Sábado, 19.03.16

 -----   Castigo  indigno        (-Pedro Figueiredo, 16/3/2016, 365forte)

   Na primeira visita da actual ministra da Justiça à Assembleia da República, Francisca Van Dunem afirmou, a propósito das condições das prisões portuguesas, que o Estado tem o direito de suspender a liberdade aos seus cidadãos pelos crimes por estes cometidos, mas nunca a dignidade. Este deverá ser o ponto de partida com que o senado francês discutirá o projecto de revisão constitucional denominado Protecção da Nação, que hoje e amanhã tem lugar na câmara alta do parlamento francês. A votação final é dia 22.

    Para além de alterações ao estado de emergência, o documento prevê também a perda da nacionalidade aos franceses condenados por "um crime ou um delito que constitua um atentado grave à vida da nação".(?!  tudo o que o governo e secreta quiser !!) Já nem se fala em terrorismoA ideia original apresentada por Hollande ao congresso em Versalhes, três dias depois do ataque ao Bataclan, afectava apenas os detentores de dupla nacionalidade mesmo nascidos em França. No entanto, as críticas de discriminação não tardaram e a emenda foi pior que soneto: o texto final aprovado a 10 de Fevereiro na Assembleia Nacional incluiu todos os cidadãos. Sem excepção. O que, no caso de quem não tem dupla nacionalidade, significa tornar-se apátrida. Algo que o presidente francês, no mesmo discurso de Novembro, havia recusado.

     Foi ao argumento de “responsabilidade igual, sanções iguais” que o primeiro-ministro francês se agarrou na audição que teve para convencer os senadores a aprovar um texto que devia envergonhar o berço do Iluminismo. Assim explicaram os dois professores de direito constitucional que o Senado também já ouviu sobre o assunto. “Se o sentimento de pertença a uma nação não forja a ideia de comunidade política então é necessário retirar da Constituição as referências a valores e símbolos como a bandeira, o hino e o lema”, explicou Dominique Chagnollaud, continuando: “Os tempos conturbados em que vivemos são uma boa oportunidade para recordarmos certos princípios”. Os mesmos que serviram de base à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e que contagiou o Mundo de forma a que ainda hoje sirva de guia ideológico. Paris é, pois, um farol em perigo de perder luz. Que valha o Senado.

    A questão torna-se ainda mais incompreensível na medida em que a nacionalidade é um direito consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. XV) e qualquer violação é um atentado à dignidade da pessoa. Aqui levada a cabo pelo próprio Estado que se rege pelo princípio jus solis, atribuindo o direito de nacionalidade a todos os que nasçam em solo francês.  O código civil francês, no artigo 25º, já prevê a perda de nacionalidade. No entanto, salvaguarda os casos em que tal implique a criação de apátridas. Não há crime algum, por mais hediondo que seja, que justifique castigos indignos (tortura, pena de morte, apátrida, ...) inscritos na lei.

-----     os traques do (herói) Gama cheiravam a rosas     (-P.Pinto, 16/3/2016, Jugular)

    Não duvidem que sim. Quem sabe, às rosas produzidas pelo prof. Tournesol n'As Jóias da Castafiore, já que se trata de matérias com evidente afinidade. Nem estou a ver como não. Aliás, os mal-cheirosos só apareceram depois, muito depois. Há quem diga que foi com os Filipes, há quem afirme que foi com os liberais, e há quem jure a pés juntos que foi só em 1974. Nesses tempos gloriosos, não, nunca. A ver pelas reações da notícia que veio a lume há dois dias, a do anúncio da alegada descoberta dos destroços de uma nau portuguesa em Omã, nem outra hipótese é, sequer de considerar. Nesses tempos, tudo o que os portugueses faziam era heroico e glorioso e enche-nos (ou deveria encher-nos) de orgulho. Como diz um comentário à notícia, "É este o Portugal que me enche de orgulho, é neste país que me revejo, é esta a Pátria de nossos valerosos antepassados que Camões tantas vezes sublimou!". Outro diz "Notável descoberta reveladora uma vez mais da nossa capacidade, enquanto Nação", ... todo o fervor pátrio em poucas palavras: "O portugal Gigante. ...". Até o insigne deputado Carlos Abreu Amorim não se contém na sua emoção patriótica e deixa escapar um "Histórias de orgulho dos povos que têm história", na sua página do Facebook. É que, pelos vistos, há povos que não a têm; só os merecedores dela, concluí eu. Mas depois, já no Twitter, emendou a mão dizendo que "há povos que têm mais história que outros" e que nós "temos muita". Aqui, confesso, esgotaram-se-me os argumentos; já quando era puto tinha dificuldade em discutir com o senhor da mercearia.

    Bom. Eu cá não gosto muito de me pronunciar sobre glórias e heroísmos, mas posso dizer alguma coisa sobre orgulho. O orgulho é uma coisa magnífica: não custa nada, não precisa de ser aprendida ou treinada, não é parca nem rara e faz os seus possuidores sentirem-se no topo do mundo. Se é justificada ou não, é lá com cada um. Eu posso achar é que os faz passar por figuras ridículas, mas isso é apenas a minha opinião. Mas já agora, e se não tomar muito tempo, talvez fosse interessante olhar um bocadinho para os tais motivos de tão hiperbólico "orgulho". Na verdade, o que foi achado (assumindo que se confirma a autenticidade da atribuição dos vestígios às naus de Vicente Sodré) foram apenas destroços de naus portuguesas. Motivo de orgulho? bem... com certeza que sim, mas as mesmas faziam parte da 4ª armada que partiu de Lisboa para a Índia, portanto, é um orgulho assim já a dar para um bocejante déjà vu. A armada fez grandes serviços, feitos de navegação notáveis? Nem por isso, era uma armada de patrulha que Vasco da Gama deixou na Índia quando ele próprio regressou à Europa, para controlar a situação e proteger Cananor e Cochim dos ataques de Calecute. O capitão Vicente Sodré, aparentemente em desobediência ao seu sobrinho almirante, preferiu ir fazer razias aos navios muçulmanos que iam e vinham do Mar Vermelho. Se fossem navios árabes (ou vikings ou ... ingleses) a fazer o mesmo no Algarve - que o faziam, não duvidemos - seriam por cá chamados de "piratas"; mas como eram 'os nossos' portugueses no Índico, bom, nesse caso são heróis que nos enchem de "orgulho".

   Vicente Sodré era o comandante da pequena frota que ancorou junto às ilhas de Kuria-Muria (como eram chamadas na época). Os portugueses foram alertados pelos habitantes da terra da aproximação de uma tempestade. Podiam ter procurado abrigo, tiveram tempo, oportunidade, meios e informação para isso. Não o fizeram. Ou acharam que as âncoras e a robustez das naus resistiriam à tormenta, ou não quiseram perder presas e saques. Numa palavra, ou foram estúpidos (a bazófia nacional, ao contrário do heroísmo, não esmoreceu por cá, como se vê), ou gananciosos. Vicente Sodré, enquanto comandante da armada, foi incompetente e responsável pela perda de dois navios e de muitas vidas. A mim, pessoalmente, nada disto me suscita especial orgulho, mas isso deve ser cá defeito meu, a juntar à falta de patriotismo. Adiante: o resultado - naufrágio de ambas as naus - está à vista. O irmão de Vicente Sodré, Brás, que comandava a 2ª nau (S. Pedro, também afundada com a Esmeralda), apressou-se a mandar matar os pilotos árabes, aparentemente em vingança pela morte do irmão. Já nessa altura a culpa era sempre dos técnicos e nunca dos líderes, mas pronto: eis o excelente comportamento de um herói, merecedor dos maiores orgulhos, para quem assim achar.

