Segunda-feira, 07.03.16
----- O nosso "dia" (-por Helena Sacadura Cabral, 08.03.2015) Gosto de ser mulher. Não invejo os homens e quanto mais velha sou, mais tenho consciência dos seus (in)justificados receios. Mas não gosto de quotas ou comemorações de género porque elas representam que os "outros" ainda as consideram necessárias.
O que eu quero é que não haja (assédio nem) violência sobre elas, que o seu salário não seja inferior ao do seu semelhante, que as suas oportunidades sejam iguais, que a maternidade seja encarada como uma opção séria e não um obrigatório modo de vida, que os filhos sejam uma escolha de dois e não apenas de um.
Ou seja, quero poder ser diferente do homem sem por isso ser discriminada ou menos respeitada. Quero, enfim, ter direito a ser mulher (livre e com direitos) e fazer parte do meu género sem que compita aos homens concederem-me uma parte desse direito.
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Ui, ui hoje é o meu dia ! (-por Teresa Ribeiro, em 08.03.15) Quando me perguntam se gosto de ser mulher, respondo que não. Lamento, mas neste aspecto não soube evoluir. Desde que percebi, ainda na primeira infância, que o mundo é dos homens, este sentimento ficou-me colado aos ossos e não há campanha publicitária de pensos higiénicos que me faça mudar de ideias.
Esta rejeição, que cresceu comigo, nada tem a ver com problemas de identidade sexual. Gosto de cor-de-rosa, de bebés e de sapatos, portanto não há qualquer dúvida, sou muito estereotipada, o que paradoxalmente só veio agravar a relação conflitual que tenho com o meu género desde que me conheço.
Gostava em menina de brincar com bonecas, mas não da terna displicência do meu avô, que só tinha conversas com o meu primo, mas não sabia do que falar comigo. Identificava-me com as princesas das histórias de encantar, mas detestava que me apontassem as regras de comportamento "próprias de uma menina" - sempre mais restritivas que as dos meninos - e ainda mais que fossem a minha mãe, as minhas tias e a minha avó a ditá-las. Gostei de crescer com estas mulheres, mas revoltou-me perceber que, por razões diferentes, todas abdicaram de uma maneira ou de outra do que podiam ter sido só pelo facto de terem nascido com um par de ovários.
Na vida adulta pus-me à prova. De um lado os meus ressentimentos e reivindicações feministas, do outro a realidade, esse tapete onde caí tantas vezes por KO. E tem sido esta a minha vida. Sempre a sopesar o que sou e o que somos. Eu e as mulheres. Eu e elas. Eu que sou elas. Admiro as mulheres que dizem que se orgulham de ser mulheres, mas quando as oiço não consigo iludir a tristeza funda que me nasce da consciência de que o fazem pela necessidade de se afirmarem como iguais. A misoginia, a doença infantil do homem das cavernas, continuará a discriminar, segregar, matar, estropiar e escravizar milhões de mulheres (e meninas) em todo o mundo. E é a consciência disto que me mata à nascença o prazer de pertencer à tribo e ainda mais de festejar esta data. Festejar o quê?
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No Dia Internacional da Mulher uma confissão machista:
não dou grande importância ao dia. Cumpro os rituais habituais:
desejo um bom DIdM
às mulheres importantes na minha vida, coloco um post no blog ou facebook, compro possivelmente uma flor para a minha mãe. Vejo contudo o dia como
pouco mais que uma nova versão do Dia dos Namorados:
sem significado a não ser dizer que existe.
Vejamos as coisas por este prisma: para quem - como eu - entenda que as mulheres e os homens têm que ter uma efectiva igualdade de direitos e que a sociedade tem que criar condições para que estes existam (atendendo a que há diferenças muito reais entre homens e mulheres), o dia não tem grande importância. Eu - e muitos outros como eu - não necessito de ser recordado da importância de lutar pela igualdade de direitos. Para quem esteja no pólo oposto, a questão é ainda mais simples: o dia não fará qualquer diferença. Para quem esteja algures no meio, dizer que o dia 8 de Março é o Dia Internacional da Mulher, sem mais, também pouco adiantará.
