Sábado, 01.10.16

--- O estado da União Europeia  (-por

O que eu diria ao Presidente Juncker se tivesse conseguido tempo de palavra no debate no PE esta manhã sobre o "estado da União":
        "Presidente Juncker,
O Brexit obriga-nos a usar a oportunidade.
. A governação da Zona Euro exige redenção da dívida. Urge riscar a estupidez do Pacto de Estabilidade e Crescimento e pô-lo a trabalhar para o investimento público e privado. Não a sancionar estupidamente Portugal e Espanha.
. Precisamos de Justiça. E de justiça e harmonização fiscais na UE: de aplicar o Imposto sobre as Transações Financeiras e de reaver fundos parqueados em paraísos fiscais, via evasão fiscal, corrupção e crime. De processar governos capturados, que recusam recuperar biliões dados  em "ajudas de Estado" a multinacionais, à custa das PMEs e dos cidadãos contribuintes.
. Precisamos de Recursos Próprios suficientes para a União investir na economia digital, verde, circular, criando empregos decentes, por mais Igualdade e mais Europa social.
. Precisamos de Políticas Comuns de Asilo e de Migrações e de sancionar governos que recusam receber refugiados e violam Schengen e o  Estado de direito.
. Precisamos da União da Defesa, norteada por valores europeus, para tornar a UE relevante pela Paz, segurança, democracia, direitos humanos, desenvolvimento sustentável na Síria, Libia, Palestina/Israel e globalmente. Precisamos de um lugar permanente para a UE no Conselho de Segurança, desencadenado assim a sua reforma.
. Este é o caminho para eficazmente combatermos terrorismo, alterações climáticas e outras ameacas transnacionais globais. Para travar nacionalismos violentos e racistas. E para recuperarmos a confiança dos cidadãos."

--- A UE e as suas obrigações para com Refugiados e Migrantes  (-por AG, 13/9/2016, CausaNossa)

"A Cimeira das Nações Unidas para os Refugiados e Migrantes será teste à cooperação para responder ao maior desafio global que enfrentamos: o de valer a milhões de pessoas forçadas a deixar os seus países em busca de protecção e dignidade.

Governos europeus - uns mais que outros - não têm estado à altura das suas obrigações morais e legais como membros da UE. Refugiados e migrantes estão a sofrer às portas da Europa e em solo europeu horrendas violações dos direitos humanos, em especial mulheres e menores desacompanhados. Milhares entregam as suas vidas a redes de traficantes e de outra criminalidade organizada, que os nossos governos fazem prosperar ao recusar abrir vias legais  e seguras para quem precisa de pedir asilo ou trabalho. Assim se põe em causa não apenas a credibilidade, mas, realmente, a própria segurança da Europa.

O processo de recolocação decidido pelo Conselho Europeu marca passo, só 3.000 de 160.000 pessoas foram reinstaladas - há 6 meses que um grupo de 470  Yazidis desespera perto de Idomeni, Grécia por chegar a Portugal, que reitera poder recebê-los...

O pacto UE-Turquia fomenta a abertura de novas rotas de negócio para os traficantes e implica deportar pessoas impedidas sequer de pedir asilo ou reunificação familiar. 

Como se não bastasse, a UE quer replicar o modelo com regimes causadores da opressão e da miséria de que fogem refugiados e migrantes - como o da Etiópia que está desbragadamente a matar etíopes, Senhora Alta Representante, perante o silêncio cúmplice da UE.

Construir mais muros, como o anunciado em Calais, para além do desperdício de recursos, é ineficaz e vai contra tudo aquilo em que a União assenta".