    Bem. Ok. Vá lá, Vicente Sodré e os seus homens tinham defeitos, como todos nós. Eram subalternos que aproveitaram a ausência do patrão para umas farras e a coisa correu mal, ups!, falta de calo, azar, inexperiência, a gente desculpa. Agora se o insigne Vasco da Gama, o tal dos traques aromáticos, estivesse presente, ah caramba, aí a glória tinha escorrido abundantemente, tinha sido uma indigestão de heroicidade. Certo? Hmmm. Se os destiladores de orgulho conhecessem os pormenores da estadia do Gama na Índia, antes do tal regresso, não sei, se calhar tinham que fazer segunda destilação, quiçá mais refinada e discreta. É que a dita estadia (a 2ª na Índia, relembre-se) foi particularmente sanguinária e brutal. Como diz o cronista Gaspar Correia, o almirante regressou à Índia empenhado em, antes de mais, vingar as afrontas que sofrera na primeira viagem e as que padecera Pedro Álvares Cabral. Mais adiante, o mesmo cronista descreve um episódio sintomático. Sintomático de quê? De heroísmo e glória? Eu acrescentaria: claro (e especialmente aromáticos), mas também do espírito ecuménico e de tolerância que o nosso PR tão bem relembrou na sua tomada de posse. Aqui vai: primeiro torturou o embaixador (um brâmane hindu) do Samorim de Calecut para lhe extorquir informações. Depois, e como presente de despedida antes de o devolver ao seu senhor, "mandou cortar os beiços de cima e de baixo [...] e mandou cortar as orelhas a um cão da nau, e as mandou apegar e coser com muitos pontos ao brâmane no lugar das outras".

      Já anteriormente atacara um navio carregado de peregrinos muçulmanos que vinham de Meca (sobretudo mulheres e crianças) para Calecut e recusara todas as ofertas de resgate (as riquezas do navio eram imensas) pelas respetivas vidas. Em vez disso, mandou imobilizá-lo e afundá-lo a tiros de bombarda e, depois, pegar-lhe fogo. As mulheres gritavam e mostravam dinheiro e jóias, pedindo misericórdia para resgatar as suas vidas; "algumas tomavam nos braços os seus filhinhos e os levantavam ao ar, persuadindo-o assim que tivesse piedade daqueles inocentes". O herói Vasco da Gama assistiu a tudo de uma escotilha e manteve a sua postura impassível. Não sou eu quem o diz, é o português Tomé Lopes, que estava a bordo e assistiu a tudo. O mesmo que registou que os eventos tiveram lugar a 3 de outubro de 1502, dia que, como afirma, "hei de recordar todos os dias da minha vida". Eu entendo. Quem assiste a tamanho banho de glória não se esquece e, 500 anos depois, não faz esmorecer o gorgulho a quem o relembra. Orgulho, orgulho, bolas, maldito corretor. Os traques do Gama cheiravam a rosas? Enganei-me, queria dizer cheiram.

     --- J.S.:    Quando os outros fazem as coisas são bárbaros, medievais, mauzões, o que se quiser. Quando somos nós, chamamos-lhe heroísmo. Vamos admitir que os disparates escritos ... são fruto da ignorância. Para sermos bonzinhos. É que se não são fruto da ignorância, então o que estes  comentadores andam a fazer é a apologia do genocídio... Ponto final.



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Segunda-feira, 18.01.16

Horário de 35 horas para a administração pública - Histórico


     Sobre um dos temas do dia, e para entender de que se está a falar, procurei dados sobre a evolução histórica dos horários de trabalho na função pública. Os dois quadros aqui publicados resumem-na bem, na minha opinião. (clicar)     -- (Daqui   http://www.stal.pt/   : Avanços civilizacionais -vs- desvalorização salarial e saque aos trabalhadores e reformados.)
------------ Está na hora de outra economia política
  Como argumentámos na altura, o aumento do horário de trabalho no sector público para as 40 horas fez parte de uma ofensiva anti-laboral mais vasta, geradora de injustiças sociais e irracionalidades económicas imbricadas: desemprego de massas acentuado, de um lado, gente a trabalhar cada vez mais horas, do outro.
      Segundo Vital Moreira, a reposição das 35 horas no sector público vai reintroduzir uma desigualdade face ao sector privado, incentivando este último a corrigi-la, o que Vital Moreira vê como uma verdadeira desgraça para os patrões, que neste quadro intelectual levam o nome de “competitividade”, sempre reduzida à componente salarial. Na realidade, Vital está a descrever um processo virtuoso, em que uma alteração da correlação de forças num ponto estratégico do mundo do trabalho pode gerar dinâmicas de contágio laboral progressista noutros. A troika e o seu governo (neoliberal) estavam, embora em sentido contrário, a par disto: economia política do retrocesso (civilizacional e dos direitos humanos), chamámos-lhe.
      A conversa sobre a desigualdade entre trabalhadores do público e do privado ou entre trabalhadores novos e velhos, trabalhadores no activo e reformados (sempre trabalhadores...) serve para criar divisões horizontais que ofuscam as verdadeiras desigualdades verticais numa sociedade capitalista. Estas últimas só podem ser reduzidas pelo empoderamento dos trabalhadores, como até a investigação do FMI confirma: trata-se de um processo que ocorre a diferentes velocidades, sendo os seus feitos igualizadores cultivados por organizações que encarnem os interesses comuns do mundo do trabalho assalariado. Em Portugal, a que está mais próxima disto chama-se CGTP.
      Sabemos que uma das artes do controlo é dividir o mundo do trabalho para reinar, sabemos que esta é uma arte que exige muito investimento, das tecnologias às ideias.    A arte socialmente mais útil é a que caminha no sentido contrário: partindo da acção colectiva das classes trabalhadoras para um projecto nacional-popular que não dispensa fracções das tais classes capitalistas de que nunca se fala na sabedoria convencional (a segmentação que mais interessa politicamente tem de se fazer aí...).   (-
 
----- Da série   "Não Há Dinheiro Para Nada"     (por j. simões, derTerrorist, 18/1/2016)

 "Just 62 people now own the same wealth as half the world's population, research finds"-  "An Economy for the 1%".

62 pessoas (a hiperclasse dos 1%, os super ricos, + que bilionários) detêm a mesma riqueza que metade da população mundial !!  (ou: 62 super ricos são donos de metade do mundo !!).

UK paying millions in aid money to fund overseas tax havens 

David Cameron's father left assets in Jersey tax haven for family to inherit 

Miliband: Tax havens would be forced to expose companies

Last year an investigation by the Independent revealed that the UK was paying millions of pounds to EU-listed tax havens  in the form of international aid.

A significant number of tax havens are also British Crown dependencies and have Queen Elizabeth II as their head of state.

The Government says it has made cracking down on tax avoidance a priority. In September HMRC said it had collected £1bn from users of tax avoidance schemes as a result of new rules.



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Quinta-feira, 21.05.15

    A participação cívica e política  está em processo de mudança, embora também o alheamento e a abstenção aumentem e sejam cada vez mais visíveis o fanatismo religioso, os comportamentos de arruaceiros, as milícias e fortes organizações criminosas, ... e o securitarismo (público e corporativo, de video-vigilância, de seguranças, de intrusão e burla-furto de dados pessoais, controlo de comunicações, etc).   Os partidos e os 'políticos', os sistemas eleitorais e as instituições da própria democracia, estão sob fortes críticas e/ou afastamento dos cidadãos.

     Neste panorama, crescem as actuações de lobbies pouco transparentes (económico-financeiros mas também as teias/redes de influência e pressão de 'barões'/oligarcas, grupos civis, religiosos, maçonarias, ... e de partidos/movimentos fascistas e paramilitares).    Por outro lado, de forma mais transparente e em 'democracia directa' surgem muitas manifestações, campanhas e petições, iniciadas por simples cidadãos da nossa comunidade, por associações/ movimentos diversos e algumas são até apoiadas e/ou coordenadas (...)internacionalmente, para melhor tentar atingir os seus objectivos, sobre qualquer assunto - seja ele local, nacional ou global.

