--- Defender o interesse nacional ? o quê e como ? Contradições da política económica nacional em contexto (neo)liberal e de globalização.
1- «Nacional» é, sem dúvida, o que pertence à nação, à comunidade, o que é público: o 'nosso' espaço aéreo e a 'nossa' ZEE marítima são menos perceptíveis, mas os rios, as ruas, ... e as reservas nacionais, os estabelecimentos, construções, serviços e empresas públicas (de direito público, de capitais públicos, de participação maioritária pública, ... do Estado, das regiões autónomas, das autarquias, das entidades públicas com autonomia administrativa financeira e patrimonial, ...) são exemplos claros.
O resto, embora possa estar em Portugal, ter 'a bandeirinha' ou as designações «de Portugal», «português», «nacional», ... é 'treta' ! (publicitária-comercial, histórica-afectiva, ou pura propaganda !!), se é estrangeiro ou se é Privado Não é NACIONAL, pois o dinheiro não tem pátria ! e muda de país com um clic (sendo exemplos as fugas de capitais e aos impostos, a contabilidade viciada, as 'empresas fantasma', a deslocalização, as falências fraudulentas, ...).
2- Ao aderir a tratados (tipo Euro, TTIP, ...) e ideias/teorias económico-políticas de globalização e neoLiberalismo (comércio livre, abertura de mercados, desregulação, 'flexibilização', privatização, grandes despedimentos, ..., fazer 'reformas' para um 'estado-mínimo', desmantelar o estado social e abater a classe média, aumentando o fosso entre pobres e ricos);
ao permitir a existência de 'offshores' (paraísos fiscais); e aceitar 'tribunais' arbitrais extra-nacionais ou extra-comunitários para resolver diferendos do Estado com privados, ao abdicar de moeda própria, de fronteiras e de forças armadas capazes...
um Estado (especialmente o pequeno) é facilmente capturado e manipulado, através de uma clique político-partidária e seu (des)governo, é um 'fantoche' nas mãos de multinacionais/ transnacionais e da alta finança e seus braços (fundos de investimento, agências de 'rating', bolsas/ corretores, seguradoras, bancos, ... e banqueiros/ administradores 'bangsters', ...) e de seus 'capatazes' e serventuários (governantes, políticos do centrão de interesses e negócios obscuros, elites endinheiradas ditas nacionais, academia, mídia, jornalistas e outros avençados...).
3- Um governo (ou admistração) que pratica o neoliberalismo écontraditório quando diz que defende o interesse nacional ou governa para os portugueses/ para a maioria dos seus nacionais ...
Ao incentivar (através de isenções, subsídios, facilidades administrativas, publicidade, formação, financiamento, pagamento a trabalhadores-estagiários, ...) a produção e/ou as exportações de determinado subsector ou empresa favorece esse mas desincentiva/ desfavorece todos os outros a quem não dá iguais incentivos e ainda prejudica os contribuintes que dele não beneficiam, i.e., em vez de ser 'neutro' (deixando o mercado funcionar 'eficientemente') introduz desigualdade de tratamento entre os agentes económicos e desequilíbrios no/s mercado/s, reproduz modelos ultrapassados e mantém o 'status quo', o empobrecimento e a desigualdade.
Argumentam que «é para o bem/melhor do país»... mas é injusto, (parcial e manipulado por lóbis, amiguismos ou é politiquice eleitoral), é enganador perante a ideologia neoliberal, é falso perante a realidade (mesmo quando se justifica com dados estatísticos estes são passados e estáticos, e não são consideradas diversas dinâmicas e sinergias) e nada nos diz que ao fazer isso não está a 'matar' um outro subsector ou empresa nascente e/ou com mais potencialidade, mais eficiente, mais inovadora, com melhores resultados e retornos para a sociedade, para o ambiente, para o erário público. (e não é apenas um lucrativo negócio para bolsos privados e umas comissões/ prendas ...).