(Minha intervenção no debate plenário do Parlamento Europeu, esta tarde, sobre a Cimeira da ONU sobre Migrantes e Refugiados)



Publicado por Xa2 às 11:25 | link do post | comentar | comentários (1)

Sexta-feira, 30.09.16

Quem Salva Quem?   (-'26/07/2016' por Aventar )

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  O filme  “Quem salva quem?” mostra como os "resgates" levados a cabo em vários países europeus na sequência da crise financeira despoletada em 2008, mais não foram do que uma estratégia neo-liberal para levar a cabo uma tremenda redistribuição de baixo para cima e um ataque ao estado social (e à democracia). Ninguém formulou esta realidade melhor que Mario Draghi, ex-vice-presidente do Goldmannn Sachs, actual presidente do BCE e que dirige a economia europeia:  “O modelo social europeu passou à história. A salvação do Euro custará muito dinheiro. Isso significa que teremos de abandonar o modelo social europeu”.
    A transformação da dívida privada em dívida pública foi urdida e apresentada como “resgate”; mas, na realidade, não foram os cidadãos gregos, espanhóis ou portugueses que beneficiaram desses resgates, mas sim os bancos que especularam em operações de alto risco. Antes da crise, os mais ricos do mundo possuíam o triplo do PIB mundial anual. Após 7 anos de crise, possuem o quádruplo. Entretanto, os contribuintes e a maioria da sociedade é obrigada a assumir os riscos e custos milionários. Assim, a crise tornou os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

     Focando o exemplo da Grécia, “Quem salva quem?” revela como os pacotes de resgate apenas salvaram os credores, isto é, os bancos, os fundos de investimento e as seguradoras. Quando em 2011, o chefe do governo grego Papandreu exigiu um referendo sobre este problema foi deposto pelo Conselho Europeu numa espécie de golpe de estado, tendo sido substituído por um alegado tecnocrata, Lukas Papademos. Exactamente a pessoa que, com o Goldmann Sachs, havia trazido a Grécia para a zona Euro, através de manipulação. O seu trabalho passou agora a ser o de aplicar as condições associadas à concessão do crédito: destruição dos serviços de saúde, seguros e pensões, desregulação das leis laborais, privatização dos activos públicos, etc.

  Quem Salva Quem?   O filme recua ao início destes desenvolvimentos quando, após 70 anos de relativa estabilidade, o mundo da finança foi desregulado. Esta nova liberdade foi de imediato usada pela alta finança para desenvolver uma panóplia de derivados de crédito que domina hoje a economia e conduziu à crise que teve início em 2008.

Revelando alternativas de resposta, o filme mostra ainda o caso da Islândia, onde, ao invés de se proceder à salvação dos capitais internacionais, a redistribuição ocorreu de cima para baixo.



Publicado por Xa2 às 20:38 | link do post | comentar

Quarta-feira, 18.06.14

Amanhã  (-via N.Serra, Ladrões de B.)

«Introdução: o Estado Social não é gordura, é músculo»; ...  - o CDA a combater ideias de direita.

 Modelos de economia

    Uma colossal fortuna pessoal? Uma forma de enriquecimento baseada nos ganhos do capital e sua acumulação? Práticas de exploração do trabalho humano (baixos salários, horários excessivos, precariedade nas relações laborais)? Expedientes fiscais para fugir aos impostos? Um modelo de economia que permite o desemprego massivo, a grande concentração do património individual e correspondente poder político, com risco para a democracia e para a coesão social?
     Esta semana, um grupo de cristãos, de José Mattoso a Frei Bento Domingues, interrogou-se corajosa e oportunamente sobre os critérios para a atribuição do Prémio “Fé e Liberdade” a Alexandre Soares dos Santos, um capitalista de que muito temos falado no blogue. Assinalam e bem a contradicção entre “a economia que mata”, denunciada pelo Papa Francisco, e o Prémio atribuído por um instituto da Universidade Católica. Acontece que esta é há muito um dos principais centros intelectuais irradiadores deste tipo de economia, pelo que o Prémio, em linha com outros, é tão consistente quanto ideologicamente revelador.
 ----------

Meter na gaveta  (-por J.Rodrigues, Ladrões de B., 15/6/2014)

