Sábado, 21.06.14

Galeguia: descolonizar as nossas línguas   (-por Bruno Góis, 17/6/2014)

   ... Razão tinham já os gregos antigos, para quem palavra e pensamento eram (e são) a mesma coisa: logos.   

    A língua é um dos elementos estruturantes das nações enquanto realidade social. É uma determinação mas não única, nem suficiente.   Várias nações falam as mesmas línguas, mas são realidades socioeconómicas diferentes, com uma história política que as moldou de forma diferenciada.

... O termo galeguia como substituto de lusofonia foi cunhado pelo escritor brasileiro Luís Ruffato em 2005, num dia simbólico: o dia da Pátria Galega, 25 de julho.  Estava o escritor brasileiro em Santiago de Compostela no VIII congresso da Associação Internacional de Lusitanistas quando formulou essa ideia.  Adriana Lisboa (Brasil), José Luís Peixoto (Portugal), Possidónio Cachapa (Portugal), Ondjaki (Angola), Luís Cardoso (Timor), Quico Cadaval (Galiza) e Carlos Quiroga (Galiza) foram os primeiros escritores e escritora a aderir à nova expressão. No mesmo ano, em visita à Galiza, também Pepetela defendeu as virtudes político-culturais da galeguia para substituir a lusofonia, nomeadamente por suprimir o peso colonial.

    Num tom libertador, a cantora angolana Aline Frazão resumiu assim a proposta:  “Vai ser que, afinal, não falamos a língua do colono:  falamos galego de Angola, com o sabor bantu do Atlântico-Sul”.  É uma forma romântica (em diferentes sentidos) de encarar a galeguia como alternativa à lusofonia.  De imediato fiquei seduzido por esta ideia de substituir aquela palavra que foi decalcada do francês “francophonie” - como recordou Pepetela - e que tem o gene da Françáfrica mutado para versão Lusotropical - acrescento eu.

   Galeguia é uma palavra e uma ideia que permite na batalha ideológica uma reapropriação popular do espaço de cooperação e produção cultural que está cativo na CPLP.   Em resumo, note-se como a vergonhosa adesão da Guiné Equatorial, com cheiro a petróleo e a sangue4, desmascara bem os valores da “lusofonia” dos dominantes.   É certo que Aline Frazão, criticando esse evento, defende adesão da Galiza à CPLP, no artigo ‘Trocar a Lusofonía pela Galeguía5.  Reivindicação justa.   Mas o que era preciso era que essa cooperação e esses países, incluindo a Galiza, se reencontrassem com a força histórica dos movimentos de libertação anti-coloniais.

   Mais que uma língua, o diálogo entre as línguas da galeguia constitui o nosso tesouro comum. A polémica linguística do Galego entre o “autonomismo”, por um lado, e o “reintegracionismo” (na língua portuguesa), por outro, é questão que diz respeito principalmente às galegas e aos galegos.  Disso, portanto, não tratarei (nem do “minha pátria é a língua portuguesa” com que Bernardo Soares/Fernando Pessoa criticava a reforma ortográfica de 1911 e acordos subsequentes).   Quero antes sublinhar que o reconhecimento do papel do Galego e introdução da tónica “descolonial” é libertadora para o potencial de cooperação cultural e científica entre os povos cujas línguas partilham uma origem na língua medieval galego-portuguesa.

   Com a opção pela galeguia:  o que se revaloriza etimologicamente na fonte do contacto linguístico (língua galego-portuguesa) não é a mítica do povo português como herdeiro dos ‘lusitanos’, mas a raiz galega, língua reprimida pelo Estado Espanhol durante o franquismo e, por outros meios, ainda hoje reprimida, e a nação a quem é negado o direito a decidir sobre o seu futuro.   Assim, com a adesão àquela ideia, a língua portuguesa pode expiar os seus pecados de perseguição às línguas dos povos das colónias.  Desta forma, essa língua que ganhou força e corpo por ter “exército e marinha” pode reconciliar-se com os crioulos da pátria de Amílcar Cabral.



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Sexta-feira, 14.02.14

As aberrantes e colossais Disparidades Salariais entre trabalhador e administrador/CEO, em 1965 e 2007 (ainda pior !!)