4- O Estado(e o governo/ administração pública), ao ficar reduzido ao mínimo fica sem meios humanos, técnicos, financeiros e materiais, tanto para conhecer e avaliar adequadamente as situações e problemáticas, como para implementar medidas de controlo, correcção e/ou de emergência perante ataques, crises ou catástrofes (económicas, sociais, naturais ou acidentais).
O Estado capturado, ao ficar nas mãos de privados (e directa ou indirectamente nas mãos da alta finança, de transnacionais), seja através de 'dívida socializada', de privatizações, de 'swaps', rendas e parcerias PPP ruinosas, ... deixa de promover o interesse público e da maioria dos seus cidadãos, deixa de ser transparente e democrático, deixa de aplicar justiça (verdadeira e célere), ... para ficar ao serviço dos poderosos (credores, grandes accionistas/ investidores, oligarcas, caciques, ...), que exploram/ enriquecem cada vez mais e dão uns 'trocos e benesses aos capatazes' e serventuários, para estes ('democraticamente') manterem a maioria da população de 'cabeça baixa', subserviente, alienada (com telenovelas, jogos, futebol, concursos, 'fait divers' e outras manipulações mediáticas ...), com salários baixos, empregos precários, saúde cara, assistência caritativa, educação e literacia limitada, a classe média reduzida e carregada de impostos, ... o poder/ cargos altos e médios é reservado a determinadas famílias e dinastias (através de nepotismo e concursos viciados), o acesso a bens e serviços de qualidade é restrito a uma minoria (as elites locais, as famílias dos poderosos, os visitantes estrangeiros, ...).
5- O que fazer ?
. 1º Não se deixe amedrontar nem enganar por burlões e frases/ termos/ siglas da "novilíngua" ou do "economês" (ex. em comentário).
. 2º Seja cidadão interessado, participativo, leia os programas eleitorais dos partidos, atente à sua actuação passada, perspectivas da realidade e exemplos de outros países, pense, questione, critique, manifeste-se, responsabilize os detentores de cargos político-partidários e económicos, ... na dúvida, afaste aquilo/aqueles que já sabe que não quer ou o/a maltrataram.
(Raquel Varelana Revista de Imprensa fala sobre a reconversão do mercado laboral ... e, enquanto a elite económico-financeira enriquece, o Estado e a maioria da população empobrece.)
Os que se ofendem com o exercício dos direitos democráticos, das ofensas à República, são, precisamente os que se aproveitam dela e do facto de terem sido eleitos não para representar quem os elegeu, mas para seuexclusivo benefício. E, também já sabemos que estes são dos partidos do arco da governabilidade, pois. Sublinhar apenas que o PCP há muitos anos que apresenta projectos de lei sobre as incompatibilidades que proíbem este cenário. Claro que os partidos do arco têm rejeitado sucessivamente.
«Dos 230 deputados à Assembleia da República, 117 estão em regime de part-time, acumulando as funçõesparlamentares com outras atividades profissionais no setor privado. Advogados, juristas, médicos, engenheiros, consultores, empresários, etc. Em diversos casos, prestando serviços remunerados a empresas que operam em setores de atividade fiscalizados por comissões parlamentares que os mesmos deputados integram. Ao que se acrescem as ligações aempresas (cargos de administração, participações acionistas, serviços de consultoria, etc.) que beneficiam de iniciativas legislativas, subsídios públicos ou contratos adjudicados por entidades públicas visando a execução de obras, o fornecimento de produtos ou a prestação de serviços. Conflitos de interesses ? !! Dezenas de exemplos concretos são apresentados nas páginas deste livro. Dos corredores do poder político para as salas de reunião dos conselhos de administração, e demais órgãos sociais, das maiores empresas portuguesas, com ou sem período de nojo. Um fluxo recorrente entre cargos públicos e privados. Das 20 empresas cotadas no índice PSI 20, por exemplo, 16 contam com ex-políticos em cargos de administração. Por vezes são ex-governantes que decidiram sobre matérias que implicam as empresas para as quais vão depois trabalhar, ou até administrar.»