     Numa reportagem na revista do Público de hoje, sintomaticamente intitulada “os intelectuais de direita estão a sair do armário”, o jornalista Paulo Moura consegue escrever que há uma direita intelectual que começa a desafiar a hegemonia da esquerda no campo das ideias, graças ao esforço e mérito de um punhado de intelectuais, alguns saídos da clandestinidade da blogosfera e que confrontam com “realismo” as “utopias” dessa tal esquerda dominante. Incrível, não é? Em que país vive Paulo Moura pelo menos desde os anos oitenta/noventa, já lá vão bem mais de duas décadas?
     Na realidade, Paulo Moura reproduz todos os lugares comuns de que é feita a hegemonia das direitas, incluindo a ideia de que continuam a ser uma minoria a precisar de conquistar espaço para as suas ideias prudentes e sensatas. Na realidade, são a maioria e têm o monopólio do radicalismo verbal, um contraponto direitista ao esquerdismo de outros tempos, na comunicação social. E sabem-no, claro. O seu à vontade é sintomático.
     Olhem para o que se passa no campo da economia, onde a hegemonia é quase total, da produção ideias à sua reprodução nos jornais ou nos debates na televisão, onde o que surpreende é aparecer alguém a dizer qualquer coisa de esquerda, qualquer coisa civilizada. Façamos aliás um exercício simples. Abramos o Expresso: por cada keynesiano moderado, como Nicolau Santos, há um Daniel Bessa, um João Duque, um João Vieira Pereira e um Pedro Guerreiro.
     Pensemos agora no campo das relações internacionais, em geral, ou no da integração europeia, em particular. Aí o panorama é tão desolador como na economia: o debate vai dos neoconservadores, como Miguel Monjardino, aos liberais de “centro-esquerda”, como Teresa de Sousa ou Jorge Almeida Fernandes.  Os dois últimos especializaram-se, neste caso no Público, em saudar a esquerda que adopta os termos da direita e em apodar de populistas os que não o fazem. E que dizer de Nuno Rogeiro, por exemplo?   E que dizer da quase ausência de espaço para o equivalente à esquerda, por exemplo para intelectuais marxistas, nesta e noutras áreas decisivas no debate político. Será demérito?
    E que dizer de uma tendência, essa sim mais recente, mas pouco falada: a aposta dos capitalistas no campo da produção de ideias, sem mediações, com os muitos milhões de Soares dos Santos a patrocinar a melhor inteligência neoliberal que o dinheiro consegue comprar, agora na figura de um Nuno Garoupa?   A verdade é que sempre que o capitalismo se purifica, volta, com menos desfasamentos e mediações, a verdade que temos a obrigação de conhecer com realismo:   as ideias dominantes são as ideias da classe dominante.
    Nisto da hegemonia, até pode haver mérito, claro, mas há sobretudo redes sociais e aparelhos ideológicos bem financiados e oleados, diga Henrique Raposo as balelas meritocráticas que disser.  A verdade é que hoje chegámos aqui:  a utopia é um luxo da direita e já não requer nenhuma coragem.   E a alardeada disposição conservadora à Oakeshott nunca passou de uma postura só para disfarçar o que sempre foi, é e será o natural activismo das direitas, com os seus usos e abusos do Estado e de outros aparelhos. Não se deixem enganar por Paulo Moura.
   «É fundamental falar verdade aos portugueses»  (-por N. Serra)
  ...


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Segunda-feira, 15.10.12
  [Lusa, 14-10-2012]
     Centenas de manifestantes saíram hoje da sede do banco de investimentos Goldman Sachs, em Paris, em direção à Assembleia Nacional francesa numa marcha ensurdecedora contra a "dívida ilegítima, que impõe austeridade e rouba direitos sociais".

     Na manifestação 'Global Noise', que se iniciou pelas 14:30 locais (13:30 horas de Lisboa), participam cerca de 300 pessoas, entre grupos de jovens e de reformados, que fazem um barulho ensurdecedor com apitos, batendo tachos, tampas e garrafas de plástico vazias.   ...