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    Guiné Equatorial e a  CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)

   Parece certo que «Portugal deixou de oferecer resistência à entrada na CPLP do país africano de língua castelhana, acusado de altos índices de corrupção e desigualdade económica» e apenas garantirá a abolição da pena de morte (na GE). Isto quando a Guiné Equatorial injecta 133,5 milhões de euros no Banif, através de uma empresa que passará a deter 11% do capital daquele banco. Infelizes coincidências ...
    É portanto mais do que provável que este país que tem o PIB per capita  mais elevado de África, e um dos maiores do mundo, mas onde 70% da população vive na pobreza, venha mesmo a juntar-se à CPLP, para o que será decisiva uma reunião que terá lugar em Dili, no próximo mês de Julho. 
    Entretanto, centenas de organizações do Brasil, Cabo Verde, Portugal e São Tomé e Príncipe, reunidas no movimento cívico «Por uma Comunidade de Valores», exigem o respeito pelos direitos humanos e pelos princípios democráticos da CPLP, menos do que satisfatório na Guiné Equatorial.
    Atendendo a que  Xanana Gusmão será o anfitrião do encontro que terá lugar em Dili,  um grupo de organizações e personalidades dirigiu-lhe agora uma  carta  em que apelam à memória histórica  de Timor-Leste, que foi «profundamente marcada pela resistência à opressão e contou com uma persistente solidariedade dos ativistas de defesa dos Direitos Humanos».
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«O fim da troika, o regresso aos mercados, o programa cautelar... e outros mitos» (N.Serra, 14/2/2014)

O insustentável peso da dívida ...
O governo vai aos mercados para ganhar votos ...
Programa cautelar: o novo nome do programa da troika ...
As alternativas à destruição do Estado Social, dos direitos laborais e da democracia portuguesa ...
... e ( Comunicado do Congresso Democrático das Alternativas, ontem divulgado)
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Presunção de importância (13/2/2014, EntreAsBrumasDaMemoria)
No Público de hoje, um artigo de Miguel Gaspar, cáustico mas que ajuda a pensar. Alguns excertos:
   «Portanto, está tudo a correr bem. Pelo melhor. As exportações correm sobre rodas, as emissões de dívida são um êxito. Prossegue a onda de entusiasmo. Como um missionário que conduziu o rebanho pelo caminho das pedras, o primeiro-ministro vê chegar a terra da abundância que nos é oferecida após a purificação. (...)
   Tudo isto são exemplos da presunção de importância, um problema que percorre o tecido político português de um extremo ao outro. (...) Da maioria que festeja a redenção do país pela austeridade, à esquerda que se esfarela até ao infinito em busca da unidade sacrossanta, todos se presumem pessoas absolutamente importantes e indispensáveis, sem os quais a Terra estacionaria na sua órbita, como uma obra embargada. (...)
   A.José Seguro devia estar a dizer ao Governo que em nome do interesse nacional tem a obrigação de se deixar de brincadeiras e seguir a rota do programa cautelar. Mas no jogo do debate partidário, o líder do PS desenhou uma teia onde “cautelar” e “resgate” são como que uma e a mesma coisa e onde só em caso de saída limpa não acusará o Governo de fracasso na aplicação do programa de ajustamento. (...)
   Em nome da unidade na acção, a esquerda está a dissolver-se numa chuva de estrelas cadentes. Em vez de consensos programáticos, procura uma ideia mítica de unidade. Mas a unidade tornou-se uma querela em nome da qual todos divergem. Mais do que sobre políticas, o debate é sobre imperativos morais nos quais cada um se apresenta como mais purista do que o vizinho. Na farsa que é o debate entre o Bloco, o Livre e o 3D, os dois últimos querem entrar a todo o custo na festa para a qual não foram convidados (as eleições europeias). É a chamada convergência à força: quem não quiser convergir leva!
    Com a esquerda paralisada por causa da suprema importância de cada um dos condóminos, a direita pode dizer que tudo vai pelo melhor. Os eleitores não sabem o que a esquerda está a discutir, mas sabem que são lutas fractricidas. O PS corre contra si próprio e a esquerda bloquista e afim está a destruir-se a si mesma. Sobra o PCP, que não sofre de presunção de importância. Talvez por presumirem que importante é a história, que um dia lhes dará razão. Afinal de contas, todos têm direito à sua ilusão.»
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O país da indecência "chave na mão" por Passos/Portas (-por AnaGomes, 13/2/2014)

