Empobrecimento competitivo: a escravatura é o limite
Psicopatologia das organizações
(...) este evolucionismo parece vago, especulativo, e até suspeitamente conotado com um darwinismo social que temos boas razões para descartar. Mas o certo é que há tempos, quando li um pequeno artigo sobre psicopatas organizacionais (corporate) e o papel que podem ter desempenhado na criação de condições propícias para a crise financeira, foi de Veblen e do seu evolucionismo que me lembrei.
(...) em organizações sujeitas a fortes pressões competitivas os mecanismos de seleção internos tendem a favorecer traços comportamentais característicos dos psicopatas ou sociopatas. O trabalho empírico dos psicólogos parece mostrar que é mais fácil encontrar um psicopata no topo de uma organização do que na sua base ou mesmo numa prisão de alta segurança.
De resto, lembro-me de ter lido noutro artigo que já não consigo localizar, que os critérios de seleção de dirigentes de topo usados por algumas empresas que se dedicam ao recrutamento de pessoal se assemelham de perto aos critérios de diagnóstico da psicopatia. A ser verdade, isto significaria que os encantadores psicopatas não só vivem bem e prosperam nos infernos organizacionais em que se estão a converter muitos locais de trabalho, como são ativamente procurados para as posições de topo. (...) --- (J.M.Castro Caldas, Ladrões de B., 1/11/2014)
“Quem semeia miséria colhe raiva” (-por , Aventar, 29/5/2014)
foto: Demotix
Em Barcelona, e desde o início desta semana, as ruas ardem, literalmente, de descontentamento. Há perseguições policiais, dezenas de detenções, caixas de multibanco destruídas, contentores incendiados, barricadas. Consequências da decisão do autarca Xavier Trias que ordenou o despejo (e demolição do edifício) de Can Vies, um centro social gerido por iniciativa popular. Num edifício ocupado desde 1997, organizaram-se, ao longo dos últimos anos, oficinas de teatro, debates, apresentações de livros, peças de teatro, concertos, jantares comunitários, e até um jornal de bairro: “La Burxa”. Can Vies tem sido um lugar emblemático daquilo a que se vai chamando “movimentos alternativos”, uma espécie de laboratório onde várias gerações foram construindo utopias e dando corpo a projectos sociais com impacto directo na vida da gente de um bairro operário, o de Sants, com grande tradição de associativismo e múltiplas cooperativas.
Ora, uma “escola de militância”, como alguns lhe chamaram, transcende as suas quatro paredes, e o despejo foi sentido como uma afronta às gentes de Sans. O rastilho de Can Vies incendiou o bairro, em seguida a cidade, e os tumultos já chegaram às vizinhas Lleida, Tarragona e Girona.
A autarquia argumenta que não houve, por parte dos colectivos de Can Vies, abertura para chegar a um acordo quanto à utilização do local, e que não cederá à violência dos protestos. Mas não deixa de ser surpreendente, por muito que a acção política se vá mostrando cada vez mais cega às necessidades e anseios das pessoas, que um autarca decida despejar um centro social que é, há quase duas décadas, uma referência na vida de uma cidade, sem prever que essa atitude de força, ainda que tenha a lei do seu lado, é uma afronta aos cidadãos.
Can Vies tem tudo para se transformar num símbolo da violência imposta por governantes cuja arrogância os estupidifica, que são incapazes de entender o alcance de um centro social, incapazes de prever as consequências de uma atitude violenta numa cidade já incendiada pela crise económica, pelas centenas de despejos de famílias, pelo desemprego, pelos cortes, pela desigualdade crescente.
A autarquia lembra agora a necessidade de acabar com a violência, recusa-se a negociar enquanto não terminarem os tumultos, sem reconhecer que era sua obrigação compreender e respeitar o papel social de um lugar que sempre contribuiria mais para a solução do que para o problema. Porque é disso que se trata, procurar soluções cidadãs num contexto cada vez mais difícil e mais desagregador. Foi o acto violento da autarquia que gerou a violência nas ruas. Como se gritava num dos protestos, “quem semeia miséria, colhe raiva”. E é por isso que Can Vies já é muito mais do que as suas quatro paredes entretanto encerradas, já é um símbolo da revolta dos cidadãos já não apenas ignorados e silenciados, mas pisoteados pelo poder político.
CONVITE - apresentação de um livro (de Rui Namorado)
Este livro procura ir ao fundo da identidade cooperativa, ao tornar claras as suas raízes. Mostra como o movimento cooperativo evoluiu dentro do movimento operário, durante os últimos dois terços do século 19 e a primeira década do séc. 20.
Pode ajudar a compreender a razão pela qual o conjunto da economia social é uma das sementes do futuro.
Para mais informação sobre COOPERATIVISMO sigam os links de R.N. no seu blogue: http://oGrandeZoo.blogspot.pt e o Boletim Cooperativista comentado da CASES -Cooperativa António Sérgio para a Economia Social.