De repente, os comentadores de vários matizes alinharam-se no plano presidencial de “salvação nacional”. Como se a crise não tivesse culpados, como se a crise não fosse uma máquina de guerra que tira direitos aos pobres e dá dividendos e rendimentos aos poderosos. Dizem-nos com um ar de quem sofre um ataque de gases que esta é a última oportunidade de preservar o regime. Como se tivessem a colocar neste barco que se afunda a liberdade e a democracia. Nada mais falso: o regime de que falam é a negação das promessas igualitárias do 25 de Abril. O que os preocupa é garantir o regime dos negócios que permitiu o desenvolvimento de um capitalismo nacional feito à sombra do Estado – Um regime duplamente desigual: desigual porque se trata de um capitalismo, mais desigual porque é um capitalismo que vive de expropriar o Estado dos recursos do contribuinte, para os dar aos grandes grupos privados. Aqui a corrupção não é um desvio criminal, mas a normalidade de um regime económico que tem como realizações simbólicas as swaps e as PPPs, em que quando há lucros, os privados e o capital financeiro recebem dividendos; e quando há prejuízos, o contribuinte é obrigado a pagar. Vivemos num regime em que são privatizados lucros e socializados prejuízos, para o bem estar dos do costume.
Ainda esta semana ficamos a saber que o banco criado à sombra do cavaquismo, o BPN, produziu uma colecção de moedas para assinalar o europeu de futebol que se realizou em Portugal. Não se venderam? Este governo do PSD e CDS encarregou-se de arranjar forma de as comprar com o dinheiro dos contribuintes. Foram quase 27 milhões de euros, o que é isso entre amigos e cavalheiros…
No livro “Os Donos de Portugal” recenseou-se a imensa promiscuidade entre decisores políticos e grandes grupos económicos. Este capitalismo de corrupção tem como capa a alternância dos partidos da governabilidade. O regime em Portugal chama-se bloco central dos interesses (o 'centrão da governação'). Nele não estão envolvidos os militantes e os eleitores do Partido Socialista, mas alguns dos seus dirigentes aparecem alegremente em cargos de responsabilidade de empresas que negociaram chorudos negócios com o Estado. É por isso que também a direcção do PS está preocupada com este regime e participa nestas negociações à sombra de Cavaco Silva.
Quando os papagaios choram pelo regime em perigo e pretendem garantir-nos que só o salvando podemos manter a democracia e a liberdade é preciso fazer-lhes um enorme manguito e dizer-lhes: não há liberdade e democracia com um regime que promove a desigualdade, o desemprego e a miséria. Por nós estejam à vontade, enterrem esta coisa.
Está em curso o processo de subdesenvolvimento do País. As medidas que o anunciam, longe de serem transitórias, são estruturantes e os seus efeitos vão sentir-se por décadas. As crises criam oportunidades para redistribuir riqueza. Consoante as forças políticas que as controlam, a redistribuição irá num sentido ou noutro. Imaginemos que a redução de 15% do rendimento aplicada aos funcionários públicos, por via do corte dos subsídios de Natal e de férias, era aplicada às grandes fortunas, a Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo, famílias Mello, etc. Recolher-se-ia muito mais dinheiro e afetar-se-ia imensamente menos o bem-estar dos portugueses. À partida, a invocação de uma emergência nacional aponta para sacrifícios extraordinários que devem ser impostos aos que estão em melhores condições de os suportar. Por isso se convocam os jovens para a guerra, e não os velhos. Não estariam os superricos em melhores condições de responder à emergência nacional?
Esta é uma das perplexidades que leva os indignados a manifestarem-se nas ruas. Mas há muito mais. Perguntam-se muitos cidadãos: as medidas de austeridade vão dar resultado e permitir ver luz ao fundo do túnel daqui a dois anos? Suspeitam que não porque, para além de irem conhecendo a tragédia grega, vão sabendo que as receitas do FMI, agora adotadas pela UE, não deram resultado em nenhum país em que foram aplicadas - do México à Tanzânia, da Indonésia à Argentina, do Brasil ao Equador - e terminaram sempre em desobediência e desastre social e económico. Quanto mais cedo a desobediência, menor o desastre.