     As agências de comunicação, os mídia, as redes sociais e a internet potenciam todas estas participações mas também a manipulação e o "massacre" informativo/ deformativo/ enviesado/'spin', obrigando a alguns cuidados e resguardos e limitando/ reduzindo de facto a democracia e os direitos cívicos políticos e sociais. Daqui resulta que, para sobreviverem, os Partidos e as instituições Democráticas terão de melhorar a sua actuação e que os Cidadãos têm de o ser participativos e responsáveis.

   Para comparação (rigidez partidária vs dinamismo/atracção de uma organização cívica) e reflexão, apresento o 'estilo' de organização e actuação da plataforma para petições  Avaaz   :

«... A  Avaaz (voz) é uma comunidade de mobilização online que leva a voz da sociedade civil para a política global. Uma comunidade transnacional que é mais democrática e poderia ser mais eficaz que as Nações Unidas. Uma simples missão democrática: mobilizar pessoas de todos os países para construir uma ponte entre o mundo em que vivemos e o mundo que a maioria das pessoas querem

    Tecnologia, agilidade e flexibilidade   Antigamente, os grupos de cidadãos e movimentos sociais que atuavam em nível internacional tinham de reunir uma base de apoiantes em cada causa, ano a ano e de país a país, a fim de alcançar uma escala suficiente para fazer a diferença.
   Hoje, graças à tecnologia e à ética cada vez maior de interdependência global, essas restrições não se aplicam mais. Enquanto outros grupos da sociedade civil mundial são formados por redes com nichos de causas específicas e escritórios nacionais, cada um com sua própria equipe, orçamento e estrutura de tomada de decisão, a Avaaz tem uma única equipe de atuação mundial, com a missão de trabalhar com qualquer questão de interesse público. Isso permite a organização de campanhas com uma agilidade, flexibilidade, foco e escala extraordinários.
    A comunidade virtual da Avaaz atua como um megafone para chamar atenção para novas questões; como um catalisador para canalizar as preocupações públicas dispersas em uma única campanha específica e concentrada; como um carro de bombeiros que corre para oferecer uma rápida reação a uma emergência súbita e urgente; ou como uma célula-tronco de ativismo que cresce na forma mais adequada para preencher alguma necessidade urgente.
     As prioridades e a força da Avaaz vêm dos próprios membros
  Todo ano, a Avaaz define as prioridades do movimento por meio de pesquisas entre todos seus membros. As ideias para campanhas são submetidas a pesquisas e testes semanalmente com amostras aleatórias distribuídas a 10.000 membros, e apenas as iniciativas que recebem uma forte reação positiva são implementadas em grande escala. As campanhas que acabam chegando a todos os membros são depois reforçadas, muitas vezes, por centenas de milhares de membros da Avaaz participantes no período de alguns dias ou mesmo horas.
    Uma ética de liderança servidora
   A equipe da Avaaz escreve alertas de e-mail à comunidade de membros da mesma forma que um assessor de presidente ou de primeiro-ministro prepara breves relatórios informativos para o chefe: temos pouco tempo para transmitir as informações vitais de que o leitor precisa para decidir se deseja envolver-se na campanha, e essa decisão é de crucial importância para a campanha.
    Para que esse breve momento de atenção produza frutos, é tarefa da equipe fazer com que os poucos minutos disponíveis, multiplicados por imensas quantidades de indivíduos, possam fazer verdadeiramente a diferença em alguma questão importante. A equipe trabalha com parceiros e especialistas para desenvolver estratégias de campanha que sejam eficazes e definidas pelos membros; sumariza essas estratégias através de alertas de linguagem clara e impactante; e, se o quadro de membros da Avaaz desejar prosseguir com a ideia, assegura que a campanha seja executada, entregando abaixo-assinados e mensagens de membros, organizando campanhas publicitárias financiadas pelos membros ou tomando qualquer outra medida necessária.
     Em outras palavras, a equipe da Avaaz não define sozinha um programa de ação para depois tentar convencer os membros a segui-lo. Na realidade, o processo é mais próximo do oposto disso: a equipe consulta/ouve os membros e sugere ações que possam implementar para influenciar o mundo de um modo geral. Assim, não é à toa que muitas de nossas campanhas bem-sucedidas foram sugestões dos próprios membros da Avaaz. E a liderança é uma parte crucial do serviço prestado pelos membros: é preciso ter visão e habilidade para encontrar e transmitir um modo de construir um mundo melhor.
    Nosso foco é propiciar uma guinada decisiva em momentos de crise e oportunidade
No decorrer de uma questão ou causa, às vezes surge um momento em que é preciso tomar uma decisão, e um protesto público em massa pode subitamente fazer toda a diferença. Mas para chegar a esse ponto são precisos anos de trabalho meticuloso, geralmente nos bastidores, feito por pessoas dedicadas que se concentram inteiramente nisso. Porém, quando o momento chega de facto e a atenção pública passa a incidir sobre nós como a luz do sol, as decisões mais cruciais podem seguir em uma direção ou outra, a depender das percepções que os líderes têm acerca das consequências políticas de cada opção. É nessas breves janelas em momentos de imensas crises e oportunidades que a comunidade da Avaaz muitas vezes deixa sua marca.
    Em qualquer país, em qualquer questão, momentos assim acontecem, talvez, apenas uma ou duas vezes por ano. Por outro lado, como a Avaaz pode funcionar em todos os países e em todas as questões, esses momentos podem aflorar diversas vezes em apenas uma única semana.
    Nosso modelo de financiamento pelos membros mantém nossa independência e obrigação de prestar contas
    Como a Avaaz é inteiramente financiada pelos próprios membros, a prestação de contas democrática está em nosso DNA. Nenhum patrocinador corporativo, nem governos podem insistir que a Avaaz mude suas prioridades para se adequar a algum programa externo; nós simplesmente não aceitamos recursos de governos, nem de empresas.
     Em vez de nos fragmentar, nós crescemos – unidos por valores
   Movimentos, alianças e organizações muitas vezes, com o tempo, se fragmentam em muitos grupos menores – ou então gastam cada vez mais seu tempo tentando manter unidas os grupos rivais. Na Avaaz, reconhecemos que as pessoas de boa vontade muitas vezes discordam em temas específicos; em vez de pressionar por um consenso, cada um de nós simplesmente decide se quer ou não participar de determinada campanha
     Porém, as campanhas de base da Avaaz são um conjunto de valores: a convicção de que somos todos, primordialmente, seres humanos, privilegiados com responsabilidades para com os demais membros, para com as gerações futuras e para com o planeta de um modo geral. As questões com as quais trabalhamos são expressões específicas desses compromissos. Dessa forma, a Avaaz chega sempre a esta conclusão: as pessoas que ingressam na comunidade através de uma campanha sobre uma questão específica permanecem e participam de outras campanhas sobre outras questões. Uma de nossas fontes de grande esperança é a seguinte: nossos sonhos estão em sintonia e, juntos, podemos construir a ponte que une o mundo em que vivemos ao mundo em que todos nós queremos viver.  ... »
 
 
 
 


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Segunda-feira, 12.01.15

(-por Ana Gomes, 8/1/2015)

...com o coração e a cabeça ainda mais pesados de apreensão.