     Movimentos sociais e cidadãos organizam a concentração:
Cerco ao Parlamento-  [Movimento Sem Emprego, 15-10-2012]
Objectivo é chumbar o Orçamento nas ruas no dia em que ele é apresentado na Assembleia da República e exigir a queda do governo

      Dia 15 de Outubro de 2012 é a data limite para a apresentação do Orçamento de Estado para 2013. Marcámos por isso neste dia uma concentração (15 Out.18H00) para expressar o nosso descontentamento em relação às políticas do actual Governo e ao seu orçamento criminoso.
     Opomo-nos a que o sacrifício continue a ser feito sobre os de sempre, os que trabalham, e que continue a deixar de lado o capital

...  Basta !  Fim a estas medidas homicidas !


Publicado por Xa2 às 07:47 | link do post | comentar | comentários (1)

Sexta-feira, 29.06.12

                           UE:  Futebol  &   ‘Rebelião’  Latina …   (-por e-pá! Ponte Europa)

   Deixando de fora o Euro 2012 e o disputado encontro de Varsóvia, ontem, e simultaneamente com o desenrolar do 'match', no Conselho Europeu em Bruxelas, viveram-se - segundo se depreende - momentos de exigente e animado debate político.
   Tratou-se do reavivar de um problema recorrente que tem sido sistematicamente agendado (adiado) para o médio prazo. Isto é,  a regulação dos mercados de obrigações através da intervenção dos fundos de socorro europeus (FEEF e SEM).
   Tal intervenção foi exigida - para já e com urgência - por Mario Monti e apoiada por Mariano Rajoy. link
Perante as constantes indecisões e ziguezagues sobre agendas de crescimento, project bonds e eurobonds e face à eminência de novos (mega)resgates (Espanha e Itália... e Chipre...), o enfrentar das progressivas pressões dos mercados tornou-se uma questão central e prioritária que determina a tomada imediata de decisões para a defesa da moeda única.
   O Conselho Europeu terá dificuldades em delinear uma inflexão tão profunda no enfrentar da ‘crise das dívidas soberanastornando equilibrado e transparente o acesso aos mercados de financiamento. Existem - dentro da UE - muitos e poderosos interesses em jogo, nomeadamente, questões de âmbito nacional e, a curto prazo, eleitoral.
    Todavia, o crescente número de países europeus 'encurralados' pelo desmesurado apetite dos mercados, algum dia (terá sido ontem?), teriam de 'bater o pé' e apostar na Europa e no futuro comum.
   Sendo assim, quando na próxima semana se disputar, no futebol, mais uma final europeia, seria bom que, neste caso, os dois países latinos envolvidos, estejam sob a pressão emotiva dos seus adeptos mas livres do silencioso cerco (garrote) dos mercados e das cíclicas indecisões de Bruxelas.
   E, regressando à alegoria futebolística, em Kiev, na próxima final, que ganhe o melhor!


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Segunda-feira, 19.12.11

Escândalo: um deputado não está de joelhos

(- por Daniel Oliveira)

