. Este plenum congrega entre 700 e mil pessoas, nem sempre as mesmas. As intervenções são breves e cronometradas, as hierarquias mantidas ao longe. Apenas os moderadores são designados, em cada assembleia, para assegurar a realização do encontro. Os temas são múltiplos e abordados livremente: emprego, indústria, serviços públicos, educação, cultura, corrupção, violência. Foram criadas 12 comissões, para trabalharem nas questões que até então eram tratadas pelos ministérios, e ainda outra para as relações com os trabalhadores. Três grupos de trabalho ocupam-se dos media, dos aspectos jurídicos e da logística.
O plenum considera-se, antes de mais, um contra-poder poderoso e legítimo e exigiu ao parlamento que nomeie rapidamente um governo técnico. O seu objectivo é que as soluções que elabora sejam aplicadas à letra pelo futuro governo, sob pena, no caso de desrespeito pelo mandato, de o fazer cair de novo. Uma espécie de direito de veto instituído pela democracia directa.
A Primavera bósnia continua. Sem que se saiba ou fale muito disso. Mas o desaparecimento mediático não retira nem existência nem importância às questões. E o facto é que, naquele canto do mundo tão importante para a civilização ocidental, há uma alternativa a ser construída neste preciso momento. Uma experiência social e política de emancipação que terá, provavelmente, raízes na memória colectiva jugoslava, que é caótica e que encontra inúmeros obstáculos, mas que existe, está lá, por pouco que abramos os olhos. O que é tão mais fundamental quanto mais pensarmos que se trata duma região em que os jovens de hoje são os filhos, tantos deles órfãos, duma guerra de ódio étnico. Em poucos momentos históricos terá sido possível, em tão pouco tempo, que a sede de guerra de classes tenha substituído o ódio nacionalista. E, também por isso, o que por lá se passa merece atenção.
(- por Alfredo Bom Ano, Ladrões de gado)
Cleptocracia - governo de/por ladrões (+corruptos e nepotistas) (-por F.Castro, 21/5/2011)
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A Bosnia-Herzegovina (B-H) é o exemplo de um Estado "complicado" em que a situação política/ administrativa esconde e 'branqueia' a situação económica/social em degradação e que esta provocou/ agravou os conflitos internos. Politicamente a B-H compreende: a Federação da B-H, com 10 cantões; + a Rep. Servia da B-H, separada em 2 zonas laterais com vários distritos.
B-H é uma amostra do que era a ex-Federação da Jugoslávia, que tinha regime 'socialista não-alinhado' em convivência multicultural pacífica, e que, após a morte do presidente Tito, em nome da «democracia e liberdade económica neo-liberal» foi 'sabotada e invadida' pelos EUA e UE para a trazer para a sua esfera de influência e domínio económico, favorecendo determinadas facções/partidos, caudilhos e governantes fantoches, levando-a à guerra civil, ao retalhar dos Estados/territórios e à rapina das suas empresas estatais e recursos públicos.
Mais que a divisão/diversidade 'étnico-religiosa-linguística', a questão actual da B-H (tal como da ex-Y., ou da Ucránia, ...), a razão fundamental é económico-política sendo que a vertente político-diplomática-militar está ao serviço de grandes bancos privados e empresas multinacionais ('corporations') ligadas ao armamento, reconstrução, minérios, energia, transportes, imobiliário, ... com muitos agentes-antenas e fantoches locais, campeões da (des)informação/propaganda, controlo dos mídia, lobbying e corrupção, intermediários de contratos 'leoninos' , privatizações/saldo e fazedores de legislação 'à medida' de determinados interesses e grupos.
Contra estes predadores/ destruidores do país e interesse comum é que estão a levantar-se/manifestar-se cidadãos e grupos mais esclarecidos e ou atingidos: estudantes, jovens, trabalhadores da classe média e baixa, desempregados e reformados empobrecidos. No meio de tudo isto estão também os partidos locais de esquerda contra direita e neo-nazis, ... com muito populismo, demagogia, 'nacionalismo', radicalismo e pulsões/medidas isoladas ou à mistura.
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Insurreição na Bósnia-H., revisitando a "questão nacional" e a discussão em torno da U.E. (-Francisco, 5Dias, 13/2/2014)
Recentemente, foi discutida a “questão nacional” e a postura a adoptar face à União Europeia e ao euro (sendo o ponto de partida para a análise o referendo sobre a independência da Escócia que terá lugar em Setembro).
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