Não apenas por causa dos ataques de ódio que já proliferam contra muçulmanos por essa Europa fora (até a mesquita apareceu conspurcada, oiço de Lisboa) e outros primarismos perigosos. Derivas "bushistas" fazem as democracias degradar-se, descendo ao nível dos terroristas e fazendo o jogo do terrorismo: pois não são as liberdades e os direitos humanos, que são fundamento das sociedades democráticas, justamente o que o terrorismo quer destruir?!
    Pesam-me ainda mais coração e cabeça porque oiço declarações sobre Schengen, PNRs, "guerra contra o terrorismo" e o mais. E temo o pior. 
    Ao longo destes anos não vi a UE fazer o que a luta contra o terrorismo implicava. E implica.  Vi tremenda falta de Europa: o cada um por si, polícias consumidas em rivalidades internas, serviços de informação a fazer caixinha com os congéneres e sem meios para investir em "inteligência humana" (a francesa falhou e não foi por falta de "tuyaux" dos americanos...); magistraturas lentas, alheadas, sem meios e pouco cooperantes entre si; governos a competirem estupidamente a apaparicar - na mira de negócios de armas, outros contratos e investimento - os financiadores sauditas, qataris e turcos do dito "Estado Islâmico", ou da Al Nusra, ou de outras declinações da hidra Al Qaeda
     Não vi investimento em programas de prevenção da radicalização de jovens e, ainda menos, de desradicalização:    pelo contrário, vejo o materialismo desenfreado, a sociedade sem valores a não ser o dinheiro (denunciada pelo Papa a quem os fanáticos da austeridade, embora se digam crentes, fazem orelhas moucas), vejo o desemprego, o desinvestimento na escolarização, no modelo social europeu, nas responsabilidades sociais dos Estados. Tudo factores que fomentam a desintegração das famílias, a marginalização e a alienação individual, que transforma demasiados jovens europeus - como os franceses perpetradores destas chacinas - em ardorosos jihado-nihilistas.
     A ninguém escapa no Iraque a relação entre a tragédia de Paris e aquela que cruamente golpeia a sua martirizada população e a da vizinha Síria, mesmo antes de se saber que um dos terroristas franceses reclamou agir pelo EI ("Estado Islâmico"). 
No Curdistão iraquiano está hoje a linha da frente do combate a esta banda de cruéis e desvairados criminosos. 5000 jihadistas entraram num só dia, vindos da Turquia... e hoje controlam a região de Mossul, antes com 3 milhões de habitantes.
     Passamos a 10 km do que lá chamam "Daesh" (o "Estado Islâmico") em Mahkmoud, depois a 40 km de Mossul,  na estrada para Dohuk. A caminho de visitar as comunidades yazidis e cristãs que tiveram de fugir das montanhas do Sinjar e das planícies de Ninewa, alvos de massacres e violências indescritíveis (todos choramos ao ouvir os relatos daquelas miúdas de 15 e 17 capturadas pelos jihadistas para os servir como escravas sexuais...). 
     200.000 refugiados sírios e um milhão e meio de IDPs (deslocados internos) que o  Governo Regional e a população do Curdistão acolhem como podem. Enquanto nós, europeus egoístas e insensatos, fechamos fronteiras a desgraçados forçados a atirar-se ao mar, os curdos recebem refugiados e deslocados internos que representam um acréscimo de 35% da sua população (5 milhões).    Claro que as condições são más, muito más, e só podem convencer aldeias inteiras de vítimas de perseguição e  massacres que não têm mais futuro no Iraque: todos  anseiam por emigrar para... a Europa!
     A mesma Europa que não faz o suficiente, nem o que é preciso, para os ajudar a ter condições para ficar. Incluindo e antes de mais, condições de segurança - derrotar e eliminar militarmente o "Daesh" ( EI) é possível, indispensável e urgente. 
Mas, mais uma vez, falta-nos Europa - nem sequer os fornecimentos de armas aos peshmerga, que lutam no terreno, governos europeus coordenam entre si... nem sequer a ajuda humanitária que a UE presta se coordena com a que prestam alguns Estados Membros; para não falar  da coordenação da acção humanitária com ajuda de desenvolvimento (não há escolas nos campos de refugiados, que regurgitam de crianças e jovens). Nem há o imperativo  mas trabalhoso apoio político à tão necessária reconciliação intercomunitária... Quando Mossul cair, tudo se agravará com nova crise humanitária, desta vez afectando sobretudo populações sunitas. 
    Como nos disseram os abades de Al Qosh: "Estamos a procurar fazer sobreviver: as pessoas  e ancestrais culturas pré-islâmicas, que a Humanidade está à beira de ver eliminadas na terra onde nasceram, no próprio berço da civilização".
      Ou os governos europeus acordam e fazem finalmente o que é preciso fazer, o que exige mais solidariedade e políticas internas e externas mais coordenadas, mais inteligentes e mais estratégicas   - ou seja, precisamos mesmo de mais Europa! 
Ou preparemo-nos para o pior:  esta barbárie pode ainda só ter começado.
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Não há unidade - nem republicana, nem democrática nem ocidental ... só farsa de Liberdade!  
     
Esta é mesmo das raras fotografias que vale mais que mil palavras. Os líderes das chamadas "democracias ocidentais" desfilaram juntos pelas ruas de Paris, unidos contra o terrorismo e em defesa da liberdade. Juntos, mas longe de toda a a gente, numa rua deserta e cercados de seguranças, porque a segurança deles termina onde começa a nossa liberdade. A fotografia não é só poderosa porque nos mostra Hollande do outro lado do espelho e a encenação por detrás das câmaras, mas é igualmente a demonstração sobrante do que eles querem dizer quando falam de liberdade de expressão: uma farsa. Afinal, a manifestação deles era como a sua liberdade, só para alguns.
               tomar como nossas as dores.  


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Terça-feira, 06.01.15

A chance grega e a salvação da Europa    (-por F. Louçã, 30/12/2014)

tsipras  A Grécia terá eleições a 25 de janeiro e a possibilidade de eleger o primeiro governo de esquerda da história europeia das últimas décadas.

Talvez se possa dizer que o primeiro governo Mitterrand, que era uma coligação entre o PSF e o PCF, no seguimento de dez anos de “união da esquerda”, aplicou uma orientação para a mudança entre 1981 e 1983, quando nacionalizou todo o sistema financeiro e os principais grupo industriais nacionais (imagina hoje um PS a propor tal radicalismo?).   No entanto, esse governo submeteu-se a partir de 1983 a uma política de austeridade e privatização. Ora, isso foi há mais de trinta anos. Desde então, os governos dos partidos de centro seguiram sempre uma orientação financeira alinhada com os interesses dos mercados, sem qualquer excepção em qualquer país europeu.  A Grécia é portanto a primeira oportunidade em décadas para um país da União Europeia escolher uma alternativa de esquerda.

     Isso não significa que o resultado esteja já definido. As próximas três semanas farão reviver os medos ancestrais, as campanhas de terror, as chantagens de todo o tipo, a polarização social. E a pressão internacional: durante as últimas semanas, a Comissão Europeia pronunciou-se em favor do candidato presidencial da direita e o comissário Pierre Moscovici, 'socialista', foi a Atenas reafirmar o mesmo. No sábado passado, em entrevista ao Bild, Wolfgang Schäuble veio garantir que o governo alemão obrigará a Grécia a pagar a conta. “As novas eleições não mudarão nada a respeito da dívida grega”, disse o ministro, para bom entendedor meia palavra basta. O FMI suspendeu os tratos com a Grécia assim que foram anunciadas eleições.

     Os dados estão lançados mas ainda não se pode adivinhar quem ganha. O triunfalismo é portanto tão desaconselhável como o catastrofismo. Se a esquerda vencer, começará um ano vertiginoso: ou a dívida soberana (197% do PIB) é reestruturada em profundidade e com grandes perdas para o capital financeiro, ou a Grécia terá de ameaçar ou de forçar a sua saída do euro. O Syriza quer impor a primeira alternativa e evitar a segunda. Se, em contrapartida, a direita ainda for a tempo de recuperar e vencer, a Grécia prosseguirá a sua vertigem de endividamento e desagregação. Essa é a origem da contradição onde está a força da esquerda: é a única que representa a nação contra o protectorado, mas a sociedade está dividida.

     No mapa político grego, este momento parece irrepetível. O partido socialista, o PASOK, que há quatro anos tinha maioria absoluta no parlamento e 40% dos votos, está hoje reduzido a uma franja e foi agora abandonado pelo seu anterior secretário geral, Papandreu, que forma um novo partido. Comprometido no governo de Samaras, é um resíduo do anterior sistema partidário. A Nova Democracia, o principal partido da direita, aparece atrás do Syriza (esquerda) em todas as sondagens. E os restantes partidos ficam muito à distância: o partido comunista (KKE), o Dimar (uma cisão social-democrata do Syriza e que participou no governo até há pouco), os Gregos Independentes (um partido de direita anti-troika) ou a Aurora Dourada (neo-nazis).