    E mais uma vez, o escândalo. E mais uma vez, torceram-se um pouco umas declarações para a indignação ganhar mais propriedade. De uma forma um pouco atabalhoada e usando termos que assustam os mais nervosos, Pedro Nuno Santos teve o descaramento de dizer que os governos de um País devedor devem preocupar-se com quem deve e não com os credores. Ou seja, a sua preocupação com os credores deve depender exclusivamente dos nossos interesses. A declaração pode ter sido pouco preparada, mas é uma lufada de ar fresco que, no meio de tantos advogados de defesa de quem nos empresta dinheiro a juros exorbitantes, haja alguém, no PS, a fazer um intervalo na autoflagelação nacional. Um pouco de amor próprio, bolas!
    Os credores têm as armas negociais de quem é credor. Os devedores têm as armas negociais de quem é devedor. Dita esta lapalissada, isto significa que o credor usa a dívida que tem na mão para fazer exigências. Às vezes, como suspeito que esteja a fazer a senhora Merkel em relação à privatização da EDP, até para fazer chantagem e comprar um país a saldo. Aos devedores cabe, como sabe quem deve dinheiro e por alguma razão não o consegue pagar nas condições exigidas, usar a única arma negocial que tem: a de depender de si o pagamento dessa dívida. O que pode dizer então ao credor? Que, se as condições forem insuportáveis, não conseguirá pagar a dívida que tem. Ou seja, que é do interesse do credor que se mudem as condições. Isto partindo do princípio que pedir com muito jeitinho e fazer muitos salamaleques não resulta.
    O que Pedro Nuno Santos defendeu foi, nem mais nem menos, a renegociação ou reestruturação da dívida. E como pode ela acontecer? Com a possibilidade de incumprimento. Sermos nós a explicar que essa possibilidade é real ou eles a descobrir (ou a assumirem o que já sabem há muito tempo) faz alguma diferença? Faz. A renegociação acontecerá a tempo ou apenas quando já estivermos tão esmifrados que não nos sirva para nada.
    A ver se nos entendemos: a nossa dívida, nas condições atuais, é impagável. Não é matéria de confronto político. É matemática. Teríamos de crescer como nunca, no meio de uma recessão, e, ainda por cima, a cumprir limites de défice lunáticos. Não há como. E nem todo o discurso "mobilizador" pelo nosso empobrecimento resolve este dilema. Não vamos pagar toda a dívida que temos. Ponto final. Acham que só porque fomos muito submissos até o incumprimento ser inevitável os credores se vão comover e fazer "uma atençãozinha"?
    Como se espera que um governo ponha os interesses dos portugueses à frente de tudo o resto, trata-se de, a bem de todos, incluindo dos credores, não continuarmos a mentir a nós próprios e aos outros. E dizermos: ou se mudam as condições, os prazos e até, provavelmente, os montantes, e nos deixam uma folga para recuperarmos a economia e cumprirmos assim as nossas obrigações para convosco e para com os nossos cidadãos, ou não vamos conseguir pagar.
    Diz o coro do costume: se fizermos isso nunca mais conseguimos que nos emprestem dinheiro. É possível. Exatamente o mesmo que acontecerá se, por termos a nossa economia de rastos, por não termos receitas fiscais suficientes e por termos de receber mais "pacotes de ajuda" que nos endividam ainda mais e em cada vez piores condições, não pagarmos por impossibilidade prática. Com uma única diferença: o buraco será ainda maior do que se renegociarmos já.
    O que faz uma empresa endividada?  Vende as máquinas e despede os trabalhadores que lhe permitem produzir para pagar dívidas e promete que as continuará a pagar nas próximas décadas (sem se perceber como o fará)?  Ou vai ter com o banco para renegociar o que deve de tal forma que salve a empresa e cumpra os seus deveres com quem lhe emprestou o dinheiro?  Qual destas saídas é responsável ?  Aquela que, para dar ao devedor um ar muito sério, cria as condições para não o ser ou o que olha com realismo para a situação em que se está?  O paralelo só não é válido por uma razão: uma empresa pode abrir falência e acabar com a sua existência. Um País não. Espera-se.


Publicado por Xa2 às 13:42 | link do post | comentar | comentários (3)