O Dia Internacional da Mulher parece-me então ser uma espécie de esmola: dão-se os parabéns às mulheres e siga a vida como sempre que a consciência está aliviada.
Os direitos das mulheres, embora mereçam um dia para serem recordados, devem ser conquistados (e defendidos e usufruídos) todos os dias, geração a geração, entre pequenos gestos e grandes acções. Um dia como este só faz sentido se for usado da mesma forma que os feriados civis nacionais o são: com actividades que chamem a atenção para o assunto. De outra forma, qualquer dia teremos as televisões a anunciarem os descontos do Dia Internacional da Mulher para quem compre uma dúzia de lírios.
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por Luís A.-Conraria,8/3/2015, http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/2015/03/quotas-femininas.html)
QUOTAS FEMININAS
Nesta excelente entrada, a Sara P. diz que leva a sério o seu preenchimento da quota feminina neste blogue. É um assunto sempre muito debatido, devem as quotas ser impostas ou não? (Sim, enquanto não se atingir um nível digno de literacia e de igualdade liberdade e solidariedade).
No ano passado, depois de algumas conversas com uma amiga (feminista), a verdade é que me fui tornando um activista da causa feminista e a considerar a hipótese de fazer parte de um movimento nesse sentido. Talvez por isso tenha ficado mais alerta. E houve um dia em que reparei que este blogue com sete co-autores não tinha uma mulher. E, verdadeiramente, pareceu-me absurdo.
Por essa altura, decidi convidar 4 mulheres para fazerem parte do blogue. A Sandra M., a Sara P., a Vera G.B. (que por motivos profissionais teve de abandonar o blogue) e a Rita C.. Diga-se de passagem que eu já tinha pensado convidar cada uma delas antes. Apenas não o tinha feito porque pensava que não estariam interessadas. Mesmo assim, senti-me um pouco envergonhado ao convidá-las por atacado. Ainda por cima, a Sara P. reagiu logo a perguntar-me se eu a estava a convidar para preencher a quota feminina. Fiquei sem saber o que responder.
Quase em simultâneo, e apenas por coincidência, fui convidado a escrever na Maria Capaz. E fui convidado precisamente para preencher a quota masculina dessa plataforma feminina/feminista.
Tudo isto das quotas pode parecer a muitos um pouco absurdo. Mas a verdade é que alguns dos melhores artigos da Maria Capaz foram escritos por homens (incluindo o meu, diga-se). No caso deste blogue, permitam-me, mais uma vez, a falta de modéstia, a diferença foi fabulosa. Ganhou uma vivacidade, poder de choque e uma qualidade que não tinha graças às novas autoras.
Talvez um dia, quando as empresas forem pressionadas a ter mais mulheres em lugares de topo, percebam isto mesmo. Só têm a ganhar. Não porque as mulheres sejam melhores (ou piores) do que os homens, mas, simplesmente, porque, ao considerarem a possibilidade de recrutar mulheres para lugares de topo, verão duplicada a sua base de recrutamento. E, obviamente, o melhor de entre 100 homens não poderá ser melhor do que a melhor pessoa de entre 200.
Um bom Dia da Mulher para todas e para todos. Mas, em especial, para a minha mulher, que já percebeu que tem um tecto de vidro invisível para quebrar, e para as minhas duas filhas.
----------- IsabelPS:
Uma vez fiz parte dum júri, melhor dizendo, fui assessora dum júri constituído só por homens: corrigi provas escritas e fiz perguntas nas orais de acordo com as minhas capacidades linguísticas, mas só eles tinham direito de voto.