O empreendedorismo liberta * (-por Sérgio Lavos)
Ainda pairava no ar a bestialidade proferida por Pedro Passos Coelho (reiterada no dia seguinte) e já a conversa do costume se multiplicava por todo o lado. Mas que diabo, o primeiro-ministro apenas disse o que deveria ser evidente: um Estado que não só não consegue criar condições às empresas para contratarem mais gente e que, ainda por cima, consegue produzir todos os dias centenas de novos desempregados - em consequência da austeridade além do memorando - é um Estado que desistiu de garantir que a economia funcione. Portanto, a Passos Coelho apenas resta realizar as exéquias do Estado e servir como conselheiro laboral ao milhão de desempregados, é isso?
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Como mostra o quadro publicado neste post de João Vasco, Portugal é quarto país da OCDE em percentagem de "empreendedores", o maravilhoso termo de newspeak que define as pessoas que trabalham por contra própria. 23,5% da população. À nossa frente, surpreendentemente, não estão os EUA. Nem qualquer outro país que seja exemplo do "empreendedorismo". Estão o México, a Turquia e, extraordinário, a Grécia. Os países mais pobres, os que não conseguem garantir empregos à população, seja directamente no Estado seja através de estimulos à economia. No fundo, são os países com maiores desigualdades que lideram este ranking.
O disparate torna-se perigoso sabendo-se que, neste momento, os bancos, apesar da promessa de recapitalização por parte do Governo, não estão dispostos a financiar a economia privada. E em tempo de crise, começar um negócio pode ser meio caminho andado para um ainda maior endividamento de quem já está no desemprego e a passar por sérias dificuldades financeiras.
As declarações de Passos Coelho são vergonhosas, sim. Sobretudo porque o seu percurso profissional - carreira partidária desde os tempos da JSD, licenciatura aos 37 anos, emprego garantido nas empresas do padrinho Ângelo Correia - é uma afronta para as centenas de milhar que trabalharam uma vida inteira e agora se vêem atirados para o desespero do desemprego. Mas são também perigosas - incentivar os desempregados ao risco do investimento em pleno período de contracção económica. E são a evidência de uma de duas possibilidades: ou Passos Coelho e o Governo PSD/CDS vivem completamente alheados da realidade, das pessoas que os elegeram e do país que era suposto governarem; ou sabem muito bem o que se passa, qual o resultado da sua louca demanda austeritária, mas não vão parar, cegos por uma ideologia neoliberal sem histórico de aplicação prática (Vítor Gaspar dixit). Dê por onde der, o país parece ter perdido.
(*- por analogia com o slogan nazi nos campos de extermínio: «o trabalho liberta» ? )
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Muito prosaicamente, acho que o Jota às vezes não as pensa de todo. Com a mesma facilidade com que diz aos portugueses "vão-se embora, emigrem que vão ver que é engraçado", também lhes diz "parem com o parasitismo de assalariados, meros trabalhadores por conta doutrém, e tornem-se empreendedores."
Outro que está a precisar que um esperto lhe escreva um livrinho com o título: "Como explicar o empreendedorismo às crianças". E é assim, sem mais nem menos, como beber um copo de água?
Refiro apenas um caso que conheço muito de perto:
a empresa onde ele trabalhava faliu, e, tal como a mulher, ficou também no desemprego.
Depois foi o percurso a que já nos vamos habituando:
vendem-se os anéis, passa-se fome, pedem-se umas esmolas à família, e por último entraram no mais absoluto desespero.
E foi então, que hipotecaram a casa e pediram ao banco dinheiro para um "empreendorismo".
Ao fim de poucos meses foram à falência, porque não tinham quaisquer conhecimentos de gestão, e nem um nem outro eram donos da mais leve sombra de "perfil empreendedor", o que exige para além do mais, como é óbvio, um talento específico com o qual a mãe natureza não dota a maior parte de nós, condenados que estamos à dependência de um patrão e de um salário.
O casamento acabou, ele anda por terras de Angola, e ela ficou com dívidas que não consegue pagar, mesmo fazendo, como faz todos os dias a partir das seis horas da manhã, trabalhos que a maior parte dos imigrantes já se recusa a fazer.
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"laDrang: ... Porque esquecem o cooperativismo? Ou sofrem de fobia à criação de Cooperativas de produção (e de consumo, de serviços, ...)?
Tem de divulgar-se mais António Sérgio, para compreender bem a força do dinamismo económico e de desenvolvimento social do movimento cooperativo (recomendo: CASES e o boletim cooperativista comentado, ligações, informações práticas, ...).
Compreende-se o receio dos neocapitalistas em ver os trabalhadores organizados provarem que têm a mesma capacidade de inovação e de produção que qualquer empresa privada dirigida por um gurú ao serviço da alta finança.
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