Só os «cegos», os «maus» e os «estúpidos» é que não viram... Os outros não quiseram «ver» ou interessava-lhes «não verem».
Só uma mudança real de políticas pode tentar resolver este regime opressor. Não, não basta uma mudança de políticos, sobretudo se essa mudança for por políticos que de uma forma mais ou menos passiva ou ativa estão ou já estiveram no sistema e por isso são coniventes com as políticas do passado recente.
É preciso inverter esta calamidade, esta guerra a que estamos submetidos. Vai ser difícil mas ainda é possível. Não podemos é esperar muito mais. E sobretudo não podemos ficar à espera que venha alguém resolver por nós...
Só nós mesmo é que podemos fazer a mudança. Assim o povo (nós) queiramos.
Reafirmam o contrário da proposta que fizeram sexta passada… É assim o Eurogrupo… E se alguém disser que o fim que esta corja merece é o mesmo que teve o Rei D. Carlos ou o Luis XVI ainda são capazes de o chamarem de “radical” ou “populista”… para mais vejam o Guardian
Para quem ainda tivesse algumas dúvidas, o Euro é a moeda da Alemanha e seus satélites (Áustria, Holanda, Finlândia…). E é um dos seus instrumentos privilegiados para sugar os recursos da periferia e aprofundar ainda mais a relação desigual a nível económico, financeiro e de poder político no seio desta “União”, entre o “core” Alemão e o resto.
Pensar que algum processo de retoma económico é possível sob este jugo é imbecil. ... um país com os níveis de endividamento de Portugal (ou Grécia, Itália, Espanha, Chipre, Eslovénia, etc…) só pode sair da actual situação com uma profunda re-estruturação da dívida, incluindo o puro e simples cancelamento de parte dela, COMÉ ÓBVIO. Foi exactamente isso que possibilitou o chamado “milagre económico Alemão”, aliás no acordo de Londres foi na prática cancelada mais de metade da dívida Alemã.
Mas é necessário equacionar seriamente a saída do Euro, porque o não pagamento/re-estruturação/renegociação da dívida só será possível rompendo com a actual lógica da União. Mais, se o Euro e a dívida são as ferramentas mais visíveis do estrangulamento económico das periferias, estão longe de ser os únicos instrumentos. A actual arquitectura institucional da UE, regulamentações, decretos e directivas, emitidos pelo Conselho ou pela Comissão, sobre a Saúde, a Educação, a Finança ou os Transportes têm dois vectores fundamentais:
- a liberalização/privatização (proibição/limitação da intervenção directa do estado na economia)
- e a desarticulação do sector produtivo das periferias (mercado único e globalização)… Claro que se é do interesse da Alemanha manter o controlo estatal directo nalguma indústria a regulação europeia é alterada ou não é cumprida. Mas no caso dos países periféricos, as directivas são aplicadas impiedosamente (criando muitas vezes situações ridículas), e é o grande capital centro-europeu (às vezes até estatal!) que acaba por ficar a controlar os sectores que são privatizados na periferia… Exemplos no sector dos transportes, energias e outros não faltam…
Mas também são responsáveis (e não responsabilizadas) as elites domésticas dos periféricos que desempenham um papel fundamental de activos colaboracionistas. Sem se romper com toda esta lógica é impossível sair da crise e manter regimes democráticos. Claro que a saída do Euro, está longe de ser a única medida necessária: ...
- uma operação “mãos limpas” bastante sumária com confisco de propriedade (dos responsáveis/criminosos) em elevada escala;
- uma reforma do estado a sério que o torne num eficaz instrumento ao serviço dos cidadãos (e não, como em certos sectores, e.g. CGD, um depósito de primadonas do regime). Não confundir com o plano em implementação de destruição do estado social, o que a Troika/Passos agora estão a fazer resultará num afundar anda maior da economia (por via da contracção, ainda mais da procura), num desarticular dos serviços sociais essenciais para a manutenção de mínimos de vida dignos, em abrir novos mercados para gangsters amigos que irão vampirizar áreas como a saúde, educação e assistência social … ...