Para meu grande espanto constatei que quando eu fazia uma pergunta a um homem era frequente que ele respondesse duma forma para mim inesperada, quando os meus colegas faziam uma pergunta a uma mulher, acontecia muitas vezes o mesmo: a resposta delas, que me parecia perfeitamente razoável, era visivelmente muito surpreendente para eles.
Tornou-se-me evidente (por isto e por outras coisas que não tinham a ver com género) que os "grupos" tendem a seleccionar quem seja semelhante a eles. Não é por mal, nem é de propósito, mas pura e simplesmente quem seja diferente corre um altíssimo risco de não ser escolhido/ entendido nas suas respostas.
Logo aí decidi que, se eu mandasse, os júris da minha instituição teriam de ser obrigatoriamente constituídos por homens e mulheres. E desde então olhei para as quotas com outros olhos.
----------- Zé T.:
À parte a justeza de acesso e participação das mulheres ...- convém introduzir as Quotas também para salvaguardar o acesso dos HOMENS, sim para proteger os FUTUROS candidatos do outro género a qualquer coisa, pois as mulheres (na sociedade portuguesa e ocidental) estão a conquistar/ obter a maioria dos lugares em várias profissões e categorias:
mais licenciadas, mais professoras, mais enfermeiras e médicas, mais dirigentes, ... mais vendedoras de loja, mais nas caixas de supermercado, ...
Actualmente, nas listas eleitorais (de vários partidos) tem de existir uma pessoa de outro sexo/género em pelo menos 1 em cada 3 lugares (33%) ... - por mim está bem, no mínimo legal deveria ser sempre 1 em cada 5 (20%) para o outro género e poderia ir até 1 em cada 2 (50%) - mas devendo o lugar desta quota mínima ser na 2ª posição ou intercalada ... e nunca no fim (pois nessa posição geralmente fica de fora, em lugar dificilmente elegível, viciando o objectivo).
--- + Contratação Colectiva para diminuir Exploração (de mulheres e de homens) (-por j.simões,8/3/2015, http://derterrorist.blogs.sapo.pt/ )
8 de Março de todos os anos, num país e sociedade que se quer melhor
É por isso que é importante (a melhoria e defesa da legislação laboral/ código do trabalho,) a CONTRATAÇÃO COLECTIVA (e a respectiva acção dos sindicatos e a inspecção da ACT/Estado), porque lá vem, preto no branco, as categorias profissionais, as funções, as condições... e que para determinada categoria profissional corresponde determinada remuneração, independentemente do sexo, e da única vez em que a palavra "mulher" aparece é num capítulo do acordo de trabalho que diz "alínea xis, gravidez".
Faz-me confusão, muita confusão, quando ouço ou leio que as mulheres ganham menos que os homens para trabalho igual. (só pode ser) Nas empresas privadas, dos empresários criadores de emprego e mui liberais, a famosa rigidez patronal. Só pode.
E sem Contratação Colectiva, sem Direitos Laborais, (e com a merd.. desta selvajaria neoLiberal, desreguladora, "flexível", ...) a EXPLORAÇÃO salarial não é limitada aos trabalhadores do género feminino (trabalhadoras) mas estende-se em especial aos "estagiários", aos precários (sem contrato ou com contrato de curta duração), aos "externos" das Empresas de Trabalho Temporário, ... aos mais fracos ou sem poder de negociação nem defesa legal efectiva.
... Da difícil, contínua e indefetível luta pelos Direitos Humanos das Mulheres, temos o exemplo simbólico no facto de só em 1975, a ONU ter proclamado o dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres.
Quanto à justeza da persistência desta luta, são tantos os argumentos, em pleno século XXI, que basta referir alguns dos problemas com que, nesta matéria, nos debatemos nas sociedades ocidentais:
. desigualdades salariais, desigualdades de tratamento,
. violência de género, violência doméstica, violência sexual,
. assédio sexual, tráfico de seres humanos para efeitos de exploração/ prostituição,
. exposição a estereótipos consumistas (publicidade, 'modelos') de mercados masculinizados
e tantas, tantas outras, maiores e menores formas de expressão de "machismos" e "micro-machismos"!...