    Cada semana assistimos a novos episódios do "país da indecência" em que Portugal se está a transformar às mãos da coligação Passos Coelho/Paulo Portas. E o pior é que nós, cidadãos, sofremos, maldizemos, protestamos alguns, mas cada vez mais, perigosamente, vamos encolhendo os ombros... muitos deixando-se enredar no canto das sereias restauradoras do crescimento e do novo 1640 que eles vão martelando, à medida que se aproximam as próximas eleiçòes, as europeias...
    E assim cada vez vamos tolerando e normalizando o zelo  ultraliberal, o desprezo pelos portugueses e pelo Estado de direito, mas também a incompetência despudorada de predadores, que se valem do estatuto de governantes para levarem a cabo a rapina do Estado,  que é de todos nós.  ...
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Corrupção na UE e em Portugal  (-por AnaGomes) ...


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Quinta-feira, 22.07.10

Guiné Equatorial

[PMF, Lusa, 11-07-2010]
O candidato presidencial Manuel Alegre (e também outros políticos, escritores e personalidades de vários países da CPLP) repudiou hoje uma eventual entrada da Guiné Equatorial para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), frisando que esta organização tem de estar acima dos “negócios” e do “cheiro a petróleo”.

 

Segundo a edição de hoje do jornal “Público”, o presidente Teodoro Obiang, há três décadas à frente da Guiné Equatorial, tem vindo nas últimas semanas a desenvolver esforços diplomáticos para que ainda este mês o seu país entre em pleno na CPLP, cuja VIII conferência de chefes de Estado e de Governo se realiza em Luanda no próximo dia 23.

Em declarações à agência Lusa, Manuel Alegre afirmou que “não tem qualquer sentido a entrada da Guiné Equatorial na CPLP”.
“Em primeiro lugar, a Guiné Equatorial não é um país de língua portuguesa. Em segundo lugar, é uma petro-ditadura”, acentuou o candidato presidencial.
Manuel Alegre interrogou-se ainda sobre “que motivos ou argumentos podem existir” para justificar uma eventual adesão da Guiné Equatorial à CPLP.
“Os princípios e os valores da democracia e da CPLP têm de estar acima dos negócios e do cheiro do petróleo”, concluiu o candidato presidencial.
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Nesta posição faltam alguns factos a considerar:
 
1- A CPLP, para além de uma comunidade de lusófonos (com muitas variantes e concorrências dialectais e linguísticas) com simpatias e afinidades histórico-culturais, é também um 'bloco diplomático' e de preferências comerciais e económicas.
 
2- A Guiné Equatorial (especialmente as ilhas de Fernão Pó e Ano Bom) tem algumas afinidades histórico-culturais com Portugal e outros Estados da CPLP e, por ter sido colónia espanhola, tem proximidade linguística com a lusofonia (mais do que com a francofonia ou a anglofonia), para além de geograficamente S.Tomé e P. 'estar no seu meio'.
 
3- Diplomática e economicamente poderia ser uma vantagem para a CPLP (mais um Estado a concertar votos nas organizações internacionais/ mundiais, mais uns milhões de falantes, mais recursos energéticos e florestais, mais parceiros de negócios ...)  e também uma desvantagem (as suas falhas democráticas e de (não-)observância dos Direitos Humanos, de que outros Estados também não estão isentos...).
 
4- Em vez de ostracizar um Governo e manter uma população inteira em más condições políticas e sociais... é desejável captar mais valias para a CPLP e para a Humanidade.
 
Assim, a eventual adesão da Guiné Equatorial deve ser considerada, com condições - que se comprometa:  
   -  em adoptar (e divulgar/ ensinar) a língua portuguesa também como oficial (vários Estados têm 2 ou mais línguas oficiais); e
   -  a melhorar/mudar o seu regime político, com medidas concretas para os seus cidadãos viverem em Democracia e partilharem de uma forma mais Justa e equitativa dos benefícios dos seus recursos e do desenvolvimento.


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