     Caso a Grécia opte pela esquerda, será sem dúvida uma oportunidade difícil, mas ainda mais uma inauguração arriscada. Nenhum governo negociou jamais com as autoridades europeias a partir de uma posição de soberania ou de restrição às rendas financeiras da dívida pública. Nenhum governo enfrentou jamais a autoridade do governo Merkel. Nenhum governo questionou até hoje o Tratado Orçamental e a eternização da austeridade. Para o fazer, o governo de esquerda tem de estar muito bem preparado, ancorado em estudos precisos e planos de contingência detalhados, apoiado pela população e disposto a lutar com todas as consequências. O Syriza ainda não apresentou essas propostas concretas e espera-se que o faça nos próximos dias.

     Creio que isto nos ensina duas lições e nos confronta com uma terceira questão em aberto. A primeira é que só haverá um governo de esquerda quando a esquerda unida tiver mais votos do que o centro: enquanto os partidos que aceitam a troika, a austeridade ou as regras do Tratado Orçamental forem dominantes, não há solução para uma alternativa. A segunda lição, na minha opinião, é que é preciso manter sempre um rumo claro: a esquerda só será mais forte do que o centro se milhões de pessoas fizerem seu o esforço de enfrentar a finança pondo em causa o chicote da dívida, pois essa é a explicação para o ascenso do Syriza. A terceira questão não tem ainda resposta: se tiver o apoio da maioria, o governo de esquerda é capaz de cumprir o seu programa, vencendo então essa maldição de Mitterrand? Não sabemos. Não falhar onde tantos recuaram é uma tarefa ciclópica. Saber para onde ir quando tantos se alimentam de medo e incerteza é um risco acima das possibilidades. E, no entanto, tudo é realizável: não resta mais nada, não há caminhos intermédios, não há meias tintas, não há conciliações possíveis, os de cima não cedem nada e levaram quase tudo.

     Oxalá possamos ter a Grécia a desbravar esse caminho, porque à Europa não restam muito mais chances. Tudo, o poder de Merkel, a unidade da União, as suas leis futuras ou o Portugal de 2015, tudo tem uma primeira volta em janeiro nas eleições gregas. (e depois as portuguesas, ...)

----xxx--- A lição que os gregos nos deram em Termópilas em 480 AC onde derrotando os persas salvaram os valores que estão na base da nossa civilização, lhes dê força e ânimo para mais esta vitória.  ... contra o imperialismo financeiro

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--- Nova carta à Alemanha  (-por J.Castro Caldas, 4/1/2015)

--- Vem aí borrasca e da grossa   (deflação e nova crise económico-política) (-F.Louçã, 6/1/2015)

--- O BCE resgatará a zona Euro do austerismo alemão ? (A.Gomes, 6/1/2015, Causa nossa) 

---  Um país desordenado   (-por A.P.Fitas, 14/11/2014, A nossa candeia)



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Sexta-feira, 28.03.14

Mis cuatro nobles apellidos castellanos, superiores en nobleza a los de la Casa Real y “nobles” con título nobiliario  (-por Paco Arenas, 19/3/2014, España por la República )

   Yo tengo cuatro apellidos de nobleza acreditada, cuatro apellidos castellanos muy nobles, lo cual voy a demostrar aquí, espero con claridad contundencia, apellidos mucho más nobles y dignos que cualquiera que tenga un título nobiliario, incluido el Rey de España. Por otra parte mi pureza de sangre y la españolidad de la misma, es miles de veces superior a quien ostenta el título nobiliario, más alto en este corrupto reino. Pues la cantidad de sangre castellana o española que corre por mis venas tiene un porcentaje del 100 x 100, mientras que la pureza de sangre española de la Familia Real, es más que ridícula, insignificante.
   Partiendo de la base cierta, que la pureza de sangre es una real patraña y la sangre azul la tienen determinados animales como cangrejos, pulpos, arañas caracoles y babosas y que todos tenemos sangre roja y si alguien la tiene azul es porque es familia de las babosas o vaya usted a saber.   Sabiendo que por esta piel de toro, han pasado múltiples pueblos, desde fenicios, griegos, cartagineses,  romanos, barbaros de toda índole, siendo los principales los godos, moros, gitanos y diversas mezclas de indígenas americanos, filipinos y vaya usted a saber, y que todos esos pueblos han cohabitado y unido a los originales iberos y celtas, sin que se tenga claro que estos fuesen los indígenas de estas tierras, donde tartesios, elisices, sordones, ceretanos, airenosinos, andosinos, bergistanos, ausetanos, indigetes, castelani, lacetanos, layetanos, cossetanos, ilergetas, iacetanos, suessetanos, sedetanos, ilercavones, edetanos, contestanos, oretanos, bastetanos, turdetanos y un sinfín de pueblos de nombre raro,  se supone que vivían antes de la llegada de iberos y celtas.
    Hay que tener realmente pocas luces para hablar de pureza de sangre.   Por lo tanto queda totalmente descartada una de esas estupideces que enarbolan quienes se autodefinen como nobles, cuando en realidad como la babosa de sangre azul, su nobleza es más fácil que le haya sido otorgada no por méritos o valor sino por haber sido un rastrero y un criminal o ambas cosas.
    Alguien dijo que todos descendemos de reyes, pero también de prostitutas, mendigos y estafadores, y por qué no, de algún clérigo putero o embaucador de beatas incautas.  Por tanto todos, absolutamente todos, somos “nobles” y plebeyos y por supuesto todos, somos hidalgos en su más correcta definición, ya que “hidalgo” quiere decir hijo de algo, y por supuesto que nadie lo somos de una piedra.
    Cuenta Cervantes que el ingenioso hidalgo don Quijote de La Mancha, "pudiendo más su locura que otra razón alguna, propuso de hacerse armar caballero del primero que topase (…)". Del mismo modo que el de la triste figura se retocó el nombre para hacerlo más sonoro y se hizo investir caballero en una venta, no castillo, con dos rameras por damas y al son del cuerno de un porquero, en vez de cornetas.
    Teniendo dinero resultaba fácil ser nombrado hidalgo, "hay Hidalgos de España que ostentan hidalguía, pero que no son tales, o presuntos nobles que llevan a gala ser Grandes de España, habiendo falsificado el título”. Dice un entendido.
    Un hidalgo podía ser pobre, podía trabajar. Lo único que le distinguía es que no pagaba impuestos, al igual que ocurre ahora con los ricos, que el gobierno les permite la estafa de las SICAV. A partir de la Inquisición, se pedía la prueba de la limpieza de sangre. Y como los judíos solían ser comerciantes, se miraba que los hidalgos no se hubieran dedicado al comercio o la industria, ahora no se les pide nada, solo que unten bien a los políticos corruptos.
    Por si fuese poco, la mayoría de los reyes, condes duques, marqueses, descienden de sanguinarios ancestros que por su fuerza o su capacidad o su rastrera condición se hicieron con el poder y nunca de manera democrática, sino a base de intrigas, traiciones y crímenes varios.   Algo que ocurría en la antigüedad y se ha continuado haciendo hasta la actualidad más reciente.  El general genocida Francisco Franco, repartió títulos nobiliarios entre traidores, falangistas y genocidas, como por ejemplo Queipo de Llano.  Títulos que su heredero convalido sin objeción alguna. Si a esto se añade, que España según las mismas asociaciones de “nobles”, es el país de Europa donde más títulos se ha falsificado puedo decir, sin miedo a equivocarme que soy mucho más noble que cualquiera que se defina como tal, además con argumentos.
    Por tanto, mis ancestros más directos, eran mucho más nobles que aquellos que tienen títulos nobiliarios, pues fueron pobres y honrados campesinos que lucharon por los derechos y por un mundo más justo. Y como decía mi padre, la nobleza no está en los títulos ni el dinero de las personas, sino en el corazón de las mismas. Algo que me dejo muy claro y que hace que me sienta orgulloso de ser hijo, nieto, bisnieto, tataranieto y, y, y... de  NOBLES campesinos castellanos.
    Todos mis ancestros conocidos fueron personas honradas y dignas, siempre ganaron el pan con el sudor de su frente y no como los parásitos, que le roban el pan a los de enfrente. ¿Cuáles son mis apellidos tan nobles? ¿Qué importa? Mis apellidos son los de todos aquellos que luchan por un mundo mejor y serían igual de nobles si fuesen vascos, gallegos, catalanes, rusos, polacos, argentinos, cubanos e incluso yankis, siempre que luchasen por los principios morales de igualdad, justicia y libertad. fraternidade, trabalho e dignidade.