Em todos esses países foi sempre usado o argumento do desvio das contas superior ao previsto para justificar cortes mais drásticos. Como é possível que as forças políticas não saibam isto e não se perguntem por que é que o FMI, apesar de ter sido criado para regular as contas dos países subdesenvolvidos, tenha sido expulso de quase todos eles e os seus créditos se confinem hoje à Europa. Porquê a cegueira do FMI e por que é que a UE a segue cegamente? O FMI é um clube de credores dominado por meia dúzia de instituições financeiras, à frente das quais a Goldman Sachs, que pretendem manter os países endividados a fim de poderem extorquir deles as suas riquezas e de fazê-lo nas melhores condições, sob a forma de pagamento de juros extorsionários e das privatizações das empresas públicas vendidas sob pressão a preços de saldo, empresas que acabam por cair nas mãos das multinacionais que atuam à sua sombra.
Assim, a privatização da água pode cair nas mãos de uma subsidiária da Bechtel (tal como aconteceu em Cochabamba, após a intervenção do FMI na Bolívia), e destinos semelhantes terão a privatização da TAP, dos Correios ou da RTP. O back-office do FMI são os representantes de multinacionais que, quais abutres, esperam que as presas lhes caiam nas mãos. Como há que tirar lições mesmo do mais lúgubre evento, os europeus do Sul suspeitam hoje, por dura experiência, quanta pilhagem não terão sofrido os países ditos do Terceiro Mundo sob a cruel fachada da ajuda ao desenvolvimento.
Mas a maior perplexidade dos cidadãos indignados reside na pergunta: que democracia é esta que transforma um ato de rendição numa afirmação dramática de coragem em nome do bem comum? É uma democracia pós-institucional, quer porque quem controla as instituições as subverte (instituições criadas para obedecer aos cidadãos passam a obedecer a banqueiros e mercados) quer porque os cidadãos vão reconhecendo, à medida que passam da resignação e do choque à indignação e à revolta, que esta forma de democracia partidocrática está esgotada e deve ser substituída por uma outra mais deliberativa e participativa, com partidos mas pós-partidária, que blinde o Estado contra os mercados, e os cidadãos contra o autoritarismo estatal e não estatal. Está aberto um novo processo constituinte. A reivindicação de uma nova Assembleia Constituinte, com forte participação popular, não deverá tardar.
A página de opinião do New York Times de hoje traz um editorial surpreendente de Warren Buffet, dono e CEO da Berkshire Hathaway (que por sua vez é dona da Moody’s) e o terceiro homem mais rico do mundo.
Além do dinheiro e do poder que tem, Buffet é considerado um pensador iconoclasta e pouco convencional, frequentemente citado pelas suas afirmações tão pertinentes como provocatórias. Finalmente é um filantropo à medida da sua fortuna: prometeu legar 83% à Fundação Gates. Quanto aos filhos, disse:
“Quero deixar-lhes o suficiente para que sintam que podem fazer o que quiserem, mas não tanto que achem que não precisam de fazer nada.”
Para ter uma pequena ideia do que pensa este homem, uma citação chega:
“Não sinto culpa nenhuma em relação ao dinheiro. O que acho é que o dinheiro representa uma data de pagamentos à sociedade. É como se tivesse uns papeizinhos que posso transformar em consumo. Se me apetecesse, podia contratar dez mil pessoas para não fazer mais nada a não ser pintar o meu retrato até ao fim da minha vida. E o PNB subiria. Mas a utilidade desse produto seria nula e estaria a tirar a essas pessoas a possibilidade de serem cientistas, ou professores, ou enfermeiros. Todavia não faço tal coisa. Não utilizo muitos papeizinhos. Não há nada de material que queira muito.”