Segunda-feira, 21.11.11

Crise da dívida pública e soluções

   Num destes dias, li um artigo interessante de um economista francês situando as causas da dívida soberana em:
        . Ter confiado aos grandes especuladores e seus bancos privados, aquilo a que chamam de mercados financeiros, a concessão aos Estados em crise do essencial do crédito a taxas de juro de agiotas.
        . Desigualdades desmesuradas. O excesso de riqueza concentrada em poucos alimenta a especulação, porque permite-lhe emprestar aos Estados em dificuldade a juros altos e quando a dívida explode ainda ganham mais mediante a especulação de produtos financeiros feitos com essa finalidade. Estes detentores do capital vão jogando um país a seguir a outro (é o que está a acontecer na UE), numa sequência estratégica bem conseguida que passou pelo imobiliário americano, pela especulação sobre bens alimentares, petróleo e matérias primas.
   Estas causas ligadas sustentam a plutocracia a nível mundial, a liberalização da finança e a privatização do crédito aos Estados alimentando assim a grande riqueza.
   Estas desigualdades foram deliberadamente construídas pelos governos e pelo patronato neoliberais sustentadas numa fiscalidade de classe em que os muitos ricos são duplamente ganhadores: menos impostos (ou fuga total), mas lucros especulativos sobre a dívida soberana.
   Há causas complementares como os paraísos fiscais, a concorrência (desleal e  o 'dumping') entre territórios, etc.
   A titulo de exemplo, segundo esse artigo o montante de receitas que a UE não recebe pela existência de paraísos fiscais ascende a 1500/2000 milhares de milhões de euros.
        - Como sair da crise?
    No curto prazo, BCE emprestar directamente aos Estados; reforma fiscal; taxar as transacções financeiras a começar pela UE; interditar produtos financeiros de riscos sistémicos.
    No médio/longo prazo há questão da regulação do sistema financeiro controlo dos movimentos de capitais entre a UE e o resto do mundo; acabar com os paraísos fiscais e uma política de partilha do trabalho e a criação de emprego de utilidade social e ecológica
   Estas algumas das ideias de Jean Gadrey que merecem reflexão e acção porque vão numa óptica diferente.

Nota: no mesmo sentido (críticas e propostas) já outros autores e comentadores se pronunciaram e aqui no Luminária se fez eco.

[Billions+for+Bankers.gif] «Biliões para os Banqueiros, Dívidas para o Povo». Por Sheldon Emry

 



Publicado por Xa2 às 19:10 | link do post | comentar | comentários (5)

Terça-feira, 01.11.11

(?) 7 propostas para resolver a crise (?). Por George Soros

1. Criação de um “Tesouro comum” no qual seriam chamados a participar o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF).

Pergunta: com o dinheiro de quem seria criado este "Tesouro comum"? Contribuintes ou Quantitative Easing em molho Europeu? Eu tenho algumas suspeitas... (?)


2. FEEF assuma os títulos de dívida grega detidos pelo BCE e pelo Fundo Monetário Internacional, para que, reestabelecendo a cooperação entre o BCE e os Governos, houvesse uma “redução voluntária significativa da dívida grega com a participação do FEEF”.

O FEEF é o Fundo de Resgate Europeu, dinheiro dos contribuintes tanto para ser claro. Assim, a ideia de Soros é que o Fundo de Resgate (constituído pelo dinheiro dos contribuintes) assuma os Títulos da dívida grega actualmente nas mãos do Banco Central Europeu (que é privado) e do Fundo Monetário Internacional (outra entidade na qual participam activamente os bancos).

Síntese: a dívida grega das mãos dos bancos privados às dos contribuintes. (?)

3. O fundo de resgate do Euro deve ser “usado para garantir o sistema bancário” e não a dívida pública dos Estados-membros da Zona Euro.

E como não concordar? Os bancos antes de tudo o resto, máxima prioridade, os Países que se lixem. Afinal "viveram acima das possibilidades", é justo que sofram. (?)

4. Os maiores bancos deveriam “aceitar receber instruções do BCE em nome dos Governos”. Aos que se recusarem a isso, acentua, seria negado acesso à “janela de desconto do BCE”.

Ponto interessante: uma vez que o dinheiro dos contribuintes for depositado no "Tesouro comum", qual seria o banco tão estúpido de recusar as recomendações do BCE? Que, lembramos, não recebe ordens dos governos pois o que se passa é exactamente o contrário?

5. A autoridade monetária da Zona Euro deve “manter as linhas de crédito e as carteiras de empréstimos”, ao mesmo tempo que cada instituição reforçaria por si própria o controlo de risco dos bancos.

"Manter"? Querido Soros, manter o quê? Os bancos não emprestam, esta é a crua realidade. Seria preciso "estimular" (eufemismo) os bancos de forma a conceder mais empréstimos.
Mas também não seria mal controlar as instituições bancárias. Que tal alguns inúteis stress-test?