O Chipre está falido porque a sua banca sobre-dimensionada estoirou, em parte devido ao impacto da reestruturação grega no seu sistema bancário. Reunidos na sexta-feira, os ministros das finanças da zona euro esperaram pelo encerramento dos mercados para aprovar o plano de resgate ao Chipre (ver nota do Ecofin). Esse plano contém uma cláusula inesperada e sem precedentes na UE: uma taxa de 6,75% sobre o valor dos depósitos até 100.000 euros (supostamente garantidos pelo Estado em todas as eventualidades, incluindo a falência do banco) e de 9,9% para depósitos acima de 100.000 euros. Em troca os depositantes “confiscados” receberiam ações dos bancos. Os bancos estarão fechados pelo menos no fim-de-semana e na segunda-feira. Nesse período as contas serão purgadas do valor da taxa. Os depósitos acima de 100.000 incluem muitas contas de cidadãos russos habituados a recorrer a Chipre como lavandaria (de máfias e oligarcas...). Diz-se que o parlamento alemão jamais aprovaria um “resgate” à banca cipriota que deixasse incólumes os depositantes russos. O que há de extraordinário aqui não é o confisco das contas gordas, russas ou não, nem a relutância alemã em salvar bancos-lavandaria. Extraordinário é o confisco aos pequenos aforradores. Neste ponto a responsabilidade parece ser do novo governo conservador cipriota. Este governo teria preferido distribuir o mal pelas aldeias, em vez de o situar acima do limite garantido de 100.000, para preservar o “prestígio” de Chipre como porto de abrigo de piratas financeiros. Mesmo assim será interessante saber até que ponto os credores dos bancos cipriotas, inclusive os credores alemães, irão também sofrer perdas. É cedo para ter certezas quanto à perigosidade dos demónios que esta decisão da EU libertou. Fico-me por citações de duas notícias de jornal. Lê-se no grego Ekathimerini: “A notícia do acordo foi recebida com choque em Chipre, já que o recém-eleito Presidente Nikos Anastasiades e os seus conselheiros económicos (conservadores/direita) haviam dito ser contra a ideia de uma taxa sobre os depósitos. Anastasiades reunirá o governo e encontrar-se-á com lideres políticos rivais no Sábado à tarde e dirigir-se-á à nação no domingo. O candidato presidencial Giorgos Lillikas apelou a um referendo acerca da aceitação ou rejeição pelos cipriotas da taxa sobre os depósitos. À falta do referendo exigiu a convocação imediata de nova eleição presidencial. Lillikas disse também que estava em conversações com economistas acerca da criação de um plano para o abandono do euro por parte de Chipre e o regresso à libra cipriota. O secretário geral do Partido Comunista de Chipre (AKEL), Andros Kyprianou, disse que o seu partido está a considerar aconselhar Anastasiades a convocar um referendo ou retirar Chipre da zona euro. Desde a manhã de sábado, os cipriotas formaram filas nos bancos para retirar dinheiro e algumas caixas multibanco ficaram sem notas para entregar aos clientes.” Lê-se no britânico Economist: “Os lideres da eurozona falarão do negócio como algo que reflete as circunstâncias únicas que rodeiam Chipre, exatamente como fizeram com a reestruturação da dívida Grega no ano passado. Mas se o leitor for um depositante num país periférico que parece precisar de mais dinheiro da eurozona, qual seria o seu cálculo? Que nunca seria tratado como as pessoas em Chipre, ou que havia sido estabelecido um precedente refletindo a exigência consistente dos países credores de uma repartição do peso do fardo? A probabilidade de grandes e desestabilizadores movimentos de dinheiro (para notas e moedas, senão para outros bancos) foi desencadeada.”
No Chipre, já nem se tenta que aquilo a que chamam de “resgate” não se pareça com o que realmente é: um assalto. Aliás, os lunáticos irresponsáveis que dirigem a Europa transmitiram uma mensagem extraordinária para todos os europeus: é perigoso deixarem o vosso dinheiro no banco. É oficial: o euro e a União Europeia têm os dias contados.
O poder financeiro europeu deixou-se de subterfúgios e passou ao saque directo às pessoas, ao roubo instituído por decreto político. O fogo que queimava na seara desde 2008 irá reacender-se com toda a força. Se os nossos economistas que andam aí pelas televisões a debitar asneiras conhecessem um pouco de História, saberiam que muito do que está a acontecer precedeu também a 2.ª Guerra Mundial. Dirigimo-nos para o desastre e ninguém parece com vontade de parar. A pior geração de líderes europeus a liderar o combate à crise financeira de 2008 só poderia dar nisto. Ninguém estará a salvo.