Isto sem falar na urgência de solidariedade que é preciso reforçar e promover, por esse mundo fora, noutras esferas civilizacionais, em que as mulheres não têm direito de voto, nem de estudar, não podem conduzir, não podem circular nas ruas sem estarem sujeitas à humilhação e falta de dignidade -que, muitas vezes, as próprias não reconhecem!- de cobrirem completa ou parcialmente o seu corpo, onde lhes é negado o direito ao livre-arbítrio, imposto o casamento forçado, a mutilação genital, a impossibilidade de determinar o seu futuro... e onde são, simplesmente!, consideradas, nada mais, nada menos, do que mero património familiar e propriedade patriarcal.
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Portugal e direito ao voto das mulheres Hoje não é o «meu» dia coisíssima nenhuma: é de todos, homens e mulheres, que lutaram, e têm de continuar a lutar, pela não discriminação de metade da humanidade.
Quanto a direito ao voto feminino, em Portugal foi assim:
Tudo começou com o decreto 19.692, de 5 de Maio de 1931. Mas com excepções, como a de Carolina Beatriz Ângelo (na foto) que foi a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto (nas constituintes de 28.05.1911), concedido por sentença judicial, após exigência da condição de chefe de família, dada a sua viuvez.
Em 1933 e em 1946 foram levantadas algumas restrições, mas só quase no fim de 1968, já durante o marcelismo, é que acabaram por ser removidas quaisquer discriminações para a eleição de deputados à Assembleia Nacional. (Depois do 25 de Abril 1974, o direito universal de voto passou a aplicar-se também às eleições presidenciais e autárquicas.)
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Feminismo e anti-sexismo (-J.Vasco, 24/2/2016, EsquerdaRepublicana)
E se é verdade que a implicação inversa não é necessariamente verdadeira, é fácil constatar que a esmagadora maioria das/dos
feministas são-no por serem antes de mais anti-sexistas. Só uma ínfima minoria de feministas não é anti-sexista.
Por outro lado, é possível ser-se anti-sexista sem ser feminista, mas isso exige um enorme grau de desconhecimento da realidade: uma imagem muito distorcida/equivocada a respeito da sociedade actual. Já tomei contacto com pessoas nesta categoria:
dizem-se anti-sexistas e afirmam
querer um mundo justo onde os homens não são privilegiados - e eu acredito nelas -
mas não se consideram feministas pois não consideram que as mulheres sejam significativamente mais injustiçadas/prejudicadas que os homens no contexto em que vivemos. Nalguns casos reconhecem algumas injustiças para com as mulheres, mas contrapõem outras injustiças sexistas para com os homens (por exemplo, em relação à custódia dos filhos) e alegam que as
injustiças num sentido e noutro têm uma importância e gravidade semelhante, ou resultam apenas das escolhas livres feitas pelas mulheres.
Importa pois desfazer este profundo equívoco. Independentemente de pequenos rituais de etiqueta para os quais pode existir uma pressão social mais forte ou mais fraca consoante o contexto, ou algumas situações extremas (e raras) onde as diferentes expectativas sociais podem ser mais ou menos favoráveis a um sexo/género que outro, devemos
centrar a discussão sobre a desigualdade naqueles aspectos que determinam grande parte dos recursos (em tempo e dinheiro) da esmagadora maioria da população:
as tarefas domésticas e os ordenados. Sobre a primeira questão, os dados são claros (para Portugal:
17h de diferença; para vários países da União Europeia:
cerca de 14h de diferença; para os EUA:
cerca de 10h de diferença) - em média as
mulheres passam muito mais horas que os homens a realizar trabalho doméstico. A discrepância é elevada o suficiente para que não a possamos atribuir exclusivamente a alegadas diferenças relativas a gostos ou preferências. Os indícios a respeito de uma pressão social inescapável e consequente são significativamente claros. Não posso deixar de destacar que estes são valores médios, e que existirão casos onde a discrepância será muito superior a esta. Vale a pena também destacar que os valores apresentados correspondem à carga semanal - cerca de 750h anuais
é algo com um impacto tremendo na vida de qualquer um.