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Quarta-feira, 19.03.14

Manifesto dos 25 contra o pagamento da dívida  (-por A.Paço, 13/3/2014, 5Dias)

Eis uma lista de 25 pessoas notáveis (são apenas 25 por modéstia e em homenagem ao 40.º aniversário do 25 de Abril) que, pelos seus pronunciamentos públicos, se manifestam ou manifestaram contra a utilização da dívida como forma de subjugar indivíduos ou povos e nações inteiras

  Qualquer semelhança com um combate político às soluções que remetem para que continuemos a pagar a dívida a um nível que, não nos permitindo vermo-nos livres da canga, ajude a convencer o povo de que é possível e «honrado» pagá-la não é pura coincidência.  :

Alexander Sack, economista (EUA)

Anselmo de Cantuária, teólogo, filósofo (Itália/Inglaterra)

Aristóteles, filósofo (Grécia)

Buda, filósofo (Índia)

Catão, o Antigo (Marco Pórcio Catão), estadista, Roma

Clemente V, papa (França/Roma)

Dante Alighieri, poeta (Itália)

Eduardo I, rei (Inglaterra)

Éric Toussaint, historiador, politólogo (Bélgica)

Esther Vivas, activista (Catalunha, Espanha)

Ezra Pound, poeta (EUA)

Fílon de Alexandria, filósofo (Egipto, de cultura helenista)

Gil Vicente, dramaturgo (Portugal)

Jesus de Nazaré, profeta (para outros filho de Deus) (Palestina)

Karl Marx, economista, político (Alemanha)

Lucas, médico, evangelista (Palestina)

Maomé, profeta (Arábia)

Marco Túlio Cícero, político (Roma)

Moisés, profeta (Egipto, Palestina)

Platão, filósofo (Grécia)

Plutarco, historiador (Grécia)

Raquel Varela, historiadora (Portugal)

Séneca, filósofo, estadista (Roma)

Sisto V, papa (Itália)

Tomás de Aquino, filósofo, teólogo (Itália)

saint-thomas-aquinas-10 Tomás de Aquino (1225-1274) foi um teólogo dominicano, proclamado santo e doutor da Igreja. Eis a sua opinião sobre a actividade dos usurários, aquelas boas almas a quem Passos Coelho e Cavaco (e Seguro) acham que devemos pagar com juros todo o dinheiro que emprestaram ‘a Portugal’ (eles têm sempre o cuidado de nunca dizer a quem nem para quê o dinheiro foi emprestado):

«Receber juros pelo uso do dinheiro emprestado é injusto em si mesmo, porque consiste em pagar o que não existe, o que é obviamente uma desigualdade contrária à justiça… é nisso que consiste a usura. E tal como devemos devolver os bens adquiridos injustamente, de igual modo devemos devolver o dinheiro recebido a título de juros. » 

«Que há de mais odioso do que o tráfico de dinheiro, que consiste em dar para ter mais e com isso desvia a moeda da sua destinação primitiva? Ela foi inventada para facilitar as trocas; a usura, pelo contrário, faz que o dinheiro sirva para aumentar-se a si mesmo; assim, em grego, lhe demos o nome de tokos, que significa usura, porque as coisas geradas parecem-se com as que as geraram. Ora, neste caso, a moeda que torna a trazer moeda é um género de ganho totalmente contrário à natureza.»



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Sábado, 08.03.14

Da Europa - entre a Discriminação e o Pesadelo Cívico-Político   (-por Ana P.Fitas, 8/3/2014)

   A extrema-direita é hoje uma realidade política inquestionável (ler AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e AQUI) e apesar da crescente evidência dos seus sinais (ler AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e AQUI), continuamos a tentar pensar que, enquanto regime político e apesar da gravidade da situação socio-económica contemporânea, a democracia prossegue, sem sobressaltos de relevo, o ritmo próprio a que nos habituou e que podemos designar como "estabilidade em alternância"...   Contudo, a UE com que agora contamos, caracteriza-se pelo facto dos pequenos países que a integram, estarem todos sob uma vigilância financeira legitimada por essa dimensão supranacional de que tanto se falou nos respetivos períodos de adesão ao espaço comum europeu e que, atualmente, parece já não ser fonte de preocupações nem sequer de problematização...    Porém, o impacto desta realidade na geopolítica do continente europeu complexificou e alterou de tal modo a dinâmica das relações entre os países que, provavelmente, a nossa forma de apreensão, ainda não interpretou, com propriedade, a multidimensionalidade destas alterações e, consequentemente, não nos permite, por ora, ter uma noção aproximada dos seus efeitos (por remota analogia, pensemos na alegação dos EUA lamentando não ter previsto a crise na Crimeia!).
    O facto é que o estilhaçar das frágeis economias nacionais perante uma globalização dominadora em que as regras do lucro e o princípio da competição se sobrepõem, inquestionavelmente, a todos os interesses sociais (depois de Jacques Delors, quantas mais vezes se assumiu no discurso político da União Europeia, o interesse coletivo e o princípio da solidariedade em que assentaram as ideias da Europa Social e da Europa dos Cidadãos?), acabou por demonstrar o que mais se temia e que era, exatamente, o "re-despertar" dos fantasmas de uma ideologia que hoje é parte incontornável do nosso quotidiano. 
   Não, a História não se repete... mas, ensina-nos que nada está erradicado nem garantido. Para o bem e para o mal.
   E hoje, dia 8 de março, quando se celebra o início da luta pelos Direitos das Mulheres, o simbolismo deste combate deve alargar-se a todas as frentes, contra todas as discriminações, em nome da solidariedade por uma sociedade mais justa, num tempo em que a regressão social dos direitos fundamentais e o desemprego nos aproximam do abismo económico... e do pesadelo cívico e político.

 



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Sábado, 09.11.13

A  reenvangelização  benigna de  Francisco   (-por Daniel Oliveira, 5/11/2013, Arrastão e Expresso online)