6. O BCE deve baixar as taxas de desconto, de forma a encorajar os Governos a privilegiarem a emissão de Bilhetes do Tesouro e os bancos “a manter a sua liquidez, na forma desses Bilhetes do Tesouro em vez de depósitos no BCE”.

O triunfo da dívida.
Os Países estão submergidos pela dívida: a solução é baixar as taxa de desconto (já baixa) para que os Estados possam emitir ainda mais dívida. E os bancos? Simples, comprariam estes Títulos, de forma a aumentar o poder deles.
(?)

7. Os problemas da crise da dívida seriam ultrapassados se os líderes mostrarem unidade política e vontade de resolver a situação europeia.

Uma medida inteligente e original que podemos resumir desta forma: se a minha avó tivesse rodas era um camião...



Publicado por [FV] às 12:23 | link do post | comentar

Terça-feira, 25.10.11

Chora por nós Argentina (' crie for us, Argentina ...')

O Alexandre Abreu já tinha assinalado a recuperação socioeconómica argentina. Um sucesso que se seguiu precisamente à reestruturação da dívida e à desvalorização cambial, ambas tão incompreensivelmente diabolizadas entre nós. Graças a um comentário de José M. Sousa, confirmando que o blogue é bem mais do que os posts que escrevemos, tomei conhecimento de um novo estudo do Center for Economic and Policy Research. Este dá-nos uma visão actualizada da trajectória argentina que confirma a análise feita pelo Alexandre e que explica o sucesso político do apelido Kirchner, primeiro com Nestor e depois com Cristina, que será hoje reeleita Presidente da Argentina por margem histórica.

Pudera:

o mais intenso crescimento “ocidental”, desde 2002, com autonomia face à finança internacional, com diversificação económica e não na base de um mítico “boom” das exportações agrícolas, com redução das desigualdades ou diminuição da pobreza, graças, entre outros factores, à triplicação das despesas sociais em termos reais neste período e ao aumento do emprego. O estudo implode com várias ideias feitas e que ainda circulam, à esquerda e à direita, no nosso país e retira algumas implicações para as atascadas periferias europeias, as actuais vítimas de elites predadoras:

é necessário proceder a uma reestruturação maciça da dívida por iniciativa dos devedores, por forma a reduzir substancialmente o seu fardo, mesmo que isso possa envolver, para a Grécia em primeiro lugar, sair do euro.

Este pode ser um dos efeitos da rebelião das periferias, o outro pode ser uma reconfiguração do euro que supere a austeridade. Por isso é que temos de trabalhar com cenários neste contexto. Uma leitura a não perder.

       (-por João Rodrigues)

-----------

60% de corte de cabelo? (' hair cut ' à dívida)
   O Financial Times teve acesso a um relatório confidencial da troika – BCE, FMI e Comissão Europeia – sobre possíveis cenários de reestruturação da dívida grega. A primeira novidade é que se chega à conclusão que é necessário um ('perdão' ou) corte na dívida de 60% (maior do que os 50% de que se tem falado) para que a Grécia não precise de um terceiro pacote de financiamento. O colapso da economia grega e o falhanço da austeridade são evidentes.
   No entanto, a troika não dá o braço a torcer e culpa os gregos pela lentidão na aplicação das “reformas estruturais”. O autismo relativo ao que se está a passar na Grécia consegue ainda surpreender. A realidade não interessa quando temos uma teoria elegante. Mais interessante é constatar o desacordo dentro da troika.
   O BCE, porta-voz dos interesses do capital financeiro europeu, recusa os cenários de corte da dívida grega. Qualquer proposta de solução europeia implicará a refundação deste Banco, colocando-o ao serviço da economia e sob controlo democrático. Contudo, dada a actual correlação de forças europeias, tal proposta é cada vez mais do domínio da “Terra do Nunca”.
 


Publicado por Xa2 às 07:07 | link do post | comentar | comentários (4)

Terça-feira, 04.10.11


Publicado por [FV] às 12:21 | link do post | comentar | comentários (3)

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