Já no que diz respeito aos salários, sabe-se que existem
disparidades salariais significativas (na UE
podem oscilar entre os 3.2% na Eslovénia, 13% em Portugal ou 29.9% na Estónia, para uma média geral de 16.3%; nos EUA
rondam os 22%), e mesmo que algumas delas possam ser atribuíveis a diferentes escolhas pessoais ou características físicas, é
bastante clara a existência de uma
discriminação sexista que não dá as mesmas oportunidades a todos. A este respeito não posso deixar de falar de três estudos elucidativos (entre muitos outros):
. A partir do momento em que as audições para contratações de músicos esconderam o sexo/género do candidato,
a contratação de mulheres aumentou significativamente. Grande parte desse aumento deveu-se a esta alteração no processo de selecção.
Perante o conhecimento destes factos (e muitos outros), qualquer indivíduo que mantenha a convicção de que não existe um desequilíbrio na nossa sociedade que desfavorece as mulheres ao nível dos direitos e oportunidades está simplesmente em negação. Se continua sem ser feminista, não é certamente anti-sexista. ---
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Terça-feira, 21.12.10
Estou um pouco desligado das próximas eleições presidenciais. Acho tudo demasiado mau para que me sinta atraído por esta democracia enferrujada, sucateira, milagreira e corrupta.
Olho para o senhor de Boliqueime, para aquele sorriso cínico, meço a profundidade dos seus tabus, analiso a obra feita e as desculpas esfarrapadas que vai dando para a sua ineficácia, penso na sua dramática falta de cultura, a colagem que a direita faz à sua candidatura, e a minha desilusão não tem medida. Descarto-o.
A seguir, encaro o poeta Alegre, sempre impecavelmente vestido, e penso no que ele fez pela nossa democracia. Concluo que não fez nada. Enfim, é um poeta de estrofes heróicas, de cuja poesia gosto. E um cidadão culto. Mas o que fez ele, como político, em 35 anos de democracia? Esteve confortavelmente sentado na AR a deputar. Deputa, deputa, lá diz o Millôr Fernandes. A estrema esquerda professoral e funcionária colou-se à sua candidatura. Matou-a à nascença por mais votos que o poeta venha a obter. Descarto-o.
Tenho, depois, o santo Fernando Nobre. Viro-o do avesso, abano-o, parece-me morto. O lugar de um santo é no altar. Ou a evangelizar as populações, o que ele fez bem enquanto o fez, levando-lhes aquilo de que elas precisavam: auxílio na desgraça, cuidados médicos, uma mão amiga. Mas não me parece talhado para presidente da República. Pode ter bons contactos internacionais, mas isso não chega. Não terá conhecimentos suficientes de governação, da vida pública e política, dos dossiers, etc. Descarto-o.
Há, também, aquele autarca de província, que embora se chame Defensor Moura só me lembro que tenha defendido Viana do Castelo. Nem penso nele. Descarto-o.
Enfim, não posso esquecer aquele anónimo funcionário comunista chamado Francisco Lopes, que apareceu na televisão de fato e gravata, colando-o à burguesia, que não é o seu estatuto de defensor da classe operária (seja lá o que for a classe operária nos dias que correm). Apagadito e repetindo a cassete do costume, que até já parece uma cassete pirata. Demasiado enjoativo para o meu gosto. Descarto-o.
E agora, António? Sim, eu sei, ainda há mais uns tantos candidatos ou que se propõem sê-lo, o mais destacado dos quais é o bem-humorado Manuel João Vieira.
Mas isto agora é a sério. E, a sério, não vejo em quem votar.
Voto útil? Para esse peditório já dei.