Ora bem, sendo Buffet um super investidor, com certeza que os seus conselhos podem ser seguidos pelos "nossos" Vítor e Álvaro, uma vez que o nosso Governo em pouco mais de um mês já demonstrou a sua vontade politica (e ideológica) de apostar nos investidores. Como se sabe, os Estados Unidos também estão metidos numa alhada financeira maior do que as suas capacidades, com falta de investimento, desemprego e dívida soberana inflacionada.
E o que diz Buffet no New York Times?
“Os nossos dirigentes têm falado em “partilhar sacrifícios”.
Mas quando os pediram, pouparam-me.
Perguntei aos meus amigos mega-ricos mas a eles também não lhes aconteceu nada.
Enquanto os pobres e a classe média (...), a maioria dos americanos, luta para chegar ao fim do mês, nós, os mega-ricos, continuamos a beneficiar com extraordinárias reduções de impostos.(...) Alguns gerem investimentos que rendem biliões de dólares mas podem classificá-los como “juros” (“carried interest”) conseguindo assim um imposto à taxa de 15%. Outros compram activos futuros, vendem-nos dez minutos depois e pagam 15% de 60% do que ganharam, como se fossem investidores a longo prazo. (...)
No ano passado paguei apenas 17,4% sobre o meu rendimento sujeito a imposto, menos do que as outras vinte pessoas que trabalham no meu escritório. A carga fiscal desses empregados ficou entre 33 e 41%
Quem faz dinheiro com dinheiro, pode pagar ainda menos do que eu. Mas quem faz dinheiro a trabalhar pagará certamente uma percentagem maior – provavelmente muito maior. (...)
No ano passado, cerca de 80% das receitas do Estado veio de Imposto sobre Capitais e IRS. Os mega ricos pagam Imposto sobre Capitais a 15% e praticamente não pagam IRS. Com a classe média é diferente: em geral caem nos escalões (...) em que apanham pesadas taxas de IRS. (...)
De acordo com uma teoria que tenho ouvido, eu devia recusar-me a investir quando as taxas são muito altas nos ganhos de Capital e Dividendos. Mas nunca me recusei, e os outros investidores também não. Trabalho com investimentos há 60 anos e ainda estou para ver alguém — nem mesmo quando o Imposto sobre Capitais era de 39,9%, em 1976-77 — fugir de um bom investimento por causa dos impostos sobre o lucro previsível. As pessoas investem para ganhar dinheiro e os impostos potenciais nunca as assustaram. E, para aqueles que afirmam que impostos mais altos impedem a criação de emprego, lembro que houve um aumento de 40 milhões de empregos entre 1980 e 2000. E todos sabemos o que aconteceu depois: impostos mais baixos e menor criação de postos de trabalho.”
Em seguida, Buffet faz algumas propostas concretas para subir os impostos sobre o Capital e reduzir o IRS:
"Eu deixaria as taxas para 99,7% dos contribuintes na mesma e continuava com a mesma redução de 2% no que os empregados pagam. Esta redução ajuda os pobres e a classe média, que precisam de todos os descontos que puderem.
Para quem tem um rendimento superior a um milhão de dólares (...) subiria imediatamente o imposto para o rendimento colectável superior a um milhão, incluindo, evidentemente, dividendos e ganhos de capital. E para quem ganhe dez milhões ou mais, sugeria um aumento ainda maior na taxa."
Mas o que interessa para nós é apenas isto:
Um homem que sabe de dinheiro como poucos reconhece que taxar menos o capital e mais o trabalho é o caminho errado para recuperar uma economia – mesmo não considerando a injustiça social evidente.
Vítor e Álvaro, porque é que vocês não ouvem o homem?
Agricultores pedem estado de calamidade pública para a região.
A Federação dos Agricultores do Distrito de Santarém (FADS) e a Associação de Produtores de Tomate do Ribatejo (APTR) vão pedir que o governo decrete o estado de calamidade pública para a região, em virtude dos prejuízos causados pelas intempéries de Maio e Junho.
Voltar à Agricultura para quê? Para continuarmos todos a pagar as quebras de um negócio particular? Então temos de pagar porque chove? E porque não choveu? Porque faz calor? E porque fez frio?