---- comentários:
«... a intervenção da troika no Chipre tem como alvo principal salvar a banca cipriota? O caso é o de sempre - o povo cipriota é chamado a resgatar/ pagar os prejuizos dos banqueiros, ou seja, vai ter de pagar forte e feio pelo dinheiro que já tinham depositado no banco, enfim, é como se você depositasse o seu dinheiro no meu banco e depois tivesse que pagar 10% do que lá tem para poder receber os outros 90% - isto depois de eu lhe ter prometido juros pelo seu depósito. E porque é que eu(banqueiro) desbundei o seu dinheiro? Ora, porque não?. Não me acontece nada, eu não perco nada, não perco a casa, o carro, o salário, a reforma e portanto que se fod@ já que no entretanto ainda ganhei chorudas comissões pelos investimentos desastrosos que fiz e que estão devidamente depositadas nas caraíbas.»
« Independentemente de tudo, cada vez mais me convenço que a Europa caminha, mais uma vez, para o desastre. A substituição do ideal europeu (expresso nas 12 estrelas da perfeição sobre um fundo azul do céu e do mar, a par com o Hino da Alegria de Beethoven, música para o poema da fraternidade universal de Schiller) por uma ditadura do BCE e dos mercados financeiros que capturaram as instituições europeias e condenam os povos ao empobrecimento e à perda de direitos duramente conquistados estão a destruir a UE. E, sinceramente, não vejo ninguém capaz de parar esta dinâmica destrutiva. Como europeísta de esquerda, sinto uma enorme mágoa mas uma raiva profunda contra os canalhas que a estão a levar a cabo. Ou nós os paramos ou eles nos param a nós!»
A propósito do "resgate" financeiro do Chipre a ser decidido hoje. 11Fevereiro2013, os ministros das finanças do Eurogrupo vão-se reunir para decidir o "resgate" financeiro de Chipre. Este pequeno país do Mediterrâneo encontra-se numa situação muito frágil em consequência quer do crescimento desmesurado do seu sistema financeiro, quer da exposição deste sistema financeiro às ondas de choque gregas. Ao longo do tempo o Chipre transformou-se num paraíso fiscal para o leste europeu, oque resultou num sistema financeiro oito vezes maior que o seu PIB – algo reminiscente da Irlanda. Além disso, a reestruturação da dívida grega do ano passado impactou de forma grave o seu sistema bancário. Acrescente-se a crise económica generalizada e temos este pequeno país nas mãos dos seus credores europeus. Até aqui nada de novo. Já vimos este filme de terror umas quantas vezes.
O que torna o "resgate" financeiro cipriota interessante são os termos em que este está a ser discutido, radicalmente diferentes dos anteriores.
Segundo o Financial Times os ministros das finanças têm em sua posse um memorando secreto que considera diversas alternativas de "resgate". A mais interessante é obviamente a mais radical. Esta propõe duas coisas que são verdadeiros precedentes. A 1ª é que este resgate não deve proteger os ativos financeiros dos agentes que não estejam abrangidos pelo seguro público aos depósitos. Os maiores depositantes, com depósitos acima da norma europeia de 100 mil euros, perderiam o remanescente. Aparentemente, esta medida afetaria sobretudo "investidores" russos, gente que não faz parte da zona euro. A 2ª proposta diz respeito a uma renegociação da dívida soberana cipriota imediata, com imposição de perdas de 50% aos detentores privados. A dívida cipriota seria assim de 77% do PIB em 2015, contra os agora previstos 140%. Nada mal...
Não tenho grandes esperanças que o que venha a ser aprovado hoje na reunião do Eurogrupo seja algo parecido com estas propostas. Todavia, há três lições importantes a tirar.
A primeira diz respeito à nacionalidade dos credores. Aparentemente, quando estão em causa credores de fora da zona euro, onde se misturam as considerações geo-estratégicas, a UE parece ter menos apetência para os proteger face aos estados soberanos.
A segunda lição diz respeito à inexistência de risco de contágio (coisa de qual não estou seguro) que permite mais graus de liberdade na forma como as negociações se fazem. Países que colocam riscos ao centro europeu, como Portugal ou a Grécia, ficam sujeitos a um açaime bem mais apertado. Paradoxal, não?
Finalmente, o corte na dívida e a necessidade de a colocar numa trajetória financeiramente sustentável é, depois da asneira continuada na Grécia e em Portugal, cada vez mais assumida pela União Europeia. No entanto, dada a composição atual dos nossos credores (com a troika com cada vez maior peso) não é expectável que o que venha a ser aprovado para o Chipre tenha qualquer efeito automático em Portugal.