Quero ficar puro para outras eleições. Voto em branco.
António Garcia Barreto [O voo das palavras]
Segunda-feira, 22.11.10
Antonio Costa estará, eventualmente, a ver o mapa das novas juntas de freguesia com um luneta errada, é que passar de juntas paroquiais para justas de bairro de nada adiantará à rigorosa e justa gestão dos recursos publicos.
Como é do conhecimento geral está a debate, para já entre autarcas e políticos, esperando-se a breve prazo (indicava-se, há meses, que seria Outubro) que a população assuma (se para tal lhe for dada possibilidade) o necessário e conveniente debate público.
Durante a elaboração do projecto/estudo os seus responsáveis terão ouvido cidadãos residentes, cerca de 1800 pessoas que entram e saem da cidade e autarcas, no mandato anterior (a grande maioria continuam a ser os memos), eu, talvez porque tenha feito só um mandato, não foi ouvido, mas não foi só...
No passado dia 9 do corrente a Assembleia Municipal de Lisboa promoveu, no Teatro Aberto, uma conferência/debate subordinado ao tema “Um Novo Mapa de Lisboa para o séc. XXI – Modelos de Governação da Cidade”. Este debate destinou-se, essencialmente, a autarcas e a quem com facilidade de “fuga” ao trabalho teve possibilidades de despender de um dia para aí poder deslocar-se. Daqui não se poderá inferir que o debate seja direccionado ao público em geral, pois os “fregueses” a quem o assunto, em ultima e primeira análise, dirá respeito, só poderão participar em debates se eles forem realizados no pós horário laboral. Geralmente somos gente de trabalho!
No referido debate do Teatro aberto O Presidente da CML, António Costa, terá salientado, mais uma vez, a necessidade de uma reforma administrativa, com Freguesias mais alargadas ao nível geográfico e ao nível do exercício de competências. Desta necessidade já ninguém duvida, pois para que servem os mais de mil eleitos para a Assembleias e executivos das actuais 53 freguesias quando no Porto são quinze e já são demais?
Segundo afirmou, o presidente da Câmara de Lisboa espera que a Assembleia Municipal apresente uma proposta do novo mapa de freguesias da cidade até Abril do próximo ano, para que seja aprovada depois pela Assembleia da República. A ver vamos...
O conceito de bairro que o presidente António Costa diz ser preciso recuperar tendo em conta que “As freguesias são espaços de representação dos cidadãos e para que sejam representativas têm que ter identidade e a identidade resulta dos cidadãos se identificarem ou não com essa identidade”, constitui uma falsa razão. Na verdade a grande maioria dos eleitos não se identificam com essa identidade pela razão, constante e corriqueira, das “agremiações” partidárias fazerem constar nas listas de candidatos às autarquias “figuras” que não vivem, não trabalham e não conhecem a realidade da freguesia, (aquilo que bastante gente apelida de “pára-quedistas” da politica) elegendo, por, via disso, incompetente e incapazes de se relacionar com as populações ou bem gerir os recursos do Estado que os contribuintes cada vez mais se vêm obrigados a suportar.
Pela parte que nos toca, achamos muito bem que as freguesias da Ameixoeira e Charneca se fundam e que, salvaguardando certas razões de identidade, se ajustem situações como a do Lumiar/Telheira/Carnide ou Santa Maria dos Olivais/Oriente. Tudo dentro de uma perspectiva de bem gerir os meios materiais e humanos e de promover um melhor serviço de proximidade aos problemas e às pessoas. Mais competências e maior exigência às freguesias e aos autarcas são uma obrigação de futuro, já que o passado, sobretudo em democracia, no que à gestão das freguesias (em espaço urbano) diz respeito deveria, no mínimo, deixar-nos muitas interrogações para não dizer envergonhar-nos, em certas aberrações de relacionamento com a “tutela” concelhia.