Porque tiveram uma quebra na produção quando comparada ao ano anterior de 60%?
E quando aconteceu o contrário e tiveram uma produção maior em «x»% comparativamente ao ano anterior? Ou ainda, porque o tempo esteve excelente e foi um ano de boas colheitas? Reportaram o excesso desses «lucros» ao estado?
Como se poderá chamar um negócio que quando dá prejuízo «pagamos todos» e quando dá lucro é só deles?
«…O novo pacote de austeridade grego recebe luz verde de Bruxelas...»
«…Pedro Passos Coelho, afirmou hoje no final da sua primeira cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, em Bruxelas, que a reunião não podia ter corrido melhor a Portugal…»
(?) Apesar disto os indicadores de risco de Portugal sobem. (?)
Será isto a que habitualmente se chama o «mercado» a funcionar?
Será que se tivesse sido «chumbado» o novo pacote de austeridade grego e a Cimeira tivesse corrido mal a Portugal, os indicadores de risco tinham descido?
Ainda bem que a GALP deu lucro o ano passado, em 2010.
É sempre bom que uma empresa «portuguesa» dê lucro no exercício da sua actividade.
Agora ter 46% de aumento nos lucros num ano de grave crise nacional e internacional não me parece ser uma coisa assim tão boa.
Sobretudo se pensarmos no disparar dos preços que os combustíveis líquidos, gasóleo e gasolina e do gás tiveram o ano transacto e que tão graves consequências tiveram no agravar da vida dos portugueses quer nas famílias quer nas empresas nacionais.
E lembrar que quando questionada o ano passado pelo continuado aumento dos preços ao consumidor a empresa respondia que a culpa era do mercado, do custo do barril de crude, da desvalorização do euro ou outra desculpa similar afirmando ainda não ter espaço de manobra para baixar os preços.
Hoje perante este divulgar de resultados positivos, o que devia ser uma coisa boa que nos encheria de orgulho por a GALP ser uma empresa nacional vem provocar-me o sentimento contrário, o de revolta e de vergonha perante uma empresa que em nome do lucro desmedido e sem sentido nacional, contribuiu para o empobrecimento dos portugueses e afundamento do país.
Mas a culpa não é só dela, dos seus administradores, pois ninguém duvide que os grandes responsáveis por esta vergonha, é o nosso Governo que devia ter actuado e os responsáveis governativos furtaram-se a essa responsabilidade em nome do que quer que tenha sido no presente ou de aspirações pessoais futuras.
Hoje tomei a decisão de não mais abastecer na GALP. Hoje percebi que estes nossos governantes não são credíveis e devem cair o mais rapidamente possível. Hoje decidi suspender a minha postagem neste blogue até à queda deste Governo.
Mohamed Bouazizi, um jovem tunisino licenciado que vendia frutas e verduras para sobreviver, imolou-se pelo fogo quando a polícia lhe apreendeu o que tinha na banca. O rastilho pegou e incendiou Tunísia e Egipto, e Síria, Jordânia, Iémen, Marrocos e Argélia. Porquê?
A população árabe tem de fazer o pão com os cereais que compra no mercado, competindo com os fabricantes de rações animais e de biocombustíveis. Os recentes fogos na Austrália dizimaram as culturas, fazendo subir o preço dos cereais. E como os especuladores compram aquilo que sobe, eles ficaram cada vez mais caros, como o petróleo e os juros das dívidas dos países do Euro.
Mohamed Bouazizi tinha produção própria que vendia para comprar o pão.
Como a maioria da população, era um jovem culto e qualificado, mas desempregado.
O emprego, como o preço do pão, depende de um mercado que já ninguém controla. O orçamento adquire-se com pequenos trabalhos e mal dá para comprar pão. Chegada a fome e o desespero, o rastilho pega facilmente.
O que está a acontecer no mundo árabe, e pode acontecer na Europa, é fruto do liberalismo económico.
Os Estados, outrora protectores, reduziram-se à mínima expressão e foram substituídos por elites endinheiradas e corruptas.