      Em mais um gesto significativo, o Papa Francisco enviou um inquérito às conferências episcopais para conhecer a posição dos fiéis sobre várias matérias, onde se inclui o divórcio, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a contracepção. Não espero que a Igreja Católica mude o fundamental suas posições sobre estas matérias. Apenas celebro o facto de surgir uma nova atitude, mais aberta ao diálogo e à compreensão, em matéria que não é de dogma, e menos dedicada ao julgamento e punição. O próprio Papa já tinha defendido que "todos, especialmente bispos e conferências episcopais, vão sentir a necessidade de recalibrar as suas prioridades, o seu estilo, o seu tom". Lamentando que a Igreja muitas vezes coloque "as questões morais à frente da fé e não o contrário".
       Talvez influenciado pela crise que vivemos em Portugal, devo dizer que me impressiona bem mais a atitude social deste Papa, que em tudo se distingue da atitude do Cardeal Patriarca Emérito de Lisboa, D. José Policarpo, aplicado advogado do poder político e da austeridade. A posição do Papa começa pelo exemplo. Não apenas o do seu despojamento, que se evidencia na recusa em viver nos aposentos papais, mas no episódio que levou ao afastamento temporário do bispo de Limburgo, por este ter gasto milhões na sua residência oficial. Tratar o esbanjamento pornográfico de dinheiro e a exibição despudorada da riqueza pelo menos com a mesma severidade com que se tratam outros pecados menores, é um sinal muitíssimo importante a ser dado a todos os fiéis. Devo dizer que não são tanto os pequenos sinais de vida austera que me impressionam no Papa. Eles até poderiam ser vistos como meras operações de marketing. É a consistência e coerência da sua postura social que, mais através de gestos do que de palavras, é de uma importância central no tempo em que vivemos. Até porque a exibição de poder que a opulência do Vaticano garantia já não consegue competir, no seu aparato, com a do clero das finanças e da banca.
     Outro momento relevante no seu ainda curto papado, foi quando decidiu deslocar-se ao Casal del Marmo, uma casa-prisão que alberga jovens delinquentes, para participar no tradicional lava-pés (que costuma ser no Vaticano). E escolheu aí, entre vários encarcerados, duas raparigas, uma delas muçulmana.
     Escolhi estes três momentos e poderia ter escolhido outros. São muitos os sinais de mudança através do exemplo que este Papa exibe, que se concentram todos na ideia de humildade e tolerância. E, já agora, de inteligência política. Porque os papas tratam, sempre trataram, de política. Bem sei que alguma intelectualidade católica apreciava mais a inegável sofisticação do papa anterior. Não perceberão que a crise da Igreja não é teológica. É, entre outras razões que lhe são externas, uma crise do exemplo. É disso que as pessoas estão carentes. E que seria normal encontrarem, antes de tudo, nos seus líderes espirituais. Porque, afinal de contas, essa é uma das funções da religião, ou pelo menos do cristianismo: dar ordem e sentido à nossa existência, ajudando-nos a encontrar o caminho da virtude trilhado, de forma ideal, por outros.
     Dirão que, sendo eu ateu, nada que diga respeito à Igreja Católica e ao Vaticano me deveria interessar grandemente. Mas interessa-me muito. Vivemos num tempo de domínio duma corrente cultural (e ideológica) que valoriza o individualismo levado até às suas últimas consequências. Ela alimenta-se da destruição de todas as redes estáveis de solidariedade e pertença, elogiando cada individuo que, solitariamente, se exponha ao risco absoluto e desprezando todos os que acreditam na capacidade coletiva de interajuda. E alimenta-se dum hedonismo extremo, de que Wall Street, em vésperas de 2008, é só o exemplo mais flagrante. Esta moral dominante, pela desintegração social e moral que promove, é inimiga da Igreja Católica e da manutenção do seu próprio poder social, político e espiritual. E, por razões diferentes, é inimiga dos que, como eu, defendem uma sociedade baseada num espírito igualitário e na mutualização do risco. O que faz das áreas de pensamento em que me situo e de uma igreja empenhada em pôr travão ao que considero ser a maior regressão civilizacional em alguns séculos, bem representada por este Papa, potenciais aliadas nas atuais circunstâncias.
    O que é novo neste Papa não são as suas posições, são as suas prioridades. E ter um Papa concentrado na desigualdade social, pondo-a à frente da moral sexual, é um avanço de enormes proporções. Até porque, como na vida nada é simples e linear, encontramos entre os liberais mais radicais alguns devotos católicos, que reservam o seu conservadorismo para a moral sexual e para a defesa da estrutura familiar tradicional (que o modelo económico e social que defendem torna, na realidade, inviável). Ou seja, que apenas valorizam a liberdade individual, tratada como um privilégio, na medida em que ela resulte do poder económico de cada um. A postura deste Papa pode vir a ser um terramoto para muitos dos ideólogos deste liberalismo conservador, nascido nas fileiras da direita protestante anglo-saxónica e importando para as hostes intelectuais católicas.
      Mas seria um pouco cínico e até oportunista ficar-me por este interesse mútuo. Valorizo a postura deste Papa por mais algumas razões. Num tempo em que, para o mal e para o bem, tudo é fugaz, etéreo e inseguro, falta a cada vez mais humanos aquilo de que precisam, sempre precisaram e sempre precisarão: segurança. E falta horizonte que dê esperança, sem a qual o espírito humano definha. E esse conforto da segurança e da esperança, sem os quais somos paralisados pela nossa própria solidão, também é dado por instituições. Com a crise das grandes narrativas políticas, a perda de poder dos Estados Nacionais, a degradação dos partidos políticos e a perda de influência das igrejas na Europa e na América do Norte, o Ocidente paira sem rumo, transido de medo e esmagado por uma complexidade que não consegue compreender e dominar. E faltam exemplos que contradigam o cinismo que alimenta o pensamento amoral da ideologia dominante.
     Por mais estranho que vos pareça, não considero, por isso, negativo que a Igreja Católica, desde que respeite a laicidade dos Estados e consiga conviver com sociedades plurais e tolerantes, recupere, na Europa e na América do Norte, um pouco do poder que perdeu. Sobretudo se isso permitir enquadrar moralmente alguns comportamentos sociais e económicos das elites, predominantemente cristãs. Com a sua postura, este Papa dá sinais de poder ser um factor muitíssimo positivo para uma "reevangelização benigna", se me é permitida esta liberdade retórica.
     Quando este Papa foi escolhido, fui, justa ou injustamente, desconfiado com o seu passado na Argentina. Mas concluí, no fim, que é de homens completamente integrados que "podem muitas vezes vir as condições para a regeneração das instituições que dirigem". Recordei que a opulência e a corrupção no Vaticano, que tanto choca muitos crentes, resulta da maior contradição da Igreja Católica: "a manutenção do poder da instituição sempre esteve à frente dos valores cristãos que ela deveria representar". Que o mais difícil dos desafios seria exatamente o de "manter o poder e a coesão da Igreja e ser coerente com a mensagem cristã". E concluía que num mundo marcado pelo ritmo do escândalo televisivo, espera-se o impossível: "que um Papa se comporte como se o seu poder dependesse da sua popularidade mediática".
     Como se viu com os dois últimos papas, para o mal ou para o bem, a popularidade também conta no Vaticano. E é através dessa ilusão, comportando-se como se o seu poder se legitimasse no apoio dos homens, que o Papa Francisco poderá mudar a Igreja. Já o está a fazer. E o gesto de mandar ouvir os fiéis sobre matérias tão polémicas para os católicos, mais pela forma do que pelo conteúdo, é de uma enorme radicalidade. Não faz da Igreja o que ela não pode, por natureza, ser: uma instituição democrática. Mas cria pontes mais sólidas entre ela e as sociedades democráticas. E são essas pontes que poderão contrariar a sua decadência no Ocidente.


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Sexta-feira, 01.11.13

O mundo em 2030   (-por Ignacio Ramonet , 22/5/2013)

     De quatro em quatro anos, no início de cada novo mandato presidencial nos Estados Unidos, o National Intelligence Council (NIC), organismo de análise e de antecipação geopolítica e económica da Central Intelligence Agency (CIA), publica um relatório que automaticamente se torna uma referência fundamental para as embaixadas de todo o mundo. Apesar de conter, como é óbvio, uma visão muito parcial (a de Washington) produzida por uma agência (a CIA) cuja principal missão é defender os interesses dos Estados Unidos, o relatório estratégico do NIC tem um indiscutível interesse, que resulta da partilha – revista por todas as agências de informações norte-americanas – de estudos elaborados por especialistas independentes de várias universidades, em diferentes países e regiões (Europa, China, Índia, África, América Latina, mundo muçulmano-árabe, etc.).

     O documento confidencial que o presidente Barack Obama encontrou no seu escritório da Casa Branca a 21 de Fevereiro último, quando iniciou o seu segundo mandato, acaba de ser publicado com o título Global Trends 2030. Alternative Worlds (Tendências globais para 2030. Mundos alternativos) [1]. Que diz este documento?