Terça-feira, 14.09.10
Manuel Alegre fez, no pretérito e simbólico passado dia 11, a reentre da campanha eleitoral com vista à sua eleição presidencial que acontecerá em Janeiro próximo e fê-lo assumindo um conjunto de compromissos os quais, segundo ele próprio e conforme grande parte da população reconhece, o seu mais directo opositor (ainda que não assumido) o não pode fazer, tanto pela sua postura de ambiguidades assim como pelo vínculo comprometido que tem com a ala mais conservadora e retrógrada da sociedade portuguesa.
De forma clara e inequivocamente assumida MA referiu que com ele na presidência os portugueses têm a garantia que:
- “Nenhum governo nem a Assembleia da República” aprovarão leis que visem despedimentos sem justa causa;
- Que o serviço nacional de saúde, tendencialmente gratuito, não será substituído pelos hospitais privados;
- Que o ensino particular e cooperativo não tomará o lugar do ensino público, com ele conviverão de forma harmoniosa e em complementaridade;
- Que a ética republicana e os restantes valores que consubstanciam uma são vivencia democrática serão uma exigência constante à governação da administração publica, directa e descentralizada, assim como à administração autárquica. A mesma exigência será feita aos actores económicos, políticos e sociais.
- A economia e a política serão instrumentos colocados, mais igualitariamente, à disponibilidade de todos de modo a que se diminuam as assimetrias económicas e sociais que ultimamente se têm acentuado tanto no país como na Europa, a cujo espaço político pertencemos, e no mundo onde temos obrigação de influir mais convictamente.
O candidato, Manuel Alegre, assume compromissos que, pelo menos alguns, outros, efectivamente, não têm condições de assumir.
A eleição não está certa nem segura, têm, o candidato e seus apoiantes, muito trabalho pela frente. Sendo eleito nós, por aqui, estaremos para relembrar estes e os mais compromissos assumidos.
Quarta-feira, 25.08.10
Com o anunciado candidato do PCP são quatro à esquerda. Os ingredientes pré-anunciam uma reeleição, de Cavaco, muito facilitada pelos adversários e respectiva dispersão de votos.
É facto, e a Constituição assim o prevê, que seja elegível qualquer cidadão eleitor, português de origem que tenha mais de 35 anos, nos termos do artigo 122º da nossa lei fundamental.
Em tais circunstâncias a legitimidade de se propor a eleições é igual para todo e qualquer cidadão ou cidadã (porque não uma mulher a presidente?) no pleno uso dos seus legítimos direitos e deveres democráticos de cidadania que o fará, mais ou menos (nem sempre como é o caso do PCP que é o comité central a decidir) livremente e por iniciativa própria.
Contudo, entre a igualdade ou a universalidade e a racionalidade, as escolhas nem sempre são fáceis de fazer, veja-se a presente situação de corrida a Belém entre a dispersão de candidatos à esquerda que já conta com quatro candidaturas (Alegre, Nobre, Moura e Lopes) e a aflição da direita que por um lado se não encontra satisfeita com o desempenho de Cava Silva e por outro contínua colada ao tabu da sua mais que putativa recandidatura. Neste caso as “lebres” só favorecem o adversário.
Uma vez perdido o jogo das presidenciais sempre se poderão entreter na sueca...
Se a esquerda leva vantagem, tanto no número de candidatos como na antecipação da presença no terreno, acarreta a mortífera pulverização de votos.
Certamente que com uma tal dispersão, de cruzinhas no quadradinho, associada à eventual abstenção no centro-esquerda os ideólogos da recandidatura de Cavaco, muito naturalmente, o aconselham a retardar, o mais possível, o anuncio da sua decisão, com duas vantagens incontestáveis: primeira é manter os, evidentes, benefícios de actuar como Presidente, a segunda é o efeito psicológico de uma vitória antecipada.
A vitória, assim, até pode ser menos digna, mas, quem se importará com isso a avaliar pela democracia que, actualmente, vamos vivendo?