Aos povos desesperados, nada lhes resta senão a economia paralela e as instituições religiosas.
Espero que o Ocidente liberal não se queixe daquilo que vier a acontecer.
O Mário Crespo, através de um texto que escreveu e fez publicar algures em órgão de Comunicação Social, queixou-se que muita gente, especialmente o Ministro das Finanças, lhe devem muito dinheiro. A ele e a quase todos nós, honestos cidadãos deste país, pagantes das suas contas, de taxas e dos impostos que sem apelo nem agrado nos impõem.
Queixou-se porque lhe disseram que as contas publicas estavam sãs quando elas se encantavam (e encontram) mais doentes que nunca.
Queixou-se porque já tentou os homens do fraque e nem mesmo assim consegue reaver o dinheiro que lhe foi pilhado (e, continuarão a extorquir com sua própria benevolência).
Na minha modéstia opinião, acho que Crespo teria toda a razão se, como todos nós de uma forma ou de outra, não fosse conivente com as situações que tanto critica e não tivesse, também como e quando pode, beneficiado, directa ou indirectamente, dos dinheiros publicos. Não foi ele funcionário de RTP e não tem sido o canal publico um sorvedouro dos dinheiros publicos?
Contudo, a avaliar pelos investimentos, não tardará muito que os portugueses comessem a ser ressarcidos dos seus créditos. Deixaremos de importar petróleo e outras fontes de energias, dado que nos tornaremos autónomos, a avaliar pelos resultados do Parque Eólico de Terra Fria, Montalegre, um investimento de 126 milhões de euros, há dias inaugurado pelo primeiro-ministro, tendo "capacidade para fornecer energia a toda a região do Alto Tâmega". Que se multipliquem!
A menos que suceda como o que vem acontecendo com a ponte 25 de Abril, parque contentores de Alcântara, Estradas de Portugal, Aeroportos, etc.
Descansem os crespos deste país que se o governo e os portugueses não forem capazes de inverter tais situações cair-nos-á em cima a prensa chamada FMI e esmagar-nos-á até ao tutano, sobretudo, aos não crespos.
Inovação, investimento forte e um produto nacional de qualidade foram ingredientes que não resultaram para a fábrica da Atlanti.Co, unidade de tratamento e embalagem de peixe. Este projecto, vencedor de vários prémios, previa facturar 10 milhões de euros por ano. Isto foi em 2007. Agora o grupo acaba de avançar para a insolvência, com uma divida de 2,3 milhões de euros aos credores, salários em atraso e muitas dificuldades em perspectiva.
[...]
"Queremos ser uma marca de referência no sector", explicava então Manuel Castro, administrador, que agora admite o fracasso do actual modelo, numa altura em que já deu entrada o pedido de insolvência. Em 2007 a realidade era bem diferente e a embalagem e transformação de peixe fresco oriundo de aquacultura e da pesca no Atlântico "totalmente nacional" para comercialização em cuvetes, apresentava-se como a principal atracção do negócio. De filosofia inovadora, também pela vertente social de protecção das espécies, o projecto foi reconhecido e apoiado por alguns concursos nacionais, com destaque para a conquista do prémio BES Inovação 2005.
Esta notícia veio lembrar-me um antigo caso de «sucesso» de uma exploração agrícola no Alentejo, em que a iniciativa do empresário estrangeiro foi considerada «exemplo» para todos os outros agricultores portugueses. Teve honras e destaques nos jornais e até do então Primeiro Ministro Cavaco Silva. Poucos anos depois estava ao abandono e o excelso empresário desapareceu de Portugal... Mas aí já não apareceu nenhuma figura da política para mostrar o «exemplo» a não seguir pelos outros empresários portugueses...
Constata-se porém a precaridade e a vulnerabilidade dos prémios e distinções que se atribuiem, nomeadamente este do BES Inovação. Neste triste e lamentável caso hoje referido da Atantic.Co seria interessante saber se o Estado Português subsidiou este projecto e, em caso disso quanto, como e em que condições.