     A sua principal constatação é o declínio do Ocidente. Pela primeira vez desde o século XVI, os países ocidentais perdem poder perante a ascensão das novas potências emergentes. Começa a fase final de um ciclo de cinco séculos de dominação ocidental do mundo. Os Estados Unidos continuarão a ser uma das principais potências planetárias, mas perderão a sua hegemonia económica em benefício da China e deixarão de exercer a «hegemonia militar solitária» que os caracteriza desde o fim da Guerra Fria (em 1989). Caminhamos para um mundo multipolar em que novos actores (China, Índia, Brasil, Rússia, África do Sul) estão vocacionados para constituir sólidos pólos regionais e para disputar a supremacia internacional a Washington e aos seus aliados históricos (Reino Unido, França, Alemanha, Japão).      Para se ter uma ideia da importância e da rapidez da desclassificação ocidental que se anuncia, basta sublinhar estes números: a parte que cabe aos países ocidentais na economia mundial passará dos actuais 56% para 25% em 2030… Em menos de vinte anos, o Ocidente vai perder mais de metade da sua preponderância económica. Uma das principais consequências disto é que os Estados Unidos e os seus aliados provavelmente deixarão de ter meios financeiros para assumir o papel de polícias do mundo. De modo que esta mudança estrutural, agravada pela profunda crise económica actual, pode ter sucesso naquilo em que a União Soviética e a Al-Qaeda falharam, isto é, no enfraquecimento duradouro do Ocidente.

     Segundo este relatório da CIA, a crise na Europa vai durar pelo menos uma década, ou seja, até 2023… Também segundo este estudo, não é certo que a União Europeia consiga manter a sua coesão. Enquanto isso, a emergência da China confirma-a como segunda economia mundial, que em breve se tornará a primeira. Simultaneamente, os outros países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) instalam-se numa segunda linha e entram em concorrência directa com os antigos impérios dominantes do grupo JAFRU (Japão, Alemanha, França e Reino Unido). Na terceira linha aparecem agora várias potências intermédias com demografias em alta e fortes taxas de crescimento económico, chamadas a tornarem-se, também elas, pólos hegemónicos regionais e com tendência para se constituírem como grupo de influência mundial – o CINETV (Colômbia, Indonésia, Nigéria, Etiópia, Turquia, Vietname).

      Até 2030, no novo sistema internacional, algumas das maiores colectividades mundiais já não serão, contudo, países mas comunidades reunidas e ligadas entre si pela Internet e pelas redes sociais. Por exemplo, a «Facebooklândia» terá mais de mil milhões de utilizadores e a «Twitterlândia» mais de 800 milhões. A sua influência no jogo dos tronos da política mundial pode vir a ser decisiva. As estruturas de poder vão disseminar-se devido ao acesso universal à Internet e à utilização de novas ferramentas digitais.

      A este respeito, o relatório da CIA anuncia o aparecimento de tensões entre os cidadãos e certos governos, tensões essas que vários sociólogos classificam como «pós-políticas» ou «pós-democráticas». Por um lado, a generalização do acesso à Internet e a universalização do uso das novas tecnologias vão permitir que os cidadãos alarguem o campo das suas liberdades e que desafiem os seus representantes políticos (como aconteceu nas «Primaveras árabes» ou na crise dos «indignados»). Mas, ao mesmo tempo, segundo os autores do relatório, estas mesmas ferramentas digitais vão dar aos governos «uma capacidade sem precedentes de vigiar os cidadãos» [2].

     «A tecnologia», acrescentam os analistas de Global Trends 2030, «vai continuar a ser o grande critério de diferenciação dos Estados, mas os futuros imperadores da Internet, semelhantes aos do Google ou do Facebook, vão possuir verdadeiras montanhas de dados e vão manipular em tempo real muito mais informações do que os Estados».  É por isso que a CIA recomenda à administração dos Estados Unidos que se prepare para enfrentar as grandes empresas privadas que controlam a Internet, activando o Special Collection Service [3], um serviço de informações ultra-secreto que depende conjuntamente da NSA (National Security Service) e do SCE (Service Cryptologic Elements) das Forças Armadas, e que é especializado na captação clandestina de informações de origem electromagnética. Se um grupo de empresas privadas viesse a controlar a massa de dados que circula na Internet, poderia vir a condicionar o comportamento de uma grande parte da população mundial, ou mesmo das entidades governamentais. A CIA receia também que o terrorismo jihadista seja substituído por um ciberterrorismo ainda mais atroz.

      O relatório leva este novo tipo de ameaça ainda mais a sério porque, em última análise, o declínio dos Estados Unidos não foi provocado por uma agressão externa, mas antes por uma causa interna: a crise económica surgida em 2008, na sequência da falência do banco Lehman Brothers. Os autores consideram que a geopolítica contemporânea deve ter em conta novos fenómenos, que não têm forçosamente carácter militar. Porque, mesmo que as ameaças militares não tenham desaparecido – como se vê pelos confrontos armados na Síria, pelas ameaças relativas ao Irão ou pela recente gesticulação nuclear da Coreia do Norte –, os principais perigos que hoje ameaçam as sociedades são de tipo não-militar: alterações climáticas, conflitos económicos, crime organizado, guerras electrónicas, novas pandemias, esgotamento dos recursos naturais…

      Relativamente a este último aspecto, o relatório assinala que um dos recursos que está a esgotar-se mais rapidamente é a água doce. Em 2030, 60% da população mundial passará por problemas de abastecimento de água, o que poderá dar origem a «conflitos hídricos»… Em contrapartida, no que se refere aos hidrocarbonetos a CIA mostra-se muito mais optimista do que os ecologistas. Graças às novas técnicas (muito poluentes) de fracturação hidráulica, a exploração do petróleo e do gás de xisto deverá atingir níveis excepcionais. Os Estados Unidos serão já auto-suficientes em gás e sê-lo-ão em petróleo em 2030, o que faz baixar os seus custos de produção manufactureira e encoraja a relocalização das suas indústrias. No entanto, se os Estados Unidos, principais importadores mundiais de hidrocarbonetos, deixarem de importar petróleo, os preços do barril vão colapsar. Quais seriam nessa altura as consequências para os actuais países exportadores?

     No mundo de amanhã, 60% das pessoas viverá em cidades, algo que acontece pela primeira vez na história da humanidade. Por outro lado, como consequência da redução acelerada da pobreza (?!), as classes médias tornar-se-ão dominantes e triplicará o número de pessoas que as compõem, passando de mil milhões para 3 mil milhões. É uma revolução colossal. Entre outras consequências, isso vai provocar uma mudança geral dos hábitos culinários, em particular um aumento do consumo de carne à escala planetária. Por sua vez, essa mudança agravará a crise ambiental, porque será necessário aumentar consideravelmente a criação de gado (bovino, ovino, porcino) e de aves. Isso implicará uma explosão do consumo de água (para produzir as forragens), de energia e do uso de fertilizantes, com efeitos negativos em termos de efeito de estufa e de aquecimento global.

     O relatório prevê igualmente que, em 2030, o planeta terá 8,4 mil milhões de habitantes, mas que o aumento demográfico cessará em toda a parte menos em África. Haverá, portanto, um envelhecimento geral da população mundial. Em contrapartida, a relação entre o ser humano e as «tecnologias proféticas» vai acelerar a entrada em funcionamento de novas gerações de robôs e o aparecimento de «super-homens» capazes de proezas físicas e intelectuais inéditas.

     O futuro raramente é previsível. Mas isso não implica que se deixe de o imaginar em termos de prospectiva, nem que não nos preparemos para agir em função de diversas circunstâncias possíveis, das quais só uma se concretizará. Mesmo que, como já o dissemos, a CIA possua o seu próprio ponto de vista subjectivo sobre o rumo do mundo, e que este ponto de vista seja condicionado pelo imperativo da defesa dos interesses dos Estados Unidos, este relatório constitui uma ferramenta de trabalho extremamente útil. A sua leitura ajuda-nos a tomar consciência das rápidas evoluções em curso e a reflectir sobre a possibilidade que cada um de nós tem de intervir e agir para inflectir o rumo das coisas. A fim de contribuir para construir um futuro mais justo.



Publicado por Xa2 às 07:38 | link do post | comentar

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